Hiraeth escrita por Jenn Writer


Capítulo 3
Culpa


Notas iniciais do capítulo

Sim, eu sumi. Sim, eu voltei. Sim, o capítulo é curto e está meio ruim, mas eu preciso postar se um dia quiser pelo menos terminar a história, né kkkk. É isso.



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POV Narrador

Natasha piscou os olhos algumas vezes para ter certeza do que via. Ou melhor, do que não via. Ela até era acostumada a presenciar coisas absurdas e anormais durante o trabalho, mas estava surpresa que isso houvesse acontecido com, ao que tudo indicava, uma simples civil. De qualquer maneira, a ruiva não pôde ficar refletindo naquele momento, já que a luta contra o deus nórdico à sua frente não iria esperar.

POV Arisu

Solto um grito involuntário de dor ao aterrissar na madeira dura do estábulo. Permaneço sentada por alguns minutos, esperando a adrenalina se dissipar do meu corpo, e então me levanto sem pressa. Tento segurar a caixa de Pan com a mão esquerda, mas então a dor me lembra da pisada que ela levou há algumas horas (já que por conta da viagem o tempo "passou mais devagar" e agora que meu sangue já havia esfriado, o hematoma começava a ficar visível). Troco de mão e manco levemente para fora do celeiro. O céu ainda está começando a clarear, mas sei que Fidel já deve estar de pé. Caminho aproximadamente um quilômetro até chegar à pequena casa na parte mais baixa da colina. Observo que ele deve ter pintado as paredes, pois o branco agora parece ter menos manchas do que da última vez em que estive aqui. Subo os poucos degraus da varanda e meu cérebro antecipa o som do rangido da madeira no último deles. Pelo menos isso não mudou desde que pisei aqui pela primeira vez, há mais de 10 anos...

Poucos segundos se passam após o barulho até que ele venha me receber.

— Voltou cedo. - a frase poderia soar rude, mas seu sorriso elimina qualquer possibilidade disso.

— E acompanhada dessa vez. - aponto com o olhar para a caixa transportada onde Pan ainda dorme como um bebê, enroscado com minha pasta de documentos.

— O que temos aqui? - ele se agacha e estreita os olhos com curiosidade.

— Meu cachorro, tive que trazê-lo... - Fidel se levanta e me encara um tanto preocupado. - estou com medo de que ele tenha se machucado no caminho, a caixa deve ter batido um pouco. Pode dar uma olhada nele?

Fidel sorri ternamente e se aproxima, me dando um beijo na testa.

— Claro. Vá tomar um banho.

— Obrigada. - lhe entrego a caixa e o ouço colocá-la em cima da mesa da cozinha antes de chegar ao banheiro. Abro a torneira e começo a me despir enquanto a banheira enche. Tenho um pouco de dificuldade para fazer isso com uma mão só, já que a outra dói ao menor movimento, mas tento não dar importância. Mergulho meu corpo na água morna me permitindo finalmente relaxar. A escoriação leve em meu braço arde um pouco, e a tensão dos meus ombros incomoda. Respiro fundo e fecho os olhos, numa tentativa falha de fazer meu cérebro parar de pensar tanto. Minha transição foi muito arriscada. Passei tempo demais com o soro inativo dentro corpo, arrisquei a vida do Pan e me envolvi em uma confusão que não era minha. Fico aliviada que isso não tenha me custado mais que uma mão pisoteada, na verdade.

Me demoro um pouco mais que o necessário por pura preguiça de sair, mas quero saber como Pan está, então me forço a levantar e me secar. Visto o roupão que fica pendurado na porta apenas à espera dos dias em que passo aqui e me dirijo à cozinha. Paro encostada no batente quando vejo Pan debruçado sobre uma vasilha com comida que Fidel lhe serviu. Me permito finalmente esboçar um sorriso nesse dia. Desde que acordei tem sido só correria, tanto que só me dou conta agora.

— Bichinho amigável. - Fidel comenta enquanto Pan percebe minha presença e corre em minha direção.

— Só com as pessoas certas! - me agacho para dar lhe atenção. – Ele está bem? 

— Está, sim. Apenas um pouco desorientado, mas deve passar logo. 

— Que bom. Vou deixá-lo  descansar, então. – vou até o armário e pego alguns panos velhos para improvisar uma caminha. 

— Você também deveria. 

— Pareço tão ruim assim? – tento não soar tão cansada como me sinto, mas provavelmente falho.

— Deixa eu dar uma olhada nessa mão. – sou pega de surpresa, mas já deveria esperar. Nada escapa aos olhos do Fidel, sempre foi assim. Estendo o braço na sua direção e reprimo uma careta quando ele pressiona alguns pontos. Ele me encara por uns segundos e em seguida vai até uma prateleira repleta de compotas e puxa uma delas com um conteúdo amarelo esverdeado. Ele abre a tampa e coloca o recipiente de vidro em cima da mesa, com as pontas dos dedos tira um pouco da pasta e aplica com movimentos circulares nas costas da minha mão. Depois na palma e um pouco no pulso. Observo sua expressão concentrada e ao mesmo tempo à vontade. Em seu ambiente natural, lidando com a cura, ele aparenta serenidade. 

— Tente não encostar em nada para não tirar a mistura da pele. Pela manhã deve estar melhor. 

— Obrigada, amigo. – ele assente. 

— Agora vá dormir. – mais um beijo na testa. Me despeço dele e dou boa noite a Pan.  Espero que ele se comporte bem na casa do Fidel, sendo sua primeira vez aqui. Essa é uma das coisas que eu gostaria de poder evitar. Não que eu não queira trazer Pan à casa do Fidel ou algo do tipo, mas os motivos para isso me incomodam. Eu precisei fugir com ele de Nova Iorque, porque mais uma vez me coloquei em risco. E eu sabia que situações como essa eram prováveis de acontecer, mas quis adotar um cachorro mesmo assim, para me fazer companhia. Minha atitude parece tão egoísta agora que me reviro na cama várias vezes procurando o sono para esquecer esse pensamento de culpa. Parece que não importa o quanto o universo me prove o contrário, eu sempre vou continuar agindo como se pudesse ter uma vida normal, humana. Às vezes eu considero as pessoas comuns como seres um tanto medíocres, e sem consciência de tudo o que podem fazer, mas outras vezes eu os invejo justamente por isso. Às vezes eu também queria não saber de tudo o que sei, e não carregar tantas responsabilidades. O problema é que sem elas, eu não sei quem eu seria. Eu vivo em prol de um único objetivo, que se desdobra em várias tarefas menores, e é isso que guia todas as minhas decisões. Sempre que preciso de um tempo, eu venho visitar o Fidel, e isso me faz bem. Mas uma hora eu sempre tenho que voltar para a rotina. É melhor que quando ela chegue, eu tenha dormido bem, pelo menos.


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