Caixa de Areia escrita por Mayhem Noyer
Caixa de Areia
Engasgo-me, me afogo e me desespero
Diante a torrencial de decepções e sonhos perdidos
E em vão o infante dentro de mim chora, assusta-se com o fim
Desespera-se em busca de um passado distante
Algo que nunca retornará, uma vez soterrado pelas montanhas
Passam os segundos e as horas mas o sol não se move
Meus músculos adormecem na fadiga
Meus lábios se calam em luto e os olhos sussurram
Sussurram versos e prosa de profundo pesar
O velório do amor sempre esteve por chegar
E como todo bom velório, a confluência do humor precede o caos
E só existe caos, de início. Caos e desespero
Mas por vezes, quem sabe na maioria delas, não chove
Não há tempestades, trovões, relâmpagos e frases de efeito
A realidade é branda, triste e moribunda.
E correm as crianças pelo saguão, envoltas em fantasia
Não percebem os adultos e suas negras vestes
As pequenas caem, sorrindo, para o fundo negro da alcova
Debatem-se chorando quando concretadas no caixão de ferro
E morrem, asfixiadas, sufocadas, clamando com esperança
É claro, não podia deixar de ser
Os heróis sempre morrem no final
Dentre a poeira, a lama e as cinzas dos seus sonhos fracassados
Ora, pudera o mal prevalecer? Seria possível que os vilões tomassem o mundo?
Não, são todos heróis. Mortos derradeiros de uma batalha perdida
Uma batalha contra a vida e a sua inexorável realidade
Uma batalha entre os contos de cavaleiro e as decepções de uma quarta feira ingrata
Na luta entre o amor e a melancolia dessa vida, o amor deve sempre perder
Como poderia prevalecer? Em um mundo tão cruel cheio de gente tão normal
Não, o amor sempre perecerá
Perecerá para o ressurgir de uma nova era, para lutar
Para traçar contos e fábulas, inspirar os meninos e encantar as meninas
Mas o amor, tolo que é, já nasce herói... disposto a lutar uma luta que nunca ganhará
Mas ele deve lutar, deve dar esperança, sentido e vontade ao mundo.
Talvez a nem todo o mundo, mas às crianças... às crianças com certeza
Pois as crianças nascem fortes, sadia e risonhas
Travessas como são, sabem correr, andar, pular e amar.
E amam como nos contos, amam como nas lendas
Sem perceber que vivem a fábula, e que seu próprio amor é a luz dessa vida
Antes de ser enterrado por fim, pelo enorme e sufocante peso do mundo.
E assim morrem as crianças, o amor e a esperança.
Morrem para nascer dos seus restos decompostos um adulto maduro
Vivido, sábio e experiente. Um morto vivo esperando o derradeiro fim.
Algo que vive apenas para ver renascer o amor nos pequenos
Parar que amem e que morram, para que desapareçam da terra.
Antes mesmo que lutem, antes mesmo de que esqueçam dos seus sonhos.
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