Caixa de Areia escrita por Mayhem Noyer


Capítulo 1
Caixa de Areia




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Caixa de Areia

Engasgo-me, me afogo e me desespero

Diante a torrencial de decepções e sonhos perdidos

E em vão o infante dentro de mim chora, assusta-se com o fim

Desespera-se em busca de um passado distante

Algo que nunca retornará, uma vez soterrado pelas montanhas

Passam os segundos e as horas mas o sol não se move

Meus músculos adormecem na fadiga

Meus lábios se calam em luto e os olhos sussurram

Sussurram versos e prosa de profundo pesar

O velório do amor sempre esteve por chegar

E como todo bom velório, a confluência do humor precede o caos

E só existe caos, de início. Caos e desespero

Mas por vezes, quem sabe na maioria delas, não chove

Não há tempestades, trovões, relâmpagos e frases de efeito

A realidade é branda, triste e moribunda.

E correm as crianças pelo saguão, envoltas em fantasia

Não percebem os adultos e suas negras vestes

As pequenas caem, sorrindo, para o fundo negro da alcova

Debatem-se chorando quando concretadas no caixão de ferro

E morrem, asfixiadas, sufocadas, clamando com esperança

É claro, não podia deixar de ser

Os heróis sempre morrem no final

Dentre a poeira, a lama e as cinzas dos seus sonhos fracassados

Ora, pudera o mal prevalecer? Seria possível que os vilões tomassem o mundo?

Não, são todos heróis. Mortos derradeiros de uma batalha perdida

Uma batalha contra a vida e a sua inexorável realidade

Uma batalha entre os contos de cavaleiro e as decepções de uma quarta feira ingrata

Na luta entre o amor e a melancolia dessa vida, o amor deve sempre perder

Como poderia prevalecer? Em um mundo tão cruel cheio de gente tão normal

Não, o amor sempre perecerá

Perecerá para o ressurgir de uma nova era, para lutar

Para traçar contos e fábulas, inspirar os meninos e encantar as meninas

Mas o amor, tolo que é, já nasce herói... disposto a lutar uma luta que nunca ganhará

Mas ele deve lutar, deve dar esperança, sentido e vontade ao mundo.

Talvez a nem todo o mundo, mas às crianças... às crianças com certeza

Pois as crianças nascem fortes, sadia e risonhas

Travessas como são, sabem correr, andar, pular e amar.

E amam como nos contos, amam como nas lendas

Sem perceber que vivem a fábula, e que seu próprio amor é a luz dessa vida

Antes de ser enterrado por fim, pelo enorme e sufocante peso do mundo.

E assim morrem as crianças, o amor e a esperança.

Morrem para nascer dos seus restos decompostos um adulto maduro

Vivido, sábio e experiente. Um morto vivo esperando o derradeiro fim.

Algo que vive apenas para ver renascer o amor nos pequenos

Parar que amem e que morram, para que desapareçam da terra.

Antes mesmo que lutem, antes mesmo de que esqueçam dos seus sonhos.


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