Por Culpa do Destino escrita por Polaris


Capítulo 15
Goodbye - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

tá aí, o último capítulo. Como eu havia dito, essa é a primeira parte. A segunda vem em 1 semana. E essa é a data certa! Nem mais um dia depois ;D
Comecei a responder os reviews antigos da fic, mas parei, essa hora é tenso, o Nyah fica fora do ar toda hora. Essa semana terminarei de responder TUDO. E até o dia 31 acabo os reviews das outras fics :
Então é isso... espero que gostem. Enjoy.



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As horas passam, o tempo voa, mas ninguém nunca consegue apagar ações e momentos, principalmente os indesejáveis. É como dizem, existem três coisas que não se pode voltar atrás: a pedra lançada, a flecha arremessada e a palavra dita.

Quantas vezes dizemos aquilo que não deveríamos? Quantas pedras lançamos em alguém sem nem ao menos olharmos para nossas próprias ações? E principalmente, em quantos corações disparamos a flecha dolorosa do amor?

Não há volta. E descobrimos isso, às vezes, tarde demais.

A manhã estava cinzenta e pouco convidativa para algum passeio. No entanto Hermione acordou bem naquele dia, dessa vez não tivera sonho algum, sinal que sua magia não a dominava como antes. A garota levantou-se sentindo um leve frio em seu corpo. Fitou a janela e percebeu o quanto era bela e mágica a neve nos terrenos de Hogwarts. Mas ainda sim, era uma beleza reprimida, daquelas que só vendo atentamente, seria capaz de revelar suas magias secretas.

Hermione seguiu então para o banheiro das garotas. Despiu-se e deixou a água quente deslizar seu corpo com calma, como há tempos não fazia. Ela não tinha presa alguma. E imaginou as tantas coisas que acontecera nos últimos meses. Ficara trancada com Draco Malfoy no expresso e nunca descobrira como aquilo foi acontecer. Ficara em detenção com ele e não conseguia esquecer as palavras que trocaram naquela época. Beijaram-se com paixão, como ela nunca fizera antes. Desejou-o com tanta vontade que nem ao menos percebia o quão viciada nele estava. Mesmo ignorando aquele sentimento, Draco a aprisionou em suas mãos. Levou-a até o mar das carícias e desejos, guiou-a para o amor. Mas mesmo assim, algo dentro nela não a deixara entregar-se completamente para ele. Chances não faltaram, muito menos vontade, mas um medo estúpido não a deixava agir quando ele a tocava. Imaginou como seria passar a noite com Draco. Seus dedos pálidos percorrendo seu corpo com volúpia. Sua boca sugando sua pele com desejo. O prazer a envolvendo.

No entanto, aquele amor era perigoso, e por vezes, impossível. Enganavam-se quando pensavam que poderiam levá-lo adiante. E, então, ela sentiu algo contorcer seu corpo, uma sensação fria a envolvia, contrária à água quente. Era uma sensação de que nada poderia dar certo, de que algo ruim iria acontecer.

Desligou o chuveiro e enrolou-se em uma toalha, não deixaria nada acontecer. Não poderia permitir isso.

Colocou seu uniforme com calma e seguiu até a biblioteca.

Nos dias que seguiram a revelação de que ela era a guardiã da pedra, ela e Lucy começaram a encontrar-se cedo na biblioteca, não só porque o lugar ficava quase vazio naquele horário, mas também porque Draco não as encontraria lá.

A garota andava despreocupada pelo corredor frio quando, sem perceber, esbarrara em Anthony.

–Que escola pequena, Granger… Toda hora a gente se esbarra em um canto. – disse irônico – Vai ver a Lucy?

–Sim… – Hermione respondeu e percebeu que ele começou a andar na mesma direção que ela. – Perdeu alguma coisa?

–Não… só acho que você e a sonserina invocada fizeram o mesmo curso: “Como tratar mal Anthony Wolhein”

Hermione deu de ombros e percebeu o quanto o garoto era inoportuno. Sempre tinha algum comentário a fazer. Isso a irritava, mas não ia brigar com ele. Não agora. De repente algo passou por sua mente. Toda manhã ele ia à biblioteca. Todo dia ele provocava Lucy, não importava por qual maneira, mas a irritada. E então compreendeu.

–Você gosta dela – disse sorrindo.

–Como é que é? – ele perguntou fitando-a surpreso. – Lucy? – questionou e viu a garota assentir – Por Merlin! Somos só...

–Amigos? Acho que não. Ela não te suporta. – Hermione disse e viu Tony fechar a cara.

Hermione entrou na biblioteca com Anthony em seu encalço. Ele foi o primeiro a achar Lucy, mas manteve-se atrás da grifinória. Não tinha certeza se o que estava fazendo era certo, mas estava gostando daquilo. Fora então que parara. Desde quando se tornara tão suscetível a uma garota? Elas o procuravam. Elas o seguiam. Ele nunca precisava correr atrás de nenhuma. E Lucy estava completamente fora da regra. Ela parecia desprezá-lo. Mas como seria se ele a ignorasse? Se parecesse não ligar mais para ela? Será que assim Lucy perceberia que ele estava cansado dos joguinhos dela? Fora então que ele teve uma ideia. Sorriu, já sabendo o quanto divertido seria. De agora em diante, pouco se importaria com a sonserina. Ela seria como as outras. E ele a conquistaria como se fosse qualquer uma. Só não sabia o quão perigoso aquele jogo seria.   

Quando se segue para o caminho dos jogos, pode não haver volta também. Uma jogada mal feita causa estragos desagradáveis e consequências inoportunas. A menos que o Xeque esteja garantido, o jogo é perigoso, para ambos os lados. Pois ainda que a artilharia seja de primeira, nunca se sabe a estratégia do adversário, e muito menos, se ele é um bom jogador ou não.

Anthony sentou-se do lado de Hermione e viu Lucy arquear a sobrancelha como se estivesse perguntando o que ele estava fazendo ali. No entanto ele nada respondeu, apenas a fitou divertido e a garota não deu impressão nenhuma de que iria contestá-lo, mas o ignorou completamente.

–Granger, como vai seus sonhos?

–Eu não sonhei nada esta noite. – respondeu fitando as íris amendoadas da outra.

–Algum pressentimento? – Lucy voltou a perguntar, como se fosse uma detetive ou médica.

Hermione, então, omitiu o ocorrido de minutos antes. Não iria dizer à Lucy, não era necessário. Era só uma sensação idiota de uma medrosa como ela. Não precisava dizer. 

–Não vi, nem senti nada. – dissera por fim e vira Lucy sentar-se mais à vontade na cadeira.

Hermione só se esqueceu de que Lucy poderia ler sua mente.

É incrível a capacidade humana. O falso pressentimento de poder. A sensação maravilhosa de que nada lhe pode ser negado e, principalmente, de que ninguém pode lhe atingir.     

Lucy tateou a mesa em busca de algo. Não sabia o porquê, mas Hermione mentia para ela. Pois bem, que ela lhe ocultasse informações. Aquilo tudo era de interesse dela própria, não da sonserina. Por hora. Lucy pegou então, um livro antigo e de capa de couro, com um estranho símbolo na capa avermelhada. Entregou-o à Hermione.

–Leia-o com atenção, e não o perca! Tem muitas informações sobre a pedra nele, não seria bom se caísse em mãos erradas. – disse e suspirou irritada, tudo saía completamente ao avesso do que planejava. – Escute outra coisa. Essa magia vai te dominar, assim como te dominou naquela droga de floresta! E sabe o que vai acontecer? Você vai ficar completamente descontrolada. Poderá machucar qualquer um, independentemente de quem seja. Só por estar em seu caminho, alguém poderá morrer, então me diga Granger. Você quer que isso aconteça?

Lucy falara tudo com desprezo, e mesmo que controlasse o volume de sua voz por estarem na biblioteca, sua voz saíra mais ameaçadora do que se tivesse gritado. E Anthony percebeu o quanto ela era parecida com certa pessoa. O mesmo jeito de falar. O mesmo jeito de tratar alguém inferior. O mesmo jeito sonserino de ser. E percebeu que ela até poderia ser filha de um comensal. E se eventualmente servisse o Lord das Trevas, seria sua melhor combatente. “Mas o que estou pensado? Ela não faria isso! Não mesmo!” Tony disse a si mesmo, repreendendo-se.

Hermione a fitava com medo, nunca imaginara o quanto difícil seria controlar aquele poder. “Parecia ser tão fácil...”

–MAS NÃO É FÁCIL! – Lucy gritou ao ler a mente da outra e arrependeu-se ao ver os olhares dos poucos alunos que estavam ali – Droga! – dissera e abaixou a cabeça. – O que eu quero dizer é que você quase nos matou lá...

–Mas você que me provocou!

–Acorda Granger! Eu fiz aquilo exatamente para te descontrolar!

–Então porque está brigando comigo?

–Quer mesmo saber? – perguntou e Hermione assentiu não sabendo o que fazer para a outra parar de brigar com ela. – Então me siga.

Lucy juntou suas coisas e recolocou os livros na estante, saindo do local com Hermione e Anthony em seu encalço. Mas antes que pudessem andar muito, a loira abriu uma porta e entrou. Os dois a seguiram. Hermione olhou para Lucy, como se estivesse perguntando por que exatamente fora chamada até ali. O olhar da loira continha raiva, mas mais do que isso, continha certo desprezo.

–O que você faria se a guerra fosse amanhã? – perguntou simplesmente.

Hermione fora pega de surpresa, nunca imaginou a guerra sendo tão perto, sempre pensou que seria em algum tempo distante, em que estivesse já formada e com conhecimento suficiente para ajudar Harry a vencer.

Harry... já fazia semanas que não falava com o moreno, mas ele estava errado, completamente errado.

–Vamos Granger, pense direito. Ele não estava totalmente errado. – disse sorrindo com desprezo ao acompanhar a linha de raciocínio dela. – Ele só finalmente percebeu o quanto é perigoso ser o escolhido, o-menino-que-sobreviveu. Ele está cansado disso tudo e quer dar um fim em Voldemort, mas sabe que não vai conseguir. Não se for apenas um garoto de dezesseis anos. Uma sombra de Dumbledore. Ele quer afastar seus amigos de si próprio.

–Ele mesmo disse que não precisa de mim!

–Lucy... – Anthony a chamara, mas a loira o ignorou.

E quem precisaria de uma garota mimada, descontrolada e idiota como você? – Lucy dissera e viu ódio nos olhos de Hermione – Acorda para a vida! Estando com o Draco você nunca vai ter a amizade do Potter. E estando com o Potter você nunca vai ter o Draco. É lógica! E eles estão sendo mais espertos que você!

–O que quer dizer com isso?

–Lucy... – o garoto tentara de novo chamar a atenção dela.

–Agora não, Wolhein, e quanto a você, Granger, não se preocupe, você vai descobrir logo, logo. – a loira dissera divertida, como se saboreasse o fato de saber mais do que a castanha – E voltando ao assunto em questão... ‘por que estou brigando com você?’. É o seguinte. Sabe o que é ter uma pessoa irresponsável, com o futuro de todos na mão? Sabe o que é ver alguém não dar a mínima para o poder que tem? Eu sei o que é isso. Chama-se Hermione Granger.

–Não pode dizer isso. Eu estou controlando meu poder.

–Lucy!

–CALA A BOCA WOLHEIN!! – ela gritou virando-se para ele e finalmente vendo o livro que ele segurava brilhar.

–Se você está controlando seu poder, então porque diabos aquele livro idiota está brilhando? – Lucy perguntou apontando o livro que Anthony estava nas mãos.

Hermione ficara sem fala, fitava o livro como se sua vida dependesse disso, seus olhos estavam desfocados, pareciam quase hipnotizados pela luz. Luz... ela queria ir na direção dela. Tão irresistível era...

Hermione pegou o livro das mãos de Anthony, não o olhou, simplesmente tirou-o de suas mãos, aquele era seu livro, não pertencia a mais ninguém. Folheou-o como se tivesse acabado de reencontrá-lo, ficou tanto tempo longe dela, mas a garota ainda lembrava-se de suas palavras, cada palavra, cada mancha causada pelo tempo. Mesmo que nunca o tivesse realmente visto ele em toda a sua vida. Era a sua magia que o reconhecia. E não seria diferente, era um livro milenar. Parou em uma página, passando seus dedos finos pela superfície do papel.

E de repente, ela teve consciência do lugar onde a pedra estava, e não precisava checar, sabia que ela estava segura. A menos que descobrissem sua localização.

–Granger...– uma voz chamara, mas a menina ignorou.

Hermione tinha os olhos em Lucy agora, a loira a olhava surpresa, sem o seu desprezo no olhar, por um instante vira hesitação na face dela, mas não se importava.

–Escolhas, perigos e armações em sua vida... Amigos a trairão, mas o remorso os perseguirá... Um amor indesejado acontecerá... O pássaro ficará engaiolado... A rosa regressará, cheia de espinhos, mas não vermelha, e sim negra, como as trevas. 

As palavras saíam da boca de Hermione causando certo assombro em Anthony, não só porque ele nunca vira a menina profetizar nada, mais também por estar se referindo à Lucy. No entanto, a própria menina a fitava com os olhos arregalados, não compreendendo absolutamente nada. Seus braços se arrepiaram como se sentisse frio. Pássaro engaiolado. O que isso queria dizer? Ela não sabia.

No outro instante o encanto se rompeu, os olhos antes desfocados, ganharam brilho e Hermione tombou para frente, quase caindo no chão, se não fosse por Anthony, que a segurou.

–Lucy, me desculpe... eu não queria...

–Não fale nada, Granger – Lucy pedira seca, tentando esconder sua confusão por causa das palavras da outra menina – você não controla nem um pouco seus poderes.

Em seguida a loira saiu da sala, deixando uma Hermione transtornada e um Anthony confuso. O garoto olhou a castanha, ela parecia afetada pela visão, mas não tanto quanto Lucy. E ele teve certeza de que a menina entendeu algo daquelas palavras, ou achou que entendeu.

–Desculpe, Granger – ele começou a dizer saindo da sala – eu preciso... – continuou, mas a frase perdeu-se quando ele passou pelo portão, no entanto ele não precisava dizer mais nada, Hermione entendera perfeitamente que ele precisava cuidar de Lucy. 

:::  :::

–Lucy! – Anthony a chamara – Lucy, espera! – dissera novamente ao ver que ela não o respondeu.

Lucy corria, e ele ia atrás, correndo também, mas mal a alcançando, ela atravessou os jardins da escola e caiu, machucando o joelho, mas não se importava. Só conseguia abraçar seu próprio corpo, sem tentar ao menos levantar-se. Lágrimas saiam de seus olhos amendoados, indo parar em seu paladar, salgadas e dolorosas. Ela não costumava chorar, mas aquilo era demais para ela, como uma faca pontiaguda cravando-se em seu coração ensanguentado, abrindo mais ainda a ferida.

Anthony a alcançou, assustando-se ao ver as lágrimas grossas dela, mas não hesitou em sentar-se ao lado dela no chão e abraçá-la.

Ela deixou sua cabeça ir até o ombro dele, não o repeliu, sabia que Anthony não queria seu mal, nem iria rir dela, ele era um amigo. Um amigo que ela ganhara por acaso, como Draco. Mas naquele momento sabia que nem o sonserino poderia consolá-la, pois estava com seus próprios problemas para resolver. Mas Anthony não. Ele estava ali por ela, e por ora os joguinhos dos dois seriam cessados.

–Me conta o que há de errado... – Tony pedira calmo, deixando suas palavras atingi-la.

Lucy deixou a angústia dominá-la, fazia tempo que não deixava isso acontecer.

–Eu não posso... – disse ainda chorando descontroladamente.

A garota controlada e seca de minutos antes se fora, agora só restava uma menina assustada.

–Sei o que está pensando – ela dissera – eu não posso dizer, mesmo.

Tony deixou seus olhos caírem no rosto manchado dela, sabia que ela tinha inúmeros segredos, mas nunca pensara que poderiam ser tão horríveis a ponto dela não confiar em ninguém. E no mesmo instante que pensara isso, ela respondeu a ele mais calma.

–O problema, Anthony, é que eu confio em você. E não quero causar mais problemas ainda por causa disso. – dissera limpando as lágrimas – Se só de saber o que eu fiz com o Malfoy e a Granger você já se afastou de mim, imagina se soubesse de mais coisas...

–Então você admite que não quer que eu me afaste? – perguntara sorrindo, como se acabasse de ganhar algo.

Lucy olhou-o confusa, odiava se contradizer, não deveria ter dito aquilo, mas agora não tinha volta. Suas palavras ditas não voltariam.

–Wolhein... – tentara em vão explicar melhor o que dissera, mas não adiantava, ele não iria acreditar. – Não vamos ter essa conversa. – dissera por fim.

Lucy afastou-se, deixando-o para trás, mas ele acompanhou-a. O sorriso dele estava maior, como se fosse uma criancinha que acabara de ganhar um doce. A menina fitou-o e ele começou a rir.

–Pode parar – ela disse – Você está pensando tudo errado!

–Está lendo minha mente?

–Não! – ela admitiu.

–E como sabe o que penso? – perguntou mais divertido ainda.

–Simplesmente sei, é como se estivesse escrito na sua testa.

Ele suspirou derrotado, ela era teimosa demais para dar ouvidos a ele. Continuaram andando, até que ele puxou-a de volta pelo braço. Lembrando-se do que ela fizera com Hermione. O modo como a tratava, o jeito como suas palavras pareciam secas.

–Por que está fazendo isso com a Granger? – perguntou e viu as íris castanhas dela encarando-o surpresa.

Lucy abaixou seus olhos para o chão, como se não quisesse responder, ou talvez, sentisse vergonha do que fizera. Anthony, então, começou a seguir seu caminho, crente de que ela não iria respondê-lo, quando a resposta veio, quase sussurrada.

–Eu preciso fazê-la entender que o poder dela não é brincadeira... – quando Lucy começou a falar, o garoto virou-se para olhá-la, vendo uma sombra perpassar seus olhos. – Preciso fazê-la esquecer suas emoções para não deixar-se levar pela magia. Os sentimentos a fazem sonhar com o futuro, ver as coisas que acontecem, aconteceram ou acontecerão. Não a trato daquele modo por mal, mas sim para ajudá-la.

Lucy fitou-o, os olhos incrivelmente negros dele perdiam-se nela, fazendo-a arrepiar-se, e ela sabia que não era em razão do frio.

–Por que está me olhando assim?

Anthony desviou o olhar, visivelmente transtornado, no entanto lembrou-se de uma conversa que tivera há um tempo com alguém.

–Me promete uma coisa? – Anthony pediu e continuou – Me promete que não vai desistir de encontrar seu pai.

Lucy piscou certa de que ouvira errado. Logo ele propor isso a ela... Ele que mal falava com o próprio pai, e nem sequer via a mãe. A menina respirou cansada.

–Prometo, com uma condição, só se você prometer também que não vai desistir dos seus pais.

A sonserina pegou-o desprevenido, de guarda baixa, e nenhum dos dois conseguiu prometer nada ao outro. Ambos não admitiam o quão difícil era fazer aquela promessa.  

:::  :::

Hermione saiu da aula de feitiços, naquele momento teria um tempo vago, portanto seguiu para o campo de quadribol, onde Draco deveria estar terminando o treino. Mas o que viu quando chegou ao campo, foi a maioria do time sonserino parado. E várias garotas ao redor. Hermione ficou vendo apenas de longe. Pansy se insinuava para Draco, provocando-o, mas ele controlava-se pelo o que ela via, no entanto, estavam próximos demais e sorrindo mais do que deveriam. E isso não era só com Pansy, era com todas as garotas que estavam lá.      

“E estando com o Potter você nunca vai ter o Draco. É lógica! E eles estão sendo mais espertos que você!”

Lucy dissera aquilo, mas o que exatamente aquilo significava?

Harry estava com Gina. E Draco... estava cada vez mais distante dela. Como se não a quisesse mais. E aquela cena provava mais ainda sua teoria. “Não acredito que ele está me trocando!” pensou com raiva e saiu dali, voltando para o interior do castelo.

Andava sem rumo, sem uma direção definida, não via para onde estava indo, não via quem passava por ela. Eram todos sombras, figurantes de sua vida. Parou já cansada de somente andar e encostou-se na parede de um corredor.

Ela tinha um objetivo. Encontrar a maldita pedra. Não importava como, faria isso.

Teve um vislumbre de um castelo em meio a montanhas, “ou seriam rochas?” perguntou-se ainda tendo a visão. Lembrou-se de que a pedra podia mudar de forma. Poderia ser um rubi, uma esmeralda, um ônix. Uma pedra que fazia alusão à preciosidade. Seria por que o destino era importante? Incerto.

Hermione viu então uma garota loira. Ela tinha a face convertida em uma expressão de tortura, como se lutasse com algo doloroso dentro de si própria.  No entanto alguém a ajudava, um garoto também loiro e com incríveis olhos castanhos. Olhos tão parecidos com o de Lucy.    

–Hermione... – Draco a chamou.

Sua voz estava distante, ele ia em direção a ela, passo a passo. Ao aproximar-se dela, viu o quanto ela estava estranha. Os olhos machucados o fitaram, acusadores.

–Como foi o treino, Draco? – perguntou provando-o.

Draco sabia que ela o vira a pouco no campo, sabia que a magoara. Mas tinha que ser falso.

–Foi ótimo, acho que vai ser fácil ganhar esse ano. – respondeu sorrindo e inclinou-se para beijá-la, no entanto ela arrastou sua face da dele, puxando-o pela mão.

–Só mais cinco dias e vamos estar em casa... – Hermione comentou sem dar importância para o que acabara de fazer – Acha que o baile de inverno vai ser como o último que teve?

Draco fitou uma das janelas, começara a nevar novamente. As lembranças deles na floresta e os comensais o aterrorizou. Desejou intimamente que não houvesse nenhum problema durante o baile, mas sabia perfeitamente que não seria uma noite feliz.

–Vai ser um ótimo baile. – sussurrou, iludindo a si próprio.

:::  :::

Gina estava terminando seu dever de poções na sala comunal quando Harry aproximou-se dela.

–Ah... olá projeto de amigo. – disse sarcástica e com raiva do namorado.

–O que eu fiz? – ele perguntou na defensiva.

–Sabe exatamente o que fez, Potter. – a ruiva falou com desprezo e parou de escrever com a pena, resolvendo por olhá-lo diretamente. – Finalmente eu descobri o motivo da Hermione estar te evitando. Por Deus! Não acredito no que você fez!

–O que eu fiz? – ele perguntou novamente ainda não entendendo.

–Você destruiu a amizade de vocês, Sr. Escolhido.

Gina começou a recolher seu material, não se importando em ver a expressão de Harry.

–Eu só disse que não queria a ajuda dela, eu estava de cabeça quente. Brigaria com qualquer um que aparecesse na minha frente. Foi por esse motivo que eu te deixei no Três Vassouras. Eu não queria descontrolar em ninguém a minha raiva.

–Mas descontrolou na única que tem te ajudado em todos esses anos. Na sua melhor amiga! – a garota disse fazendo Harry encolher-se de vergonha – E quer saber? Eu te renego como namorado também!

Ela mal dissera isso e fora impedida por ele de afastar-se.

–Gina, eu estou tentando me desculpar com ela, sei que estava errado, mas ela não me ouve. O Rony está com raiva de mim, mal me olha na cara, não se afaste de mim também. – as palavras dele a desarmaram.

–Sugiro que a encontre e se explique, logo. – ela dissera.

Em seguida Gina subiu a escada para seu dormitório, deixando Harry sozinho com seu arrependimento. Só tinha uma coisa em mente: Encontrar Hermione.

:::  :::

–Você é tão burro como parece, Malfoy? – a loira perguntou para o garoto sentando à sua frente. – não acredito no que está fazendo. Você vai destruí-la assim.

Draco fitou as chamas esverdeadas na lareira. Não estava destruindo Hermione com seu joguinho. Estava se autodestruindo.

–Você começou isso. Você me instigou a namorá-la.

–Por favor, sabemos muito bem a verdade. E não é exatamente essa. Eu dei só um empurrãozinho.

O sonserino a fitou com ódio. Tinha raiva da habilidade de Lucy, era como se nenhum segredo estivesse seguro perto dela e, de fato, não estava.

–Me conte algo sobre você Lucy, um segredo.

A loira olhou-o com curiosidade, era óbvio que não ia contar nada a ele. Ou por não poder, ou por não se lembrar de nada que não a complicasse.

–Não tenho segredos, Draco.

O loiro arqueou a sobrancelha. Era óbvio que ela tinha, mas não admitiria. De repente, teve uma ideia.

–Vamos brincar um pouco. – dissera pegando um pergaminho limpo, uma pena e sua varinha.

–Voltou à infância? – Lucy falou irônica.

–Cala a boca. – ele dissera brincando – pegue o diário da sua mãe.

Lucy estreitou os olhos, sem entender, mas subiu para seu dormitório. Quando voltou, percebeu que só Draco estava ali, todos já haviam ido dormir. O pergaminho estava no chão, e agora, um pequeno caldeirão estava perto de Draco.

–O que pretende com isso?

–Você vai ver. – ele dissera colocando alguns ingredientes no caldeirão, deixando-os ferver. – Sente-se de frente para mim.

Lucy obedeceu, trazendo consigo o diário. Observou quando ele acrescentou uma pedra negra na poção e transfigurou duas velas. Acendeu-as em seguida, deixando-as uma de cada lado do caldeirão. Logo, a poção adquiriu um tom vermelho, como sangue ou como o fogo que ardia nas velas.

Em seguida Draco pegou uma faquinha de prata e cortou o próprio dedo, fazendo o sangue pingar no pergaminho.

–Me dê sua mão. – pediu para Lucy.

–Não até me dizer o que pretende. – a loira disse sem se afetar com a impaciência dele, não querendo oferecer seu sangue antes de saber o que ele queria com isso.

–Quero saber umas coisas.

Isso não adiantou para ela, que permaneceu sem alterar-se à espera de uma resposta plausível.

–Ok. Quero descobrir como será nosso futuro, não vou conseguir ver muito, só coisas simples, não tenho poder suficiente para realizar essa magia de uma forma completa.

–Não quero que você saiba o que acontecerá.

Lucy desviou os olhos, dissera sabendo que aquilo deixaria Draco confuso, e como previu, o loiro a contestou pelo olhar. Mas ainda assim, nada disse a ele.

Agora até Draco estava querendo saber o futuro. Lucy tinha medo do que ele poderia ver. E se descobrisse sobre Hermione e a pedra? E se visse que não teria chances com a grifinória? E se fosse morto por estar do lado das trevas?

–Tudo bem. Eu faço tudo sozinho. – ele dissera, mas no último minuto, Lucy também cortou seu dedo, deixando o sangue escorrer no pergaminho.

O vermelho contrastando no amarelo desbotado. Pingos sem formas definidas. Draco tocou o pergaminho com a ponta da varinha e os borrões, formaram dois nomes. Draco Malfoy e Lucy Moore. E em baixo dos nomes, uma data. 1997.

Depois disso, Draco rasgou-o em várias partes. Jogando-os em seguida, no caldeirão. Uma fumaça azulada envolveu a sala, deixando um cheiro acre na sala e que os impediu de verem o ambiente sonserino. Por entre a fumaça viram cenas. Eram eles próprios, mas pareciam não se reconhecer.

–Repita o que eu falar. – Draco sussurrou para Lucy e começou a falar feitiços em uma língua estranha, mas a garota ainda assim, repetiu as palavras dele.

Um brilho verde difuso irrompeu e Lucy ao sentir que era puxada para outra dimensão, encontrou os dedos de Draco e os segurou com força, quando dera por si, estava em uma espécie de torre.

O céu estava escuro, com uma lua solitária brilhando. O frio dominava o lugar, assim como a escuridão. Só havia pequenos archotes acesos. Figuras desconhecidas e com capuzes estavam no local. Eles usavam máscaras, escondendo suas faces.

Draco olhara para um ponto da torre reconhecendo a si próprio, mas com uma postura muito mais fria. Um olhar perturbado. Só conseguira desviar seus olhos quando ouvira um gemido fraco, um choro gutural. Olhou para trás, bem onde seu eu do futuro olhava e encontrou um par de olhos familiares.

Uma explosão no andar de baixo foi ouvida, mas Draco não desviou seus olhos daquela visão. Ela estava diferente. Chorava. Mas não demonstrava medo. Pelo contrário, parecia resignada por vê-lo ameaçá-la com uma varinha. Por vê-lo com seguidores das trevas.

–Me mate, Draco. – Hermione dissera em desafio, dividindo seu olhar para Draco e para os outros na torre.

Draco quis ver o que aconteceria, mas a mesma força que o puxou para a visão, o levou para outro lugar completamente diferente. Os dedos de Lucy ainda estavam entrelaçados nos dele, como de tivesse medo de perder-se naquele mundo de visões.

A bruma ao redor deles se dissolveu, deixando agora o ambiente dos Três Vassouras à vista. Uma garota de longos cabelos loiros sentada em uma mesinha no canto chamara sua atenção.

A mudança de atmosfera deixou Draco desnorteado. Estar naquela torre e depois no bar era mais do que estranho, mas aproximou-se da Lucy do futuro e percebeu o quanto ela também estava diferente. Notou também que ela olhava atentamente para dois cantos do lugar, ora para um, ora para outro. Hermione de um lado, e Draco do outro.

Isso não passou despercebido nem por Draco, nem pela própria Lucy ao lado dele.

–Se eu não conseguir dessa vez... Desisto. – ela murmurara e olhara para longe, depois buscou algo dentro da bolsa.

Draco não entendera nada e aproximou-se mais, ela não poderia vê-lo e assim, ele conseguiu ver o que tanto ela procurava. Era um papel visivelmente amassado. Tentou ler, mas Lucy deixou-o dobrado, levantando-se em seguida de onde estava e seguindo na direção de Hermione. Draco ficou à espreita dela, e se surpreendeu ao ver a grifinória. Era a mesma de sempre, mas com um olhar indiferente, quase que machucado. Um olhar que não gostou de ver.

–Faça isso parar, Hermione – Lucy sussurrou para a outra – Já passou da hora de vocês dois decidirem o que vai ser. Essa guerrinha amorosa é ridícula.

–Ele me provoca – a castanha dissera seca e estreitando os olhos – Não posso fazer nada quanto a isso.

Lucy respirou fundo, era lógico que poderia, mas nenhum desistia daquele joguinho. Odiavam-se e amavam-se, ou pelo menos fingiam muito bem.

–É claro que pode – dissera colocando na mão dela o papel que trouxera. – E sabe disso perfeitamente. – sussurrara – Agora faça sua escolha. Você o quer ou não?

A pergunta ficara no ar, pois segundos depois de Draco ver o olhar hesitante de Hermione, ele tivera a visão bloqueada por uma névoa, seguindo que era puxado para outra dimensão e depois e que vira fora a sala comunal da sonserina. Impecável. Deserta a não ser por Lucy que o olhava com uma mistura de surpresa e hesitação.

–Draco... – ela começara – ver o futuro não foi uma boa ideia.

–Eu percebi, Lucy – respondera irritado tentando compreender o que vira.

Era óbvio que nunca ameaçaria Hermione de morte, não conseguiria nunca. Talvez ela representasse uma ameaça aos planos do Lorde das Trevas, que a preferiria morta. Talvez ela estivesse na torre por causa dele, por teimosia, pela maldita coragem grifinória.

–Draco! – Lucy gritara agarrando a frente das vestes dele, obrigando-o a olhá-la. – Não adianta você fazer isso, não vai dar em nada. O futuro é incerto, talvez não aconteça. Não faz bem martirizar-se com algo que nem sequer aconteceu.

–Os feitiços que eu usei, junto com a poção, são para um futuro certo. – Draco dissera sem ter coragem de encará-la. – Algumas coisas têm que acontecer. É o destino, sina, karma. Escolha o nome que quiser, Lucy, mas aquilo, será real, e ainda por cima, ocorrerá em 1997, ano que vem.

Lucy soltou-o, tentando entender tudo o que ele dissera. Não poderia ser verdade. Todos têm escolhas.

–Essa poção mostra coisas que acontecerão que tem importância. Que afetarão drasticamente no futuro. Só não entendo o motivo de ter mostrado você e Hermione no Três Vassouras. Aquilo não era importante. – Draco murmurou.

Lucy fitou-o procurando algo em sua expressão. Algo que o denunciasse, que mostrasse que ele realmente não sabia a resposta do que acabara de falar. Só então percebeu que ele não sabia mesmo.

Tem pessoas que ignoram a verdade. O óbvio que, às vezes, está tão perto é deixado de lado. Como fazer para vê-lo? Simples. Arriscar-se. Procurar a verdade. Pena que alguns não desejam fazê-lo.

­­­–Por que pediu o diário? – Lucy perguntara, segundos depois.

–Há duas poções desse tipo Lucy. – Draco dissera – A Futurus. Que fizemos agora e a Antidea, que vamos fazer agora.

–O que essa faz?

–Vamos para o passado. – falara sorrindo.

Lucy incomodou-se com isso. Não era possível existir tais poções, tão acessíveis, tão fáceis de executar. A menos que Draco estivesse omitindo algo.

–De onde tirou essas poções?

Draco pareceu não tê-la ouvido e continuou a preparar a nova a poção, depois de ter limpado o caldeirão. Lucy percebeu que ele colocara um líquido pronto. Acrescentando algumas ervas e ingredientes.

–Draco... – ela insistira e tentara ler os pensamentos dele, achando facilmente a resposta. – São proibidas. – sussurrou deixando a realidade penetrá-la.

–Não exatamente – ele emendou – são desconhecidas. O ministério não tem ideia de que existam essas poções. – dissera e vira o olhar interrogador dela. – Levam-se meses para fazer uma poção dessas. Se for bem executada, os resultados são corretos, mas se errar um pouco, não funciona. Poucos conseguem fazê-la.

–Poções e feitiços desconhecidos são proibidos, Draco. Eu ainda vou acabar em Azkaban... – ela resmungara – Mas onde a achou?

–Em um livro. A magia da clarividência. É óbvio que não serve só para videntes, mas para qualquer um com um poder razoável. – Draco falara cortando umas raízes e levando ao caldeirão. – Também exige muito poder. E desgasta fisicamente.

Draco pegara o diário, todas as páginas amarelas, sem nada escrito.

–Posso rasgar? – Draco perguntara, e tendo o consentimento da loira o rasgou.

Assim como minutos atrás, ele deixou seu próprio sangue pingar e nem teve que esperar que Lucy fizesse o mesmo, pois o fizera sem reclamar.

Tocou a varinha no papel e viu palavras formarem. Melanie Moore. 1978.

Draco sabia que o nome da mãe de Lucy era aquele, mas surpreendeu-se quando a própria Lucy também tocou a varinha no papel e fez aparecer outro nome. Charlie Steiner.

Draco só não se lembrava porque aquele nome lhe parecia tão familiar.

Ao repetirem novos feitiços como da primeira vez, viram a sala ser mergulhada em brumas e depois sentiam outro ambiente surgir.

A única coisa que não poderiam prever era que o feitiço dera errado.

:::  :::

            

–Hermione, me ouve, por favor – Harry pediu ao ver a garota entrar pelo quadro da mulher-gorda e se dirigir para o dormitório. – Hermione!

–Me deixa, Potter. – ela dissera estressada com a perseguição dele.

O garoto, sem saber o que fazer, segurou-a pela mão, não querendo que ela o ignorasse mais ainda.

–Vou contar até três. Me solta ou te azaro. – ela dissera entre dentes.

Harry ia soltar, sabia que seria inútil discutir com ela, mas precisava se desculpar.

–Me desculpe, Hermione... – sussurrou ainda impedindo-a de ir embora – Fui um idiota, completo estúpido, imaturo...

–E será um homem morto se não me soltar agora – ela dissera sem se importar.

Harry fitou-a, aquela Hermione era nova, não a conhecia e percebeu a acidez da voz dela. E o quanto lembrava Malfoy. Soltou-a e em seguida viu-a se dirigir até a escada para o dormitório.

–Nunca pensei que isso fosse acontecer – Harry dissera, fazendo Hermione parar no segundo degrau, mas ela ainda assim, não se virou. – Você está ficando cada vez mais parecida com ele.

Isso a atingiu. O que Harry queria dizer? Não perguntou. Apenas continuou seu caminho.

Chegou ao quarto e deixou-se cair na cama. Mais quatro dias e estaria em casa. Parecia ter passado um século desde que vira seus pais.

Sentia-se cansada, não sabendo ao certo se era porque estava com sono ou porque algo a afligia. Aquela mesma sensação de perda que sentia na manhã ainda a dominava.

Resolveu permanecer na cama, aproveitando aquele conforto. E penetrou em seus sonhos. Como se fosse uma válvula de escape do mundo. Era isso que ela desejava.

:::  :::

Draco sentiu o chão abaixo de si e percebeu que estava caído, como se tivesse desmaiado. Abriu os olhos e viu que estava na plataforma 9 ¾. Mas o que estaria fazendo ali? Procurou Lucy, mas não a vira em lugar algum. O fluxo de pessoas aumentava. Um homem loiro estava parado ao lado de Draco de forma impaciente, mirando o relógio a cada minuto, e por isso também Draco olhou um relógio na parede e calculou que aquele era o horário que o trem chegava à plataforma, mal percebeu isso e avistou o expresso de Hogwarts.

Vários alunos desembarcaram, mas uma garota destacou-se na multidão, parando à frente do estranho ao lado de Draco. Ela sorriu misteriosa e o sonserino percebeu que já conhecia aquele sorriso.

–Que surpresa, Steiner. Não te esperava aqui – ela disse divertida e abraçou o homem.

Draco ouviu atentamente o que ela dissera. Steiner. Esse era o nome que Lucy escrevera no pergaminho. Eles eram os pais dela.

–Senti sua falta. – ele falara depositando um demorado beijo nos lábios dela. – Tem sido tão difícil aqui fora. Sem você.

–Bom... Agora estou aqui. – ela sussurrara e deixou seus olhos caírem no chão, pensativa – Sabe, Chuck, foi estranho deixar Hogwarts, arrumar minha mala, sabendo que eu não voltaria.

Charles olhou-a, sabia como era aquela sensação. Deixara a escola há dois anos e estar no mundo real era mais difícil do que imaginara.

–Eu sei como é.

Mal falara isso e avistou atrás de Melanie um grupo de estudantes. Quatro jovens. Amigos. Um com o cabelo despenteado. Tiago Potter. O outro com uma postura, um olhar que só um Black tinha. Sirius. Este conversava com outro, a aparência cansada, mas um sorriso gentil. Remo Lupin. Já o último era mais gordinho que os outros, parecendo um rato, à sombra de Tiago. Pedro Pettigrew.

Charles olhava-os, aquele grupo sempre o impressionou e sabia internamente que sempre se lembraria dos marotos. Cada pensamento, cada lembrança deles, o fazia admirá-los. Tinham laços de amizade. Laços que poderiam ser eternos. Ajudavam-se, mantinham os segredos do outro.

Olhou então para Melanie, ela tinha o olhar desfocado. Prometera não ler a mente dela e cumpriria isso. Sabia que era uma visão, mas não tinha o direito de acessá-la.

Ela fitou-o. O semblante sério, o olhar contestador.

–Quando ia me contar sobre você e suas escolhas? – perguntou. – Por que fez isso?

Ela soubera na visão. Tanto trabalho para ocultar a verdade dela e um cinco minutos ela adivinha. Charles suspirou cansado. Pegou na mão dela e levou-a para fora da estação. Minutos depois estavam em um pub.

Draco os seguira, não querendo perder aquela visão do passado.

–Não sirvo ao Lorde por considerá-lo um modelo a ser seguido. Um líder a quem devo fidelidade. Não. Eu o sigo para conseguir informações. – ele dissera – E você ficaria impressionada se eu lhe dissesse algumas coisas.

–Como o quê? – Melanie perguntara.

–Sabe o Snape, amigo da Evans? – ele perguntou no que ela afirmara – Ele vem passando informações sobre Hogwarts para o Lorde. Agora que terminou o sétimo ano, aposto que logo estará no círculo de comensais.

Draco percebeu que ela o olhava atenta, talvez até com curiosidade, talvez querendo perguntar algo.

–Até onde você iria nisso? Que ordens dele você atenderia?

Charles desviou o olhar. Já perguntara aquilo para si mesmo. Várias vezes. A verdade era que não sabia.

–Você mataria? – ela perguntou, mas não obteve resposta – Faria mal às pessoas? Ou melhor, aos sangue-ruins?

–Claro que não! Quer dizer... Eu nunca te machucaria – ele falara.

–Eu não devo ser tratada diferente dos outros nascidos trouxas. Se os ferirá, por que não a mim? Sou igual a eles, Chuck.

–Não. Você não é. Você é a herdeira do destino. O ponto de equilíbrio entre o passado e o futuro. Você é importante.

Draco se engasgou. Acabara de ouvir que a mãe de Lucy era a guardiã da pedra. Ou herdeira do destino, como ele dissera.

Lucy deveria saber disso. E escondeu essa informação dele por tanto tempo. Deixando-o à mercê de suas pesquisas que não mostravam absolutamente nada. Mas por que ela fizera isso?

Mas ninguém o responderia naquele momento, pois fora puxado por uma força invisível, sendo jogado no chão do salão comunal, com Lucy a uma pequena distância dele.

Ambos fitaram-se. Um tentando encontrar algo na face do outro. Não. Draco não diria a ela que sabia quem era sua mãe. Nem Lucy iria comentar o que vira em sua visão.

Permaneceriam como se não tivessem visto nada.

Ou pelo menos, foi o que pensaram.

–Eu preciso ir dormir – Lucy sussurrou levantando-se recolhendo o diário. – Boa noite.

Draco viu-a subir a escada para o dormitório, desejando-lhe outro boa noite, mas continuou sentado no chão frio.

Quando mais pedia para o destino ser de um jeito, este se mostrava diferente do que desejava. Pedira tanto para não ter que continuar a investigar sobre a pedra... e agora isso lhe surgia.

A única coisa que poderia fazer era continuar sua missão.

    

:::  :::

Anthony fitou a porta de madeira. O sol estava fraco do lado de fora, deixando pequenos raios entrarem no castelo. Iluminando-o.

Não precisava estar ali. Mas sabia que queria. Bateu fraco na porta e ouviu um “entre”. Obedeceu. Ao entrar na sala encontrou o professor arrumando uma pequena mala, colocando seus pertences dentro dela, sem preocupar-se em organizá-los.

–O que quer Sr. Wolhein? – o professor perguntou seco.

O jovem apenas continuou fitando-o. Olhava-o desafiador. Mas sua mente estava completamente vazia, o que intrigou Peter Woodsen. Havia algo errado.

–Se veio fazer alguma pergunta sobre...

–Não vim fazer nenhuma pergunta. – Tony cortou-o secamente, sentando-se numa cadeira que vira por perto. – Não preciso. Sei quem você é. E o que faz aqui não é da minha conta.

O tom dele fez o professor estranhá-lo mais ainda. Aquele não era o corvinal brincalhão que vira nas últimas semanas. Nem o jovem que entrara em sua sala outro dia. Era alguém diferente. Determinado.

–Só vim aqui te dar  um aviso... – Tony sussurrou – Não me importo se vai revelar meu segredo a todos. Pode acabar com minha vida. Não me importo, é o que vai acontecer cedo ou tarde.  E se você não assumir o que fez, eu vou dizer a todos. É muito fácil espalhar informações aqui em Hogwarts, como em qualquer outro lugar.

–Não pode me ameaçar. – o homem disse autoritário.

–Você começou. – o garoto dissera dando as costas para ele e voltando para a porta, saindo sem dar mais nenhuma atenção ao professor de duelos.  

:::  :::

 –Você tem mais uma chance. – Lucy dissera segurando sua varinha e olhando Hermione caída no chão. – Ou você consegue desta vez, ou paramos por hoje.

A grifinória levantou-se determinada, já fazia horas que estavam ali na sala precisa treinando e não sairia dali antes de conseguir derrubar a sonserina.

–Vamos continuar. – dissera tentando pegar a loira desprevenida, mas só o que conseguiu foi receber outro feitiço.

–Não está se concentrando. Se só ficar atacando dessa forma, você nunca vai conseguir aumentar sua magia. Precisa liberar seu poder. Você é a guardiã, mas não precisa ater-se só às visões. Pode ser boa em duelos, em poções, em qualquer feitiço. Quase me matou esses dias com sua força, mas por que não liberar seu poder?

–Eu estava descontrolada. – Hermione sussurrou e deixou-se cair no chão, sentando-se desconsolada. – É difícil acordar todo dia no meio de um sonho, uma visão. É difícil mentir para o Draco quando ele me pergunta se estou bem. Porque não estou.

Lucy abaixou sua varinha. Por hora elas deveriam parar o treino. Hermione não estava nada bem para continuar.

–Vamos parar com os treinos. Depois das férias continuamos. – ela dissera sentando-se ao lado da grifinória.

As duas garotas não se lembravam da última vez que conversaram educadamente, sem as típicas provocações. Ocorria agora à Lucy que não deveria agir assim com Hermione.

–Granger, você vai ser muito poderosa. – ela sussurrou. – O que fará quando estiver treinada?

–Vou ajudar o Harry a liquidar Voldemort. – Hermione dissera, segundos depois de pensar no assunto. – E espero que ele não descubra tão cedo sobre minha magia.

–Ele não vai.

Lucy falara e sabia que não importava o que acontecesse, Voldemort não poderia descobrir a verdade.

Hermione olhou para a sonserina. Lucy era tão calculista. Sabia ser manipuladora. Fria. No entanto, tinha apenas quinze anos. E como lidar com a morte da mãe nessas condições? Como viver sem uma família?

E ainda, como exigir de Hermione um controle sobre uma magia que nunca desejou?

Hermione pensou nisso. Nunca pedira para ser a guardiã. Mas estava ali. Tentando controlá-la.

–Não queria que isso acontecesse... – a grifinória sussurrou – Não pedi por isso.

–Ninguém pede, Hermione. Apenas acontece. – Lucy disse fitando-a – eu também não pedi para ser legilimente.

–Mas você gosta de ler a mente das pessoas. Isso é diferente do meu problema.

–Pelo contrário. É o mesmo caso, acredite. Em menos de um ano, você vai estar seduzida por sua própria magia. Eu sei como é. O poder em suas mãos. Você o usa uma vez e, quando vê, não vive sem ele. – a loira disse com o olhar desfocado.

–E por que usar essa magia? Eu não a quero.

–Você não precisa querer. Você simplesmente tem que controlá-la. Ou ela te controla. Não tem escolha.

–MAS VOCÊ TEVE! – Hermione gritou quase sucumbindo à ansiedade e às lágrimas que já não desejava.

–Quem disse? – Lucy perguntou arqueando as sobrancelhas de forma arrogante. – Não tive mesmo. Pense no que é ouvir vozes em sua cabeça. Sussurros. Sentimentos que não são seus. Palavras que você nunca proferiria. E imagine sentir isso desde os sete anos de idade!

Lucy viu Hermione encolher-se. Não deveria estar falando sobre sua vida para ela, mas já que pedira tanto, falaria.

–Imagine viver sem um pai. Apenas com uma mãe que esconde vários segredos de você. E pior, uma inominável. Imagine ter que aprender a controlar toda essa magia. E não é uma legilimência convencional. Isso é maior do que já vi. E às vezes eu penso no porquê de ser eu. Por que eu posso ler mentes? Não pedi nada disso também, Granger. E também não pedi para viver sozinha.

Lucy parou de falar, sentia-se de certa forma melhor por colocar suas angústias para fora, mas não deveria. Balançou a cabeça em um óbvio descaso e pegou sua bolsa, saindo da sala sem ao menos olhar a grifinória uma última vez.

Atravessou os corredores, sabendo que ainda teria um tempo vago antes da sua próxima aula. Foi, então, para a biblioteca. Sentou-se em uma das mesas, apoiando a cabeça entre as mãos. Não deveria ter dito aquelas coisas à Hermione. “Grifinória maldita” pensara decidindo-se por tentar revisar um trabalho que teria que entregar naquele mesmo dia. Talvez assim se acalmasse, no entanto, mal abrira a bolsa quando um garoto da lufa-lufa sentou-se na cadeira de frente para ela.

–Perdeu algo aqui? – ela perguntou seca, sequer olhando-o.

–Quer ir ao baile comigo? – ele dissera sorrindo para ela indo direto ao assunto, mostrando uma face irresistível. 

Lucy pousara a pena na mesa, agora olhando o garoto, séria. Era o terceiro que fazia essa mesma pergunta a ela naquela semana. Já estava cansada daquilo. Não queria ir ao baile.

–Eu já tenho um par. – dissera por ser a primeira desculpa que encontrara – Sinto muito.

O garoto olhou-a sem jeito, talvez testando a resposta dela, pronto para encontrar o mínimo vestígio da desculpa, e perguntou.

–Então com quem você vai?

Lucy não esperava que ele perguntasse e, por um momento, ficou sem saber o que responder. “Só me faltava essa. Primeiro a Granger, agora esse idiota! E o dia está só começando...”

–Ela vai comigo oras... – uma voz dissera e Lucy até fechou os olhos pedindo para os céus que não fosse quem ela imaginava ser. Ledo engano. Era ele.

–Anthony... – ela tentara argumentar com ele.

–Nós vamos juntos – ele repetiu para o outro garoto, que desistiu e finalmente se afastou.

Depois disso o corvinal se sentou se frente para ela com um sorriso canalha na face.

–O que foi? – ele perguntou vendo o olhar furioso dela.

–Não vou com você.

–Vai sim. – Tony disse. – Vai colocar um lindo vestido e usar uma bela máscara. Irá ser meu par nesse baile. Queira você ou não.

–Não pode fazer isso. – a loira disse entre dentes.

–Veremos. – Tony disse divertido, piscando de forma canalha e deixando-a, mais uma vez, sozinha.  


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Notas finais do capítulo

Próximo cap, o baile!
Espero vcs lá ;D
bjos :*