— Naquele dia estava muito quente no estúdio e o fotógrafo não queria ligar o ar condicionado porque deixava ele resfriado. E se ele ficasse resfriado, dizia que a criatividade dele ficava afetada. O pior é que foi bem chato porque eu não conseguia mais sorrir de tanta fome. – Adrien riu – Aí eu tive que pedir pro fotógrafo fazer uma pausa porque eu não aguentava mais.

— Nossa! – respondi sem nem estar prestando atenção no que ele falava e encarando a porta da sala.

— Mas depois eu consegui voltar e fazer tudo certo, consegui pelo menos um ventilador porque eu estava derretendo. E eu nem lembro direito de que revista era a se... Marinette?

— Oi? – voltei minha atenção para Adrien.

— Você está escutando? – balancei a cabeça e fiz que sim.

— Sim, é que eu só estou meio cansada. Fiquei até tarde ajudando meus pais na padaria ontem. – o que era verdade, mas não o motivo de eu estar encarando a porta com atenção.

— Entendi. – senti um pouco de frustração em sua voz, porém antes que eu dissesse algo, a professora entrou anunciando o início da aula.

Hoje foi uma daquelas manhãs que eu não prestei atenção em nada. As coisas que Alya tinha me dito no final de semana, estavam ecoando na minha mente e em todo momento eu ficava com esperança de Chat passar pela porta e entrar na sala.

Será que ele já tinha sumido de novo?

Por alguns minutos me arrependi de ter dito que não queria mais que ele estivesse aqui.

— Terra chamando Marinette! – Alya balançou a mão na minha frente e eu pisquei, voltando a atenção para os meus amigos. – Você normalmente é distraída, mas hoje superou o limite. – soltei uma risada.

— Só estou cansada, ajudei meus pais na padaria até tarde ontem.

— A propósito, você vai comer isso daí? – Nino apontou para um pãozinho doce que eu tinha trazido para comer, mas estava parado na minha frente.

— Nino! – Alya repreendeu o namorado.

— Quê? Eu estou com fome!

— Não tem problema. – ri dos dois – Pode pegar. – entreguei ele pro garoto, que sorriu.

— Valeu, Marinette!

— Não há de quê.

— E Adrien, você e a Marinette conseguiram marcar outro encontro? – Alya questionou o loiro, que estava calado e parecia distraído assim como eu.

— Não, mas podemos marcar. – falou e me encarou – Se ainda quiser. – disse em um tom que eu não consegui identificar ao certo, mas não parecia muito animador.

— Sim, podemos. Só temos que ver um dia que você esteja livre.

— O bom é que se eu não estiver, você pode chamar outra pessoa. – o loiro disse depois de desviar o seu olhar. Claramente se referindo à quando chamei Chat.

— É... – Alya tentou dizer alguma coisa, enquanto alternava seu olhar entre mim e Adrien. Nino parou de mastigar o pão e fez a mesma coisa.

— Desculpe, mas eu achei que isso tinha sido esclarecido. – falei sinceramente.

— E foi, mas não parece ter sido esclarecido pra você.

— Não entendi o que você está querendo dizer com isso, Chat. – assim que fechei a boca, percebi o que tinha dito. Chamei Adrien de Chat sem querer.

Alya e Nino se encararam com os olhos arregalados e Adrien me olhou com um misto de tristeza e indignação, levemente aparente.

— Eu acho que isso foi bem explicativo. – deu um sorriso forçado.

— E-Eu... Não... – tentei falar mas as palavras não saíam.

— Se me derem licença. – Adrien juntou suas coisas, levantou e saiu, deixando nós três ali sentados.

— Não acredito que fiz uma coisa dessas! – falei depois de alguns segundos em silêncio e bati minha mão na testa.

— Amiga... – Alya colocou a mão no meu ombro e deu um sorriso reconfortante.

— Aí, eu vou mandar a real. – Nino falou, chamando nossa atenção – Ele já errou teu nome também. Isso acontece, é normal.

— Sim, mas a gente mal se conhecia quando ele errava meu nome.

— Agora eu não acho que seja muito diferente. – minha amiga comentou.

— Como assim?

— O que o Adrien sabe sobre você? Aposto que o Nino deve te conhecer mais do que ele. – Nino assentiu com a boca cheia, deixando inevitável que eu soltasse uma risada. – Pode não ser por falta de interesse, pode ser por falta de tempo ou sei lá. Mas a verdade é que você conhece ele bastante, talvez porque se interessou nisso. Então eu repito: O que o Adrien sabe sobre você?

— Mas a gente não consegue sair direito. O pai dele...

— O problema não é esse. O problema é que você é todo ouvidos quando ele tem algo pra contar.

— E o que há de errado nisso?

— A única relação onde um só fala e o outro só escuta, é entre psicólogo e paciente. – Alya disse e nós rimos – E que eu saiba, você não é psicóloga.

— É, não sou. Mas acho que estou precisando de uma. – ri sem humor.

— Olha, você também precisa ser ouvida. Qualquer coisa, eu vou sempre estar aqui por você.

— Pode contar comigo também. – Nino falou, fazendo com que eu sorrisse e ficasse muito feliz por ter ótimos amigos.

— Muito obrigada mesmo, vocês são incríveis.

— Amigos são pra essas coisas.

***

Durante a aula, conseguia ver Adrien lançando alguns olhares discretos na minha direção. E tudo que eu queria era chegar em casa e dormir como se nada tivesse acontecido.

Depois do que parecia uma eternidade, a aula acabou. Então eu saí primeiro que todos e fui correndo para casa.

Logo que cheguei, cumprimentei rapidamente os meus pais e subi para o meu quarto.

Coloquei a mão na boca, impedindo que um grito saísse assim que fechei a porta e me deparei com uma figura loira sentada na minha cama.

 —  Eu me senti ofendido com esse grito. Não tem como se assustar com um ser como eu.

— Chat?

— Em humor e beleza. – ele ficou de pé e veio até mim – Sei que a nossa conversa não terminou bem aquele dia, mas eu acho que nosso assunto ainda não terminou. E pra sua informação, eu não usei a porta pra chegar aqui e me orgulho disso.