A conversa na mesa se desenrolava facilmente, todos animados e rindo, aproveitando a boa comida.

Will estava ao meu lado, seu braço descansando sobre o encosto da minha cadeira.

Ele estava vibrante. Depois de uma fase turbulenta, ele finalmente conseguia estabilidade e prestigio no Med. Eu estava orgulhosa dele, meu namorado era um ótimo médico, agora todos sabiam disso.

Mais por habito deixo meus olhos vagarem até ele. Sentado do outro lado da mesa, ao lado de Erin, ele mantem o sorriso no rosto.

Jay me fita, seus olhos azuis me observam, sei o que significa.

Will ainda rindo, deixa um beijo no topo da minha cabeça. Desvio meu olhar, me repreendendo mentalmente. Essa troca de olhares era uma armadilha, eu não podia cair nessa, não quando tudo estava indo tão bem.

—Ok, hora da sobremesa - anuncio, deixo um beijo na bochecha da Will e sigo para cozinha.

Tiro a torta de morango da geladeira e coloco sobre a bancada.

Me apoio na pia, encarando o nada, aproveitando meus segundos sozinha.

Passei meses fugindo dele. Dos olhares, sorrisos, o toque gentis da sua mão no meu corpo. E agora que estávamos no mesmo cômodo, os velhos desejos voltavam a tona.

Sinto sua presença atrás de mim. Sei que é ele, seu perfume é inconfundível.

Jay apóia uma de suas mãos ao lado da minha, enquanto deixa os pratos na bancada da pia com a outra.

Seu corpo quase toca o meu, apenas uma fina camada de ar nos separa. Posso sentir seu calor emanando, deliciosamente agradável, tão familiar.

Fecho os olhos, espero que ele se afaste, mas ele não o faz.

—Jay.

Minha voz sai baixa e tremula, ele não se move.

—Sim?

—Não faça isso - digo, me virando e o encarando.

Grande erro, agora nossos rostos estavam perigosa próximos. Tudo que ele precisava fazer era inclinar um pouco a cabeça, então nossos lábios se tocariam.

—Sinto sua falta- ele disse baixo.

As palavras somem, minha mente fica em branco.A intensidade do seu olhar me prende.

—Pare de me evitar, pare de fugir - ele murmura, num pedido desesperado.

As risadas vindas da sala me trazem de volta a realidade. Will estava no cômodo ao lado, meu namorado, o homem que me amava.

—Isso é errado, Jay - desvio meu olhar do seu.

—Eu sei - ele disse cansado- mas não muda o que eu sinto.

Balanço a cabeça em negação, me afastando dele.

—Mas mudou o que eu sinto - pego os pratos de sobremesa e as colheres- aquilo acabou, Jay. Para sempre.

Pego a torta nas mãos, pronta pra voltar a sala. Sua mão se fecha em torno do meu cotovelo.

—Você sempre foi uma péssima mentirosa, Liv - ele sorri presunçoso.

—Espero que isso não seja verdade, ou a qualquer segundo Will vai vir aqui quebrar sua cara .

—Will é um pouco lerdo quando se trata de ver as coisas obvias.

—Preciso voltar pra lá, Jay. Será que da pra me soltar?

—Eu te solto- ele olhou em desafio - assim que você olhar nos meus olhos e dizer que não me ama mais.

Ele era irritantemente confiante, o que só me deixava ainda mais frustrada.

Como um garotinha birrenta, encarei ele, ignorando aquela sensação no estomago.

—Eu não amo você.

As palavras soaram tão falsas que me deixaram envergonhada. Ele sabia que era mentira, agora nada tiraria o sorriso convencido do seu rosto.

—Como eu disse - ele sussurrou próximo ao meu ouvido- péssima mentirosa.

—Idiota- grunhi, dando as costas a ele e voltando pra mesa.

Ninguém pareceu perceber minha demora, todos estavam muito envolvidos na conversa do momento.

Segundos depois Jay se juntou a nós, trazendo os pratos para torta.

Pelo resto da noite tive que suportar seu olhar sobre mim. Suas risadas ficavam cada vez mais alta e divertidas, era irritante.

Me aconcheguei mais ao peito de Will, tentando prestar atenção na conversa, mas falhando a cada minuto.

Quando a noite finalmente chegou a fim, agradeci a deus por me livrar de todas aquelas pessoas.

Coloquei um sorriso no rosto e me despedi de um a um. Jay e Erin ficaram por ultimo, acho que ele estava fazendo de propósito.

Will mantinha a mão firme na minha cintura, despedindo-se tranquilamente do irmão e da mulher ao seu lado.

Realmente acreditei que estava me livrando dele, mas o desgraçado tinha que abrir a boca e ferrar com tudo.

—Agora que você conseguiu sua promoção, podemos sair todos juntos - ele me lançou um breve olhar - igual antigamente.

—Nossos encontro duplos eram péssimos, cara - Will disse rindo.

—Ele melhorou um pouquinho desde aquela época - Erin brincou, entrelaçando a mão na do namorado- acho que vai ser legal.

—Pode ser, o que você acha amor?

Acho que seu irmão é um filho da puta provocador.

—Claro, vamos marcar algum dia - disse, disfarçando o quanto estava contrariada.

Apena sorri na despedida, me recusando a soltar Will.

A porta finalmente se fechou, suspirei aliviada.

—Você está bem?- Will me fitou.

—Uhum -rocei meus lábios no seus- só estou feliz de estar finalmente sozinha com você.