Acordo Perfeito escrita por BCarolAS, cecimaria


Capítulo 11
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Aos poucos a gente vai usando todos os plots clichês de romcoms, espero que vocês não se importem hahaha
Boa leitura!



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Darcy e Elisa passaram o dia seguinte ao baile irritados. Um com o outro. E com absolutamente tudo e todos. Eles estavam frustrados por terem seu beijo interrompido. Mas eles não eram capazes de reconhecer o próprio sentimento, ou preferiam não reconhecer.

Darcy estava próximo demais de Elisa, a boca dele separada da dela apenas alguns poucos centímetros, e ela podia sentir o cheiro dele ainda mais forte a enebriando, a respiração dele fazendo carinho no rosto dela. Então ela fechou os olhos esperando o beijo. Mas o beijo não veio. Porque lady Amelie chamou a atenção de todo o salão para o mais novo e apaixonado casal de Londres: lorde Williamson e a senhorita Benedito. Todos os presentes aplaudiram, deixando Darcy e Elisa completamente constrangidos e irritadiços, afinal ambos odiavam ser interrompidos, principalmente quando estavam prestes a descobrir o gosto da boca um do outro.

Ao menos agora toda a elite e nobreza britânica sabia do relacionamento dos dois, e eles torciam para terem sido convincentes o suficiente. Não demoraram muito na festa depois disso. Rogers dirigiu até a casa de Elisabeta, e ela e Darcy permaneceram calados e distantes um do outro por todo o caminho. Nenhum dos dois conseguiu dormir naquela noite.

No dia seguinte, Darcy acordou de mal humor. Estranhou quando não encontrou Victoria na mesa para o café da manhã, mas deixou que a menina dormisse mais um pouco, até Elisabeta chegar. Ele não seria a melhor companhia para a filha mesmo. Fez seu desjejum em silêncio enquanto lia o jornal, e as notícias no periódico não colaboraram para melhorar seu humor.  A crise não estava perto de melhorar, e a situação dos imigrantes não estava nada fácil. Levantou-se irritado e saiu em direção à porta, esbarrando em Elisabeta que acabava de entrar. Os dois ficaram se olhando em silêncio, as mãos dele na cintura dela a segurando pelo impacto. Ela fechou a cara, disposta a brigar com ele, como de costume, mas foi interrompida pela senhorita Smith:

— Senhor lorde, fui acordar a menina como o senhor mandou e notei que ela está ardendo em febre.

Os dois se recompuseram, olharam um para o outro, preocupados, e subiram às pressas para o quarto de Victoria. Encontraram uma Victoria encolhida debaixo das cobertas, as maçãs do rosto vermelhas pela febre, e os olhos cansados. Elisa e Darcy sentaram um de cada lado da cama.

— Papai, Elisa, que bom que estão aqui. Eu não os vi depois da festa.

— Como você está se sentindo, filha? - Darcy perguntou enquanto acariciava os cabelos da menina.

— É como se meu corpo tivesse virado uma gelatina. - Ela respondeu se encolhendo ainda mais.

Elisa levou a mão à testa de Victoria.

— Darcy, por Deus, a febre está muito alta! Ela precisa de um banho.

— Eu vou ligar para o médico. - Ele fez menção de se levantar, mas sentiu a mãozinha de Victoria o puxando de volta para a cama.

— Não, papai, fica aqui comigo.

— Eu volto já, meu amor. Vou só ligar para o dr. Watson rapidinho. A Elisa vai ficar com você enquanto isso, está bem?

Elisa sorriu para ela e Victoria acenou positivamente com a cabeça. Darcy depositou um beijo na testa da filha e antes de sair do quarto trocou um olhar com Elisabeta. Havia tanto naquele olhar. Cumplicidade, confiança, gratidão e um pedido desesperado por ajuda.

Elisa passou as mãos por baixo do corpinho de Victoria e a retirou com cuidado da cama.

— Venha, meu amor, vamos tomar um banho.

— A água está gelada, Elisa! - Ela disse se encolhendo no abraço de Elisabeta, tremendo de frio.

— Eu sei, meu bem. Mas vai ajudar a febre baixar até o médico chegar.

Darcy observou a cena da porta do banheiro. Elisa abraçava a menina, para tentar protegê-la do frio, sem se importar em molhar suas próprias roupas ou seu cabelo. Ela fazia carinho em Victoria e sussurrava que logo ela iria melhorar. Em 5 anos de casado Darcy nunca viu Brianna cuidar de Victoria daquele jeito. Aliás, nunca viu Brianna cuidar de Victoria. Ponto. Era impossível não se comover com a cena diante dele. Quando o banho terminou, Elisa finalmente notou Darcy na porta e pediu ajuda com os olhos. Já sem terno, ele ergueu as mangas da camisa social e se aproximou da banheira, se abaixando para tomar a filha nos braços, enrolada numa toalha.

Já em sua cama, Victoria tinha seus cabelos sendo penteados por Elisa quando o dr. Watson chegou. Elisabeta deu espaço para que o médico se aproximasse e juntou-se a Darcy próximo da penteadeira de Victoria, esperando um diagnóstico do médico.

— Vamos ver como está essa moça. Vejo que já tomou um banho, que bom. A febre ainda está um pouco alta.

A mão de Darcy tocou de leve a mão de Elisabeta ao lado do corpo, e então ela a segurou. A confiança que aquele gesto passou a Darcy trouxe de volta todos os sentimentos da noite anterior. A corrente elétrica, o coração acelerado, a ansiedade por algo além. E mais uma vez ele os ignorou.

Dr. Watson caminhou até eles com um sorriso que ele julgou ser tranquilizador.

— Provavelmente é só um resfriado, devido a esse inverno especialmente gelado deste ano. - Ele entregou um pequeno vidro a Darcy - Dê esse remédio a ela sempre que a febre aparecer. A mantenham sempre bem agasalhada, nada de brincar no frio, e é importante se manter hidratada e bem alimentada. No Natal ela já estará ótima. Qualquer coisa não hesite em me telefonar, Lorde Williamson.

— Obrigado, Dr. Watson - Darcy trocou um aperto de mão com o médico.

— Minhas felicitações pelo noivado. As notícias correm rápido nessa cidade - o médico brincou com Darcy e dirigiu um sorriso a Elisabeta - É um prazer conhecê-la, senhorita Benedito.

Naquela noite a febre da Victoria voltou, felizmente não tão alta quanto a da manhã. Mas Elisabeta foi incapaz de ir embora. Foi incapaz de sair de perto de Victoria, assim como Darcy que trabalhou de casa o dia inteiro. Deitaram-se na cama da pequena Williamson e contaram histórias até ela dormir. E depois que ela dormiu os dois ficaram velando seu sono, se certificando a cada minuto de que ela estava bem aquecida, ou medindo a temperatura o tempo inteiro. Até que ambos também renderam-se ao sono, dormindo um de cada lado de Victoria, naquela cama pequena demais para os três, mas ao mesmo tempo enorme para comportar tanto amor.

***

Victoria acordou antes deles pela manhã e sorriu ao se deparar com o pai e Elisabeta dormindo em sua cama. Decidiu não acordá-los. E decidiu que voltaria a dormir também e aproveitaria ao máximo o momento que já era o preferido de todos os seus quase oito anos de vida.

Quando Elisa acordou saiu da cama sem fazer barulho. Ao pé do lado dela olhou a cena com ternura. O cabelo de Darcy estava bagunçado de um jeito incrivelmente fofo, e ela estendeu a mão para tocar, mas conteve-se no meio do caminho. Foi até seu quarto e trocou de roupa. Estava toda desgrenhada, passara o dia inteiro cuidando de Victoria, e seu vestido estava sujo e amassado. Vestiu uma longa saia vermelha e uma blusa branca com discretos bordados também em vermelho. Arrumou o cabelo o melhor que pôde e desceu em direção a cozinha. Darcy já estava lá, o cabelo penteado, mas extremamente informal, sem seu típico terno ou camisas sociais. Ele pedia que Matilda preparasse uma bandeja com o café de Victoria. Ao ver Elisabeta ele quase sorriu, e ao sair, segurou rapidamente em suas mãos. Os empregados olhavam a cena divertidos, principalmente aqueles mais velhos que conheciam Darcy praticamente desde a infância. Elisabeta Benedito fazia bem a ele e suspeitavam de que o patrão estava começando a se dar conta disso.

Darcy estava lendo uns relatórios que haviam acabado de chegar da empresa, enquanto observava Elisa e Victoria brincando de bonecas no canto da sala, quando o amigo o chamou na porta da mansão:

— Darcy Williamson!

— Camilo Bittencourt! - Darcy respondeu antes mesmo de se virar para a porta, reconhecendo a voz do amigo. Deixou os relatórios em cima da mesinha da sala e caminhou em direção a Camilo para lhe dar um abraço. - A que devo a honra dessa visita surpresa?

— Realmente uma grande honra, meu amigo! Tenho um convite muito especial a lhe fazer, mas antes quero lhe apresentar minha noiva.

— Não acredito que finalmente irei conhecer a mulher que ganhou o coração do meu maninho!

E, como se esperasse por sua deixa, Jane Benedito entrou pela porta. Elisa que olhava o encontro dos dois amigos com um sorriso no rosto, ficou em choque quando viu sua querida irmã parada na porta de Darcy Williamson, em Londres.

— Jane? - A Benedito mais velha falou, surpresa, ganhando olhar dos rapazes e Victoria.

— Elisa? - Jane respondeu, incrédula, enquanto praticamente corria em direção a irmã. - Deus, quais as chances? - As duas se abraçaram emocionadas.

Os dois homens na sala observavam a cena confusos, mas Camilo decidiu dar início às apresentações:

— Darcy, essa é Jane Benedito, minha noiva.

— Benedito? - o lorde encarou o amigo surpreso. Depois Jane e, por fim, Elisa - Essa é sua irmã que estava vindo para Londres?- Elisa confirmou com a cabeça e voltou a atenção para a irmã - Realmente, quais as chances?

— É o destino, meu amigo. - Respondeu Camilo, dando leves batidas no ombro de Darcy.

As irmãs continuavam em um mundo só delas, se abraçando entre lágrimas e conversando apressadas numa necessidade de contar absolutamente tudo. Até que Elisa sentiu as mãozinhas de Victória em sua saia:

— Elisa, a noiva do tio Camilo é sua irmã? E ela também brincava na casinha da árvore?

Jane sorriu e se abaixou para dar um abraço em Victoria. O inglês dela não era muito bom, mas fez questão de cumprimentar a menina.

— E essa menina linda, quem é? Nice to meet you, my name is Jane.

— Jane, você é muito bonita! - Victoria respondeu em português, surpreendendo Jane e deixando Darcy e Elisabeta orgulhosos.

Jane gostou da forma como a pequena pronunciou seu nome. Elisa a apresentou como a filha de Darcy e elogiou o português de Vicky. Victoria estava fascinada com Jane. Era incrível para ela conhecer uma das irmãs de Elisa! Mas Darcy pediu que ela fosse para seu quarto brincar com Matilda ou qualquer outra pessoa, para que Elisa pudesse ficar um pouco com sua irmã. Não era o que Victoria queria, mas ela obedeceu, e se despediu de sua nova amiga com um beijo na bochecha.

Quando os adultos ficaram sozinhos na sala e Darcy sugeriu que eles tomassem um chá juntos Elisa começou a ficar tensa. Darcy contaria que eles estavam noivos? Ela teria que mentir justo para Jane? Poderia confiar em Camilo e confessarem que era tudo uma farsa? Os olhos dela encontraram os de Darcy, que imediatamente a percebeu nervosa. O lorde decidiu então começar um diálogo antes que a situação se tornasse constrangedora.

— Jane, é um prazer finalmente conhecê-la. Confesso que quando Camilo me falou de você fiquei curioso. Que incrível coincidência você ser irmã de Elisabeta!

— Elisabeta! - Camilo falou se dirigindo à cunhada - eu nem acredito que finalmente a estou conhecendo também! Você é muito famosa em São Paulo e em todo o Vale do Café. Jane sempre me falou muito de você com muita ternura e saudade. Quando ela me pediu pra vir porque queria lhe ver eu não pude dizer não. E que coincidência encontrá-la justo aqui! Como você e Darcy se conheceram?

Jane também estava curiosa para saber a resposta àquela pergunta. Afinal o que sua irmã estava fazendo na casa do melhor amigo de Camilo?

Elisabeta novamente trocou um olhar com Darcy. Havia tanto sendo dito, e ao mesmo tempo, nada.

— Creio que essa é uma das histórias preferidas de Darcy, ele mesmo pode contá-la. - Ela respondeu lembrando-se da noite anterior, quando responderam a mesma pergunta à Charles e Amelia.

— Sua irmã, senhorita Jane, apareceu na minha porta, tarde da noite, gritando comigo.

Jane fez uma expressão de espanto e quase pediu desculpas pelo comportamento da irmã. Elisa sempre fora a mais explosiva das cinco e Jane vivia tendo que se desculpar por ela, mesmo Elisa estando certa em todas as vezes.

— Ah, então Elisabeta era a moça belíssima que você me contou naquele dia, a que lhe disse boas verdades - Camilo lembrou-se da conversa dos dois na sua última vinda a Londres enquanto ria e Darcy ficou envergonhado. Elisa lhe dirigiu um olhar divertido. Então não era só ela que o achava bonitão. - E desse episódio nasceu uma amizade, suponho?

— Uma amizade com Victoria, você quis dizer. - Darcy falou divertido antes de levar a xícara de café à boca. - Elisa veio para cuidar de Victoria, mas acabou me conquistando.

— O quê? - Foi a vez de Jane entrar na conversa - Vocês dois…?

— Em breve seremos noivos. - Darcy falou com naturalidade, já Elisa precisou da ajuda da irmã para que o líquido descesse corretamente, pois havia engasgado com seu café.

— E você não ia me contar? Elisa, nós já fomos melhores amigas!

— Ainda somos minha irmã. Apenas… Fui pega de surpresa! - Ela fuzilou Darcy com os olhos.

— Meus parabéns aos noivos! - Camilo cumprimentou o amigo e depois beijou o rosto de Elisabeta. Jane abraçou a irmã e apertou a mão de Darcy timidamente. - Isso merece uma comemoração! Duas irmãs Benedito noivas! Em Londres! Juntas após três anos! Proponho um jantar hoje à noite!

— Camilo, temos Victoria…

— Besteira, aposto que alguém pode cuidar dela por uma noite.

— Já saímos ontem à noite, e ela ainda está um pouco doente… - Elisabeta comentou. Era uma preocupação genuína com Victoria e não apenas uma desculpa para não sair em um encontro de casais. Darcy percebeu e novamente sentiu-se tocado pelo cuidado de Elisabeta com sua filha.

— Eu posso pedir que Matilda cozinhe um cardápio especial. Comida brasileira! O que acham? Jantamos aqui mesmo e depois que Victoria dormir nos reunimos na sala para conversas e jogos.

— Por mim está ótimo! - Camilo olhou para Jane - Tudo bem pra você, minha principessa? - Ela concordou, envergonhada pelo apelido em público e Camilo lhe beijou o rosto.

— Então estamos acertados! Vocês ficarão aqui, certo? - Darcy perguntou ao casal.

— Podemos ficar em um hotel, Darcy, não se preocupe conosco.

— Claro que não! Temos quartos suficientes. E aposto que Jane quer passar o maior tempo possível com Elisa. Vocês ficam! Vou pedir que a senhorita Smith leve suas coisas para os quartos de hóspedes.

Jane e Elisa subiram ao encontro de Victoria. A menina esperava ansiosa pelas duas com seu caderninho aberto e várias opções de tecido que ela guardou do dia em que foram na modista.

— Jane, que bom que você está aqui! Assim pode me ajudar com os preparativos do casamento do meu pai com a Elisa! Eu peguei essas amostras de tecido quando fomos na modista, e podemos escolher um para o seu vestido! E aqui eu comecei a anotar algumas ideias, olha só! - A menina falou animada, misturando inglês e português, entregando o caderninho para Jane.

A loira olhou para Elisa com ar de divertimento. Aquela menina era muito fofa! Jane queria apertá-la e enchê-la de beijos! Passaram a tarde falando sobre os casamentos, o de Elisabeta e o de Jane, e de nada adiantaram todas as tentativas de Elisa para trocarem de assunto ou brincarem de algo divertido. A febre de Victoria não voltou, mas a menina ainda tossia um pouco, e sempre que as crises de tosse começavam ela buscava aconchego no colo de Elisa. Foi impossível para Jane não se encantar com a relação das duas.

Após o jantar, Victoria se recusou a dormir. Queria passar todo o tempo possível com Jane e Elisa. Era como ter sua própria irmã! Mas ela ainda estava um pouco fraca pelo resfriado, e o remédio a deixava sonolenta, então ela acabou dormindo deitada no colo de Darcy no sofá enquanto ele e Camilo jogavam uma partida de xadrez.

Darcy pediu licença para levar Victoria até seu quarto e Camilo sugeriu de encontrá-lo no escritório para que as moças pudessem ter um tempo à sós.

— Eu não acredito que você está noiva!

— Não tem nenhum anel na minha mão ainda, Jane.

— Ai, Elisa, não seja estraga prazeres!

— Você pareceu a Lídia agora. Que saudade daquela doidinha! Como estão todos?

— Cecília está namorando! Rômulo Tibúrcio, lembra-se dele?

— Lembro! Ele não tinha fama de mulherengo?

— Se tinha ficou no passado, porque ele está completamente apaixonado por nossa irmã.

— E ela por ele?

— Completamente!

— E Lidia e Mariana?

— Lidia está lá enrolando o pobre do Randolfo, coitado. Ela se diverte, e no fundo a gente também. Coronel Brandão está empenhado em conquistar Mariana, mas ela tem resistido arduamente.

— E mamãe e papai?

— Mamãe não para de repetir o quanto você é uma filha desnaturada que não dá mais notícias só porque agora está morando na Europa, mas adora se gabar para as amigas que a filha está morando na cidade da rainha. Papai morre de saudade de você todos os dias. Tem dias em que chega a dar dó, Elisa, você precisa ver.

— Eu sinto tanta falta deles… - Lágrimas começaram a cair. Elisabeta tentava ser forte em todas as situações na vida, mas a saudade que sentia de casa e de sua família doía como o diabo.

— Mas me conte, e o Darcy, hein?

— O que tem o Darcy?

— Você o ama?

Alguma coisa dentro de Elisabeta se agitou. Darcy era irritante, mas também possuía um grande coração. Era reservado, e por vezes isso era confundido com orgulho e arrogância. Mas Elisa já o conhecia o bastante para saber o que havia por trás de sua casca.

— E você, ama Camilo?

— Não desconverse, Elisa. Eu perguntei primeiro! Mas sim, eu o amo. Ele é o melhor homem que já conheci. Ele é sempre tão carinhoso e me trata como uma princesa!

— Eu fico muito feliz que você tenha encontrado o seu príncipe encantado, minha irmã. É o que você merece.

— Ele é muito melhor do que um príncipe encantado, porque ele é real.

— Nossa, você está mesmo apaixonada! - Elisa brincou com a irmã e Jane ruborizou.

— E quanto a menina? Victoria? Ela parece gostar muito de você.

— E eu gosto muito dela, Jane. Victoria é uma menina muito doce, que viveu muito tempo sem carinho, e eu não resisti em dar isso a ela.

— Já acho muito bonita a relação de vocês duas. E você será uma ótima mãe para Victoria.

Mais uma vez algo aconteceu dentro de Elisabeta. Ela amava Victoria, não havia dúvidas disso. Mas seria mesmo uma boa mãe? Deus, ela seria mãe! A ideia a assustava, mas ao mesmo tempo despertava em Elisa sentimentos que ela nunca experimentou.

— Ela está animada para o casamento! - Jane continuou - E confesso que eu também. Não esperava vê-la casada tão cedo. Elisabeta Benedito, a mulher que não queria casar! E olha só você agora! Eu posso pedir para Camilo para ficarmos mais um pouco para ajudá-la com os preparativos.

— Não precisa minha irmã, será uma cerimônia simples.

— Elisa, é o seu casamento! É importante. Queria que nossos pais e irmãs também estivessem aqui.

— Jane… - Elisa quase implorou

— Está decidido! Ficarei e ajudarei minha irmã a organizar seu casamento! E eu estou tão feliz que seja o Darcy! Camilo veio a Londres especialmente para convidá-lo para padrinho, e agora você estará ao lado dele no altar. Como um casal! Meu Deus, Elisa. Nem nos meus melhores sonhos imaginei isso!

Elisabeta gemeu de nervosismo. Ela sentia-se mal por esconder um segredo tão importante de Jane, sua melhor amiga e confidente. Sabia que podia confiar nela. Não era sobre confiança, era sobre não querer decepcionar a irmã. E a vendo toda empolgada com o casamento, fazendo planos para o casamento dela própria, Elisa sentia que decepcionaria Jane se contasse a verdade. Mas haveria de contar.

— Jane - ela interrompeu os planos da irmã - lembra o que você escreveu na sua carta sobre os boatos das leis de imigração serem verdade? Pois bem, é verdade. Estrangeiros não podem trabalhar ou morar mais na Inglaterra.

— Mas você não precisa mais se preocupar com isso! Você se casará com Darcy! - Elisa encarou a irmã, séria. Deu a ela um tempo para juntar as peças. - Elisa… Você está querendo me dizer que… Esse casamento é por conta disso? - A Benedito mais velha confirmou com a cabeça - Mas você gosta de Darcy, não gosta? Ao menos um pouquinho. Você não se casaria com alguém que não gostasse.

— Eu gosto de Victoria. - Elisabeta deu de ombros.

— Ah, minha irmã…

***

No escritório, Darcy confidenciava o mesmo segredo a Camilo. Não sabia se Elisabeta contaria à irmã, mas acreditava que sim. Inicialmente ele achou por bem manter Camilo fora da situação, mas depois caiu em si. Camilo era seu melhor amigo há anos, e estava ali lhe chamando para ser o padrinho de seu casamento. Ele não podia simplesmente esconder dele um segredo como aquele. Não seria algo fora do comum para Darcy, já que seu primeiro casamento também não havia sido por amor. E nem seu relacionamento com Susana. Darcy preferia ser prático. E não acreditava que ele estava entre as pessoas dignas de amor, muito menos o amor romântico. E ele gostava de Elisabeta, apesar das brigas e do gênio forte, era uma mulher agradável e divertida. E ela amava Victoria. E isso era o mais importante para Darcy.

Camilo não criticou o amigo, nem o instruiu a desistir da ideia. Achou nobre da parte de Darcy casar-se com Elisabeta para mantê-la no país e no caminho de seus sonhos. E, no fundo, ele conhecia o amigo. Sabia que Darcy nutria sentimentos por Elisabeta, mesmo que não fosse amor. Conseguia ver na forma como ele a tratava, como a respeitava, como mulher, pessoa e autoridade - porque sim, Elisabeta era uma figura de autoridade quando se tratava de Victoria, e Darcy dava a ela total carta branca. E durante todo dia notou o olhar de admiração que Darcy dirigia a Elisabeta ou sempre que tocava no nome dela. Poderia não ser o amor que ele, Camilo, sentia por sua Jane, mas sentia que Darcy estava no caminho certo para isso.

O jovem Bittencourt pediu licença, alegando que estava cansado da viagem e ainda esperava encontrar Jane acordada para lhe dar boa noite. Darcy ficou mais um tempo no escritório, olhando para o nada, pensando em Elisabeta e no casamento. Precisava comprar um anel. Seu pensamento foi interrompido por Elisa, que bateu gentilmente na porta do cômodo.

— Com licença, Darcy.

Ele virou a cadeira na direção da porta. O corredor estava escuro e a meia luz do escritório iluminava parcialmente o rosto de Elisabeta.

— Sim? - ele respondeu, a voz meio rouca.

— Posso dormir aqui esta noite? Está tarde, Victoria ainda estava meio mole hoje e Jane está aí…

— Claro que sim, não precisa pedir. Você tem um quarto, afinal. E em breve essa casa também será sua.

Ela ficou em silêncio, mas permaneceu parada à porta, perdida em pensamentos.

— Darcy,você acha que estamos fazendo o certo?

Ele se levantou e caminhou até ela, se aproximando.

— O conceito de certo e errado varia bastante. Depende da circunstância, da criação, dos princípios… Do que você realmente deseja fazer, mesmo que você tente se convencer que não.

— Eu… - Elisabeta tentou falar, mas as palavras sumiram. Ela não sabia o que dizer. A proximidade do corpo dele ao dela a deixava desconcertada.- Eu… Estava pensando…

— Às vezes você pensa demais, Elisabeta. - Ele queria beijá-la. Deus, como ele queria. Mas sentia que qualquer passo em falso poderia afastá-la para longe. - Talvez você devesse deixar a vida te guiar de vez em quando, seguir os seus instintos. - Ele se aproximou ainda mais, a mão dele queimando para tocar a cintura dela.

— Talvez o senhor devesse seguir os seus próprios conselhos então…- A voz dela saiu baixo.

— O que seus instintos estão lhe dizendo agora, Elisa? - Ele finalmente tocou a cintura dela, a puxando gentilmente para mais perto dele. Elisa colocou as mãos no peito dele, mas ao contrário do que ele pensou, ela não o empurrou. E de novo ela esperou pelo beijo. A casa estava em completo silêncio, mas ela quase podia ouvir o rosto dele se movimentando em direção ao dela, assim como ouvia a voz na sua cabeça mandando ela se afastar. Ele passou a língua pelos lábios, e ela sentiu um leve cheiro de vinho. Os lábios dele estavam bem próximos aos dela, como nunca estiveram antes. E ela desejou experimentar o vinho misturado ao gosto da boca dele.

— Papai? Você viu a Elisa?

A voz de Victoria os assustou, e eles se afastaram rápido demais. Elisa precisou apoiar-se na porta para não cair.

— Ah, Elisa, você está aqui. Que bom, achei que tinha ido embora sem se despedir.

— Nunca, meu bem.- Elisa se abaixou e depositou um beijo na cabeça dela. - Vem, vou lhe levar de volta para a cama.

Dito isso, ela caminhou com Victória em direção aos quartos. Quando estava na metade da escada olhou para trás e viu Darcy encostado no batente da porta. A penumbra não permitia que ela visse seu rosto direito, mas ela jurou ter visto um sorriso.


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Notas finais do capítulo

Gente, será se esse beijo sai???