Orquídea Vermelha escrita por Mrs Jones, QueenOfVampires


Capítulo 2
I'll Give You a Ship!


Notas iniciais do capítulo

Olá, querídissimos, retornamos com mais um capítulo dessa fic que vocês conhecem há pouco tempo, mas já consideram pacas hahaha Agradecemos os comentários e acompanhamentos, ficamos felizes que estejam gostando.
Em duas semanas retornaremos com o terceiro capítulo.
Boa leitura!



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— Ah, Killian! Agora me lembro! – Barba tomou um gole de bebida, tentando entender o que Smee queria lhe comunicar através de gestos. Sua interpretação de linguagem não-verbal era incrivelmente péssima, pois achou que o homem lhe dizia para enrolar o bigode, se embebedar, dormir como um bebezinho e carregar um saco de batatas, o que não fazia o mínimo de sentido – Você acabou por integrar outra tripulação, imagino.

— Ah sim, trabalho para o Capitão Bartholomew! Nada como trabalhar para um sujeito proeminente como o senhor, mas fato que muito me orgulha – Killian sorriu e coçou a barba, ainda em ar de quem não acreditava no que estava acontecendo – Perdoe-me, mas... o que é que o motiva a dirigir-me a palavra?

— A memória de tê-lo conhecido, é claro! Faz já tantos anos... Eu não esperava encontrá-lo em Península Renegada – e tratou de desconversar, antes que Killian desconfiasse que ele tinha outras pretensões por trás de sua fingida amabilidade – Diga-me, meu caro, qual é sua função na tripulação de Bartholomew?

— Cozinheiro, senhor.

— Aah, cozinheiro... – era de se esperar que o noivo de Cornélia fosse um homem rude, batedor de pregos e lutador voraz, não um domador de panelas; mas, antes de julgar, Barba pensou que talvez tivesse sido a falta de oportunidade e também o infortúnio de ser desprovido de uma das mãos que o levara a assumir tal função – Bem, eu já tenho um cozinheiro, mas ando necessitado de um rapaz robusto e saudável para realizar serviços diversos. E, bem... queria perguntar-lhe se não gostaria de um lugar à tripulação, já que não guarda rancor por meus atos passados.

Killian levou bem uns cinco segundos absorvendo a pergunta do homem. Quando por fim respondeu, parecia tão abobado que mal soube formular a resposta.

— Mas... é claro que... claro que eu aceito, senhor... mas não sou lá muito... muito bom com serviços que não envolvam a... cozinha...

— Bem, nisso damos um jeito – e Barba tornou a virar outra golada de cerveja, incentivando Killian a fazer o mesmo, enquanto tentava desvendar o significado dos gestos toscos que Smee fazia. O homem girava um dedo no ar, para depois imitar o movimento de quem virava a caneca; então juntava as palmas das mãos e pendia a cabeça para o lado, como quem dorme em posição angelical; por fim, parecia imitar um mercador que erguia um saco de batatas e jogava sobre o ombro.

— Senhor? – chamou Killian, pois Barba Negra estivera de boca entreaberta e encarando um ponto distante sem piscar, quase como se estivesse hipnotizado – Senhor!

— Hum? Sim? Ah, perdão, eu estava de olho numa prostituta... Como eu ia dizendo, nisso se dá um jeito... Ei, Gretta, mais uma rodada aqui!

— Mas não vejo como posso lhe ser útil tendo apenas uma mão...

É claro que Barba se lembrou de quando dissera aquilo ao garoto e sentiu-se culpado no mesmo instante. Não teve tempo de dizer nada, no entanto, pois a garçonete substituía suas canecas. Ele brindou com Killian e derramou um bocado da cerveja ao beber energicamente. Finalmente, como se lhe acendesse uma lamparina na cabeça, entendeu o que Smee se desesperava em tentar comunicar: ele devia enrolar o rapaz e embebedar o mesmo até que caísse no sono, permitindo-se ser carregado ao navio, onde, então, seria mais fácil convencê-lo a casar-se com Cornélia.

— Eu te amo, Smee! – murmurou ele, agradecendo a si mesmo por ter aceitado Smee como tripulante.

— Hum? – fez Killian, limpando a espuma da boca.

— Nada!

Durante meia hora, Barba Negra bebeu com Killian, esforçando-se em mantê-lo entretido. Conversaram sobre uma variedade de assuntos e até mesmo chegaram a discutir as milhares de funções que uma espada podia assumir. Killian ia dizendo que a lâmina muitas vezes lhe servia de espelho e Barba, já exausto e prestes a cair de bêbado, interrompeu-lhe perguntando se ele não gostaria de ir ver sua coleção de armas. Não precisou repetir a pergunta.

— Acredito que o senhor exagerou um bocado – riu Killian, auxiliando Barba no caminho até a saída.

— De cato, meu faro – embolou-se Barba, cambaleando feito uma gaivota cega. Mais tarde, recobrando a consciência, não conseguiria entender como é que Killian se mostrava tão resistente aos efeitos do álcool, quando ele mesmo acreditava ser um elfo se passasse da conta – Meu reino fica para lá, depois do pôr-do-sol...

Killian ria, achando engraçadíssimo o fato de Barba Negra ser tão suscetível ao álcool quanto as pessoas normais. Não haviam se afastado muito do bar quando Smee os alcançou.

— Capitão! Puxa vida, como o senhor exagerou!

— Senhor Smee! – exclamou Killian, tão logo o reconheceu – Que prazer revê-lo!

— Como vai, meu rapaz? Não imaginei que se lembrasse de mim.

— Mas é claro, o senhor foi tão gentil comigo.

— As estrelas são batatas brilhantes que cresceram demais – resmungou Barba, apontando uma mão trêmula para o céu.

Smee balançou a cabeça, refreando uma risada.

— Acho que vamos precisar sentar o Capitão, ele vai cair no sono antes mesmo de alcançarmos o navio.   

— Vou providenciar um carro de mão, para que possamos levá-lo até lá – ofereceu-se Killian, ao que o outro contestou.

— Lhe faça companhia, eu mesmo busco o carro.

Bastou uma distração de Killian para que Smee apanhasse um pedaço de lenha, com o qual lhe acertou a nuca, desacordando-o. O rapaz desabou sobre Barba, que, desavisado e incapaz de se manter em equilíbrio, desabou junto. Ele gargalhou em alto e bom som, como se rindo de uma piada muitíssimo engraçada.

— Ai Smee, às vezes você é muito astauto.

É claro que ele queria dizer astuto.

Mesmo com a língua enrolada, quase sem noção alguma da realidade, o Capitão ordenou que Smee amarrasse o homem e colocasse um saco de batatas vazio na cabeça dele. E assim o segundo imediato fez, já sentindo pena do pobre coitado que, além de sequestrado, seria forçado a se casar com Cornélia.

— Onde o colocamos agora, Capitão? – perguntou, chamando atenção de Barba Negra que cantarolava alguma música infantil em uma língua que nem parecia existir.

— Oh! Eu preciso pedir a opinião de Lady Elisa! A coitada é obrigada a ouvir as aventuras sexuais de minha filha, deve saber se esse é o tipo de homem que a agrada. – ele saiu marchando na frente, apoiando-se em todos os lugares possíveis para evitar cair de cara no chão.

— Mas ela deve estar dormindo, Capitão! – Smee alertou, mas não adiantou. Enquanto ele arrastava Killian pelo convés, o capitão já estava chegando na porta da antiga despensa, que agora servia de quarto para Lady Elisa.

Ele deu fortes batidas e, apesar do susto, a moça disse que já estava indo. Após alguns segundos, ela abriu a porta com um pouco de receio e se assustou ao ver o Capitão quase caindo de bêbado e Smee arrastando um corpo.

— Oh, Deus! – ela exclamou, cobrindo a boca com as duas mãos – Isso é um cadáver?

— Não, senhorita! – Smee se apressou em explicar – Precisamos de sua opinião num assunto de extrema importância.

— Estava acordada? – Barba questionou, notando que ela ainda estava com as mesmas roupas de mais cedo – O que estava fazendo ainda acordada, menina?

— Ah, sim! – ela respondeu com um sorriso gentil e puxou, ninguém sabe de onde, uma toalha feita pela metade – Estava tricotando até agora, nem vi a hora passar.

— Ah, naturalmente. – o Capitão assentiu e então se virou para ir até Killian, puxando o saco de batatas que cobria seu rosto – Diga-me, Lady Elisa, você acha que esse rapaz parece adequado para Cornélia?

Mesmo desmaiado, ninguém podia negar que Killian Jones era realmente bonito. Lady Elisa certamente notou esse detalhe, pois suas bochechas logo queimaram e ela agradeceu aos céus por estar escuro e ninguém notar.

— Capitão, eu acho que ele é perfeito e nem mesmo Cornélia irá achar um modo de criticá-lo. – ela arregalou ainda mais o sorriso – Talvez só precise fazer a barba, tomar um banho...

— Isso podemos arranjar depois, o que importa é que temos sua aprovação prévia.



O dia amanheceu, uma ressaca atingiu o Capitão de um jeito que ele mal aguentava a claridade, ficou enfurnado em sua cabine aguardando que a filha retornasse ao navio. Smee estava cochilando em uma das poltronas do lugar e Killian ainda estava desacordado, jogado no chão.

— Onde está essa garota? – ele se perguntou, massageando as têmporas para aliviar a dor de cabeça.

Então, o pobre pirata sequestrado começou a se mexer, quando notou o que estava acontecendo, tentou se levantar sem muito sucesso e começou a gritar pedindo por socorro.

— Cale a boca desse infeliz, Smee! – o Capitão ordenou.

— O quê? NÃO! – Killian começou a se desesperar, sem saber ao menos onde estava – O que está acontecendo? Capitão Barba Negra? Por que eu estou amarrado e vendado?

— Senhor, acho que deveria explicar a situação para o garoto... – Smee sugeriu, ajudando Killian, que parecia uma tartaruga encalhada no chão, a ficar de pé.

— Que situação?!

— Bom, é o seguinte... – Barba falou sem muita vontade – Eu, na verdade, não estou em busca de novos marujos para a tripulação... Estou em busca de um noivo para minha filha.

Um breve momento de silêncio se instalou, até que Killian questionou escandalosamente.

— E O QUE EU TENHO A VER COM ISSO?

— Você me parece o candidato perfeito! Tem boa aparência, me parece forte e com uma personalidade que pode muito bem defrontar com a de Cornélia. – o Capitão explicou calmamente – Tenho certeza que vai gostar dela. É muito bonita... E...

Barba Negra olhou para Smee, implorando ajuda para encontrar mais qualidades em sua filha que poderiam despertar o interesse do rapaz.

— Se ela é tão maravilhosa assim, por que não arruma um noivo sozinha? – Killian questionou.

— Ah, mas já rejeitou centenas! – Smee riu nervoso – E nem é um exagero! Sem falar que nenhum quis insistir, afinal, é uma moça muito difícil de lidar. Péssimo gênio, péssimos hábitos...

— SMEE! CALE ESTA MALDITA BOCA! – o Capitão berrou e então voltou a dirigir-se para Killian, dessa vez com um tom de súplica – Veja bem, rapaz... Eu não tenho mais estrutura psicológica ou física para continuar nessa busca. Realmente não é exagero quando dizemos que passamos por centenas de homens... E eu vou te fazer uma oferta que não fiz a nenhum deles.

— Me desculpe, senhor, mas não há nada...

— Eu te dou um navio! – Barba o interrompeu – Tão majestoso quanto o meu. Te dou o que quiser! Todas as mordomias que minha filha e eu temos direito, você também terá enquanto estiver aqui. Além, é claro, de Cornélia. Que já deveria ser recompensa suficiente.

Killian se calou. Ele passou a vida inteira como marujo, a falta de uma mão sempre foi um empecilho para conseguir algo melhor e por mais que fosse um excelente cozinheiro, isso não era requisito para subir de cargo na hierarquia de um navio. Ter seu próprio navio era um sonho que já fora deixado de lado, mas ter aquela oportunidade...

Ele nunca teria outra oportunidade daquela na vida. Sem falar que uma vida de mordomias no navio de Barba Negra era uma proposta realmente tentadora. Mas algo no tom desesperado do Capitão o alertava sobre a situação.

E essa filha? Não era possível que fosse tão horrível e repugnante ao ponto de centenas de homens passarem por ela. A imagem de um trasgo de saias estava se formando na mente de Killian, mas ele tentou deixar de lado, focando na recompensa.

— O senhor me dá sua palavra de que terei tudo isso se me casar com sua filha? – ele perguntou num tom quase de sussurro.

— Sim. Se conseguir conquistá-la e colocá-la na linha, terá seu próprio navio. E enquanto está aqui, terá a melhor vida possível.

Um clima de expectativa se instalou na cabine pelos próximos segundos, até que o jovem finalmente suspirou e disse que aceitava. Smee soltou o ar que nem notou que estava segurando e o Capitão sorriu aliviado.

— Eu tenho mais uma pergunta... – Killian falou.

— Diga, garoto.

— Por que estou vendado?

— Oh... – o Capitão franziu o cenho – Eu não sei, me pareceu uma boa ideia noite passada.

Enquanto isso, Cornélia voltava ao navio toda sorridente porque sua passagem por Península Renegada acabou por não ser tão inútil assim. Ela foi diretamente para sua cabine, nem se preocupando em arrumar as roupas amassadas e vestidas de qualquer jeito ou de disfarçar a marca de chupão no pescoço. Ela entrou em seus aposentos e foi diretamente para seu mapa de conquistas na parede, pegou um alfinete e o enfiou em cima do ponto que marcava o vilarejo.

— Península Renegada, finalmente posso dizer que você me foi útil... – ela riu sozinha, admirando seu mapa recheado de alfinetes.

— Senhorita Cornélia! Ainda bem que chegou! – Lady Elisa entrou animada na cabine, sem sequer bater antes.

— Ah, Elisa! – Cornélia se virou para ela com um sorriso maior que a cara – Você não sabe a noite que eu tive...

— E nem quero saber! – a moça colocou as mãos na cintura – Mas você precisa me escutar...

— Sabe aquela posição que te falei outro dia? – Cornélia a ignorou e continuou falando.

— PELO AMOR DE DEUS! Não sei e não precisa falar! – Lady Elisa arregalou os olhos – Me escute!

— Ai, que inferno! Fale de uma vez! – a ruiva cruzou os braços e encarou a outra.

— Eu não sei se sou eu que devo falar. Mas sugiro que vá na cabine do seu pai, ele tem uma coisa para você.

Cornélia sabia que não era nada de bom, pois nada que a agradasse deixaria Lady Elisa com aquele comportamento de criança em manhã de Natal. Mas ela foi mesmo assim. A dama-de-companhia a seguiu animadamente, parecendo que a surpresa seria para a própria.

A filha do Capitão empurrou a porta da cabine, assustando aos três homens que estavam lá dentro.

— Que gandaia é essa? O que o senhor tem para mim? – ela perguntou olhando a cena no mínimo incomum.

— Quem está aí? – Killian indagou com curiosidade.

— Quem é o maneta vendado? – a ruiva retribuiu a pergunta, dessa vez encarando o pai – O que está acontecendo aqui?

— Cornélia... – o Capitão começou a falar, mas foi interrompido por Killian.

— É a sua filha? – ele perguntou em um tom de aversão.

Ele achou que a recém-chegada soava como o satanás prestes a aplicar uma punição. Não achou que a linguagem dela se aplicava à uma dama e o fato de ter o chamado de maneta não ajudou nem um pouco. Ele começou a temer pelo o que estaria por vir e pensou que uma vida ao lado de um trasgo com saias era um preço muito alto por um navio.

— Não me diga que é mais um candidato. – Cornélia marchou em direção ao capitão – Achei que tinha parado com essa palhaçada!

— Minha querida, ao menos conheça o rapaz. Ele é muito bonito, não é, Lady Elisa?

— Sim, senhor! – a moça concordou plenamente.

— Lady Elisa foi criada para achar até um anão sapateando bonito se esse tivesse que se tornar seu marido. – Cornélia revidou – E ele ainda por cima é um pirata? O senhor deve estar mesmo desesperado para considerar seus iguais.

— Senhorita, seja razoável... – Smee se aproximou dela.

— EU NÃO VOU ME CASAR COM UM VERME DESPREZÍVEL QUE NEM MÃO TEM! – ela berrou num tom muito parecido com o que seu pai usava.

— Eu estou considerando recusar a proposta, Capitão... – Killian falou com temor.

— Não! – Barba Negra implorou – Pela minha barba!

— Deixa eu ver a cara desse infeliz, deve ser tão feio que precisaram cobrir o rosto para que eu não tivesse um troço devido ao choque. – a ruiva foi até o rapaz, que deu vários passos para trás com medo de ser atropelado pelo trasgo imaginário.

Cornélia o alcançou e o segurou pelo braço. Killian tentou se livrar do aperto, mas a garota era forte. Ela arrancou o saco de batatas da cabeça dele de uma vez. O jovem marujo abriu os olhos lentamente, como se estivesse com medo do que veria. Mas, para a surpresa de ambos, nada foi como esperavam.

Killian abriu a boca, incapaz de falar alguma coisa ao constatar que Cornélia era muitas coisas, mas um trasgo não estava na lista. Ele ficou encantado com os olhos redondos e azuis da jovem, seus cabelos bagunçados formavam uma bela moldura para seu rosto enraivado e seus lábios comprimidos numa linha que representava desprezo lhe pareciam bastante convidativos.

Por sua vez, Cornélia ficou chocada pelo homem sorrindo abobado na sua frente ter todos os dentes e olhos incrivelmente azuis e brilhantes, como o oceano. Mas ela nunca daria o braço a torcer e ficaria com a mesma expressão de encanto que ele tinha. Ela o empurrou contra a parede e saiu da cabine sem dizer nenhuma palavra.

Killian se convenceu que nada no mundo o faria desistir da oportunidade que recebeu. Barba Negra, Sr. Smee e Lady Elisa olhavam uns para os outros em completo choque.

— Essa reação é nova. – Smee comentou olhando na direção em que Cornélia saiu – Só não sei se é boa ou ruim.

— Smee! Já é um avanço! – Barba Negra se levantou de sua cadeira, animado – Solte o rapaz, vamos arrumar ele.

O Sr. Smee foi imediatamente liberar Killian das cordas. O rapaz massageou seus pulsos, ainda um pouco assustado com toda a situação. Somente quando o Capitão deu a ordem para que os marujos se preparassem para zarpar que caiu sua ficha de que sua vida acabara de ter a maior reviravolta de todas. Não havia mais volta.

— Que tal roupas novas? – Lady Elisa sugeriu – E dar um jeito na barba também.

— Pegue as roupas de quando eu era jovem, Smee. Naquele baú! – o Capitão apontou um baú jogado de qualquer jeito no canto da cabine – Você disse que gostava de cozinhar, então pode ficar fazendo isso por aqui... Se for realmente bom, vai ser uma vantagem para nós também.

— Aqui estão, Capitão. – Smee trouxe várias roupas.

Killian se aproximou, surpreso ao notar que gostara delas. Eram sobretudos e coletes até que bem marcantes, de um modo que ele sempre se imaginou vestindo quando fosse capitão.

Lady Elisa saiu da cabine para que o homem pudesse trocar de roupa. Ela procurou Cornélia pelo convés com o olhar, mas não encontrou. Deduziu que ela só poderia estar trancada em sua cabine, como sempre fazia depois de lidar com uma tentativa de casamento arranjado de seu pai.

A ruiva entrava em seu quarto e saía derrubando tudo que via pela frente, xingando todos os palavrões conhecidos pelos homens – e alguns a mais – e gritando aos quatro ventos que nunca iria se casar.

Não foi preciso muita espera de Lady Elisa, logo o Capitão saiu da cabine com um sorriso vitorioso no rosto, a assustando. Smee veio logo em seguida e Killian por último. Se sentindo esquisito, porém confortável nas novas roupas.

— Ele ficou muito... – Elisa ergueu as sobrancelhas, analisando o pirata de cima a baixo, e deu um meio sorriso – Bem.

— Está ótimo! – Barba deu um tapa nas costas do rapaz, que quase caiu de cara no chão – Diga-me, como você consegue se virar com apenas uma mão? Você falou que cozinha... Como é possível?

— Bom, eu usava uma espécie de apoio, o prendia onde deveria estar minha mão e ajudava a segurar as coisas, às vezes substituía por uma faca, era bem prático na cozinha.

— Certo... Acho que você pode substituir por... – o Capitão começou a olhar ao redor, procurando qualquer coisa que fosse menos perigoso que uma faca e mais imponente que um simples apoio – Um gancho!

Ele apontou para um dos ganchos próximos às cordas das velas e Smee foi rapidamente buscar. Killian ergueu uma sobrancelha, se questionando qual utilidade um gancho teria. Lady Elisa franziu o cenho, achando aquilo um tanto exagerado, mas pensou que por ser diferente, Cornélia poderia gostar.

Por falar em Cornélia, a mesma estava andando de um lado para o outro em sua cabine, com suas duas espadas nas mãos, descontando toda a sua raiva em uma escrivaninha de madeira que ficava abandonada próximo à porta.

— Velho... desgraçado... acha... que... pode... me... controlar! – ela deu um golpe a cada palavra e voltou a andar pelo local – Não desiste dessa ideia ridícula de querer me submeter à um casamento arranjado!

Ela parou no meio do quarto e gargalhou.

— Olha a minha cara de quem vai passar um resto da vida com um homem só! – então lançou uma das espadas na direção da porta – Não existe homem à minha altura nessa Terra, isso eu sei. Pois se existisse, eu já teria encontrado. E se eu não encontro, não vai ser meu pai que irá encontrar!

Por fim, depois de descontar seu descontentamento em tudo que era possível, Cornélia notou que já fazia algum tempo que haviam zarpado e ela precisava conferir a rota que pegariam para a próxima parada, além de conferir os mantimentos e armas que foram pegos em Península Renegada.

Ela saiu da cabine, batendo a porta atrás de si e foi em direção ao leme, onde seu pai provavelmente estaria. Ela já estava acostumada a seguir normalmente depois desses conflitos com o Capitão, era quase rotina.

Porém, quando ela estava passando pelo convés, parou bruscamente ao ver Killian conversando com os marujos. Ela balançou a cabeça, achando que estava tendo algum tipo de alucinação. Mas quando se convenceu de que o que estava diante de seus olhos era bem real, foi até o grupo de homens.

— Mas o que você ainda está fazendo aqui? – ela questionou rudemente, os outros marujos deram passos para trás de susto, mas Killian permaneceu no lugar – E que roupas são essas? Está parecendo um urubu depenado!

— Ele vai substituir o Floyd na cozinha. – Smee tratou logo de se explicar.

— Por quê? Floyd é um ótimo cozinheiro! – ela colocou uma mão na cintura e apontou o velhinho no meio do grupo que mal se aguentava em pé.

— Senhorita Cornélia, eu estou perdendo o jeito. Já decepei três dedos! – Floyd ergueu a mão com apenas o dedo mindinho e o dedão.

— E ele não tem uma mão, o senhor ainda está na vantagem. – a ruiva revirou os olhos.

— Estou ficando cego! Logo vou estar confundindo os temperos...

— Bobagem! – ela praticamente rosnou e se aproximou de Killian, ficando à centímetros dele e o encarando da forma mais intimidadora possível – Eu sei muito bem porque ele está aqui! Isso é coisa do meu pai, não é?

— Bom, de certa forma sim... Ele precisava de um cozinheiro novo e me ofereceu o cargo. – Killian ergueu uma sobrancelha e deu um meio sorriso – E eu aceitei.

Cornélia percebeu que ele não estava falando exatamente do cargo de cozinheiro e que aquilo era só uma desculpa para deixá-lo no navio.

Os marujos logo notaram que a ruiva estava mais do que irada. Ela respirava rapidamente, sem deixar de encarar Killian, o maxilar travado e as mãos fechadas em punho ao lado do corpo. Parecia estar se segurando para não dar um soco nele ali mesmo. Porém, algo fez com que ela quisesse entrar no jogo dele.

— Vamos ver se você dá conta – ela sorriu e assumiu um tom de desafio – da nossa cozinha.


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Notas finais do capítulo

Esperamos que tenham gostado e não se esqueçam daquele comentário motivacional para nos estimular a melhorar cada vez mais.
Um beijão e até a próxima!



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