Living With The Death - O Começo escrita por Hellica Miranda


Capítulo 3
Por tempo indeterminado




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 - Ally, tem alguém que eu gostaria que conhecesse. – Carol disse.
— Ok, quem?
— Lizzie. Ela tem quase a sua idade, e está precisando de alguém para conversar.
— Ok, eu posso conhecê-la.
— Venha cá. – Carol abriu os braços e me abraçou de lado enquanto seguíamos pelo bloco.
Entramos em uma cela onde uma garota loira um pouco mais nova que eu estava sentada na cama lendo um livro da Cinderela.
— Oi, Lizzie, essa é Ally. 
— Oi Ally.
— Como você está, Lizzie?
— Eu estou bem. 
— Garotas, vou deixar vocês duas sozinhas.
Eu assenti.
Lizzie não disse nada, apenas ficou me olhando, um pouco curiosa.
— Então... O que você está lendo? – perguntei.
— Cinderela. Você gosta de ler?
— Sim. Eu costumava ter uma estante lotada em casa.
— Nós temos uma biblioteca e temos a hora da leitura, mas você não vai gostar, é pra crianças. O Carl nunca vai.
— Eu acho que Carl não é mais uma criança. – falei.
Lembrei que Beth me contou que a mãe de Carl, Lori, morrera durante o parto de Judith, e que para que ela não se tornasse walker , ele atirara na própria mãe.
— Mas quem sabe eu não possa ir a uma dessas horas da leitura? 
— É para crianças. Lemos livros para crianças. 
— Pode ser legal, não é?
— Sim. Eu gosto disso. Nós geralmente temos Patrick conosco e ele é mais velho.
— Então... Eu posso ir amanhã?
— Sim.
— Você me chama quando estiver na hora?
— Pode deixar.



***



No dia seguinte Lizzie foi me chamar na hora da leitura.
— Você vai à hora da leitura? Isto é para crianças. – Carl perguntou, caminhando ao meu lado.
— Tanto faz. Faço tudo por um livro hoje em dia.
— Michonne costuma trazer alguns gibis pra mim, eu posso te emprestar.
— Ah, sério? Obrigada.
— Eu levo na sua cela depois do jantar.
— Obrigada, Carl.
O dia foi normal dentro dos padrões. 
Tudo estava sob controle nas cercas e todo mundo parecia bem.
— Oi, Ally. – Maggie disse, parando ao meu lado.
— Oi, Maggie. 
— Está indo ler agora?
— Sim. 
— Quer conversar depois disso?
— Sim. Algum assunto em especial?
— Coisas de garota? – ela sugeriu.
— Sim, tudo bem. 
Comecei a caminhar quando Maggie gritou:
— Boa leitura! – e dirigiu-me um sorriso.
Eu sorri de volta e segui Lizzie até a chamada biblioteca.
Realmente eles tinham um bom número de livros.
Meio sujos, rasgados e detonados, como eu odiava. Mas é de se esperar quando se está no fim do mundo.
Carol leu alguma coisa para as outras crianças e me deixou pegar um exemplar de "As Viagens de Gulliver".
Todas as crianças saíram um pouco depois e eu fiquei ali sozinha, lendo.
— Não está nem um pouco cansada desse livro? – Carol perguntou.
— Não. Eu gosto dele.
— Quer levar ele para sua cela?
— Eu posso?
— Sim, você pode. Agora vamos. 
Carol e eu caminhamos até o bloco de celas, onde Beth estava cuidando de Judith.
— Ei, Ally. – ela me chamou. – Será que não pode ficar com a Judith um pouquinho? Eu acho que preciso de um banho.
Realmente ela precisava. Judith fizera um bom trabalho colocando tudo que comera na roupa de Beth.
— Ok, eu posso leva-la comigo para conversar com Maggie lá fora?
— Sim. Sem problema.
Beth me passou Judith, que logo se distraiu com meus cabelos.
— Ally! Ally, aqui! – era Maggie.
— Oi, Maggie.
— Podemos conversar agora?
— Sim.
— Venha cá.
Maggie e eu caminhamos até o pavilhão onde costumávamos comer.
— Ally, eu acho que você está precisando conversar com alguém. É muito misteriosa para uma garota da sua idade. Tem alguma coisa para contar?
— Eu não sei.
— Então... Que tal me dizer o que estava fazendo e como encontrou aquele acampamento onde estava?
— Maggie... não tenho memória alguma. Às vezes tenho alguns lapsos, eu nem mesmo me lembro do meu sobrenome. Tudo que eu me lembro é de um acidente. Um acidente de carro. Eu estava dentro de um carro com outras duas pessoas. Um garoto, de dezesseis ou dezessete anos e uma menina da mesma idade. Eu não sei como o acidente aconteceu. Mas quando acordei... Estávamos capotados. Eles eram... eles eram walkers, e eles tentavam se soltar do cinto de segurança. Mas eles estavam na frente e eu atrás. Eu não conseguia me mover, não sabia quem eram os dois. Tinham walkers vindo por todos os lados, eu não conseguia me soltar. Eles iam me pegar, eu sabia que iriam. Então... eu ouvi alguns tiros. E depois o garoto e a garota walkers pararam de se mexer... Eles tinham sido baleados também. A porta do carro se abriu e eu fui tirada de lá por um homem. Ele me carregou no colo até um carro preto e dirigiu até esse acampamento.
— Quem era esse homem? Ele cuidou de você nesse acampamento?
— Eu não me lembro. Eu não consigo me lembrar dele. Nem de nenhum nome do acampamento, eu não consigo. Eu sei que eu tinha uma família, é como se existisse um calor dentro de mim me lembrando da presença deles, mas eu não me lembro de seus rostos, ou de onde estavam. Tudo que sei é que não sou daqui. Eu não me lembro o que estou fazendo aqui. Eu não sei o que fiz durante todo esse tempo desde que isso começou. Eu não consigo me lembrar, e toda vez que tento... Parece que a minha cabeça vai virar frangalhos.
— Você perdeu sua memória.
Eu assenti e fechei os olhos.
— Não precisa ter medo. Estamos bem aqui. Por tempo indeterminado.




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