11  Convivêndo com o inimigo...

Tudo bem, essa não é a melhor forma de ver o pai da minha filha, mas...No momento eu o considero o inimigo. Não por ter algo contra ele, mas por que Sophie está tão determinada a torna-lo parte da família, que passa cada segundo que consegue grudada nele. Eles parecem se conhecer a anos, é como se  ele fosse  parte da vida dela a anos. Todo o tempo que ele tinha sobrando, ele passava com ela e consecutivamente, comigo também. O ápice do meu ciúme, foi no dia que ela teve um pesadelo, ligou para ele no meio da noite, e quando eu fui ver se ela estava bem, eles dormiam tranquilamente em cima do livro favorito dela. Estamos em Londres a dois longos e trabalhosos meses. O meu aniversário é em duas semanas, vinte e cinco de março. Eu tenho certeza que Sophie nem vai lembrar...Estou ficando desesperada, minha filhinha parece não precisar mais de mim por ter o pai...Minha mãe acha que eu estou exagerando, e eu acho que Scorpius está preparando o terreno para contar a verdade a ela. Vai ser bem mais fácil para ele, já que ela o adora. Estou com um caso  seríssimo no escritório, e não consigo pensar em nada além de Scorpius e Sophie.

-Rose? Você está me ouvindo?- eu estava com Robert na minha sala, ele estava falando a uns quinze minutos, e eu não fazia idéia do que era.

-Desculpe Robert...Eu estou com uma dor de cabeça irritante...O que você estava dizendo?

-Acho melhor você ir embora Rose...Vá buscar sua filha no colégio, espareça um pouco...Você está muito estressada.

-Eu sei Robert...- eu suspirei - Me desculpe por descontar em você ok? Acho que vou seguir seu conselho e ir embora mais cedo hoje. Prometo que amanhã escutarei tudo que você disser...

-Rose, você aceitaria sair comigo?- ele perguntou de repente. Eu o olhei confusa.

-Sair com você?

-É...Sabe, eu sei que você tem suas amigas habituais, mas seria bom se você mudasse de compania de vez em quando...

-Ah...Desculpe Robert mas eu não estou procurando um relacionamento...

-Nem eu querida.- ele disse em um tom que me fez erguer a cabeça- Eu quero sair como seu amigo. Apenas isso.

-Sério?- eu estava um pouco desconfiada e ele revirou os olhos e torceu o canto da boca - Você é o primeiro cara que não quer...

-Ah, é porque eu sou...um pouco diferente dos outros "caras" sabe? Você é uma mulher linda...Mas não faz o meu tipo!- ele sorriu.

-Você é gay?- eu fui direta. Ele aumentou o sorriso.

-Sou. Algo contra?

-Claro que não! Mas que é um desperdicio...- eu falei bem mais a vontade agora. Ele riu mais ainda.

-E então, topa ou não topa a saida?- ele perguntou.

-Topo! Vai ser ótimo conversar com você fora daqui...

-E...vai fazer o Scorpius ficar morrendo de ciúme...- ele falou com um olhar brincalhão. Eu fiquei vermelha. - Não precisa negar, depois você me conta isso direito...Mas, não diz a ninguém aqui que eu sou gay ok?

-Porque não?

-Bruxos são preconceituosos Rose. Minha imagem profissional seria degradada, e eu perderia todo o crédito...

-Cruzes! Pode deixar que eu não falo...Bem, eu vou embora, buscar minha filha e fazer algo de bom...Podemos sair amanhã?

-Humm...Por mim, tudo bem.- ele disse e eu sai da sala e aparatei até a escola de Sophia. Faltavam cinco minutos para ela sair. Eu olhei ao redor procurando por alguém conhecido. E vi Scorpius. Ele vinha buscá-la todos os dias. Mesmo quando eu não pedia que fizesse isso... Sophie saiu da escola correndo como sempre, e seu olhar recaiu sobre mim. Ela sorriu e veio em minha direção.

-Mãe! Que bom que veio me buscar...O que houve, saiu mais cedo?- ela disse pulando em meu colo.

-Sai, eu estou com saudade da minha filhinha sabe? Ela agora só quer saber de um certo cara loiro...

-Ah é...Onde está ele? Nós combinamos de comer sorvete depois da aula...

-Não sei...- eu menti - Podemos ir nós duas?

-Não! Eu combine com ele, e é chato comer sorvete com você mãe...

-Ah é assim? Agora eu sou chata?- eu fiz um bico enorme.

-Não...Mas quando se trata de comer doces, sim. Agora onde será que o Scorpius se meteu?- ela pulou do meu colo e olhou ao redor...

-Estava me procurando princesa?- ouvimos uma voz atrás de nós e ela sorriu.

-Eu sabia que você viria!- ela disse o abraçando - Viu só? mamãe resolveu sair um pouco daquele escritório...Ela pode ir com a gente comer sorvete?

Peraí. Tem algo errado aqui. Eu sou a mãe dela, e ela pede permissão a ele para me levar junto?

-Sophie, eu vim te buscar e...

-Desculpe mãe, mas trato é trato. Eu disse que iria com ele...

-Você me pediu para ir com ele?- eu rebati.

-Ok, princesa olha, sua mãe não quer que você venha comigo, então fica com ela hoje ok?

-Mas Scorpius, eu quero ficar com você...- os olhos dela encheram de lágrimas.

-Tudo bem, podem comer sorvete os dois...Eu vou para minha casa.- eu me dei por vencida. Beijei Sophie na testa e aparatei. Assim que cheguei em casa, eu escrevi uma carta para Robert, pedindo para ele ir lá em casa. Enchi a banheira, prendi o cabelo, tomei um longo banho. Depois que sai da água, me envolvi em um robe cor de rosa, e fui para a cozinha. Então a campanhia tocou. Era Robert.

-Nossa! Queria ver você me receber de robe, se não soubesse, que eu sou gay...- ele disse já brincando.

-Se eu não soubesse, nem te receberia...- eu fechei a porta e segui para a cozinha novamente.

-Nossa, porque tanto ódio dos homens?- ele me seguiu.

-Me apaixonei uma vez, e não valeu a pena. Não quero fazer isso de novo.

-Se apaixonou pelo pai de Sophie?- eu fiz que sim com a cabeça - E porque não valeu a pena? Você não queria sua filha?

-Não fale isso! Eu quis Sophie desde o primeiro momento...Mas a forma como aconteceu, não foi a melhor. Se ele não tivesse me abandonado, tudo teria sido mais fácil entende?

-Humm...Quem é o pai dela Rose?- ele me perguntou, mas eu tinha certeza que ele já sabia.

-Não posso te contar...

-Eu sei quem é Rose. Quase todo mundo sabe.

-O que? Como assim?

-Bem, as semelhanças da Sophie com o pai são impressionantes...

-É, eu sei...Mas é tão óbvio assim?

-Para quem convive com os dois? Sim. As caras, os gostos, a pose sonserina...Sophie é a versão feminina de Scorpius.

-Ai Robert! Eu não sei o que eu faço...

-Me conte a história completa.- ele se sentou no balcão da cozinha e me olhou enquanto eu falava e cozinhava. Contei tudo a ele, da poção até a última carta. - Nossa! Isso parece até novela trouxa!

-Eu sei...E o pior é que agora ele está se aproximando dela de uma forma que...- meus olhos encheram de lágrima. Ele deu a volta na bancada e me abraçou.

-Não chore Rose, você não precisa ter ciúme dele...Sabe, ela precisa de um pai, e é isso que ele está sendo. Mas ela não vai deixar de te amar por isso...- ele afagava meu cabelo e eu chorava. Ele ergueu minha cabeça e secou uma lágrima. Ouvimos um pigarro na porta da cozinha.

-Mãe, o que esse cara está fazendo aqui?- Sophie estava de braços cruzados, olhando para Robert, e Scorpius bem atrás dela.

-Não fale assim Sophie.-eu me afastei dele -É feio. Robert é amigo da mamãe e...

-Não me venha com essa mãe! Eu sei que essas amizades sempre terminam em namoro.

-Sophie pare já com isso!- eu gritei com ela. Seus olhos encheram de lágrimas - Você não é minha mãe! Lembre- se disso. Não é assim que nós conversamos, você sabe disso!

-Nós não conversamos mais mãe, lembra?- ela estava vermelha de raiva - Você passa o tempo todo trabalhando...

-E você passa o tempo todo atrás do Scorpius, Sophie! Hoje mesmo eu tirei o dia para ficar com você, e o que você fez?

-Eu...Eu...- ela abaixou o olhar agora- Desculpe mamãe...- ela chorou de verdade agora. Eu me abaixei e levantei o rosto dela.

-Não precisa chorar ma fille, só não fale assim com a mamãe ok? Somos amigas lembra?

-Eu sei...-ela mantinha aquele biquinho - Mas eu não quero que você tenha um namorado. - ela olhou feio para Robert e eu sorri para ela.

-Mas você não disse que eu devia arranjar um namorado?- eu perguntei a ela.

-Disse, mas não ele!- ela olhou significativamente para Scorpius.

-Ai essa doeu Sophie!- disse Robert - Eu pensei que você gostava de mim...

-Eu gosto, mas minha mãe não pode gostar!- ela disse e depois mudou de assunto -Que está fazendo mãe?

-Lasanha quatro queijos com calabresa...- eu sorri. Era uma mistura que eu fazia para ela.

-Hummm!!!Assim que eu tomar banho eu vou comer três vezes! Scorpius vai comprar um pote de sorvete de chocolate com crocante, para a sobremesa.- ela disse e depois virou para mim - Ele pode ficar para o jantar, não pode?- me olhou.

-Se ele quiser...- eu falei relutante e Robert prendeu o riso.

-Ele quer...- ela afirmou - Ah, Robert, vá você comprar o sorvete...O Scorpius ta cansado!- e depois disso ela saiu da cozinha e foi para o quarto dela.

-Bem, eu vou obedecer a dona da casa...- Robert disse e eu o olhei suplicante - Já volto Ro...- ele me deu um beijo na testa, e eu sabia que era provocação. Assim que ele saiu, eu me virei e continuei a cozinhar. Ignorei a presença de Scorpius ali. Dez minutos depois, ele se manifestou.

-Quer ajuda para fazer alguma coisa?- eu não respondi- Vai continuar me ignorando?- nada de mim -Estou incomodando você? Posso ir embora se quiser, para você ficar mais a vontade com seu namorado...

-Ele não é meu namorado!- eu falei com raiva.

-Ah, e você recebe todos os seus amigos de robe?- Só então eu me lembrei que não vestia uma roupa decente.

-Bem...Eu...É que ele chegou de surpresa e...- depois eu parei - Eu não lhe devo explicações Scorpius. Eu recebo quem eu quiser, vestida como eu quiser, e você não tem nada com isso!

Depois eu sai e fui até meu quarto. Coloquei um vestido leve florido e voltei a cozinha. Robert havia voltado.

-Ah...Tirou o Robe?- ele perguntou e eu sorri para ele.

-É que chegou visita sabe?- eu disse e apontei para Scorpius - Eu fiquei sem graça...

-Tudo bem, você fica linda de qualquer jeito...- ele me abraçou. Eu sussurrei em seu ouvido.

-Você é terrível sabia?- ele fez que sim com a cabeça, e fingiu beijar meu pescoço para segurar o riso.

-Mas ta dando certo, olha a cara do Scorpius...- ele falou. E eu me soltei dele e me virei para olhar, Scorpius estava vermelho.

-Humm, você queria ajudar não é?- eu perguntei a Scorpius -Pode ir colocando a mesa...

Eu peguei Robert pelo braço e o levei para meu quarto. Assim que entramos ele se escangalhou de rir. Eu senti que ele precisava fazer disso, por isso o tirei de lá.

-Cara, você é cruel!- ele falou - A sua voz de desprezo congela qualquer um! Mona, você subiu mais ainda no meu conceito!Fato.

-Obrigada, obrigada- eu fiz uma reverência boba - Mas você também não fica atrás..."Ah, tirou o Robe?" - eu imitei avoz dele - Rob, ele tinha acabado de me perguntar sobre isso!

-Ah eu sabia! O cara tava comendo suas pernas com os olhos quando viu seus trajes...Era óbivio que ele ia comentar...

-Anda, vamos voltar antes que ele pense besteira.- eu falei me levantando.

-Ro, eu não vou ficar...- ele disse.

-Como não? Vai me deixar sozinha com ele? Não faz isso comigo vai!

-Desculpe fofi, mas eu prometi ao meu bofe que ficaria com ele hoje... Já que você ia sair comigo amanhã...-ele tocou a ponta do meu nariz e me deu um beijinho. Saimos do quarto, e eu o levei até a porta, rindo quando ele falou uma bobagem. Quando voltei a sala, a mesa estava toda arrumada, scorpius e Sophie estavam lá, sentados me encarando. Jantamos em silêncio. Comemos a sobremesa em silêncio. Até Sophie não aguentar mais.

-Que coisa mais chata! Vocês parecem duas estátuas, não falam nada...- ela disse cruzando o braço.

-O que você quer que eu fale Sophie?- eu perguntei a ela.

-Sei lá! Apenas não fique em silêncio...Scorpius, quer ver meu filme favorito?

-Agora? Mas já está ficando tarde Sophie...

-São oito da noite. Não é tarde nem pra mim que sou criança. Se você não quer ficar tudo bem, é só falar...-ela levantou da mesa com o pote de sorvete na mão, e foi para a sala.

-É melhor você ir lá...-eu disse a ele - Ela vai ficar triste se você não for. Ou pelo menos invente uma desculpa que ela não possa rebater...

-Não preciso de desculpa. Eu gosto de ficar com ela, mas não quero encomodar você.- o tom de voz dele era frio.

-Não vai encomodar.- eu falei me levantando e levando os pratos para a cozinha com um aceno da varinha, coloquei-os para lavarem sozinhos, retirei a mesa, olhei em volta e vi que não tinha escolha se não ir para a sala. Scorpius estava na beira do sofá e Sophie tinha a cabeça em seu colo, quando sentiu minha presença, ela levantou os pés para que eu sentasse e ela recolocasse os pés em cima de mim. Ficamos em silêncio assistindo ao filme. A bela e a fera. Ela amava esse filme. Na metade do filme, Sophie dormiu. O pote de sorvete vazio estava caido no chão, e o braço dela pendia para o lado.

-Acho melhor eu levá-la para a cama...- eu falei.

-Ah, eu faço isso...- ele disse já se levantando e a pegando com cuidado. Eu fui na frente e abri a porta do quarto dela. Ele a colocou na cama, a cobriu e deu um beijo na testa dela. Voltamos para sala.

-A Sophie é uma criança de ouro...- ele falou de repente. Eu tornei a me sentar.

-Eu sei, agradeço todos os dias pela filha maravilhosa que tenho.

-Eu fico pensando...O pai dela deve ser um idiota não é? Para não querer uma criança linda como essa...

-Se ele é idiota, eu não sei. Mas que é um covarde mentiroso, disso eu tenho certeza.

-Então porque você ficou com ele?

-Por que ele dizia que me amava.- eu falei olhando nos olhos dele.

-Eu também disse que te amava, e você foi embora do mesmo jeito...- ele falou com mágoa na voz.

-E o que você queria que eu fizesse?- eu estava perdida. Do que ele estava falando a final?

-Sei lá, fosse sincera comigo talvez? Me dissesse a verdade?

-Do que você está falando Scorpius?- eu perguntei. Tinha certeza que não falavamos sobre a mesma coisa.

-Quer saber? Esquece! Eu prometi a mim mesmo que nunca mais tocaria nesse assunto...Boa noite Rose.- dizendo isso ele foi embora. Assim, sem mais nem menos, e me deixando confusa. Porque tanta mágoa? Ele não me quis e, por isso eu fui embora...Liguei para Brenda. Contei tudo o que tinha acontecido.

-Miga, eu repito minha teoria. Acho que o Scorpius não sabe que é o pai da Sophie.

-Claro que sabe Brenda! E contei a ele.

-Ro, você já pensou que essa carta pode não ter chegado a ele?

-Já, mas isso é contraditório. Se ele não recebeu, porque eu recebi a resposta?

-É, isso eu não sei...- ela falou- Bem, eu vou conversar com Rich de novo. Acho que ele sabe de alguma coisa...Agora eu tenho que ir dormir amiga, ser médica cansa sabia?- ela riu e desligou o telefone. Eu fiquei ali, sem entender o que tinha acontecido. Por que isso acontecia comigo? Eu estava tão bem ano passado, sem ele na minha vida...Agora tudo virou de pernas pro alto, eu estou confusa, e sendo obrigada a conviver com o inimigo...    

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