Estava deitado em minha cama, com todas as minhas coisas empacotadas em caixas lacradas, suspirando. Ia ser despojado de minha casa daqui a algumas horas.

Por que as coisas tinham que ser assim? Por quê?

Tudo estava indo muito bem até começar a atrasar o pagamento das contas. E tudo isso porque me recuso a retornar o estudo e permaneço aqui, trabalhando de balconista.

Meio que é uma forma rebelde de demonstrar minha insatisfação com a minha família. Desde que mostrei-me mais incapaz do que meus irmãos, meus pais começaram a me deixar na mão aos poucos, até finalmente me despacharem e se mudarem de cidade.

Não posso enganar: sempre fui mais incapaz que meus dois irmãos. 

Basicamente sou inútil para quase tudo: minhas notas eram baixas, sou péssimo na cozinha, nos esportes... Em qualquer área que você sugira, sempre serei o pior.

Desde então, vivo as minhas próprias custas com o ensino médio trancado e trabalhando de balconista numa lanchonete miserável. Não parecia tão ruim assim, seria uma vida simples, medíocre, mas o suficiente para me sustentar.

Até eu perceber que meu salário não dava conta de todas as contas que eu tinha que pagar.

Mesmo que seja um apartamento minúsculo e brega, o aluguel ainda existia, mais a luz, gás e meu alimento e higiene. 

Cheguei a um ponto que não dinheiro para mais nada, de tão pouco. E agora, irritado, o dono do apartamento decidiu me expulsar do apartamento, pela demora do pagamento.

Então cá estou eu, aproveitando os últimos momentos de minha, agora não mais, cama e tentando pensar em um hotel barato para me instalar antes de ir a procura de um novo apê. 

Suspiro mais uma vez e me levanto lentamente. Hora de ir embora, penso. Pegando as minhas caixas muito contragosto e desajeitado, me encaminho até a saída, descendo lances e mais lances de escadas que desciam em espiral, capaz de me deixar tonto. Olho pela última o edifício que tinha me instalado e saio procurando por um hotel.

Andando sozinho pela manhã, derrotado, não conseguia pensar em nada a não ser as vezes que minha mãe reclamava de minhas notas e se questionava onde tinha errado.

Não foi você que errou mãe, fui eu.

Parando um pouco para descansar, pois as caixas eram pesadas, escutei um grunhido vindo de um beco deserto. Tento fingir que não o escutei, mas insistia em continuar, logo passando para murmúrios. O que é isto?

Tendo a curiosidade tomar meu corpo, fui em direção ao barulho, e me deparei com 3 jovens delinquentes chutando um pobre rapaz baixo no chão. Ele grunhia de dor, sem saber se defender.

— E agora Byun? O que mais teremos que fazer para pagar a dívida? - Um deles esbravejou.

— Vocês... Não merecem... o dinheiro... Ahhhhh!

O jovem gritava de dor, mas os meninos só chutavam e chutavam cada vez mais. Sentindo instinto tomar meu corpo, larguei as caixas e fui em direção aos delinquentes:

— Ei seus imbecis! Vão mexer com alguém do seu tamanho! - Exclamou, surpreso com minha própria repentina coragem.

Os jovens pararam de chutar o pobre rapaz que cuspia sangue e foram em minha direção, sorrindo maliciosamente:

— E quem é você ein grandalhão? Só porque tem altura de sobra acha que pode nos encarar? Tá nos tirando?

— Fiquem longe dele, ou vão se arrepender! - Retruquei.

— Uaaa, você é realmente corajoso grandalhão! Porém não gostamos de meninões corajosos. Especialmente aqueles que se metem onde não são chamados... - Um deles estalou os dedos, se preparando para atacar.

Engoli seco. Seria certo o que estaria fazendo? Não sabia. Só tinha uma forma de descobrir.

Um dos meninos avançou sobre mim, mas foi lento o bastante para eu desviar e dar uma joelhada em seu estômago. Os outros dois foram partir para cima e um deles atingiu meu rosto, mas tomado pela raiva, respondi com o mesmo soco em sua face. 

Essa luta de 3 contra 1 era extremamente injusta, mas os meninos eram baixos e mais fracos do que parecia e consegui dar belos golpes que os atordoavam. Meu rosto estava sangrando e estava roxo, mas sabia que possuía mais vantagem do que imaginava.

Finalmente, eles desistiram e fugiram indefesos, dizendo que teria volta. Simplesmente dei os ombros, limpei um pouco do sangue que tinha em meu rosto e fui em direção ao menino:

— Você está bem? - Perguntei estendendo a mão.

— S-Sim... 

Levantando-se, ele mostrou-se muito mais baixo que eu, os cabelos bagunçados e os óculos destruídos. Uma cena adorável.

— Muito obrigado, de verdade. - O baixinho falou - Quem seria você...?

— Eu sou Chanyeol. Park Chanyeol.

— Byun Baekhyun, prazer. Você está bem? Quer ir no pronto socorro comigo?

— Não sei... - Dei de ombros - Estou com as minhas coisas na rua, não quero perdê-las..., Mas sei lá, consegue  caminhar?

— Na verdade... - Manca um pouco - Não muito, pode me ajudar?

Concordo com a cabeça e faço ele se apoiar em mim. Juntos, caminhamos até o pronto socorro.

Os médicos imediatamente nos atenderem, colocando curativos, pontos e tudo mais para tentar deixar meu rosto normal. Senti os olhos de Baekhyun me fitando e me sinto envergonhado. O que ele tanto olha?

                           {. . .}

— Olha, muito obrigado novamente pela sua ajuda. - Suspirou - Se não tivesse aparecido não sei o que aconteceria comigo.

— Tudo bem. - Sorrio - Aliás o que fez com que eles te agredissem? Dívida?

— É uma coisa de família. Desentendimentos. Muito complexo, mas valeu pela pergunta. E você? O que tem nessas caixas?

— Ah... Umas coisas minhas... Fui despachado do meu apartamento porque não tenho dinheiro, mas não se preocupe, arranjo um jeito.

Baekhyun tamborilou o queixo pensativo.

— Está por acaso desempregado? - Perguntou.

— Como?

— Não tem emprego?

— Tenho sim mas... É bem medíocre. Por quê?

— Sabe, não vai ser a última vez que serei ameaçado e agredido por causa de toda essa confusão... Então, sabe, se quiser eu... Poderia te contratar como meu segurança. Ando precisando e meu pai reforça isso, que tal? 

— Ahh... Eu não sei...

— Olha, eu juro que garantirei um espaço grande em minha casa se aceitar, com comida e tudo. Só garantir a minha segurança que tudo está feito.

— Mas para quando eu poderia fazer minha entrevista? Semana que vem? - Pergunto calmamente, mas com o coração tenso de ansiedade. Uma oportunidade de mudar de vida seria ótimo, como um novo recomeço.

— Entrevista? Que nada! Você mostrou-se hábil na luta que conseguiu derrotar aqueles 3 marginais. Tenho certeza que não irá me decepcionar. Se quiser, pode se mudar agora mesmo.

— A-Agora? 

— Claro. Quero me sentir salvo o quanto antes. Aceita?

Senti meu coração quase pular para fora do peito. Nem acreditei que tinha tirado uma sorte tão grande. Seria real? Será que estou sonhando?

— Aceito.

— Foi muito bom fazer negócios com você, Park Chanyeol. Seja bem-vindo.

— Obrigado.

— Agora, vamos para minha casa, arranjarei um quarto para você, fique tranquilo. Não precisa agradecer.

Aceno com a cabeça e acompanho o Baekhyun até um ponto de táxi, sem acreditar. Que sonho bom é este?

{Continua...}