Acordo Perfeito escrita por BCarolAS, cecimaria


Capítulo 6
Capítulo 5




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Darcy observava Victória dormir, enquanto tomava uma dose de wisky. A discussão com Susana havia lhe dado dor de cabeça. Ela continuava cobrando uma atenção que ele tinha certeza que nunca havia dado, mas ela insistia que desde que Victória se mudou ele não a dava mais. E para completar, um ciúmes infundado da preceptora de sua filha. Uma empregada que ele mal falava! Talvez tenha chegado a hora daquele relacionamento terminar. Darcy continuou parado na porta da filha, divagando sobre sua vida quando a pequena acabou acordando de madrugada.

—Papai? Está tudo bem?

—Sim, Vicky, eu só vim ver se você estava dormindo. Por favor, volte. - Mas a menina se sentou na cama.

—O senhor parece triste.

—Bem, eu tive uma discussão com a Susana. Nada demais.

—Ah. - Ela ficou sem saber o que dizer. - Quer um abraço? A Elisa sempre me abraça quando estou triste. Eu fico melhor depois.

Darcy sorriu, deixou o copo na penteadeira da menina e foi até a cama dela, sentando-se ao lado da filha que o abraçou.

—Ajudou? - Ela perguntou.

—Muito. - Darcy então se deitou, trazendo Victória com ele. Os dois permaneceram em silêncio um tempo, encarando o teto adornado do quarto dela, e ele viu que a pintura estava descascando num canto. - Eu estava pensando, você já é uma menina crescidinha, e este quarto é de quando você era muito pequena. O que acha de reformarmos? Você poderá escolher tudo. Papel de parede, móveis, quadros…

—Sério mesmo, papai?- Ela olhou para ele animada.

—Claro. Já devia ter feito isso.

—A Elisa pode me ajudar! Eu vou perguntar a ela!

—Filha, isso não está nas obrigações da senhorita Benedito.

—Mas ela não vai se importar.

—Não fique chateada se ela não puder, tudo bem? Eu posso lhe ajudar.

—Mas o senhor é menino. A Elisa vai saber me ajudar.

—Tudo bem então.

Aquele estava sendo o final de novembro mais frio que Elisabeta tinha experimentado desde que se mudara para Londres, 4 anos atrás. Ela usava duas luvas e mesmo assim sim sentia que seus dedos poderiam congelar e cair a qualquer momento. Ela sentia falta do sol do Vale. Quando chegou na mansão Williamson, tudo estava em ordem e perfeitamente calmo. Calmo até demais. Não que a casa fosse dada a sons ou barulhos. Os moradores eram quietos. A cada dia que passava, mais ela via que o comportamento introvertido de Victória era herança do pai. Foi até a mesa de café-da-manhã e a encontrou posta, mas vazia. Teria Victória perdido a hora? Ela não costumava dar trabalho para acordar. Então ela foi até o quarto da menina e bateu, abrindo a porta.

—Vicky? Você ainda está dormindo? - Mas se surpreendeu ao encontrar o pai dela dormindo ao lado da filha. Um pequeno sorriso brotou no rosto de Elisa, que saiu devagar e fechou a porta.

Cerca de uma hora depois, os dois Williamsons desceram para o café, e encontram Elisabeta sentada em um canto da sala de jantar, concentrada em livro.

—Elisa, você chegou! Nós perdemos a hora!

—Eu percebi. - Elisabeta fechou o livro e cumprimentou o patrão. - Bom dia Lorde Williamson.

—Senhorita Benedito. Por favor, junte-se a nós.

—Eu já tomei café, obrigada.

—Então nos faça companhia. Vamos, não seja tão arisca.

—E eu lá sou cavalo para ser arisca?! - Mas mesmo assim, ela se sentou. Victória deu um pequeno sorriso, mas já estava se acostumando com as trocas de farpas diárias entre os dois. Então ela só ignorou.

—Elisa, você não vai adivinhar!

—O que?

—Adivinha! - Victória disse com aboca cheia de waffles. Darcy riu do diálogo, mas repreendeu a menina.

—Não fale de boca cheia, filha.

—Bom, eu não faço ideia, Vicky.

—Papai falou para eu redecorar o meu quarto! Eu posso escolher tudo novo! Você me ajuda, não ajuda?

—Eu compreendo que não é da sua ossada, e eu vou contratar um profissional, mas se você puder ajudar a Victoria, eu te dou um bônus…

—O senhor pode parar bem aí. Quantas vezes vou precisar…- Ela se voltou para Victoria. - Tampe os ouvidos, querida. - Que o fez com divertimento. - Quantas vezes vou precisar mandar o senhor enfiar o seu dinheiro nos fundilhos? Eu posso perfeitamente ajudar Victoria a escolher uma cama nova sem ganhar nada por isso.

—Claro que pode. Mas por que o faria?

—Eu lamento muito pelo senhor, Lorde Williamson, se tudo que ganhou nessa vida foi por imposição do dinheiro. Não me admira que seja assim.

—Assim como?

—Assim. Carrancudo. Eremita. Sem amigos. Recluso. As rugas estão começando a aparecer. - para a surpresa de Elisabeta, Darcy riu.

—A senhorita quer mesmo falar de idade? Quantos anos tem? 23? Já é considerada velha por muitos, para ser uma moça solteira. E com essa língua vai ficar para titia.

—Pois saiba, Lorde Williamson, que a soltereice não me amendronta. Muito pelo contrário. E o casamento não faz parte dos meus planos.

—Por quê? - Perguntou a Victória. Só agora eles perceberam que ela prestava atenção na discussão.

—Ora Vicky, eu quero muito mais do mundo do que ser a esposa de alguém. Tem muito que o mundo pode me dar ainda.

—Eu achei que nós fossemos obrigados a se casar.

—Nós não somos. E você pode ser o que quiser. Não vê sua tia Charlotte? Está estudando para ser uma mulher independente, de negócios. Você viu ela falando em casamento?

—Não.

—Então! - Elisa disse animada para Victória.

—Mas você pode se casar também. Se isso for o que você quer. Você pode se casar e ter uma carreira. Uma coisa não exclui a outra. - Darcy complementou e foi a vez de Elisabeta ficar calada. Ela discordava, mas não quis começar outra briga.

—Interessante. - disse Victoria por fim, arrancando uma risada dos dois.

A tarde, Elisabeta quis treinar a leitura em voz alta de Victoria e mais uma vez percebeu a menina forçando os olhos. Aconteceu quando ela usou o quadro negro da sala de estudos. Aconteceu quando ela teve que ler enquanto a luz entrava na janela, e agora novamente. Lorde Williamson costumava deixar lá embaixo um dinheiro para emergências, então ela interrompeu a leitura da menina.

—Vicky, pegue o seu casaco. Nós vamos sair.

***

Darcy estava no seu escritório, concentrado em um novo contrato que sua construtora estava firmando quando Susana adentrou seguida por sua secretária.

— Desculpe senhor Williamson, ela ignorou meus avisos de que o senhor estava ocupado.

— Queridinha, os avisos são para as outras pessoas.

— Tudo bem, Senhorita Skinner.- Antes de sair, a secretária de Darcy, que já trabalhava para ele havia 3 anos, deu um olhar de pena para o patrão. Ele realmente não tinha sorte no amor. - Susana, eu estou ocupado.

— Mas Darcy, meu bem, está ficando difícil para mim. Em casa tem a pirralha. Aqui, você está ocupado.  - Ela se sentou na mesa e inclinou o decote na direção dele. Ele viu aquilo como a sua oportunidade.

— Susana, eu tenho observado que você está infeliz. Entre meu trabalho e minha filha, eu realmente não tenho tido tempo para você. - Ele fez uma pausa, mas ela não o deixou continuar.

— Finalmente percebeu! E o que nós faremos? Uma viagem? Poderíamos ir a Paris, ou o sul da França…

— Susana, eu acho que nós deveríamos terminar.

— Desculpe, o que?

— Eu estou num momento de minha vida que não tenho tempo para relações amorosas, e você está vendo isso. Eu só continuaria tomando seu tempo, e nenhum dos dois querem isso. Então vamos terminar agora, sem mágoas, enquanto podemos continuar amigos.

— Eu não quero ser sua amiga, Darcy Williamson!

— Uma pena, pois eu gostaria de ser seu amigo.

— Darcy, meu querido, você está se precipitando…

— Não Susana, eu pensei muito sobre isso. Eu sinto muito.

— E como você vai fazer sobre o testamento então? O seu tempo está acabando. Eu achei que você proporia… Visto a situação… Eu acreditei que este era o propósito dessa relação!

— Testamento? Tempo acabando? Do que você está falando, Susana?

— Ah Darcy, não venha com essa para cima de mim! Eu sei muito bem da cláusula que seu pai pôs no testamento! Que se você não tivesse se casado novamente até um ano de sua morte, você perderia Pemberley! Eu ouvi sua tia, aquela velha enrugada, falando isso com a mãe da catarrenta assim que nós começamos a sair! Eu acreditei que... Devido ao timing, este era o seu propósito!

Darcy estava estarrecido.O advogado da família tinha cuidado do testamento e não havia dito nada a ela. Era de conhecimento geral, no entanto, que o velho senhor Jonhson era amante de sua tia a anos. E ele sabia que Tia Margareth nunca havia perdoado ele ou o pai pelo divórcio. Susana continuou falando mas Darcy não escutava. Precisava descobrir do que se tratava isto. Então ele se levantou e virou para Susana.

— Sinto muito, mas acabou. - E sem mais, deixou a sala em direção ao departamento jurídico de sua companhia.

Chamou Hall, o chefe do departamento jurídico, um homem de sua confiança e contou o que ouviu, e pediu que ele verificasse a informação. Quando Darcy retornou ao seu escritório, foi informado que Susana havia quebrado algumas coisas e feito uma bagunça e teve que ser retirada a força. Ele sentou-se no sofá da recepção enquanto o pessoal da limpeza dava um jeito na bagunça, pôs a cabeça entre as mãos e se perguntou o que mais poderia dar errado.

No final da tarde, Darcy olhava o estrago que Susana havia feito. O porta-retrato com a foto de Victória bebê estava quebrado, algumas coisas em sua mesa também tinham ido para o lixo e os documentos estavam fora de ordem. Ele suspirou. Ligaria para casa e avisaria que chegaria um pouco mais tarde. Pediria a senhorita Benedito que jantasse com a filha e a pusesse na cama. Se perguntou se deveria oferecer uma recompensa, mas sua resposta na mesa hoje havia dito que não. Por algum motivo, aquilo o fez sorrir. Neste exato momento, David Hall, entrou no escritório de Darcy.

— Tenho más notícias.

— É verdade, então?

— Sim. Seu pai deixou uma cláusula bem específica que se você não se casasse até um ano depois de sua morte, Pemberley iria para o próximo parente de sangue do sexo masculino.- Darcy suspirou.

— Primo Collins. - Ele passou a mão pelo cabelo. - Um ano? Ele morreu tem nove meses! Como vou encontrar alguém para me casar em três meses? Existe tanto a considerar…

— O que me surpreende é você não ter sabido disso antes.

— Eu confiei no senhor Jonhson, mas aparentemente, ele é mais fiel a minha tia. De toda forma, muito obrigada, o senhor foi bastante útil.

Darcy ainda tentou se concentrar no trabalho, mas falhou. Não poderia se casar com qualquer uma. Tinha uma filha. Precisava pensar no bem estar dela. E também, ele não queria se casar por conveniência. Isso já tinha dado errado uma vez. Tinha prometido a si mesmo que só se casaria novamente se fosse por amor. Mas como Darcy era cético, não acreditava que pudesse vir amar e ser amado, pelo menos não nessa vida. E então? O que faria? Não podia perder Pemberley. Era o seu lar, o lar de sua filha. Ele planejava voltar para o interior quando Charlotte voltasse e assumisse os negócios da família. Chegou em casa exausto e foi direto para o quarto, tomar um banho. Ainda estava de toalha quando um pequeno furacão entrou no seu quarto, sem bater, sem se importar.

— Lorde Williamson, nós temos um problema.

— Senhorita Benedito! Como que a senhora entra assim, sem bater? Eu estou praticamente despido. - Elisabeta só pareceu perceber naquele momento e não pode evitar o olhar de cima a baixo. Ele tinha um porte atlético, e os pelos do seu peito ainda estavam molhados. Ludmilla e suas irmãs achariam que ele era um belo pedaço de homem. Sua mãe também. E talvez ela tivesse ficado constrangida, se ele não estivesse tão vermelho. Resolveu que era uma ótima oportunidade para implicar com ele.

— Oh, meu Deus! O senhor tem um pênis! Já li livros de anatomia, Senhor Williamson, não me surpreenderia. - Darcy levantou a sobrancelha para ela e sorriu.

— Não tenha tanta certeza assim, senhorita Benedito. Mas onde é o incêndio? - E fazendo um gesto com o dedo para ela se virar em complementou. - Se Importa?

— O senhor vai se vestir na minha frente?

— Eu quis ser um cavalheiro, mas quando a repreendi a senhora disse que não se surpreenderia. Então, qual o problema que a fez entrar no quarto de um homem solteiro dessa forma?

— O senhor não é exatamente um homem solteiro. Mas o motivo é Victória.

— Na verdade, sou sim. - Ele não soube dizer exatamente porquê, mas precisou deixar claro isso para ela. - O que aconteceu com ela? Está tudo bem? - Não passou despercebido a Elisabeta a ênfase dele a ser um homem solteiro, mas não deveria se ater a isto.

— Eu já tinha reparado algumas vezes que a Vicky forçava os olhos para enxergar algumas coisas. E hoje, na aula de leitura ela fez novamente, então eu peguei o dinheiro de emergência e a levei ao oftalmologista. Eu já tinha visto isso antes, com uma de minhas irmãs mais novas, achei que talvez ela precisasse de óculos. O que realmente foi o caso. Mas agora ela se recusa usar.

— São óculos de leitura ou de uso contínuo?

— De uso contínuo.

— É grave?

— Segundo o doutor, não. Se chama miopia. E em alguns casos, depois do uso regular dos óculos ela até desaparece.

— E por que ela se recusa a usar?

— Eu não sei. Achei que o senhor pudesse conversar com ela.

— Vamos, então. - Elisabeta se virou e Darcy trajava uma camisa branca e calças cinza e ele parecia a vontade. Nunca o tinha visto sem o terno de três peças e achou aquilo íntimo demais.

Mas Victória não estava no quarto dela, nem na sala de estudos, ou na sala de brinquedos, nem na sala de estar, nem na de jantar.

— Elisa, você acha que ela pode ter fugido novamente? - Darcy estava tão desesperado que nem reparou que  a chamou pelo primeiro nome.

— Eu não sei. Mas posso ir até o parque onde a encontrei a primeira vez.

— Me espere. Eu vou só pegar um casaco.

Darcy subiu até o quarto de vestir, e enquanto pegava um casaco escutou um barulho vindo do antigo quarto de Brianna. Quando abriu a porta encontrou Victória sentada na penteadeira, encarando o próprio reflexo.  Ele correu até a escada e gritou.

— Elisa, eu a encontrei! - Ele correu de volta para o quarto e logo em seguida, Elisabeta subiu também.

— Victória, filha, você estava aqui o tempo todo? Por que não respondeu quando chamamos?

— Eu queria ficar sozinha. - Elisabeta chegou nesse exato momento.

— Vicky! Que susto você nos deu! - Dito isso, abraçou a menina. Os dois se ajoelharam para ficar da altura dela, sentada na cadeira, se encarando na penteadeira.

— Filha, por que você não quer usar os óculos? Você não quer enxergar direito?

— Quero. Mas tinha que ser óculos? - Ela pôs os óculos no rosto. Eram ovais e possuíam uma armação de ferro, fina. - Olha para mim, papai, eu estou ainda mais feia!

— Que absurdo é esse, Victória? - Elisa interrompeu. - Você nunca foi feia, não sei porque estaria agora.

— Eu sou feia sim. Olha essas bochechas! E meu cabelo nem é liso. Meus olhos são muito grandes também. E esses óculos só os deixam maiores!

— Meu amor, - Elisa segurou as mãos de Victoria - você é a menina mais linda que já vi na vida! Suas bochechas são a coisa mais linda, e seus olhos, todo o seu rostinho. E eu amo o seus cachinhos! Você tem os olhos mais lindos que já vi. Da cor do céu de verão! E quem disse que para ser bonita tem que ter o cabelo liso?

— Minha mãe… - a resposta veio quase como um sussurro, mas foi o suficiente para fazer Darcy levantar com raiva, passando as mãos pelo cabelo ainda molhados. Caminhou até a janela, resmungando baixo.

— Só podia ser! - ele gritou, o que fez com que Victoria se assustasse e se encolhedor no abraço de Elisabeta.

— Lorde Williamson, assim o senhor assusta a menina, por favor! - Suplicou Elisa abraçada a pequena Victoria que chorava.

Darcy respirou cansado, arrumou os cabelos e se abaixou novamente de frente para a filha. Enxugou as lágrimas da menina com delicadeza e falou baixo e pausadamente:

— Victoria, você é linda! Eu tenho muito orgulho de mostrar seu retrato para as pessoas porque sabe o que todas elas dizem? “Ela é linda, lorde Williamson!” ou então “Parabéns pela filha linda, senhor”. Está vendo como você é linda? E não somos apenas eu e Elisabeta que achamos isso.

— Mesmo se eu acreditar em vocês usar esses óculos ainda vai me deixar feia. Eles são horríveis!

Darcy olhou para Elisabeta em um claro pedido de ajuda, ele não sabia o que fazer.

— Nós podemos escolher outro formato, não podemos, Elisa? Podemos mandar fazer vários e você pode usar um diferente todos os dias. - Ele arriscou, sem saber se o que ele estava falando era realmente viável. Mas seria, por Deus, ele faria o impossível para tornar viável qualquer coisa que fizesse desaparecer o sofrimento de sua filha.

— Isso - apoiou Elisa - Podemos escolher um que combine com sua roupa em cada dia. Será como um acessório. Como uma pulseira ou um colar que você troca de acordo com a roupa e a ocasião. Vamos pedir para sua tia Charlotte pesquisar os modelos que estão na moda em Paris! - Elisabeta desviou os olhos da menina e olhou para Darcy. Os olhos dele indicavam apoio e gratidão. - Mas, por enquanto, você fica usando estes. Logo, logo você vai se acostumar com eles. Eu particularmente acho que ele realça seus lindos olhos azuis.

Aquela altura Victoria já havia parado de chorar e cada uma de suas mãos seguravam uma mão de Elisabeta e uma mão de seu pai. Foi a primeira vez que a jovem Williamson sentiu que fazia parte de uma família.

Elisa guiou a menina até o espelho da penteadeira do quarto

— Olhe! Você é linda, Victoria! Olhe o seu lindo rostinho refletido no espelho!

A menina então estou o rosto e finalmente olhou para a imagem no espelho. Ela enxugou as lágrimas e um sorriso tímido surgiu em seus lábios. E, pela primeira vez, Victoria Williamson se sentiu bonita.

Darcy juntou-se ao reflexo das duas no espelho e, olhando diretamente nos olhos da filha no reflexo, ele disse:

— E esses óculos também vão deixar você ainda mais inteligente! A senhorita Elisabeta não cansa de me dizer o quanto você é esperta e adora ler, inclusive me deu uma lista de todos os livros novos que devo comprar para vocês lerem juntas. E agora, com esses óculos, você poderá ler ainda melhor.

— É verdade, papai, eu estou lendo cada vez melhor. - A menina virou-se para ele, animada. - O senhor quer ouvir? Essa semana estamos lendo O Jardim Secreto!

— Eu adoraria! Vá pegar seus óculos e o livro e eu estarei esperando você na varanda!

Victória deu um pulo e saiu do quarto correndo, o que fez com os dedos de Darcy e Elisabeta se tocassem por um instante. Foi só uma fração de segundo, mas foi o suficiente para arrepiar todos os pelos do corpo de Elisa e fazer uma corrente elétrica passar pelo de Darcy. Ambos sorriram envergonhados. Ele levantou-se e caminhou em direção a porta, mas virou-se novamente em direção a Elisa:

— Obrigado, Elisabeta.

— Eu não fiz nada, foi o senhor quem fez.

Dessa vez ele sorriu. Mas ela não viu, pois ele já havia atravessado a porta.

Passado uma semana desde o incidente do óculos, Victória já estava usando com tranquilidade, e aquele dia eles tinham combinado de ir num joalheiro, que faria novas peças para a pequena. Entretanto, ele recebeu uma intimação da Câmara dos Lordes, haveria uma audiência hoje.

— Mas você tem que ir? - protestou Victória.

— Infelizmente sou obrigado. - Darcy vestia o terno. Victória estava sentada na cama, balançando as perninhas. Elisabeta estava parada na porta, encostada no batente.

— Por quê?

— Porque seu pai é um Lorde, e é isso que os Lordes fazem. - Elisa respondeu. - Nós podemos ir só nós duas hoje, ou esperar seu pai e ir amanhã. O que prefere?

— Quero que o papai vá.

— Então está decidido. - Darcy sorriu para Elisabeta e ela sorriu de volta. Já era terceira vez essa semana. Não que ele estivesse contando.

Durante a audiência, várias questões estavam sendo discutidas. A crise econômica, a sucessão de falências. Muitos ali tinham perdido tudo, ou quase tudo. A pobreza que se alastrava pela população. Darcy estava rabiscando no papel um desenho de Victória e Elisabeta, quando o Duque de Hampshire fez a sua proposição, que foi aplaudida e ovacionada por muitos.

— Nós mal estamos tendo empregos para os nossos. E existe uma quantidade muito grande de imigrantes. Árabes, latinos, espanhóis… Em outros tempos, a Inglaterra poderia recebê-los de braços abertos, mas agora precisamos primeiro cuidar dos nossos. Proponho uma maior rigidez nas permissões de estadia. Apenas cônjuges de ingleses poderão residir e trabalhar na Grã-bretanha.

Darcy ficou em choque. Olhou do duque para o seu desenho. Elisabeta teria que partir?


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Notas finais do capítulo

TAN TAN TAN ...