Quando nossos pais nos dizem para termos cuidado com estranhos, eles esquecem de alertar sobre pessoas que podem estar ao nosso lado. Eu tinha uma amizade muito forte após a ida repentina de Renan, e me apeguei muito à uma amiga do colégio católico onde estudava.

Logo, logo nossas famílias viraram amigas. E foi assim que começamos a frequentar a casa da outra. E foi assim que fui tocada pela primeira vez, sem saber o que era. Doeu. Dói até hoje. É uma dor insuportável. Livros obscenos, banheira de água quente, pornôs, masturbação.

Todas as formas de molestar crianças - até as próprias filhas - estavam lá, nítidas. Não demorou muito para eu começar a me sentir mais incomodada e ter medo de ir lá. Uma criança de oito anos com medo de ir na casa da melhor amiga? Algo poderia estar errado, mas meus pais nunca suspeitaram. Até que eu contei.

Meu pai não disse nada, apenas olhou para minha mãe tentando ver a reação dela, que riu e disse que era impossível. Continuei indo na casa da minha amiga e ela vindo na minha, mas com menos frequência. Isso durou até meus nove anos.