Digimon: Fighters escrita por Ed Junior


Capítulo 15
Prova de Fogo


Notas iniciais do capítulo

Novo capítulo! Espero que gostem!



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A cabana continuava em silêncio. Lucas não tinha respondido a pergunta de Daniel, apenas o encarava com um olhar enigmático. No que Lucas estava pensando? Por que estava colocando a capacidade de Letícia e Vitor em pauta?

― Vai me responder? ― Daniel pressionou ― Acha que devíamos deixar Vitor e Letícia para trás?

Lucas não respondeu de imediato. Daniel podia ver em seus olhos que o menino loiro estava tentando formular uma resposta e teve que cerrar os punhos para conter as próprias emoções.

― Acho que deveríamos perguntar a eles o quão prontos estão para essa tarefa ― Lucas falou ― Estamos colocando muita responsabilidade nos ombros de duas pessoas que talvez não estejam preparadas para isso.

― E você se considera preparado? ― Daniel retrucou, quase não deixando o outro garoto terminar de falar ― Acha que está tão mais pronto que qualquer um de nós para carregar o peso da salvação de um mundo inteiro?

― Para falar a verdade, sim ― Lucas respondeu, ajeitando sua postura e encarando Daniel de frente agora ― Responsabilidade tem sido a minha vida inteira, Daniel. Tudo o que eu sempre fiz foi em resposta de carregar o peso da reputação da minha família, o fato de sempre precisar ser o melhor me assombra desde que eu era pequeno. Então, sim, eu acredito estar mais pronto para essa situação do que qualquer um de vocês.

― Pois eu acho que você está se achando demais ― Daniel falou de volta ― Está comparando uma vida estudando para deixar sua família orgulhosa com salvar um mundo inteiro da tirania de um governante. Eu não acredito que nenhum de nós está preparado para esse tipo de responsabilidade.

― Você não me conhece ― Lucas falou, cerrando seus olhos.

― E você não conhece Vitor e Letícia ― Daniel rebateu ― Nem eu conheço. A verdade é que nenhum de nós se conhece o suficiente para falar o quanto podemos aguentar ― Daniel pausou, respirando fundo e pensando em suas próximas palavras ― Mas pelo pouco que eu conheço aqueles dois, eles têm um potencial para te surpreender, Lucas.

Novamente o silêncio. Um silêncio quente, elétrico e intenso entre os dois garotos. Daniel podia quase tocar na crescente tensão entre ele e Lucas.

― Você acha mesmo que é uma boa ideia eles irem para o Digimundo? ― Lucas questionou, por fim.

― Acho ― Daniel declarou ― Mas, de qualquer forma, não é uma decisão que cabe a nós. Fomos todos escolhidos por Halomon e ela acredita na gente, em todos nós ― Lucas não falou mais nada, então Daniel continuou a falar ― Precisamos acreditar uns nos outros também, Lucas. Somos companheiros e estamos nisso juntos. Não vamos conseguir cumprir nossa missão se não pudermos confiar em nossos aliados.

Por mais algum segundos, Lucas não disse nada. Daniel não conseguia evitar tentar advinhar o que se passava nos pensamentos do menino loiro. Realmente esperava que ele mudasse de ideia sobre os outros, mas, por algum motivo, duvidava que isso iria acontecer tão cedo.

― Só espero ― Lucas falou, por fim ― que você esteja pronto para o momento em que precisar escolher entre salvar um deles ou o mundo, caso esse momento chegue.

― Não vai chegar ― Daniel afirmou.

Lucas, então, começou a andar na direção da saída do cômodo, se aproximando de Daniel e indo até as escadas. A cada passo que ele dava, Daniel conseguia sentir o ar na sala esfriar gradualmente. Não haviam palavras para serem trocadas entre eles, o silêncio falava por si só.

― Daniel! ― a voz de Dinomon ecoou pela cabana.

― Lucas! ― a voz de Guepmon a seguiu, quebrando a tensão existente naquela cozinha.

Daniel e Lucas se viraram para encarar enquanto seus digimons desciam as escadas para se encontrarem com seus parceiros. Ambos um pouco ofegantes por terem corrido do andar de cima até lá.

― O que houve, Guepmon? ― Lucas foi quem perguntou primeiro.

― Dinomon e eu sentimos a presença de um digimon aqui perto ― Guepmon respondeu.

― O quê? ― Daniel indagou.

― E não é só isso ― Dinomon tomou a palavra ― Procuramos em todos os lugares no andar de cima, mas Tanmon e Vitor não estão aqui.

Daniel sentiu o olhar de Lucas sobre ele e se virou para encarar o garoto loiro de volta. Os olhos de Lucas passavam uma clara mensagem: “eu te falei”.

Daniel trincou os dentes. Será mesmo que Vitor tinha sido tão impulsivo para ir enfrentar esse digimon sozinho?

Bom, eles haviam se conhecido apenas a dois dias, então não tinha como Daniel prever as ações do menino mais novo. Agora precisavam se preocupar com outra coisa: enfrentar o digimon que havia aparecido.

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Tanmon estava fazendo melhor que podia contra Vampirimon. Vitor acompanhava a luta com seus olhos, assistindo enquanto Tanmon voava desviando de ataques de Vampirimon e tentava acertá-lo com sua própria técnica, mas o digimon vampiro era rápido e mais forte. Ele também desviava dos raios de Tanmon, mas estava acertando-o cada vez mais com suas técnicas.

Tanmon estava ficando cansado, Vitor conseguia ver isso mesmo de longe.

― Seu passarinho patético! ― Vampirimon declarou ― Vou ter que admitir que está se saindo um oponente mais difícil do que imaginei, mas o resultado dessa luta será o mesmo independente da sua força. Se não puder digivolver para um nível mais alto, está tudo acabado.

― Não importa que eu não possa digivolver ― Tanmon respondeu ― Estou lutando para proteger o meu parceiro e não vou desistir enquanto não acabar com você.

Vampirimon bufou.

― Nesse caso, ― o digimon roxo ergueu seus braços e energia começou a se juntar no centro entre suas mãos, uma esfera de energia negra começava a se formar ― vou acabar com você agora mesmo! Tormenta Suprema!

Vampirimon baixou seus braços e descarregou seu ataque contra Tanmon. Uma nuvem feita de lâminas negras se apressou na direção do parceiro de Vitor em alta velocidade. O ataque era tão grande que a água do lago e as nuvens no céu também foram afetadas pelas lâminas. Vitor sentiu seu sangue gelar. Aquele era o maior ataque que Vampirimon tinha realizado até agora.

Mini Relâmpago! ― Tanmon desferiu seu ataque, seus pequenos raios acertando a nuvem negra, mas não causaram nenhum efeito. O golpe de Vampirimon era poderoso demais, era um outro nível de poder. Tanmon não conseguiria pará-lo.

O grito de dor do pequeno pássaro digimon ecoou na noite quando as lâminas o atingiram em cheio. Um grito estridente que machucou os ouvidos de Vitor e seu coração também. A dor de Tanmon parecia banhar todo o corpo de seu parceiro.

Vitor sentiu todo seu corpo tremer. Por alguns segundos, Tanmon recebeu os ataques e cortes daquelas lâminas. Quando o golpe cessou, o pequeno digimon parecia não ter mais forças para continuar e seu corpo caiu do ar em direção às águas do lago.

Uma lágrima escorreu pelos olhos de Vitor quando seu parceiro atingiu o lago, desaparecendo nas profundezas.

― E, no fim, não pôde me vencer ― Vampirimon falou, destruindo o silêncio frio que havia cristalizado a noite ― Que inútil ― os joelhos de Vitor fraquejaram e as lágrimas jorraram de seus olhos como se uma represa abrisse para uma corrente de água derramar ― Agora vamos continuar com a missão que eu vim realizar.

O alarme se espalhou pelo corpo de Vitor como um arrepio percorre o corpo de uma presa em sinal de perigo. Ele levantou seu olhar no exato momento em que a lâmina vermelha de Vampirimon se disparava em sua direção.

Mais uma vez, Vitor saltou para fora do caminho e o ataque destruiu mais um pedaço do píer. Não sobrava mais quase nada da antiga estrutura de madeira, apenas um quadrado no meio da águe no qual Vitor estava em pé.

― Não adiante correr ― Vampirimon declarou ― Sem seu digimon para te proteger, você não passa de um humano indefeso. No fim, vocês dois realmente foram feitos um para o outro. Uma dupla de inúteis.

Vitor sentiu seu sangue ferver. Não sabia de onde toda aquela raiva estava vindo, mas era algo que não conseguiu segurar para si mesmo. A imagem de Tanmon sendo derrotado repetia em sua mente em loop infinito.

― Ele não era inútil! ― a explosão de Vitor supreendeu Vampirimon ― Tanmon fez de tudo para me proteger, deu seu melhor para que eu pudesse viver mesmo tendo me conhecido a pouco tempo! Ele sabia que não podia vencer, mas mesmo assim lutou com tudo o que tinha! Se quiser chamar alguém de inútil, esse sou eu que me deixei levar pela minha necessidade de ser forte e trouxe o meu parceiro para uma batalha perdida! Mas não ouse chamar o Tanmon de inútil!

Vampirimon sorriu de canto novamente, um sorriso que o digimon aparentemente gostava muito.

― Então agora você decidiu criar coragem e falar alguma coisa? Onde estava toda essa paixão quando o seu parceiro estava lutando e perdendo? Você tem razão, garoto, você é um inútil. Quando seu parceiro mais precisava, você não conseguiu fazê-lo digivolver.

Vitor engoliu em seco. As palavras do digimon o atingiram como um soco no estômago. As lágrimas continuavam a escorrer, sua garganta trancava cada vez mais e a dor da realidade apertava em seu coração.

― Não vai dizer nada? ― Vampirimon continuou a falar ― Óbvio que não. Porque você sabe que é verdade, não é? ― Vitor não conseguia responder, era como se o mundo todo estivesse passando por ele em câmera lenta ― Você correu para uma batalha sem saber quem era o inimigo, forçando seu parceiro em uma luta sem chances de vitória somente para provar que você é forte ― a risada megalomaníaca de Vampirimon ecoou profundamente nos ouvidos de Vitor ― Quanta ironia! A culpa deve estar te corroendo por dentro, garoto.

E estava. Vitor sentia o peso de toda aquela situação em seus ombros. A culpa era toda dele. Só queria que Daniel e Lucas estivessem ali para poderem ajudá-lo. Mas não estavam. Tanmon estava afundando no lago e Vitor não conseguia transbordar seu DNA para lhe dar forças. Esse era o fim?

― Não se preocupe ― Vampirimon voltou a falar ― Eu vou acabar com seu sofrimento agora! Nuvem do Pesadelo!

Vitor levantou sua cabeça no exato momento em que o ciclone negra saiu das mãos de Vampirimon. Mas dessa vez ele não fugiu, não desviou. Não tinha para onde correr mais, o píer estava destruído e a culpa corroía seu coração.

A “Nuvem do Pesadelo” o atingiu e Vitor caiu na escuridão.

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Vitor...

Era o que ecoava na mente de Tanmon enquanto ele abraçado pelo frio e breu do fundo do lago. Era difícil respirar, ele não conseguia nadar de volta para a superfície. Seria esse realmente seu fim?

E tudo o que conseguia pensar era em Vitor. Seu parceiro que ainda estava lá em cima, cara a cara com um digimon que queria destruí-lo. Tanmon precisava fazer alguma coisa. Precisava continuar e sair do fundo daquele lago. Precisava lutar... Mas não tinha mais forças.

Precisava de Vitor. Precisava que Vitor fosse forte.

E que lhe desse um pouco dessa força.

Vitor...

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Os ecos de sofrimento eram demais para seus ouvidos. Era como se estivesse no centro de um corredor com portas para múltiplas câmaras de tortura. A dor era demais, a devastação e perda eram tremendas. Vitor conseguia entender porque aquele ataque se chamava “Nuvem do Pesadelo”. Era como se a vítima estivesse envolta em uma bolha de gás que atacava sua mente com os piores horrores do mundo.

“Fraco!”

“A culpa foi sua!”

“Não conseguiu fazer nada, seu inútil!”

“O Digimundo não precisa de você!”

Essas frases ecoavam na escuridão, atacando a mente e o coração de Vitor. Seus joelhos atingiram o chão e o desespero percorreu seu corpo. O que estava acontecendo? Que tipo de pesadelo era esse? Que sensação terrível era a que estava percorrendo seu corpo naquele momento?

Desista, a voz de Vampirimon chegou aos seus ouvidos. Entregue-se a mim e o sofrimento vai acabar. Seu sofrimento vai acabar.

A voz do digimon não era ameaçadora ou diabólica como Vitor se lembrava. Ela soava muito sedudora agora, convidativa e suave. Parecia uma boa ideia se entregar a ela. Era um oceano calma em meio a um redemoinho de dor.

Parecia uma boa ideia deixar todo aquele sofrimentoe para trás.

Isso mesmo, Vampirimon continuou a ecoar em sua mente. Venha comigo. Esqueça essa dor, esqueça todo esse desespero. Venha para uma vida sem preocupações.

Vitor quase conseguia ver a mão de Vampirimon se estendendo em sua direção, chamando-o para seu lado. Vitor, então, se levantou, seu corpo estava agindo independente de sua vontade. Como se tivesse sido enfeitiçado pelo outro digimon. E a mente de Vitor parecia confortável com essa ideia.

Vitor...

Outra voz. Mais um eco em sua mente. Mas não era Vampirimon. Então quem...?

Vitor...

Tanmon. Vitor não tinha dúvidas. Era Tanmon que estava em sua mente. Mas... Onde estava Tanmon? A escuridão estava por todo lado, não conseguia ver o pequeno pássaro digimon.

― Tanmon! ― Vitor gritou para o vazio e tudo retornou para sua mente. A luta, Vampirimon, o píer, Tanmon caindo no lago. As imagens mais vivas do que nunca pulando uma atrás da outra diante de seus olhos. E, por o último, a “Nuvem do Pesadelo” de Vampirimon o atingindo. Era isso o que estava acontecendo: ele estava dentro da “Nuvem do Pesadelo”.

Vampirimon estava tentando fazê-lo desistir, enterrar seu coração nas trevas e acabar com ele de uma vez. A voz de Tanmon ainda ecoava em sua mente como um mantra. Seu parceiro ainda estava vivo e precisava de ajuda. Ele estava tentando alcançar Vitor nesse mar de escuridão. E sua voz tinha chegado aos seus ouvidos.

Vitor sentiu seu sangue pulsar. Tanmon precisava dele, agora mais do que nunca. E Vitor não podia desistir. Tinha chegado até aqui para provar que era forte e agora era sua chance. Precisava ser forte. Ser forte pelo Digimundo, para Tanmon e para si mesmo. Ele não iria terminar dessa forma, não enquanto seu parceiro que confiou nele precisava de sua ajuda. De jeito nenhum.

Foi então que tudo clareou. A escuridão desapareceu, Vitor sentiu seu corpo funcionar normalmente de novo e a lua surgiu novamente em seu campo divisão. Tudo queimava dentro de si, como um pulso forte de energia nova.

Ele viu o choque no rosto de Vampirimon quando a “Nuvem do Pesadelo” se dissipou completamente.

― Impossível ― Vampirimon indagou ― Ninguém nunca conseguiu escapar da minha “Nuvem do Pesadelo”. Ninguém é forte o suficiente para isso.

― Aparentemente, eu não sou tão inútil quanto você pensou que eu fosse ― Vitor declarou, a confiança parecia transpirar de seu corpo.

― Mas como? ― Vampirimon questionou ― Você estava acabado. Seu coração estava mergulhando no desespero. Eu vi!

― Meu parceiro foi lá e estendeu a mão para me tirar do mar de escuridão ― Vitor respondeu. Ele se sentia quente, muito quente ― Tanmon acreditou na minha força quando eu mesmo não acreditei e, mesmo em seu pior momento, ele não desistiu de mim. Eu não vou desistir dele!

― Aquele passarinho já está acabado! ― Vampirimon gritou, se preparando para mais um ataque.

― Não, Vampirimon. Enquanto eu estiver aqui para dar forças a ele, Tanmon não vai ser derrotado! ― Vitor então sentiu seu punho direito queimar mais do que antes, mais do que todo seu corpo e, quando se virou para olhar o que estava acontecendo, arregalou seus olhos ao dar de cara com um fogo amarelo feito de dados. DNA, assim como Daniel, Lucas e Letícia.

― Morra! Lâmina de Sangue! ― Vampirimon lançou se ataque contra Vitor, mas o garoto foi mais rápido do que a lâmina de energia vermelha.

Ele sabia o que o DNA significava, então puxou seu digivice e colocou seu punho sobre o topo do aparelho, assistindo enquanto o fogo amarelo era absorvido.

― Carregar DNA! ― Vitor exclamou e um brilho amarelo forte tomou conta do local, repelindo o ataque de Vampirimon.

O brilho estava concentrado no lago, vindo de suas profundesas e ficava cada vez maior e mais forte. Uma voz saiu do lago.

Tanmon digivolve para... Thundermon!

Foi então que o lago explodiu, espalhando água para todos os lados enquanto um digimon gigante saía do lago. Vitor estava em choque ao encarar o grande pássaro amarelo que estava em sua frente.

Ele era muito maior do que Tanmon, quase do mesmo tamanho que o GinGeamon de Daniel. Era coberto por penas amarelas e suas asas estavam bem abertas em um desafio não falado para Vampirimon. As asas terminavam em grandes penas vermelhas, assim como sua cauda. Ele possuía um par de patas traseiras que era vermelhas também, mas que terminavam em garras negras. Em sua cabeça, ele possuía um bar de chifres negros e um bico vermelho. Seu olhar era ameaçador e determinado.

Aquele era o parceiro de Vitor. A forma evoluída de Tanmon.

Thundermon.


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Notas finais do capítulo

Eu particularmente gosto bastante desse capítulo e do próximo :))

Espero que estejam gostando! Semana que vem tem mais!



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