Regrets (Arrependimentos) - Afonsarina escrita por Suuh Franco


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Pessoal!!!

Olha eu de novo! Primeiramente quero agradecer imensamente aos comentários em minha primeira fanfic de Afonso e Catarina. Acreditem, eles me inspiraram e me motivaram fazer mais esta.

Bom, aquela realmente não terá continuação, mas teremos ainda, se depender de mim (e se vocês quiserem, é claro) muitas oneshots do nosso casalzão.

Só tenho um pedido: Não desistam no meio por mais triste que possa ser. Acreditem, escrever essa história cortou meu coração, mas finalizei e gostei do resultado. Espero que gostem também.



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O reino de Montemor, uma potência bélica que fazia parte da Cália, já vivera momentos grandiosos. Fora governado durante séculos por reis justos, sábios e honrados que levaram o domínio a ser grande e considerado um dos mais poderosos, mesmo com o seu déficit de recursos naturais.

Mas, assim como todos os reinos, não houveram apenas bons governantes. Eles já tiveram reis loucos, reis injustos, reis parvos. O último que sentara naquele trono era um bom exemplo de como um monarca despreparado e com a mente fraca e vazia, que era preenchida pelos conselhos mais descabidos possíveis, poderia levar um reino ao declínio.

Foi o que aconteceu no reinado de Rodolfo de Monferrato. Sucessivas decisões errôneas causaram o desastre no qual o reino se encontrava: praticamente falido, sem recursos e para piorar a situação já extremamente preocupante, uma doença batendo em todas as portas e entrando sem pedir permissão, levando homens, mulheres e crianças.

Mas Afonso não poderia ser hipócrita. Ele sabia que também tomara decisões que prejudicaram Montemor. Seu irmãozinho caçula realmente poderia ser julgado quando Afonso fizera algo mais hediondo ao abdicar do trono que era seu por direito e por dever? Quando pensara apenas em si próprio e deixara o futuro do reino nas mãos de alguém que não fora preparado para ser o rei? Não, ele não poderia.

"Você é um covarde, Afonso!"

A voz de Catarina de Lurton, fria e com um toque de desprezo, soara em sua cabeça.

Lembrava-se perfeitamente o jeito que Catarina o olhava após descobrir que renunciara ao trono de Montemor por amor à uma plebeia.... Duro, acusatório e, mesmo não tendo plena certeza, ressentido.

Mas, mesmo com mais diferenças do que poderia contar entre os dois, Catarina sempre se mostrara uma aliada leal e conselheira preciosa. Afonso sabia o quão boa a princesa de Artena era com as palavras e as bem usava em seu favor, porém era um fato que Afonso sentia a sinceridade em cada vez que a princesa de Artena lhe apoiava e lhe garantia que seria o rei que Montemor merecia, mesmo que o próprio muitas vezes duvidasse. Ele acreditava nela com todas as forças. Em seus olhos haviam uma segurança que não encontrava em nenhum outro lugar.

Olhou pelas janelas de seus aposentos e observava o pátio iluminado pelas chamas estrategicamente distribuídas e as poucas pessoas que ainda circulavam pelo local. Mais um dia se passara, um dia de incertezas, de prantos, de mortes. A peste pairou sobre o reino, se infiltrou no castelo atacando os criados e os nobres.

Catarina era uma das vítimas desta doença, e desde então vivia intercalando entre momentos de lucidez e delírio. Chamou inúmeras vezes pelo pai, pedindo perdão e chamava por Afonso. Este sempre lhe garantia que estava ao seu lado, e que não a deixaria sozinha. Ele não compreendia, mas o medo criou raízes em seu coração desde que ela desmaiou em seus braços naquele corredor.

Porém, nada o preparou para o que escutaria. Ainda duvidava se ela estava totalmente consciente quando dissera aquelas palavras. Palavras que desde então não saíram de sua mente.

"Eu amo você!"

O coração do rei acelerou, o sangue correu mais rápido e a mente não conseguia formular um pensamento coerente. Precisou de muito esforço para sair do estado de torpor em que se encontrava e convencer Thiago que Catarina não sabia o que dizia, ao mesmo tempo em que tentava se convencer do fato. Desde então, aquela frase assombrava seus pensamentos. Pensava nela, não importando a hora e o local. Em contrapartida, Catarina estava perdendo a luta contra a enfermidade. Seu corpo estava debilitado e seus momentos lúcidos cada vez mais escassos.

É claro que já havia percebido certo interesse por parte da princesa, mas tinha consciência de que não era sensato alimentar aquele pensamento, mesmo que os flertes constantes, os toques suaves, o andar confiante e a sua fragrância enlouquecedora estivessem sempre presentes, tentando-o, perseguindo-o por cada corredor daquele castelo.

Céus, estava enlouquecendo!!

Sentia em seus ombros a peso de governar um reino em completo declínio, a nova rejeição de Amália, tanto pelo povo quanto pelos nobres e.... Catarina!

O homem tinha medo quando pensava nela. Tinha medo de compreender (e aceitar) o que a bagunça que Catarina causava dentro dele significava.

"Você é um covarde, Afonso!", julgou aquela voz novamente.

Sim, ele era.

Mas em meio a todo o caos que vivia, preferia permanecer tranquilamente no relacionamento estável e já conhecido com Amália.

Temia o desconhecido, temia o turbilhão que a princesa sempre parecia trazer consigo, temia descobrir que tudo o que causou àquele reino fora em vão, pois o sentimento pelo qual tanto lutou, não fora forte para resistir às sensações que Catarina despertava nele. Ela invadiu sem permissão e bagunçou o que já era dado como certo.... e agora estava morrendo.

Catarina de Lurton, a princesa e única herdeira de Artena, a mulher mais feroz e letal que já conhecera, estava morrendo... E Afonso estava assustado e de mãos atadas.

Não se atreveu a falar em voz alta, não comentou com ninguém, mas o medo estava consumindo-o dia após dia. A cada novo sinal de que Catarina partiria, seu interior se desesperava. Não era a perda de uma aliada, como muitos pensavam, era a perda de alguém extremamente importante para ele. E ele não tinha ideia de como conviveria com isso, se de fato a princesa não resistisse.

"Eu amo você!"

Encostou a testa no vidro, tentando aproveitar a sensação agradável que o contato proporcionava. Não poderia ceder àquilo. Era loucura.

Apertou os olhos com força, já prevendo a dor de cabeça que logo viria.

Sempre esteve tão certo de seu amor por Amália. Foi essa certeza que o fizera enfrentar todos os obstáculos que apareceram até estar novamente no trono.

O que mudou? Em que momento mudou? Por que mudou?

Sabia que, caso seguisse pelo caminho desconhecido, machucaria pessoas queridas, pessoas que o acolheram em sua casa, o alimentaram com a sua comida e o receberam em sua família. Jurou que faria Amália feliz, e agora estava à um passo de quebrar essa promessa. Mais um peso para a sua consciência.

Fortes batidas na porta o tiraram de seus conflitos internos.

— Entre. - permitiu afastando-se da janela.

Um dos guardas responsáveis pela ronda naquela perímetro do castelo entrou e reverenciou o rei..

— Perdoe-me por incomoda-lo, Majestade, mas a dama de companhia da princesa Catarina solicita sua presença nos aposentos de vossa alteza. - pela fisionomia do guarda, Afonso previu que algo aconteceu... algo ruim. - Houve piora no estado da princesa.

Afonso saiu em disparada do quarto e seguiu rumo aos aposentos que Catarina ocupava no castelo. Eram lances intermináveis de escadas e corredores cheios de curvas que não acabavam mais. Deveria ter instalado Catarina próxima à ele. Ele sentia que falhara com ela em todos os sentidos.

Sua mente gritava para correr, seus olhos não viam nada além do caminho e em seus ouvidos havia um zumbido incomodo. O coração parecia querer sair do peito.

Rasgava.... Sangrava.

As portas do quarto estavam fechadas, mas era possível ouvir os soluços de dentro mesmo através das grossas madeiras.

Abriu abruptamente e encontrou Lucíola debruçada sobre Catarina, aos prantos enquanto Lupércio estava ao lado da cama. Ambos assustaram-se com sua entrada repentina.

Catarina, de olhos fechados, tinha os cabelos úmidos e bagunçados devido ao suor da febre.

— Majestade. - Lupércio, após uma mesura, olhou para o rei e Afonso não gostou do que viu. Vira aquele olhar em muitas pessoas quando seus pais e avó morreram. Olhar destinado aos enlutados. - Receio que o que temíamos aconteceu... A princesa Catarina está morta.

"... Catarina está morta."

Afonso balançava a cabeça, negando-se a aceitar o que lhe diziam.

A saliva desceu rasgando pela garganta, os olhos ardiam pelas lagrimas que tentava a todo custo conter. Céus, o ar parecia não ir para os pulmões. Encontrou os olhos de Lucíola e neles encontrou um reflexo de como deveriam estar os seus, pois os dois perderam Catarina. Os dois eram os mais próximos à ela e os que sentiriam mais o impacto.

Amália logo chegou ao local. O boato sobre a morte da princesa de Artena já havia passado pelos quatro cantos do castelo e saído em direção aos arredores.

Aquilo causaria uma comoção

O povo choraria....

Não como Afonso.

O povo a amava.

Não como Afonso....

Eles chorariam por ela.... lamentariam sua morte precoce, mas logo seguiriam com suas vidas. Afonso, por outro lado, carregaria sua lembrança eternamente como uma ferida que nunca seria devidamente curada.

Ele se lembraria dela.... sempre.

As palavras não ditas queimaram como brasa escaldante em sua garganta. Catarina nunca as escutaria. O arrependimento fez a dor dobrar sua intensidade. Amália segurou firme em seus braços quando suas pernas pareceram não suportar o peso de seu corpo, o qual parecia ter sido esmagado por toneladas de pedras. Olhou em seus olhos e encontrou preocupação e surpresa pela reação de Afonso diante da morte da princesa. Ele não conseguiu mais evitar. As lagrimas deslizaram livremente pelo rosto e ele não fez questão alguma de esconder. Escondera muitas coisas.... não esconderia aquela dor.

Ela gritava, rugia, querendo que todos tivessem conhecimento de sua existência. Querendo mostrar ao mundo o que aquela perda significava.

Tudo o que poderia ter dito, tudo o que poderia ter feito.... Catarina morreu sem saber, morreu sem que estivesse ao seu lado. Morreu pensando que estava sozinha.

Tudo naquele cenário parecia extremamente errado. Não deveria ser assim. Catarina deveria ter vencido aquela luta, se recuperaria e voltaria a ser a mulher confiante, a mulher que exalava poder em cada fibra de seu corpo, que nascera para reinar, que nascera para ser amada por ele.

Era tarde, mas Afonso não tinha mais medo. Arrependimento sim, mas o medo se fora.

Lucíola voltou a soluçar, encostando a testa sobre o ventre da monarca.. Quando percebera, o quarto havia sido invado por alguns criados, todos querendo confirmar a veracidade dos boatos.

— Saiam... - A voz quebrada saíra em um sussurro praticamente inaudível. Apenas Amália escutara com clareza.

— Afonso.... - a noiva tentava entender o que se passava, mesmo que o coração já tivesse esfregado a resposta em sua cara quando Catarina ficara doente. - Você precisa....

— Saiam todos daqui! - gritou, enfurecido.

Os criados correram para fora, Lupércio fez uma mesura e saíra logo após. Amália ainda tentava compreender o real significado daquilo. Hesitante, Lucíola levantou-se tencionando a cumprir a ordem do rei.

— Menos você, Lucíola.

A mulher respirou aliviada e retornara para seu lugar ao lado da princesa. Segurando a sua mão, esperava que a plebeia fosse embora e parasse de desrespeitar aquele local com sua insignificante presença. Não sabia o que passava em seu interior, mas ela deveria estar aliviada, pois sabia que Catarina era uma grande oponente. E se fosse esperta, como gostava de se fazer parecer, ela já teria notado o efeito de Catarina de Lurton causava no rei de Montemor. Afonso poderia não saber, Afonso poderia nunca admitir, mas ele amava a sua princesa. Lucíola não tinha a menor dúvida sobre isso.

Assim que Amália deixou o quarto, fechando a porta ao sair, Afonso sentou-se na grande cama e tomou-lhe a mão. O rosto sereno mostrava que agora ela descansava. Sentiu-se o ser mais vil e egoísta da face da Terra ao preferir aquele rosto contraído pelos efeitos da febre, pois aquilo significava que ela ainda respirava, enquanto a serenidade esfregava em sua face que Catarina se fora.

— Você estava com ela quando.... - respirou fundo procurando a coragem para pronunciar aquelas palavras. Não a encontrou.

— Sim, majestade. - respondeu com a voz embargada. - A princesa piorou enquanto o médico a examinava. Mandei um mensageiro imediatamente ao vosso encontro a fim de avisa-lo o que se passava. Ela não parava de chamar por vossa majestade.

Afonso fechara os olhos tentando absorver o impacto aquelas palavras. Era como levar uma bofetada. Até em seus últimos momentos, Catarina chamara por ele. E ele não estava lá.

— Apenas quando estava dormindo, ela parecia encontrar a paz. - Lucíola quebrou o silencio que se seguiu, atraindo para si a atenção do rei. - A princesa Catarina, dia após dia, assim que abria os olhos, revestia-se com sua armadura e enfrentava o mundo. Ela esteve lutando durante toda a sua vida. Quando criança para não ser tratada como uma bonequinha de porcelana. Ela quebrou todas as suas bonecas. - riu brevemente da lembrança. - Ela detestava o jeito como a tratavam. Na adolescência lutava para ter um pouco de voz em um reino que era seu por direito, já adulta contra casamentos indesejados cujo o único intuído de amordaça-la. E pelo homem que amava. Talvez as armas que usou tenham sido um tanto questionáveis, mas nunca podem colocar em dúvida os sentimentos de vossa alteza.

A cada minuto que se passava, a dor se intensificava. Perguntava-se o quanto daquilo poderia aguentar até sucumbir à loucura.

— Ela o amava, vossa majestade.

Afonso continuou a encara-la. Pegando sua mão que, aos poucos, perdia o calor, depositou um beijo suave. O toque era tão leve como as asas de uma borboleta, mas o que transmitia era tão potente quanto um vendaval. Era isso que acontecia com Afonso. Catarina chegara como uma força estrondosa da natureza, bagunçou tudo e no fim se fora sem ficar para conferir a bagunça que fizera. Ainda em porte de sua mão, a levou de encontro ao seu rosto, fechando os olhos. Por longos segundos permanecera daquela forma até que finalmente abriu os e respondeu à mulher.

— Eu sei, Lucíola.

Lucíola o encarou e viu tudo o que se passava em seu interior. Era como se janelas tivessem sido abertas e tudo o que estava preso escapasse por elas.

Afonso sabia....

Afonso admitia...

Afonso se arrependia.

Soltando a mão de Catarina, Lucíola andou até a mesa da monarca e de uma das gavetas retirara uma carta lacrada com o selo real de Artena.

Afonso desviara sua atenção da princesa apenas quando a mulher estendera-lhe a missiva.

—A mão é a minha, mas as palavras são de vossa alteza.

Segurou a carta como se aquela fosse uma tabua que encontrara em meio à um imenso mar. Não sabia o que encontraria ali, não sabia se aquelas palavras amorteceriam ou piorariam seus ferimentos, mas era algo que Catarina lhe deixara e independente do que causaria à ele, Afonso a guardaria para sempre.

Batidas na porta interromperam a trocas de olhar dos dois.

Gregório, conselheiro e amigo fiel do rei, entrou após o mesmo ter permitido.

O recém-chegado reverenciou tanto o rei quanto à princesa, que mesmo morta, merecia o seu respeito e admiração.

—Perdoe-me pelo atrevimento em vir quando vossa majestade ordenou que permanecessem sozinhos. - Iniciou Gregório medindo as palavras. - Primeiramente, gostaria que recebessem minhas sinceras condolências. Não consigo nem imaginar a dor que os dois devem estar sentindo. A princesa era uma mulher incrível, uma monarca excepcional e digna da admiração de todos os que a conheciam.

Lucíola, com o rosto molhado pelas novas lágrimas, balançou a cabeça efusivamente concordando com tudo o que o homem dissera,

Afonso, mais contido, depositou a mão de Catarina na cama e levantou-se,

— Obrigado por vossas palavras de conforto, meu amigo.

— Infelizmente, interrompo esse momento de dor, pois é preciso comunicar ao povo sobre a essa terrível perda. Não apenas os cidadãos de Artena, mas também os de Montemor têm a princesa em grande estima. O boato já se espalhou pelas vilas, precisam saber através do rei que infelizmente é verdadeiro. - Suspirou pensadamente. Em momentos como aquele detestava seu trabalho. Seu maior desejo era deixar que os dois permanecem com ela, longe de olhos alheios, longe de prantos que aumentariam ainda mais a sua dor.

— Por favor, nos dê um momento, Lucíola,

A mulher reverenciou e saiu logo em seguida deixando apenas os dois homens.

— Precisamos prepara-la e decidir como será feito o funeral e onde será sepultada. Ela é uma princesa de Artena, então...

— Seu funeral será conforme as tradições de Montemor. E seu sepultamento será nas criptas dos Monferrato.

— Vossa majestade...

— Sou o mais próximo de família que ela tem aqui. Catarina era uma princesa, Gregório, e única herdeira de um grande reino. Não posso sepulta-la junto à outros nobres. Sua posição hierárquica dá à ela o direito de estar entre reis, rainhas, príncipes e princesas. Não posso e não quero! Quando Artena estiver reerguida, por que com certeza ela será, garantirei isso, talvez nós a levemos para lá. Isso se eu conseguir deixa-la ir. - voltou-se para a cama e sentou-se novamente. - Falarei com o povo pela manhã.

O conselheiro entendeu que o rei gostaria de finalizar o assunto.

— Ordenarei que iniciem os preparativos para a cerimônia. Com vossa licença, majestade.

Finalmente...

Mal a porta bateu e os arderam novamente. Não precisava mais segurar, se controlar, ser forte. A carta de Catarina ainda jazia em sua mão, pensando devido ao seu significado.

What I'd give to run my fingers through your hair

(O que eu daria para passar meus dedos pelo seu cabelo)

To touch your lips, to hold you near

(Para tocar seus lábios, te abraçar bem perto)

When you say your prayers, try to understand

(Quando você fizer suas preces, tente entender)

I've made mistakes, I'm just a man

(Cometi erros, sou apenas um homem)

— Catarina... sei que é tarde demais. Tenho plena consciência que as palavras que direi deveriam ter sido ditas em outros tempos. Carregarei para sempre a dor de não tê-las dito enquanto ainda respirava. Enquanto ainda andava pelos corredores esbanjando sua alto-confiança, com ideias sagazes e suas tão conhecidas palavras ácidas. - sorriu tristemente quando as lembranças vieram à sua mente. - Mas a verdade é que desde que nos conhecemos, minha opinião sobre a vossa pessoa mudara tantas e tantas vezes. A mais memorável fora quando passei a admirar coisas que outrora eu temia em você. Sempre a admirei por sua confiança e sua força, mas por outro lado, sua necessidade de poder, sua luta incansável para conseguir tudo o que queria, podendo, quem sabe, ultrapassar os limites éticos e morais, me assustavam. Além disso, temia os pensamentos complexos que tinha a cada novo embate entre nós. Você parecia me ver como eu realmente era, mesmo quando nem mesmo eu conseguia faze-lo e quando tentava ser outro alguém. Você vinha com algo totalmente oposto ao que estava acostumado levantando questões que eu não queria descobrir a resposta, pois temia o que elas causariam em minha vida. Como você me dissera uma vez: eu sou um covarde. Precisei perde-la, a morte precisou leva-la, para que finalmente eu conseguisse admitir o que você, somente você, causara dentro de mim. - inclinando-se, levou os lábios ao ouvido da princesa e sussurrou em seu ouvido: - Me perdoe por ter demorado tanto. Eu também amo você, Catarina!

Encostou em seus lábios frios, lábios que já se perguntara que sabor teriam, repreendendo-se logo após.

Era um tolo...

If you told me to cry for you, I could

(Se você me dissesse para chorar por você, eu poderia)

If you told me to die for you, I would

(Se você me dissesse para morrer por você, eu faria)

Take a look at my face

(Olhe para o meu rosto)

There's no price I won't pay

(Não há preço que eu não pagaria)

To say these words to you

(Para dizer estas palavras a você)

Não sabia como seria a vida dali em diante, não sabia o que continuaria igual e o que mudara. Sabia apenas que sempre faltaria algo, que sempre desejaria ter dito cada uma daquelas palavras olhando em seus olhos e que daria qualquer coisa para que pudesse ter a chance de faze-lo.

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O rei de Montemor sobressaltou-se ofegante e olhou para os lados, tentando entender onde estava e em que dia estava. Olhou para o seu corpo e ainda estava as roupas que usara durante o dia. Estava tão esgotado que dispensara seu escudeiro e jogara-se na cama, a fim de conseguir descansar por míseros seguros.

Passando a mão pelos cabelos bagunçados, tentou separar em sua mente o que era real e o que fizera parte de um terrível pesadelo. Sonhara com a perda de Catarina, mas fora tão real que a dor em seu peito permanecia ali, rasgando, queimando...

Batidas na porta o assustaram e fizeram o medo voltar com força total. Começara daquele jeito.... a batida na porta trouxera o início de sua ruína. Levantou-se apressado para abri-la, encarando o guarda que de tão ansioso trocava o peso do corpo entre as pernas.

— Perdoe-me por incomoda-lo, Majestade, mas....

— Diga de uma vez! - ordenou.

— A dama de companhia da princesa Catarina solicita sua presença nos aposentos.... - disse apressadamente, mas não conseguiu concluir pois foi tirando do caminho por um rei aflito. - ...de vossa alteza.

Novamente as escadas intermináveis e os corredores cheios de curvas. Perguntava-se quantas vezes conseguiria viver aquela dor e quantas vezes teria que vive-la.

As portas estavam fechadas, mas isso não impediu que entrasse tempestivamente. Quando sua visão ganhou foco, encontrou Catarina encostada confortavelmente em vários travesseiros. A entrada abrupta a assustou, mas sorriu logo após ao reconhecer a figura do rei.

Afonso andou até ela com passos cuidadosamente lentos, como se temesse ser uma visão que evaporaria a qualquer momento.

Catarina não entendia porque Afonso a olhava de maneira tão intensa, mas foi maravilhoso ser alvo daquele olhar. Estendeu a mão em um pedido mudo e assim que ele a pegou, apertou-a carinhosamente, tentando passar-lhe algum conforto e afastar a agonia presente em seu olhar.

Afonso levou a outra mão até seu rosto ainda com os sinais da doença, mas diferente de seu sonho, a pele estava morna e fresca, sem vestígios da febre. A princesa colocou a mão sobre a dele e fechou os olhos, aproveitando o contato. Foi surpreendida ao ser puxada de encontro aos braços fortes e aprisionada entre eles. Estava apertando-a um pouco, mas nem em mil anos ela diria algo que o faria se afastar. Agarrou-se a ele com tudo o que pôde e permanecera quietinha ouvindo a forte respiração do rei, que parecia aliviado.

A reação surpresa de Lucíola que estava parada à porta com uma bandeja, os fez afastarem-se. Afonso constrangido e Catarina querendo mata-la.

— Diga, Lucíola! - ordenou tentando conter a raiva.

— Desculpe, majestade.... alteza. -pediu abaixando a cabeça. - Trouxe o que o médico receitou para que se fortalecesse e hidratasse.

— Comerei depois.

— Comerá agora. - ordenou o rei. Ela o encarou, levantando uma sobrancelha. - Tem que seguir à risca as ordens médicas, Catarina.

Não era de sua natureza seguir ordens, mas ela viu como ele estava visivelmente preocupado. Decidiu ceder para que não o angustiasse mais.

Catarina deu sua permissão através de um aceno e Lucíola ajeitou a bandeja com os alimentos em seu colo.

— Ulisses está no castelo e preparou isso especialmente para vossa alteza.

Catarina sorriu, satisfeita. Não era segredo que adorava a comida feita por Ulisses. Não poupava elogios a ele e todos sabiam que ela não os distribuía à toa.

— Pode se retirar, Lucíola. E feche a porta, por favor.

Olhou para Afonso esperando encontrar a expressão constrangida sempre quando ela o tocava ou ultrapassava alguma linha.

Não encontrou.

O olhar intenso continuava lá, parecia procurar uma certeza de que aquilo era real.

— Estou ficando preocupada, Afonso.

Riu incrédulo e acariciou seus cabelos.

— Não fique.... estou apenas me certificando de que realmente está se recuperando. - finalizou o carinho e baixou os olhos, encarando as próprias mãos. - Pensei que a perderíamos essa noite.

Afastando a bandeja que em primeiro lugar nem deveria estar ali, Catarina segurou suas mãos e apertou-as delicadamente.

— Precisamos conversar, Catarina. Há coisas que descobri e preciso compartilha-las com você. Mas antes disso, preciso ser honesto com outras pessoas. Preciso que me faça uma promessa. - Ao vê-la assentir, pediu: - Preciso que prometa que irá lutar com tudo o que tem, até não sobrar nada da doença em você. Prometa-me que lutará para viver.

Sorrindo, Catarina concordou:

— Estou sempre lutando, Afonso, e não paro até vencer.

— Eu acredito nisso. Assim que fizer o preciso, conversaremos francamente. Sem barreiras, sem impedimentos e sem medos.

Não haveriam mais palavras não ditas, não haveriam mais coisas que poderiam ter sido feitas. Afonso finalmente compreendera e aceitara. Não a perderia para o medo do desconhecido. Aproveitaria cada minuto, pois, sonho ou não, descobrira como é viver em um mundo onde não existia mais Catarina de Lurton.

O que o rei de Montemor não sabia, é que a princesa conseguia lê-lo claramente e já sabia o que viria com a conversa. Catarina só tinha motivos para lutar. E como sempre, sairia vencedora.  

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Notas finais do capítulo

Chegamos ao fim de mais uma fanfic Afonsarina.

Não me matem pela pegadinha (se abaixando para fugir das pedras).

A ideia inicial era de que realmente Catarina morresse, mas não consegui. Já sofremos tanto com a novela, não vamos sofrer aqui também!! Vão ficar juntos e pronto!! Agora se casem e povoem o castelo com pestinhas reais!!

Pessoal, espero de coração, que tenham gostado e espero muitas outras venham.

Não se esqueçam de dar uma estrelinha e deixar um comentário me dizendo o que acharam. Isso fará essa autora extremamente feliz!!!



Ah, gostaria também de convida-los para conhecerem A redenção da princesa, minha outra fanfic de Afonsarina.

Obrigada por tudo!!!


Até a próxima!!