Toque escrita por Marie Motta


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

oi gente to repostando isso do spirit bye



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/770855/chapter/1

Estava nervoso naquele dia, mas não havia nada que podia fazer sobre o assunto. Quer dizer, havia algo, mas não achava que ninguém gostaria que fizesse isso com eles. Era estranho. Não queria incomodar ninguém com seus problemas.

Nessa manhã, Felix estava especialmente nervoso por causa da performance do novo álbum do grupo, amanhã seria a primeira de um mês inteiro delas, mas, ainda assim, estava nervoso, era sempre assim. Não tinha conseguido comer muito, estava um pouco enjoado. Sabia que só precisava relaxar um pouco e isso passaria, mas, por algum motivo, estava difícil de fazer isso naquele dia.

Suas mãos estavam coçando para segurar a mão de alguém, mas sabia que achariam estranho. Todos sempre achavam.

Não se lembrava de quando isso tinha começado, mas desde muito pequeno sempre gostou de segurar as mãos de outras pessoas e de lhes abraçar também. Mas não é como todo mundo, que faz de vez em quando, com ele tinha que ser a todo momento. Era algo que o confortava. Sua mãe até o levou em um psicólogo quando era pequeno por que ele chorava quando ela não podia lhe dar sua mão para ele ficar mexendo. O médico simplesmente disse o que já desconfiava: ele era reconfortado pelo afeto, mais especificamente o de segurar as mãos e o de abraçar as pessoas.

Dependia muito de como estava se sentindo no dia. Se sua dependência estava muito ruim, ele geralmente iria querer abraços, mas se estivesse mediano ou baixa, só as mãos seria o suficiente.

Cresceu fazendo isso com seus amigos, já que não entendia que esse tipo de coisa poderia deixar alguém desconfortável, sempre achou que todos se sentiam como ele sobre esse tipo de coisa. Mas ao longo que foi crescendo foi começando a ouvir os comentários que as pessoas faziam dele. Diziam que ele era imaturo e que grudaria em você se não ficasse longe dele. Perdeu todos seus amigos. As mães dos meninos disser não queriam ele perto.

Tudo isso por que ele gostava de carinho um pouco mais do que os outros.

Esta manhã seu nervosismo estava alto, mas, por algum motivo, suas mãos formigavam. Queria muito segurar a mão de alguém. Não importava de quem fosse. Sabia que se pedisse a Chan ele deixaria e até não ligaria muito, mas feliz não queria incomodar. Também tinha Woojin, que era sempre muito amoroso com os meninos mais novos.

Mas para falar a verdade, já tinha alguém em mente. Changbin.

O problema era que, apesar de serem bem próximos e grudentos em frente às câmeras, não faziam isso fora delas. Felix achava que o outro provavelmente iria ficar incomodado com suas afeições e até poderia achá-lo estranho, então ele não fazia isso muito. Para falar a verdade, até em frente às câmeras, Feliz geralmente era o que começa tudo. Changbin nunca havia recusado, pelo contrário, sempre aceitava seus abraços e brincadeiras de bom grado, mas, para ele, tudo eram apenas aquilo, brincadeiras. Enquanto que para Felix, aquilo significava mais.

Teriam que ir para a prática de dança e Felix não estava muito animado para isso, o que já era estranho o suficiente. Ele geralmente amava dançar, mas hoje não estava sendo um dia bom. Queria ficar em casa, abraçado com seu travesseiro.

Mas a vida não era assim Tão fácil e teve que ir mesmo assim. As duas primeiras horas foram as mais difíceis, pois não conseguia tirar sua cabeça da carência que sentia, mas depois o cansaço foi tomando conta e logo tudo que conseguia pensar era como queria descansar e comer alguma coisa.

Quando já era um pouco depois de meio dia, decidiram que podiam parar e ir almoçar. Comeram na cafeteria da própria empresa, onde até os fãs eram permitidos. Não haviam muitos deles hoje, só alguns aqui e ali, que não se atreveram a ir falar com eles. Felix não ligaria se tivessem ido conversar com ele, ou tirar uma foto, gostava desses momentos.

Todos se sentaram em uma mesa grande no canto e comeram em silêncio. Felix comeu sua comida na rapidez e ficou em silêncio, esperando os outros terminarem. Não estava muito no clima para conversa e os outros estavam ocupados comendo.

Chan parecia ter percebido seu mal humor, pois o olhou preocupado. Sabia que logo viria uma conversa, não aqui na frente dos outros, mas quando chegassem em casa. Chan era assim. Como o líder, tinha que se preocupar com os outros, até quando eles não queriam.

Contaria a ele sobre a coisa da dependência hoje. Não aguentava mais isso. Talvez ele pudesse ajudar de alguma forma.

Felix não notou que Chan não tinha sido o único que tinha percebido que ele não estava se sentindo bem. Changbin estava observando tudo do outro lado da mesa, vendo o líder e o garoto de entre olharem e como o australiano rolou os olhos ao entender a situação. Changbin teve um pouco de inveja de Chan naquele momento. Já que ele era o líder, não seria estranho ele conversar sobre coisas mais pessoais com o menino, mas com Changbin as coisas poderiam ser mais desconfortáveis. Ele não sabia se o mais nova iria querer conversar com ele, e não tinha autoridade alguma para fazer com que o menino fale. Simplesmente não daria certo, ou pelo menos, era isso que Changbin pensava.

***

Chegaram em casa todos cansados. Tinham o resto do dia de folga, então todos foram direto para seus quartos. Felix também estava cansado e não ia esperar para Chan vir falar com ele, talvez falasse com ele amanhã.

Estava indo para seu quarto quando vê o loiro vindo em sua direção.

— Vamos conversar um pouco, ok? — disse Chan, e já foi entrando no quarto do mais novo, esperando que ele o seguisse.

Fecharam a porta e Felix se sentou em sua cama, enquanto Chan se sentou numa cadeira virado de frente para o mais novo.

— Desembucha, vai. — disse, sem rodeios.

Felix respirou fundo.

— Eu tenho um pequeno problema e só estou estressado por causa desse pequeno problema. — falou. — Nada demais. Eu consigo resolver sozinho.

— Eu vou julgar se você realmente pode lidar com isso sozinho. Preciso saber qual é o problema.

Felix hesitou. Prometeu a si mesmo que contaria a Chan, mas estava nervoso. Já tinha sofrido tanto pelo fato de outros saberem… Queria que quando se mudasse para Coreia fosse diferente.

— Eu tenho dependência de afeição… — sussurrou. Não tinha coragem para falar mais alto e tinha medo de alguém do lado de fora ouvir.

— O que? — perguntou Chan, fazendo uma expressão de confusão.

— Dependência de afeição! — repetiu mais alto, mas não o suficiente para que alguém além dos dois ouvisse. — Pronto, falei e não me faça repetir, por favor.

Chan ficou surpreso, mas também parecia bem confuso.

— Você não sabe o que é, não é? — perguntou Felix, mesmo já sabendo a resposta.

Chan balançou a cabeça, negando.

— Eu meio que preciso receber… afeição… se não ficou muito ansioso e não me sinto muito bem. — ele explicou. — Para mim, carinho é como uma forma de conforto. Chega ao ponto de minhas mãos ficarem formigando se alguém estiver por perto e eu não puder segurar a mão da pessoa… Eu só… É bem imaturo eu sei, mas não posso fazer nada. Você também não precisa lidar com isso, eu vou tentar resolver de alguma forma… Isso é bem vergonhoso, eu sei…

— Não é vergonhoso. — Chan o interrompeu. — Todos temos nossos problemas, Felix.

— Mas…

— O Jeongin ainda tem medo do escuro, você sabe disso. — ele disse. — Você acha que ele deveria se envergonhar disso?

— Não. — respondeu, simplesmente. Realmente não se importava, nenhum deles ligava para isso. Todos achavam até fofo o fato dele dormir com uma luzinha.

— Então por que está pensando assim de si mesmo? Vem aqui. — ele disse, abrindo os braços para um abraço.

Felix hesitou por alguns segundos, mas finalmente foi de encontro com o mais velho. Ter um corpo contra o seu finalmente, o deixou aliviado. Nem tinha percebido quão tenso tinha estado esses últimos dias até seus músculos aliviarem.

— Sempre que precisar de conforto, pode pedir minha ajuda, ok? — ele disse. — Eu realmente não me importo, na verdade, adoro abraços!

Felix sorriu entre as lágrimas. Nem tinha percebido que havia começado a chorar. Estava tão feliz. Era a primeira pessoa que havia conhecido que não tinha achado sua necessidade estranha. Chan havia entendido e não fez piadas ofensivas e ainda havia oferecido sua ajuda. Felix estava realmente feliz.

***

Nas semanas após sua revelação para Chan, os dois estavam sempre juntos. Por causa de sua vida de celebridade, estresse era infelizmente parte de seu dia a dia, logo sua necessidade também seria. Precisava que Chan estivesse por perto para, pelo menos, segurar sua mão algumas vezes durante o dia para poder lhe acalmar. Era eficiente e algo que ninguém via nada de estranho, já que todos sabiam que os dois australianos sempre foram bem próximos.

Changbin era o único que não havia gostado muito da situação.

Ele havia ouvido a conversa entre os dois de semanas atrás sem ter a intenção. Estava indo conversar com Chan sobre uma música nova que estava compondo quando ouviu Felix falar por trás da porta. Não conseguiu se segurar e acabou ouvindo um pouco mais. Sabia que não deveria ter feito aquilo, mas a curiosidade estava lhe matando naquele momento, só foi pensar nas consequências depois que já tinha ido para seu quarto.

Estava se sentindo culpado por ter ouvido uma conversa tão pessoal quanto aquela.

Mas o que estava sentindo com mais força naquele momento era ciúmes e inveja.

Chan e Felix estavam praticando, Chan estava ensinando Felix a produzir e os dois estavam de mãos dadas. Sabia que não deveria se sentir assim. Chan estava ajudando Felix. O mais novo provavelmente estava nervoso por estar aprendendo algo novo e o líder só estava tentando acalmá-lo. Não deveria sentir ciúmes disso. Deveria ficar grato por Felix ter alguém com quem ele podia contar daquela maneira, mas não era assim que se sentia e não conseguia evitar. Seu coração não lhe ouvia.

Queria estar no lugar do mais velho. Queria estar ali, segurando a mão de Felix, lhe ensinando a produzir. Queria poder rir com ele quando ele fazia algo certo e o confortar quando fazia algo errado. Queria poder fazer bem mais do que só olhá-lo de longe.

Mas não podia. Felix não gostava dele daquela forma. Sabia disso.

Mas não conseguia se aquietar mais. Precisava ter certeza que não havia nada entre os dois. Precisava saber.

Depois de praticar, todos haviam ido para casa e estavam assistindo a um filme. Chan e Felix estavam um do lado do outro como sempre e estavam quase abraçados no sofá. Changbin não aguentava assistir aquilo, precisava fazer algo.

— Felix, pega pipoca para mim. — pediu.

— Mas não tem pipoca. — o mais novo disse, sem nem tirar os olhos da televisão.

— Então faz. — tentou.

O menino não pareceu muito convencido em obedecer naquele momento.

— Por quê eu faria isso?

— Por que eu sou mais velho. — respondeu, esperando que o menino simplesmente classe a boca e obedecesse logo.

— E desde quando você usa isso contra alguém?

— Desde agora. — disse. — Vai logo.

Finalmente, Felix decidiu obedecer, mas não sem fazer uma cara feia para o mais velho. Se levantou e foi para cozinha.

Não demorou muito Changbin o seguiu.

— Achei que tinha me pedido para eu fazer pipoca para você. — disse Felix ao ver o menino mais velho entrar.

— Eu só vim te perguntar algo. — disse, sem enrolação.

— E se eu não quiser responder?

— Você vai responder. — disse. Conhecia o Felix, ele responderia nem que para negar tudo. Changbin só precisava saber se ele estava mentindo ou não, já que ele mentia muito mal.

— Tá bom… O que é?

O rapper hesitou por alguns segundos. Será que deveria estar perguntando este tipo de coisa mesmo?

Agora era tarde.

— Tem alguma coisa entre você e o Chan? — perguntou.

Estava nervoso e o outro nem havia respondido ainda.

O menino mais novo pareceu surpreso. Ele passou alguns segundos em silêncio. Isso não pareceu ser um sinal bom para Changbin. Ele poderia estar pensando em uma mentira para contar para o mais velho.

— Não estamos namorando ou nada assim se é isso que está me perguntando… — o mais novo respondeu baixo, provavelmente com medo de que alguém, principalmente o líder, pudesse escutar da sala. — Nem sei de onde teve a ideia de que poderíamos estar tendo algo, para falar a verdade.

Ele não parecia estar mentindo. Imediatamente sentiu o peso em seu peito aliviar. Eles realmente não estavam juntos. Não que fosse fazer alguma coisa se eles estivessem, teria que aceitar, mas iria doer menos, bem menos, se o Felix ainda não tivesse namorando alguém. Era egoísta, sabia disso, mas queria poder aproveitar um pouco mais do tempo que tinha.

— Vocês tem andado tão próximos ultimamente… — sussurrou, mas foi alto o suficiente para outro menino ouvir.

— Ele só está me ajudando com algo.

Changbin se sentiu culpado por saber do que ele estava falando.

— É, eu sei. — ele admitiu. — Eu ouvi a conversa de vocês sem querer…

Felix não pareceu nem um pouco feliz em ouvir isso. Na verdade, a expressão foi de curiosidade para medo e tristeza bem rapidamente.

Changbin tinha fodido com tudo.

— Felix, me desculpa mesmo. — começou a se desculpar. — Eu não tive a intenção, eu estava indo falar com Chan e acabei ouvindo pela porta, me desculpa…

— Tudo bem. — foi interrompido pelo mais novo. — Os outros iam acabar percebendo que tinha algo de errado comigo de qualquer forma. Dessa forma é mais fácil, eu não preciso explicar nada.

— Não tem nada de errado com você, Felix. — disse. — Na verdade, eu acho bem fofo…

— Você me acha fofo?! — Felix o interrompeu.

Espera. Não deveria ter dito aquilo.

Changbin não conseguia mais achar palavras para dizer mais nada depois daquilo então só acenou com a cabeça, afirmando que sim.

Os dois então se olharam por alguns segundos, mas Changbin abaixou a cabeça. Queria tanto beijar Felix agora, mas não podia. Ficar olhando para ele só piorava sua vontade.

Estava pronto para voltar para sala, quando o australiano o chamou.

— Espera. — disse. — Agora sou eu que preciso fazer uma pergunta.

— O que é?

Felix chegou mais perto.

— Posso te beijar?

Sentiu seus pelos se arrepiarem com a pergunta. Não estava esperando por isso e por alguns segundos ficou em silêncio sem saber o que fazer.

— Isso é um não? — perguntou Felix, preocupado.

— Sim! — disse. — Quer dizer não… Espera… Sim…

Não pôde terminar a frase, pois Felix já tinha selado seus lábios. Os lábios do mais novo eram grossos e macios e a sensação de tê-los contra os seus era ainda melhor do que tinha imaginado. Todas as suas fantasias nunca se comparariam com a realidade de beijar Felix. O beijo era simples mas Changbin já estava sem fôlego. Suas mãos estavam agarradas na blusa do mais novo. Não queria soltar. Não queria que esse momento acabasse nunca.

Felix por outro lado parecia querer aprofundar o beijo. Ele estava puxando Changbin para mais perto, se isso era possível, quase o abraçando. Tinha imaginado este momento por tanto tempo, nem acreditava que estava realmente acontecendo. Não sabia de onde tinha tirado toda aquela coragem para tomara a frente da situação, mas não se arrependia nem um pouco. Estava feliz de ter feito aquilo. Deveria ter feito a muito tempo.

Por mais que quisessem ficar juntos por mais tempo, tiveram que se separar pois estavam sem fôlego.

— Era um sim. — disse Changbin, por falta do que dizer.

Felix riu.

Era bom ser a causa daquele sorriso.

— Vamos voltar. — disse Changbin. — Os outros vão achar estranho o fato de estarmos aqui já faz quizenze minutos.

— E a pipoca? — perguntou Felix.

— Esquece a pipoca. — respondeu o mais velho. — Já estou satisfeito.

Felix sorriu com a provocação do rapper.

Eles então saíram da cozinha juntos e foram sentar no chão para poder terminar de assistir ao filme. Dessa vez, Felix sentou ao lado de Changbin e segurou sua mão.

Chan deu um sorriso ao ver os dois juntos. Tudo estava bem em sua família novamente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Toque" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.