“Ó Fortuna,

Ó Sorte

Velut Luna

És como a Lua

Statu variabilis,    

Mutável,

Semper crescis

Sempre Aumentas              

Aut decrescis;

Ou Diminuis;

Vita detestabilis

A detestável Vida 

Nunc obdurat        

Ora oprime

Et tunc curat           

E ora cura

Ludo mentis aciem,            

Para brincar com a mente,

Egestatem,             

Miséria,

Potestatem             

Poder

Dissolvit ut glaciem

Ela os funde como Gelo”*

* O Fortuna, Imperatrix Mundi - Carmina Burana

Você já quis com todas as forças, uma coisa impossível? Ou já quis que o destino pelo qual sua vida se encaminha, mude drasticamente?

No Império Romano, o destino dos homens era, muitas vezes, decidido pela Roda da Fortuna. Basicamente, haviam várias pontas, vários destinos e a deusa da fortuna no centro. Como uma roda, ora você estava em cima, ora você estava em baixo. Não era possível afirmar o que poderia acontecer, era incerto, e isso servia para lembrá-los de que a vida era realmente assim. Um mínimo giro, e sua roda da fortuna indicaria um destino completamente diferente do que sua vida ditava.

Parece loucura falar disso nos dias de hoje. Quem aceitaria que seu destino fosse decidido ao girar um roda?

Acontece que às vezes, você não está ciente disso. Você não aceita, porque não sabe, então automaticamente não nega também. E num piscar de olhos, a roda da fortuna gira, decidindo o seu destino. Tudo muda da noite para o dia, mas você nem sempre gosta da mudança, só que você nem sempre tem escolha.

E assim que é feita a vida.

*

*

*

— Marinette?

— O que foi?

— É que você está olhando pro meu rosto por dez minutos e não me disse nada.

E eu poderia ter culpa? Chat Noir estava na minha frente nesse minuto. O mesmo Chat Noir que eu criei no meu diário, me apaixonei e que sumiu sem deixar rastros.

— Eu tenho uma pergunta. – ele pareceu confuso, mas assentiu.

— Qual?

— O que está acontecendo aqui?

— Desculpa, eu não entendi o que você quis dizer. – eu é que não entendia o que estava acontecendo. Naquele momento eu parecia estar em choque, o que talvez eu realmente estivesse. – Marinette? – ele abanou as mãos na frente do meu rosto. – Você está branca, quer que eu pegue um copo de água? – Chat Noir se aproximou e eu recuei em um sobressalto. – Tá tudo bem?

— O que você acha? Você sumiu do nada, e... Eu nunca mais te vi! – comecei indignada, mas depois meu tom de voz foi se tornando triste.

— Eu viajei, Marinette. Meus pais me arrastaram pra China com eles. Não tive escolha. – eu ri, amarga.

— Você tá me zoando, né?

— Porque eu faria isso? – cobri os meus olhos com as minhas mãos e neguei com a cabeça.

— Isso é ridículo! Eu preciso acordar!

— Ei, olha pra mim! – Chat tocou na minha mão, fazendo com que um sensação estranha percorresse o meu corpo e eu logo dei outro pulo para trás.

— Sai de perto de mim! – ele se aproximava cada vez mais.

— Para com isso, Marin...

— Sai! – recuei tanto que tropecei em alguma coisa e antes que eu caísse, acordei em um sobressalto na mesa da biblioteca da escola.

Meu coração batia rápido e minha respiração descompassada. Não era o primeiro sonho que eu tinha com Chat, mas ele nunca tinha encostado em mim em nenhum deles e foi uma sensação muito esquisita.

— Sei que você não sonhou comigo, porque pelo jeito que acordou foi um pesadelo e eu estou longe de ser isso. – virei minha cabeça lentamente para o lado e lá estava ele. Não podia ser verdade! – O que foi, bugaboo? – deu um sorriso ladino – O gato comeu a sua língua?