Fourth Street House escrita por Mitsuki Hayashi


Capítulo 1
A Casa da Rua Quatro




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Século XI_ 30/10

Teiko_ Rua Quatro, Casa número 11

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— Amanhã é Halloween, não é mesmo?– o homem passou a página do velho livro, sorrindo com a resposta positiva vinda do outro. – Então por que não nos divertimos? Temos que comemorar.

Com uma bandeja em mãos, uma pessoa mais baixa adentrou o cômodo iluminado pelo candelabro. – Não estamos no ocidente, me parece besteira comemorar algo assim.– o líquido quente fora delicadamente derramado da chaleira para a xícara de aparência britânica, o doce cheiro do caro chá preenchendo o ambiente. – Vamos ficar quietos, apenas. Irão nos incomodar querendo ou não.

O mais velho suspirou exasperado, pendendo a cabeça para trás. – Essa é a questão, irmão. Se vão nos incomodar, somente essa noite, podemos nos divertir a suas custas.

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As cinco crianças pararam em frente a mais uma das casas da rua, mostrando seus sorrisos inocentes e estendendo as sacolas de pano.

— Doces ou travessuras!

Sorrindo, a mulher pegou a tigela com os doces, dando quantidades generosas a cada um dos pequenos. – Quanta fofura. O que você é, Midochin?

O menino de cabelo verde arrumou a armação no rosto. – Múmia.– estampado na face jovial o orgulho se mostrava óbvio das bandagens em volta da testa e pescoço, algumas também nos braços. Ela riu, o conhecimento do menino e sua fixação por horóscopo. Os pequenos agradecendo e saindo para a casa ao lado.

A mansão antiga escapava de toda a simplicidade do bairro. O jardim da frente possuía poucas flores, e as árvores que chutavam ser macieiras estavam sem os frutos, grande parte das frutas apodrecendo no chão ao lado de uma pilha de folhas caídas. O caminho depois da mureta era clássico, típico dos Estados Unidos, mas não deixava de ser incomum o caminho de pedra e terra até o chão de madeira escura trabalhada na varanda da casa. Semelhante ao caminho, as paredes de fora eram de granizo, pintadas em um tom claro para ao menos descontrair a intensidade que aquela moradia trazia.

O loiro olhou para a placa enferrujada apreensivo. – Podemos pular essa casa?– perguntou aos amigos, antes que o mais alto fosse para a porta branca manchada.

Satsuki revirou os olhos cobertos de maquiagem, abrindo o pequeno portão e entrando na propriedade sendo seguida pelos outros. – É a última casa, só vamos pedir os doces e sair.– disse e tocou a campainha, o som da mesma alcançando os ouvidos de Kise, que estava parado na rua mas saíra correndo para os braços do moreno vestido de Frankestain.

— Não gosto daqui! Quero ir para casa!– ele choramingou, esperando que a magia do Halloween o levasse para a cama depois de comer inúmeros doces.

— É só pedir que entreguem os doces, loira.– Daiki revirou os olhos, afastando do menor e furtando da sacola da menina um doce para comer.

Antes que Midorima pudesse se pronunciar o rangido irritante da porta se fez presente, e todos assumiram suas posições, sorrindo.

— Doces ou travessuras!– o bordão do feriado foi dito ao mesmo tempo, as sacolas erguidas e esperando os elogios que mais ouviram na noite.

Leves gotas de chuvas começaram a pingar do céu, mas a preocupação veio somente quando o menino que atendera a porta a fechou, batendo com força sem nada dizer.

O baque chocou a todos, irritou até. Murasakibara fechou a cara, segurando com força a barra da capa de bruxo que usava. – Oe, o que foi isso?

Arrumando os óculos que escorregavam do rosto, o esverdeado tossiu. – Ele fechou a porta na nossa cara, não é?

— Então…– a rosada arrumou as mangas da roupa de demônio que usava, olhando para a chuva que aumentava gradualmente. – Sem doce?

— Sem doce.– uma outra voz grave se fez presente, atraindo a atenção das crianças para o canto esquerdo da varando, um balanço antigo com um menino de cabelo ruivo brincando nele enquanto segurava um livro com a mão que não estava agarrada a corda. – Vocês nem deveriam estar aqui.– ele foi grosso, direto ao ponto encarando com os olhos vermelhos as visitas não desejadas.

Ninguém nada disse, a chuva sendo a única coisa que os tirava daquele clima estranho.

Estavam errados. Era o que passava na cabeça de todos vendo o pequeno. Mas por que exatamente estavam errados? Errados em pedir doces?

— Não temos doces, vão embora.– ele leu suas mentes. Saindo do balanço e indo até a entrada da mansão, parando em sua frente e os olhando com desdém.

— Sei-kun, está chovendo.– o que era para ser um sussurro acabou sendo alto demais, a atenção agora focada no azulado que via a cena encolhido na janela. O mesmo que batera a porta em suas caras. – Sei-kun, é perigoso.

O ruivo, Sei-kun, suspirou e cruzou os braços. – Está tudo bem, Tetsuya.– ele deu um sorriso, nada comparado ao jeito que antes estava. – Seja um bom menino e fique dentro de casa. Papa não vai gostar caso saia.– o foco fora voltado aos indesejados, e a mesma feição de antes piorada.

— Bem… Sei-kun?– Ryota começou, sendo atrapalhado pelos outros.

— Akashi Seijuro. Ponha-se em seu lugar.

Recuando, o loiro parou em uma distância que parecia segura do Akashi, continuando a falar enquanto gesticulava. – Hoje é Halloween, sabe? Viemos pelos doces dos Doces ou Travessuras.– mas diante do ruivo não conseguia sequer imaginar as travessuras.

— Você também está fantasiado, não é mesmo?– Shintarou olhou as vestes de Seijuro, iguais a um príncipe.

— Não. Besteira pedir doces. Vão embora.– mais uma vez o comentário de Tetsuya veio, a mesma exclamação da forte tempestade. Akashi ignorou, esperando que fossem embora.

— Estamos pedindo uma balinha só, vocês também são crianças! Como não pode ter nenhuma nessa casa enorme?– o moreno reclamou, segurando com força a camisa de Atsushi.

— Não devo satisfações a vocês.– Seijuro levantou a mão, fazendo sinal para que se afastassem.

Teimoso. Akashi Seijuro, a criança da Rua Quatro, casa 11, era mais que teimoso. Não conseguiam imaginar outra palavra senão essa para descreve-lo.

— Sei-kun.– a porta atrás fora aberta, revelando o menino que estava na janela, mas ele não saiu da casa. A pele mais pálida que o normal, os olhos azuis como o céu sem nuvens e inexpressivos, as sobrancelhas sendo a forma de perceber o que ele sentia. – A chuva é perigosa, Sei-kun.

Akashi virou pro menor, reeprendendo-o com os olhos, a boca fazendo um barulho de descontentamento. – Preocupado, Tetsuya?– ele perguntou, e um sentimento de esperança de ter alguém mais educado naquele lugar se acendeu no coração dos outros.

O azulado passou o olhar para as outras crianças. – Seus nomes… e essas fantasias, por quê?

Murasakibara se apresentou primeiro, ficando em alerta, mas desejando seus doces mais que a noção de perigo que sua voz interior gritava. – Murasakibara Atsushi. Sou um bruxo.– e se o pequeno fosse sonhador?

Se a imagem de que suas fantasias fossem reais, Tetsuya acreditaria neles, diferentemente do ruivo calado de prontidão caso qualquer um deles desse um movimento.

Satsuki entendeu o que o maior queria fazer, sorrindo mesmo com a situação e tocando a tiara com asas de morcegos. – Sou um demônio, Satsuki Momoi, mas pode me chamar de Momoi, só.

— Nunca que fará isso.– sussurrando, Seijuro entrou na casa, parando ao lado de Tetsuya e o abraçando.

As outras apresentações se seguiram, Ryota, Daiki e Midorima apenas dizendo o que eram e por que estavam vestidos daquilo.

— E você? Por que está vestido assim?– o arroxeado se referiu ao vestido que ele usava, branco quase encostando no chão, de mangas compridas e um capuz na cabeça. – É um fantasma?

Kuroko sorriu sem mostrar os dentes, tímido. – Sou.

A data que aquilo fora dito, a noite junto com a chuva e o cenário assustador colaboraram com que as lágrimas salgadas começassem a escorrer pela face do loiro e da rosada.

Estavam com medo.

Era Halloween, afinal.

Estavam com medo, dois chorando e os outros três com um pé atrás em relação aos dois.

E então Akashi começou a gargalhar. – Estão assustados? Com medo de nós? Que estranho, não é mesmo irmão?– ele soltou Kuroko do abraço, deixando as mãos dadas. – Não foram vocês que invadiram nossa casa?– continuou a rir, e por nervosismo Aomine o acompanhou.

— Besteira né? Não tem como ele ser um fantasma, você é fofo demais.– aproximou, lentamente indo tocar no menor.

A expressão indiferente de antes fora quebrada quando viu a mão em sua direção. Tetsuya soluçou com a proximidade repentina, tropeçando na roupa ao dar um passou para se afastar e caindo sentado no chão.

— Cara, você tá bem?– o moreno perguntou, estendendo a mão para ajudar o azulado, e seu pulso foi agarrado.

Seijuro piscou o olho esquerdo, a cor vermelha sendo substituída por um amarelo ouro. O irmão começou a chorar, recuando para mais fundo da casa, parando quando perto da escada. – Sei-kun.

Akashi não precisou olhar para Kuroko para saber. Ele estava com medo.

O medo das crianças que olhavam a cena sem saber se deveriam agir não se comparava ao do azulado.

— Sei-kun. É perigoso.

Os fantasiados não conseguiam entender o que eram perigos, a chuva que parou?

— Sei-kun. É perigoso. Eles são perigosos. Não os quero aqui.

Começaram a se sentir tontos, e Seijuro soltou o pulso do moreno, deixando que ele tombasse para trás com os outros. Desacordados, caíram na varanda e na escada, por pouco se machucando.

E a chuva parou.

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A cama trazia uma confortabilidade aos pequenos, todos gripados.

— Mas e Tetsuya? E Akashi?

O loiro foi o primeiro a acordar, perguntando das duas outras crianças sozinhas na enorme casa.

Apenas se lembrava deles, mas segundo os adultos foram encontrados no terreno baldio seco ao lado da casa da idosa. A última casa da Rua Quatro.

Os nomes que murmuravam durante a febre alta não eram conhecidos, nem registrados na prefeitura da cidade. Eram inexistentes.

Disseram-lhes que a quantidade abusiva de doces que comeram os fizeram criar amigos imaginários, porém no pulso de Aomine a marca da força que Seijuro o segurou ainda estava lá, e seus cabelos molhados pela chuva que pegaram ao desmaiarem

— Se for para nos preocuparem assim, estão proibidos de comemorar o Halloween ano que vem!– e como consequência veio o castigo, e longas idas ao psicólogo.

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Século XI_ 30/10

Teiko_ Rua Quatro, Casa número 11

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Kuroko desceu as escadas, olhando cada quadro pendurado na parede. Todos somente com Seijuro, desde pequeno com os olhos vermelhos que em certo momento se tornaram heterocromáticos até adulto.

Passou pelo espaço de frente a porta, a memória de quando era criança e entrava em pânico formando sua versão de pouca idade encostada na parede abraçando os joelhos e de cabeça baixa.

Podia até escutar o nome do irmão ser chamado várias e várias vezes.

Akashi estava na sala, sentado em um dos confortáveis sofás lendo algo antigo a julgar pela capa.

— Amanhã é Halloween, não é mesmo?– o azulado concordou com um murmúrio, podendo ver o sorriso aparecer na face do mais velho. – Então por que não nos divertimos? Temos que comemorar.

A data não era divertida para Tetsuya, e então depois de desculpas com soluções dadas o ruivo venceu a discussão.

Antes de recolher as xícaras, Akashi parou em sua frente, sorrindo. – Não se preocupe, vou te proteger, Tetsuya.– os doces lábios, aquecidos pelo chá selaram-se aos seus, o gosto de Baunilha sendo uma das coisas que mais prestou atenção.

Se separam, o maior indo para a cama dormir, e o azulado sorrindo minimamente, concordando com a cabeça. – Sei que vai, Sei-nii-chan.

 

 

 

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