Escola de Assassinas escrita por LoveCraft96


Capítulo 1
Bem Vinda


Notas iniciais do capítulo

Tomei muitas liberdades históricas aqui!



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— Lynn? Querida? — Mamãe chamou, quando o nosso caleche passou pelos enormes portões de Sweet Amoris. Relutantemente desviei o olhar das janelas para os meus pais, sentados no banco a minha frente.
— Senhora? — Respondi, da forma mais fria e formal possível. Mamãe engoliu em seco, e papai buscou sua mão enluvada, apertando a.
Eu estava furiosa, e com todo direito, afinal, eles estavam me mandando para o lugar mais miserável da França: Sweet Amoris, o lugar onde a Coroa treinava seus assassinos mais cruéis e eficientes. Não era de surpreender, afinal, meu pai é Marechal da guarda real e, mamãe, uma espiã pessoal da Rainha. Claro que ambos haviam se formado em Sweet Amoris.
— Lynn, meu amor, não seja assim. Mesmo que você não queira servir a Coroa dessa forma, você precisa receber uma educação adequada. Não precisas ficar os quatro anos, mas ao menos dê uma chance esse ano. E você poderá fazer tantas conexões importantes! E pense nos livros maravilhosos aos quais terá acesso! — Papai disse, animado, seus olhos de esmeralda brilhando. Outra coisa que eu não havia herdado dos meus pais, a aparência: eu tinha o cabelo negro e cheio de meu pai, mas o meu era rebelde, intratável. Os doces olhos castanhos de mamãe eram desperdiçados em mim, já que eu tinha a boca pequena e redonda de minha avó, o que parecia me deixar com a eterna expressão de amuada. Além das minhas malditas sardas que, aparentemente, também pertenciam a uma das minhas avós.
— E não se esqueça, minha filha, que o senhor seu pai e eu temos centenas de inimigos. Sei que lhe ensinamos o básico, mas não fará mal você saber um pouco mais.
Suspirei, derrotada, e voltei minha atenção para a janela novamente.
— Não tenho escolha, tenho? Será o que os senhores quiserem, como sempre foi.
Isso os calou, até o cocheiro nos deixar em frente ao palácio. Um criado, usando uma libré azul, abriu minha porta, ajudando me a descer.
Eu já tinha visto gravuras do palácio, mas não estava preparada para sua imponência. Era tão... Enorme. Avassalador. Haviam tantas colunas e janelas gigantes... E as três portas de entrada, de marfim e vidro... Eu devia estar com a boca aberta, pois papai deu uma risadinha e bateu em meu queixo. — Espere até ver o lado de dentro, meu amor.
Eu ia respondê-lo, quando, da porta do meio do palácio, uma senhora roliça, usando um vestido que, francamente, pertencia ao século passado, saiu, trazendo um cãozinho basset a tira colo. Apesar disso, ela se movia com agilidade e, ouso dizer, graça.
— Philipe, Lúcia! E essa deve ser a encantadora senhorita Lynn, certo? Mas meu Deus, a essa altura imaginei que vocês Darcy teriam uma prole maior! Apenas uma garota não é suficiente para a Coroa!  — Deduzi que aquela fosse a senhora Shermansky, de quem meus pais falavam, às vezes. Aparentemente ela era diretora de Sweet Amoris desde sempre. Fiz uma reverência e forcei um sorriso. Apesar de minha raiva, não pretendia envergonhar meus pais sendo mal educada.
— É um prazer conhecê-la, Diretora Shermansky.
A velha senhora arregalou os olhos para os meus pais, que lhe sorriram.
— Pelo Rei, que jovem adorável! Vejo que nós nos daremos bem, senhorita. Agora, por favor, despeça se de seus pais, afinal, querida, você deve se aprontar para a recepção dessa noite.
Por mais que eu esteja ressentida, abraço meus pais.
— Seja boazinha, está bem? — Papai sussurra.
— Nós te amamos muito, Ellyana. — Mamãe completa. Eles me soltam e Shermansky enlaça seu braço no meu.
— Cuidado na estrada, meus amores! — Ela arrulha, enquanto meus pais partem.
Permanecemos paradas no jardim até a carruagem sair de nossas vistas.
— Bem, vamos entrar, ainda restam muitas damas para chegar e eu pretendo recebê-las. — Ainda com o braço nos meus, ela me guia para o interior do palácio. "Luxo" não é o suficiente para descrever o quão rico é o hall de entrada. Esculturas gregas adornam os cantos, e há lustres maravilhosos, com filetes do mais puro ouro. Mas, a coisa mais impressionante é a escadaria de mármore, que se divide ao meio, exibindo um lindo afresco, que mostra uma dama grega empunhando uma espada. Seus cabelos são negros e enrolados, e sua expressão não é de fúria, mas de misericórdia. Ela traja um vestido de linho branco que segura com a mão que não segura a espada.
— Helena Damatreo, senhorita Darcy. Uma notável guerreira, e estrategista grega, que morreu sem receber o conhecimento que merecia, de fato, quase ninguém sabe de sua existência. — Shermansky me explica, levando-me para a magnífica escadaria e me conduzindo pela direita. Flores de Lis e quadros de moldura dourada adornam as paredes, que tem um tom de pêssego.
— Essa noite teremos a recepção dos nossos novos estudantes no salão Bleu, onde você conhecerá seus professores e colegas nos próximos quatro anos; use um traje formal, por favor. Segundo Madame Delanay, sua colega de quarto ainda não chegou, portanto aproveite para descansar esta tarde, certo? — Ela matraqueia, caminhando tão rápido que preciso quase correr para acompanhá-la.
— Sim... Senhora. — Arquejo, quando paramos em frente a uma das enormes portas brancas do corredor. Em letras douradas está escrito "Ellyana Darcy & Melody LeBlanc". LeBlanc... O sobrenome não me é estranho.
— Nos despedimos aqui, senhorita Darcy. Oito horas, salão Bleu. Saiba que eu considero atrasos intoleráveis, portanto, seja pontual. Caso não encontre o caminho, teremos criados nos corredores. — Com uma graciosa reverência, ela parte. Espero até ela estar longe para abrir a porta do meu quarto.
É surpreendentemente simples. Duas camas, com colchas brancas, duas escrivaninhas com cadeiras e um closet, que imagino que terei que dividir com Melody. Há uma janela entre as duas camas, e me aproximo, afastando as cortinas.
Vejo um jardim, e dois jovens, vestindo roupas pretas. Um deles tem um cabelo de uma curiosa cor vermelha e, o outro, tem o cabelo tão loiro que ele é praticamente branco. Os dois empunham floretes, e lutam. Embora o ruivo seja mais brutal, o rapaz de cabelos brancos é paciente, e calculista. O ruivo apenas ataca, e seu companheiro não tem dificuldade alguma em desviar. Apesar de eu não ser uma grande apreciadora de lutas, eles são tão graciosos e habilidosos que a peleja me absorve. E, o fato de serem rapazes atraentes também ajuda. Estou tão entretida com eles que, quando a porta do quarto abre, praticamente dou um pulo e solto um gritinho. O rapaz de cabelo branco se distrai e olha diretamente para minha janela. Faço um tolo aceno com a mão e me volto para a porta. Uma jovem da minha idade está sorrindo.
Ela é a imagem da garota perfeita: o vestido, branco e azul, está alinhado perfeitamente, assim como seus cabelos presos num coque lateral adornado com uma margarida. Ela parece estar indo a um picnic ao ar livre, ao invés de uma escola onde aprenderá a matar.
— Eu... Você deve ser a Melody. — Digo, desajeitadamente.
— Sim, senhorita Darcy, eu sou a senhorita Melody LeBlanc. Sinto por assustar-te. — Ela faz uma reverência perfeita e eu decido, imediatamente, que não gosto dela.
— Imagine... Afinal, são seus aposentos também. E, por favor, me chame de Lynn. — Digo. Melody sorri e senta-se na cama da direita, com a postura perfeitamente ereta.
— Suponho que tenhas razão. Afinal, nossos pais são companheiros de profissão. Deves ter ouvido falar de meu pai, general Paul LeBlanc, não? — De repente, lembro de onde ouvi o nome. De papai reclamando de como esse general era rígido e insuportável, às vezes até tentando passar acima da autoridade dele.
— Sim, meu pai... Já mencionou o seu, algumas vezes. — Digo, sem graça. Melody dá um sorriso satisfeito.
— Ótimo, ótimo. Tenho a sensação que seremos ótimas amigas, Lynn, você não? — ela indaga.
Não.
— Claro!
— Lynn, importa-se de eu deixá-la? Madame Shermansky disse que eu poderia explorar as imediações, e estou morrendo de curiosidade! A menos que queiras me acompanhar, claro! — Ela diz, levantando-se da cama. A ideia de explorar a escola não tinha me ocorrido, e parece boa, mas não gostaria de fazer isso com Melody.
— De forma nenhuma, vá em frente.  Preciso descansar um pouco, mas lhe agradeço. — Faço uma reverência, e Melody sai. Imediatamente me volto para a janela, mas os dois rapazes se foram.
Uma pena.




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