Maple escrita por Invisibledead


Capítulo 1
Capítulo 1 - Passeio escolar de 1998


Notas iniciais do capítulo

Recomendação da autora, ler ouvindo Hollywood Undead - Bullet

https://www.youtube.com/watch?v=JhObE4bWrZo (Link da música)

Espero que gostem♥



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Wonpil não sabia explicar muito bem o que sentia ao pisar naquela cidade outra vez. Fazia tantos anos que visitara Banff pela primeira vez. Ao mesmo tempo que a cidade lhe parecia exatamente a mesma, com os mesmos aromas e cores; sentia que tudo havia mudado, se destruindo e reconstruindo dia após dia nos mínimos e mais imperceptíveis detalhes que, para ele, eram os que mais chamavam atenção.

Dez anos depois da tão recordada viagem dos formandos:

24 de outubro de 1998

Os alunos do terceiro ano da Nori School soltavam bochechos, suspiros e gargalhadas a caminho da tão sonhada liberdade. Aquelas seriam as primeiras semanas de suas vidas como formandos. Longe dos pais, das responsabilidades, de tudo!

Kim Wonpil conversava descontraidamente com seus dois melhores amigos, Park Janne e Yoon Dowoon, que não podiam estar mais felizes por estarem em um avião indo para o outro lado do mundo. Iam passar cerca de três semanas na cidade de Banff, no Canadá.

A viagem consistia em dar muitos perdidos nos professores durante as madrugadas e encher a cara o máximo que pudessem usando o cartão de crédito dos pais. Com certeza seria uma aventura memorável; lotada de histórias emocionantes para um dia, quem sabe, contar aos netos. Claro, haveriam partes que só discutiriam com amigos, afinal, diziam que as garotas canadenses eram divinas, e torciam para que fosse verdade.

— Vamos fazer uma aposta! — sugeriu Dowoon, com um olhar sapeca.

— Que tipo de aposta? — Janne arrumou a armação arredondada sobre a ponta do nariz e esperou o amigo continuar.

— Para ver qual de nós três fica com mais pessoas nessas semanas que vamos passar em Banff. — Sorriu e imaginou a variedade de mulheres lindas com que iam encontrar. Afinal, o Canadá tinha padrões de beleza completamente diferentes da Coreia.

— Eu tô fora. Nesta viagem pretendo ter apenas uma pegada fixa, meus jovens. — Olhou para fileira ao lado, mordendo o lábio ao perceber que Young olhava para ela.

Janne era abertamente apaixonada pela representante de sala, Kang Young. Que era covarde demais para assumir a relação que mantinha às escondidas com a loirinha.

— Apostem entre os dois — prosseguiu.

— Eu não acredito. Vai mesmo abandonar seus Oppas para ficar correndo atrás daquela ridícula? — Do trincou os dentes, inconformado. — Ela namora o representante do segundo ano, Janne. Sem falar que vive te esnobando. — Ele olhou para a morena com uma carranca, e logo a mesma desviou o olhar do trio e voltou a fitar o livro que tinha em mãos, o intitulado Diablo. A ordem, de Nate Kenyon. Era um ótimo livro, pensou. 

Kang era indiferente a Janne na maior parte do tempo, exceto quando ambas estavam sozinhas; e então mostrava um lado tão amoroso e safado que deixava todos os pelinhos da Park em pé.

— Exatamente. Ela namora o representante do segundo ano, que não está aqui, e sim na Coreia. Ou seja, não vou ter que dividir minha lindinha com ele. — Fez um bico emburrado. — Aposte você e o Won. Tá com medo de perder?

— Tá vendo isso, Wonpil? Tá vendo o que essa garota estúpida tá fazendo com a nossa filha? Vai ficar parado aí ou vai dizer alguma coisa? — O Yoon estava inconformado.

— Deixa ela, irmãozinho. Vamos apostar só eu e você desta vez. — Passou o braço em volta do pescoço do Do. — Uma hora a Janne vai ter que perceber que está sendo trouxa e, então, nós a ajudaremos a sair da fossa — comentou, fazendo Janne revirar os olhos.

Os dois garotos já não aguentavam mais ver a garota feito um cachorrinho atrás da representante. Sabiam que ela não reclamava para os dois por sentir vergonha. Mas também sabiam que a loira não gostava de fazer o papel de amante. Por isso, bolaria um plano. Daria uma dura na Kang em algum momento da viagem. Era só questão de tempo!

O hotel em que ficariam era incrível. Fazia o perfil de pensão rústica, com detalhes em madeira de carvalho e um cheiro forte de citronela. Aquele cheiro fazia Wonpil se lembrar da casa de sua avó. Ao contrário de Janne, que sentia enjoo com o cheiro forte da planta.

Os quartos seriam divididos em apenas para garotos e apenas para garotas. Mas, é claro, a Park só dormiria se fosse na cama da Kang ou do Yoon, que chamava carinhosamente de mãe às vezes. Mas, para sua real tristeza, viu a representante da sala A do terceiro ano pedir para dividir o quarto com outra garota da sala.

— O QUÊ? — Deu um passo a frente, pronta para gritar o nome daquela magrela de nariz arrebitado.

— Não faz escândalo. Por favor, Jannie. — Wonpil abraçou a cintura da amiga para que ela não corresse até Young.

— Park, você fica com a Junhyeok, que foi quem sobrou. Tá bom? — disse a professora. A loira fez que sim com a cabeça, e Won a soltou.

— Eu sabia! Sabia que aquela garota não ia te dar moral aqui. Imagina se alguém vê alguma coisa e fala para o namorado dela? Ah, mas eu só não dou umas bofetadas naquela lá porque é mulher! — Cruzou os braços, irritado.

— Cala a boca, Do. — Pegou a mala e foi andando até Junhyeok, a garota mais quietinha da sala.

Nem se lembrava de alguma vez, nos últimos três anos, ter ouvido a voz da moça. Ela era magrinha e alta, tinha um cabelo curto chanel e também usava óculos.

— Vamos para o nosso quarto, Unnie. Aqueles palermas estão me amolando. — Os olhou, com os olhinhos brilhando, e mostrou a língua. Enganchou no braço da Jun, e esbarrou propositalmente na Kang enquanto caminhava para o quarto.

— Deixa ela, Yoon. Mais tarde ela aparece no nosso quarto pra querer jogar truco. — O Kim segurou o amigo que quis ir atrás da garota.

E não deu em outra. Quando era umas duas e pouquinho da madrugada, ouviram a voz da loira chamar através da porta.

— Oppas, ainda estão acordados? — A voz baixinha veio acompanhada de três batidinhas.

— Entra aí, pirralha! — Quem abriu a porta foi Dowoon, com a cara toda amassada.

— Estão fazendo o quê? — perguntou.

— Jogando truco. Quer entrar? — Quem falou desta vez foi Wonpil.

— Quero!

Talvez fosse pelo simples prazer de sentir a nostalgia, mas Wonpil quis ficar no mesmo hotel que ficou com os amigos da primeira vez que esteve lá. E, assim que passou os olhos pelo salão, teve a sensação de viver mais uma vez todos aqueles momentos.

Lembrou das vezes que fugiram à noite para irem em baladas. Das manhãs que brincaram de pega-pega, correndo atrás um do outro. E também da vez que Sungjin foi visitá-lo antes que fossem embora.

— Como estou? — questionou Janne.

Seus cabelos loiros estavam presos em duas tranças boxeadoras, e usava um vestido preto rodado na cintura, com botas de cano baixo e saltinhos. Os lábios coloridos por um batom vermelho e a maquiagem de olhos de gatinho. Sua marca registrada.

Wonpil a achava a garota mais linda do mundo. Estranhamente se parecia muito com sua mãe, que por acaso era casada com o irmão mais novo da mãe de Janne, o que fazia dos dois quase primos.

— Está linda, como sempre. E eu? — perguntou.

A Park sorriu e ajeitou a jaqueta de couro nos ombros do amigo.

— Você tá pegável. — Riu.

— E eu? — Do saiu do banheiro com um sorriso de orelha a orelha. Janne o achou simplesmente perfeito.

Ele usava uma calça preta colada e uma camisa branca um pouco larga, com um leve toque de maquiagem embaixo dos olhos, e os cabelos bagunçados. Entretanto, não daria o gosto de dizer a ele que estava bonito.

— Tá usando maquiagem? — Chegou mais perto, apertando as bochechas do amigo. Com o salto alto, ficava da mesma altura que ele; era tentador. — Ou melhor, tá usando a minha maquiagem. Não é, safado? — Gargalhou e deu um beijinho na ponta de seu nariz. — Vou dizer que está bonitinho, pela coragem.

— Eu fico comovido com o amor de vocês dois. Agora vamos logo, antes que alguém acorde e impeça a gente de sair. — O Kim se pronunciou, chamando a atenção dos outros dois.

— Esperem! Eu deixei meu celular no quarto da Jun — disse. — Vou pegar lá e já volto. — Tirou o sapato e andou correndo até o outro lado da pensão o mais silenciosa que pôde.

E enfim haviam chegado na festa. Mas em vez de estarem em trio, estavam em quarteto, já que a Park arrastara a Jun, sua colega de quarto, para a festa com eles.

Os garotos estranharam sua demora em voltar do quarto, e até pensaram que a menina tinha sido pega. Contudo, a danada só havia se deparado com a nova amiga acordada. Junhyeok usava um vestido azul um pouco mais leve, com um batom rosinha nos lábios e um salto preto que, com certeza, era de Janne.

O destino dos garotos foi de cara o bar da boate. Como só a loira sabia inglês, fez os pedidos para os demais. As bebidas que escolhera eram docinhas: tinham gosto de tutti-frutti. Jun comentou que aquele sabor parecia com aquele refrigerante cor-de-rosa, que só vendia na feira de Santa Rita.

Não tardou para que eles se dispersassem na pista de dança, e Wonpil se concentrasse em flertar com o bartender. Park Sungjin, era um nome lindo para um dono mais lindo ainda.

Andando pelas ruas repletas de maples, lembrou-se da primeira vez que ficou só com Sungjin. Depois de flertarem quase a noite toda no bar da boate, Sung se ofereceu para levar Won até a pensão/hotel que estava hospedado, já que estava um pouco alterado e os amigos tinham dado no pé depois de uma certa hora da madrugada.

Incrivelmente a relação dos dois não cessou depois daquela noite, para alegria de Janne e a irritação de Dowoon. Os dois trocaram números, mandavam mensagem um para o outro, e até marcaram um encontro. Se os amigos estivessem certos, estava apaixonado, certeza!

— Eu não acredito que este vai ser seu primeiro encontro! — A garota deu pulinhos, batendo palmas enquanto ajeitava o cabelo do amigo.

— Não é o primeiro encontro dele — Do disse.

— No Canadá é sim, oras! — Levantou uma sobrancelha. — Pronto. Está um gatinho. O que você acha, Jun? — Nos últimos dias Janne havia colado na amiga nova.

Junhyeok estava ajudando-a na missão de causar ciúmes na maldita representante de turma. Ela podia até estar tentando disfarçar, mas no fundo estava se mordendo pelo fato da Park não tê-la visitado nem uma única vez na semana em que estavam ali.

Em vez disso, estava pra baixo e pra cima com a Jun, que aos seus olhos era uma garota sem graça, parecia uma  daquelas atrizes de figuração de Dorama. Mas, para Janne, Jun se parecia muito com uma atriz de uma série de terror japonesa que assistira uma vez quando criança. Sentia um pouquinho de medo; mas não por achar a garota assustadora, e sim muito parecida. Quase como se fosse ela mesma ali na sua frente. Sem falar que a menina cheirava a caramelo, e era tão doce quanto um; sempre educada e com um tiquinho de timidez.

— Está muito bonito mesmo, Won oppa — disse, com o rosto vermelhinho.

— Era só o que me faltava, você começar a namorar com um cara que vive no outro lado do mundo. Por que todos os meus amigos estão me abandonando? — Yoon fez drama.

— Ninguém tá te abandonando, idiota. Estamos só trazendo mais gente para o bonde, seu dramático. Tenta se animar, poxa. Enquanto o Wonwon oppa fica com o boy dele, eu e Jun Unnie vamos ir com você naquele barzinho colorido do centro. — A loira sorriu, puxando o amigo para um meio abraço.

— Vamos jogar sinuca e flertar com estranhos? — Olhou para Janne e depois para Jun.

— VAMOS! — As duas disseram juntas.

Talvez Wonpil nunca tivesse estado tão nervoso num encontro em toda sua vida, mas Sungjin lhe causava isso. Borboletas no estômago. Talvez essa fosse a forma certa de chamar o que estava sentindo.

Se perguntou de quais cores eram as borboletas que lhe causavam aquele desconforto bom. Talvez fossem laranjas, assim como as folhas de maples que lotavam o chão da cidade, a qual ele amara tanto em tão pouco tempo.

Para um primeiro encontro, as coisas até que tinham ido rápido, com direito até mesmo a um beijo de despedida no final. Com certeza, Won guardaria aquela lua que iluminava o céu como a lua mais linda de todas; a lua a qual beijou seu primeiro amor pela primeira vez.

— Essa garota é uma falsa! Eu tô  falando — Yoon disse enquanto estava jogado no sofá de um café perto do hotel onde os amigos ficavam.

Juntos, jogando conversa fora, estava ele, Jun, Janne, Wonpil e Sungjin, o qual não demorou muito para fazer amizades.

— Eu concordo com o Yoon Dowoon. Como assim depois de tanto tempo ela vai atrás de você e então te larga pra atender o namorado? — Estava incrédulo com o drama de Park e Kang, mas não deixou de rir com os comentários maldosos de Yoon.

— Você devia esquecer ela, meu amor. Tem gente muito melhor por aí — disse Wonpil.

— É. Tipo a Jun, por exemplo. Ela eu sei que não vai te fazer sofrer — Do falou, deixando Junhyeok completamente corada, parecia mais um tomate!

— Oppa! — O repreendeu, envergonhada.

Era difícil lembrar da adolescência sem sentir o peso da melancolia o assombrar. Eram bons tempos que queria ter o prazer de vivenciar outra vez. Fazia tantos anos que não tinha a oportunidade de simplesmente passar uma noite de bobeira jogando truco com os amigos. Era o mal de ter se tornado adulto; de ter que enfrentar o mundo e as responsabilidades dele.

— Eu não acredito que já vão embora — disse Sungjin, tristonho, segurando as mãos do Kim. — Promete que vai me ligar? — Como trilha sonora, ouviram as duas garotas soltarem gritinhos. Aquele shipp era tão lindo.

— Claro que vou. Mas me prometa também, que vai me visitar quando for ver os seus pais!

— Eu prometo. — Sorriu.

Enfim os amigos estavam voltando, com o coração na mão por ter que deixar aquela bela cidade que começara a ganhar uma brisa fria, como lembrete de que o inverno estava chegando. A Coreia não parecia ter tanta graça quanto Banff tinha.

Mesmo que todos eles continuassem a se falar, não era a mesma coisa; não era a mesma rotina leve, de aromas calmos e doces. Era uma agenda corrida, faculdade, trabalho. Tinham sorte de ainda poder contar um com o outro. Juntos, sempre juntos. Assim como as estrelas, que nunca permitem que a lua esteja só!

Era outono mais uma vez, e as folhas de maples tomavam as ruas de Banff. Sungjin estranhamente se lembrou de alguém enquanto olhava para todo aquele laranja. Alguém de cabelos escuros, levemente vesgo, que amava tocar teclado e tinha amigos bem fora da casinha. Alguém que estava bem na sua frente, paradinho, com um rosto um pouco mais maduro e uma expressão um pouco mais confusa do que se lembrava.

 Alguém que não sabia descrever em palavras o turbilhão de sentimentos que o tomavam. Só conseguiu pensar nos maples, que sempre estiveram presente em seu coração.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem!



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