Quando o cruzador romulano se auto-destruiu, nem a Enterprise e nem a tripulação da NXD-0008 perceberam a pequena nave camuflada que havia entrado em dobra segundos antes da explosão, usando a onda de choque para passar despercebida pelos sensores das naves da Federação. A existência deste veículo de fuga só era do conhecimento dos oficiais mais graduados do Tal Shiar.

Mesmo sabendo que sua tripulação conhecia os riscos da missão, a comandante S´Tarlia sentia-se frustrada e furiosa por ter sido necessário sacrificá-los. “Maldita Federação, malditos Kirk e Spock!”, pensou ela cerrando os punhos.

Ela marcou curso para Romulus. Como a velocidade de dobra da nave era relativamente baixa, sabia que levaria alguns dias para que chegasse ao seu destino e seria preciso muito cuidado para não ser percebida pelo sensores da Frota Estelar ao longo do caminho.

E sabia também que depois do fracasso da missão, quando chegasse em casa seu futuro seria incerto. Mas como um bom soldado, retornaria para apresentar o seu relatório e arcar com as consequências, quaisquer que fossem elas.    

*   *   *

S´Tarlia seguia pelos corredores do Palácio do Senado, em Romulus, escoltada por dois guardas armados, um de cada lado. Aquele lugar, com seus salões imensos cheios de ecos, sempre a intimidara, mesmo na época em que vinha visitar seu pai, o velho senador S´Talon. Talvez fosse por isso que ela não quisera sucedê-lo quando teve a chance, logo depois que ele morreu. Preferiu servir a seu povo de outra maneira. Pena que ela estava voltando ali em circunstâncias nada agradáveis.

Eles pararam na porta do gabinete da senadora. Assim que anunciou o seu nome, o ajudante de ordens dela a fez entrar. Os guardas ficaram no lado de fora, aguardando.

A senadora Aelyn T´rallilieu estava sentada atrás de sua mesa, com um olhar duro e ao mesmo tempo triste. Esperou alguns instantes antes de falar com a comandante, que estava parada numa postura rígida à rua frete.

— Então velha amiga – disse por fim – você fracassou em sua missão.

— Infelizmente sim – disse S´Tarlia – mais uma vez o destino conspirou contra nós e perdemos a oportunidade de desferir um golpe decisivo contra a Federação dos alienígenas.

— O destino teve pouca influencia no seu fracasso, segundo os relatórios que recebi – disse a senadora – Ele teve mais a ver com arrogância. Eu avisei que eles eram perigosos.

A comandante não conseguiu dizer nada. Apenas engoliu em seco.

— Nós conseguirmos aquele projeto era realmente importante para o império – continuou Aelyn – mas aquele pedido pessoal que lhe fiz, em nome da nossa antiga amizade, era mais importante.

— Ele foi arrebatado de minhas mãos no último instante! – disse S´Tarlia – Eu nada pude fazer.

A senadora bateu com o punho na mesa.

— Você sabe há quanto tempo eu espero que aqueles que levaram minha filha Livine á desgraça paguem por seus crimes! – vociferou ela - O vulcano a seduziu para que seu capitão roubasse o controle de camuflagem da nave dela (1). E depois a devolveram a Romulus, vencida e desonrada! Sua carreira foi destruída! Ela só não foi vergonhosamente executada por ser minha filha. E mais uma vez eles escaparam...

— Sinto muito, Aelyn – respondeu a comandante.

— Eu também – disse a senadora, acionando um botão na sua mesa.

Os dois guardas entraram e pararam próximos à porta, aguardando.

— Podem levá-la – disse a senadora – o destino dela agora está nas mãos do Praetor (2).

Quando eles saíram, Aelyn T´rallilieu olhou para uma foto antiga de sua filha, com quem não se encontrava há anos. Depois se levantou e caminhou até a janela do seu gabinete, de onde se via boa parte da capital do império.

E mais uma vez ela jurou que um dia James Kirk, Spock e toda a Federação Unida de Planetas iriam pagar muito caro por tudo que haviam feito...

— FIM –

Referências do Capítulo:

(1) Star Trek (Jornada nas Estrelas), Série Clássica, 3ª Temporada, episódio 2 – “O Incidente Enterprise”.

(2) Praetor (pronuncia-se Pretor) é o equivalente romulano ao Imperador.