Ira escrita por Lucca


Capítulo 3
Em casa


Notas iniciais do capítulo

Bem, parece que posso ver Remi movimentando os dedos para estalar as juntas numa tentativa de extravasar um pouco da ira por tudo aquilo.
Espero que as substâncias no corpo de Weller não tenham roubado completamente sua racionalidade para que ele perceba a encrenca onde está metido.
Boa leitura.



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3:00 AM

Durante o trajeto até o apartamento, Weller tentou iniciar a conversa algumas vezes, mas o silêncio intimidador de Remi o fez calar logo em seguida.  Ela se concentrou no trânsito já que não estava disposta a gastar energia com as perguntas tolas que passavam por sua cabeça como porque uma espécie de tranquilidade tomava conta dela se fazendo maior que a raiva por ter sido submetida àquela situação vexatória em plena madrugada.Efeitos colaterais do ZIP, só podia ser isso! Que outra explicação teria? Shepherd se decepcionaria com ela, com certeza, se soubessse de tudo. Então, melhor não deixa-la saber. Remi superaria essas fraquezas assim que se afastasse de Weller.  

Não foi complicado chegarem até a porta do apartamento. Ele até que andava bem. Algumas pouca cambaleadas exigiram que Remi o reequilibrasse pelo braço, mas foi só isso.

Assim que a porta se fechou atrás dos dois, num movimento rápido, Kurt encostou Remi contra a parede. Seu olhar ainda era penetrante apesar de inebriado pelo álcool, suas mãos firmes, quentes e ousadas firmaram a cintura dela com os dedos já vasculhando por baixo do tecido. O cheiro dele se misturava ao do álcool numa combinação desagradável, mas a postura como ele se colocou de frente à ela ainda era aquela austera e sedutora que muitas vezes a fez ceder ...pelo bem da missão, claro.

— Obrigada por me resgat...ar_ o deslize do soluço no final da frase foi decepcionante, mas serviu para trazê-la de volta à realidade.

Remi foi rápida no contra ataque e, antes que se Weller se desse conta, a situação tinha sido invertida. Agora era ele contra a parede, com as mãos dela imobilizando seus ombros. O olhar frio e o joelho dela ameaçadoramente próximo de partes sensíveis dele deixavam claro que Remi não estava disposta a ceder:

— Ainda não estou falando com você! _ ela disse com a voz carregada de aspereza.

Estranhamente, ele não parecia intimidado. Apertando os olhos, respondeu:

— Então a gente faz isso sem dizer nada.

Remi o soltou violentamente e se afastou andando em direção à cozinha e disse:

— É vergonhoso que você se aproxime de mim depois de tudo que me fez passar essa noite. As pessoas deveriam conhecer toda a vulgaridade que o Agente Especial Kurt Weller é capaz de alcançar diante de um rabo de saia. _ havia uma amargura e frieza na voz dela .

Frases com essa tonalidade tinham se tornado frequente nas falas de Jane nos últimos meses e Kurt relevava. Mas hoje, sob efeito do álcool e do “estimulante” de Rich, ele estava mais ousado. Irritação misturada a oportunidade de alfinetar aquele pontada de ciúmes o dominaram:

— Qual é, Jane? Você sabe que só tenho olhos pra você. Mas talvez eu ainda chame a atenção de algumas mulheres..._ e usou um olhar carregado de convencimento. Foi só um pouco de diversão, Honey._ disse com a voz carregada de ironia. Percebendo que não estava a atingindo, continuou _ Sabe qual é o seu problema, Jane? Você nunca se diverte!

Remi não se deu ao trabalho de se virar para ele, apenas voltou a cabeça para a direita e disse:

— Vou considerar a possibilidade de me embebedar e procurar homens por bares à noite.

Weller bufou. Não estava disposto a deixa-la entrar nesse jogo. Apoiou a mão na parece para se manter firme e disse:

— É exatamente sobre esse seu jeito hostil que estou falando. Você sempre tem que deixar tudo muito pesado. Você podia ver as coisas de outra forma. Eu estava bêbado, Jane, e mesmo assim aquelas mulheres me acharam atraente. Ponto pra você que tem meu coração.

— Deus! Eu não estou ouvindo isso... Cale a boca, Weller! Você realmente acha que vai arrancar algum elogio de mim essa noite? Tome um banho e vá se deitar...

— Até há algum tempo atrás você pelo menos ria comigo. Agora, não tira essa amargura do rosto. Parece que está sempre pronta pra matar alguém a qualquer instante. E conviver com alguém assim é um saco!

Remi poderia suportar forma melosa como ele a tratava enquanto estava são, mas esse tipo de comentário era demais e ela sabia exatamente como colocar o dedo na ferida:

— Sabe, você deve ter razão. Talvez seja melhor eu ir embora e te deixar livre para viver flertes nas noites nova-iorquinas.

— Está vendo, você fez de novo! Eu estou aqui me esforçando pra te descontrair e você já vem com ameaças. Será que você não pode ser mais leve e divertida?

— Se diversão é me rebaixar ao estado deplorável em que você está, eu passo!

Weller olhou para o chão e apontou para ela:

— Você sempre passa as coisas boas da vida, Jane. Você passou o que tínhamos no Colorado. Você passa os momentos de sexo... Mas eu não quero deixar a nossa vida passar!

—Wow! Então agora você vai enumerar nossos maus momentos... Eu odeio como você se faz de vítima das situações: o pobre Kurt que se envolveu com a megera que arrasou sua vida. Pensei que amnésica aqui era eu, mas vou te lembrar: eu estou morrendo e mesmo assim tive que levantar no meio da madrugada pra te buscar bêbado num hospital!

Kurt se calou e baixou os olhos. Lembra a realidade dos fatos que ele tentou esquecer naquela noite foi certeiro pra fazê-lo abandonar a postura anterior. Deu dois passos cambaleantes em direção à sala e parou:

— Me desculpe..._ e seguiu se esforçando para caminhar com firmeza, sem sucesso. _ eu vou dormir aqui mesmo no sofá._ e deixou o corpo desabar sobre o estofado.

Remi estava profundamente irritada, mas essa ultima frase agravou ainda mais a situação. Não, se ele pensava que faria o que quisesse depois de tudo que aconteceu essa noite, estava muito enganado. Ela não tinha muito tempo de sono pela frente, mas faria tudo o que fosse necessário para finalmente poder descansar um pouco.

— Não! Você não vai ficar aí no sofá fedendo à álcool, sangue e o perfume barato daquele lugar. Pro banheiro! O mínimo que você me deve depois disso tudo é livrar nossa casa dos vestígios da sua irresponsabilidade.

— Mas, Jane...

— Eu não quero ouvir mais nada, Weller. Banheiro!

Ele tentou se levantar, mas caiu novamente no sofá e levou a mão à cabeça demonstrando a dor que sentia.

Remi bufou. Ela acertaria as contas com Shepherd por enfiá-la nessa missão suicida. Aproximando-se do sofá, ajudou que Kurt se levantasse e o acompanhou até o banheiro. Assim que entraram no espaço apertado, ele criou coragem para voltar a falar:

— Obrigada, Jane... por tudo.

Ela não respondeu e começou a ajudá-lo a se despir.

— Jane... você pode ir agora. Sei que está cansada. Eu consigo tomar banho sozinho.

— Sim, eu estou cansada e não, você não vai tomar banho sozinho. Eu não vou me deitar apenas para ter que me levantar às pressas e vir te socorrer após um tombo. Vamos logo.

Ela o despiu por completo, mas manteve sua própria lingerie para entrar no chuveiro com ele. O banho foi rápido. Kurt manteve-se cabisbaixo parecendo derrotado. Isso a incomodova. Devia ser mais um sintoma do quanto sua ira com relação à ele era desmedida.

Após desligar o chuveiro, ela jogou uma toalha para ele e pegou uma para si mesma. Já estava saindo do box, quanto sentiu o braço dele envolver sua cintura e a fazer girar de encontro à ele. Quando ela se deu conta, a outra mão de Kurt emoldurava seu rosto e os olhos azuis dele pareciam hipnotizá-la:

— Ei, eu não sou uma vítima aqui. Estar como você sempre foi uma escolha minha e continuará sendo. Todo momento com você é melhor do que qualquer diversão lá fora. Eu agi como um idiota a noite toda. Por favor, me perdoe.

A sinceridade no olhar dele era perturbadora pra ela. Aflita, Remi fechou os olhos e se concentrou em respirar para controlar as emoções que se agitavam no seu interior. Talvez não tenha sido uma boa escolha, pois logo sentiu a testa dele se encostando na sua. Era um momento tão casto e tão intenso. E ela se deixou relaxar e desfrutar daquela sensação boa que a envolvia.

Então ela sentiu a mão dele deslizando por baixo da toalha pelo seu quadril para trás até tocar com firmeza sua bunda. Instantaneamente um corrente de excitação tomou conta de seu corpo fazendo-a estremecer. Como ele conseguia isso?

Ela foi rápida. Abriu os olhos e o encarou enquanto alcançava o braço dele e levava sua mão quente para longe de seu corpo:

— Ouse me tocar desse jeito de novo essa noite e eu serei viúva antes do amanhecer.

Ela se virou rapidamente fugindo para fora do box. Mas sentiu os dedos dele alcançando sua nuca para depois deslizar pela tatuagem que trazia o nome dele. Droga! Ele sabia como conectar os dois! Pra completar, Kurt disse:

— Ok, Jane. Só amanhã, então...

Ela deu um sorriso maléfico. Melhor um Kurt Weller tomado pelo desejo por ela do que aquele homem derrotado de minutos antes.

Os dois se deitaram e ele adormeceu quase que imediatamente. Como sempre, mesmo dormindo, ele procurou por ela tentando entrelaçar seus corpos. Seria melhor ela se manter afastada? Afinal ele devia estar dolorido pela briga no bar... Bem, então seria uma ótima punição para ele se por essa noite ela não se afastasse. Remi respirou fundo e se aconchegou à ele. O quarto cheirava à Kurt. O ronco baixo dele embalava o ambiente e colocou a respiração dela em compasso rapidamente. O calor dele era reconfortante. Seus olhos já estavam pesados, suplicando pelo sono. Mas antes de se entregar, ela sussurrou baixinho:

— Eu te odeio, Kurt Weller.


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Notas finais do capítulo

Devo um pedido de desculpas. Eu queria realmente ter deixado esse capitulo mais leve e divertido, mas sou muito Remi nas brigas conjugais. Usar palavras aparentemente inocentes para ferir de forma profunda se torna um vício.
Espero não tê-los decepcionado completamente.
Obrigada pela leitura.



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