A Nossa Canção escrita por Manu Dantas


Capítulo 7
Capítulo 7 - Evidências




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— E aí, cansou do Jabuticaba? Ou Não queria que o vento bagunçasse o seu cabelo? Deve ser difícil manter um penteado perfeito em um carro conversível... – Brinquei para tentar descontrair o ambiente enquanto caçava as chaves de casa na minha bolsa.

— Não queria te dar trabalho de ficar manobrando o Amora – O Luan me respondeu rindo ao lembrar do "nome" da minha Pajero – E é pra isso que serve a capota, Júlia! Para proteger o cabelo...

— Pensei que fosse para te salvar da chuva...

— É, tem isso também... – Ele concordou enquanto entrávamos em casa.

— Bom, e a que devo a honra da visita dessa vez? Não me diga que você veio assistir a sequência de HP 6 – Falei irônica enquanto jogava minha bolsa na poltrona que ficava ao lado da porta.

— Não, não... – O Luan ria sem parar da minha piada sem graça – Na verdade eu queria... conversar – De repente ele ficou sério e eu fiquei tensa.

— Conversar? – Senti o medo percorrer o meu corpo e se instalar no meu coração. Conversas exigiam respostas e algumas delas eu não poderia dar ao Luan.

— É... Sabe, Jú... Eu nunca entendi o porquê nós terminamos! E agora que você voltou, isso meio que não sai da minha cabeça... – Ele foi falando receoso, mexendo as mãos como fazia sempre que estava nervoso – Eu sei que essa história já passou, que agora eu tenho a Jade, que você tem a sua vida... Mas... Eu só queria entender o quê aconteceu! Eu preciso disso para aquietar o meu coração – Ele confessou me encarando. Toda aquela explicação para me dizer o quê os seus olhos me contavam sem usar nenhuma palavra: Ele queria entender o porquê eu ainda mexia tanto com ele. O Luan ainda não tinha percebido, certamente por causa da mágoa e da distância que agora existia entre nós, mas ele ainda me amava. E eu não podia negar, saber daquilo enchia o meu coração de esperança. Talvez, e só talvez, ainda existia uma chance para nós dois...

— Hããã... Só uma coisinha: Quem te deve satisfações é a Jade e não eu – Falei tentando parecer o mais indiferente que eu podia. A verdade era simples: Luan queria saber o que aconteceu e eu não podia contar absolutamente nada para ele. A grande questão era que ele não podia, de maneira alguma, desconfiar que eu estava escondendo algo dele. Aquela era uma missão difícil, mas eu não tinha escolha... Eu teria que mentir para o Luan, por mais que o meu coração doesse por fazer aquilo.

— Não estou te pedindo satisfações... – Ele retrucou, contrariado – Mas isso só prova uma coisa... O Thiago e o Rober estavam certos: Nesse angu tem caroço! Você está escondendo alguma coisa, né Jú?

Droga! Droga! Droga! Como assim tinha caroço no angu? Primeiro: Da onde o Luan tirava essas expressões do "arco da velha"? Segundo: Como assim ele estava desconfiando de mim? O Luan sempre foi meio "lerdinho" para sacar as coisas... Tive vontade de bater no Thiago por ficar enchendo o ouvido do Lú de "lorotas".

— Não tem caroço em angu nenhum! Aliás, eu nem gosto de angu – Respondi tentando ganhar tempo – Mas, tá bom... Se você quer conversar, então vamos conversar... Só me dê um minuto para ir buscar algo para beber – Falei, já me virando e seguindo em direção a cozinha. Era claro que eu não estava com sede coisa nenhuma, mas eu precisava pensar em alguma coisa para sair daquela enrascada.

Passei pela sala, entrei na cozinha e abri a geladeira. Ri sozinha ao me lembrar daquela comunidade que existia na rede social "Abro a geladeira para pensar" porque era exatamente aquilo que eu estava fazendo...

Escolhi um suco na geladeira e fui até o armário para pegar um copo, enrolando mais do que o necessário. Minha cabeça fervia e minhas mãos tremiam. Eu precisava controlar aquela situação.

Demorei o máximo que pude, mas quando considerei que a minha demora em voltar para junto do Luan já estava parecendo suspeita, voltei para a sala. Pelo menos eu estava mais calma e agora tinha uma carta na manga.

— E então, lá vamos para a D.R. mais retroativa de todos os tempos – Ri sem humor enquanto me sentava no sofá e colocava o meu copo de suco sobre a mesinha de centro – Tudo bem, vou responder a cinco perguntas... – Falei séria o encarando.

Ele ameaçou reclamar, mas eu o cortei no mesmo instante – E nem vem me dizer que isso não é justo! Qual é, Luan? Quem vive de passado é museu! – Falei dando de ombros como se não me importasse com tudo aquilo. Dentro do peito meu coração já tinha dado um duplo twist carpado digno de fazer a Daiane dos Santos morrer de inveja.

— Cinco perguntas? – Ele repetiu nitidamente contrariado – Você é terrível mesmo, né Julinha?

Fingi que não ouvi o comentário dando um gole no meu suco – E aí, já podemos começar? Você quer ser a Marília Gabriela ou o Jô Soares? Ou você prefere algo mais no estilo "Casos de Família"? A gente pode ligar para a Bruninha e pedir para ela vir aqui dar um testemunho também... – Eu estava desesperadamente tentando mudar o foco da conversa, mas para a minha total desgraça o Luan parecia estar muito concentrado escolhendo quais seriam as questões que ele iria me fazer. Droga!

— Tá "bão", então vamos começar – Ele anunciou sério – Lá vai a primeira pergunta: O que rola entre você e o Sorocaba?

Respirei aliviada! Essa até que era fácil...

— Nada demais! Só amizade... – Respondi sem pensar me arrependendo logo em seguida. O plano era fazer o Luan pensar que realmente rolava algo entre nós... – Ele até tentou ficar comigo, mas nós nunca fomos adiante... Ainda – Tentei consertar o meu erro deixando um certo mistério no ar.

— Segunda pergunta – Ele anunciou juntando as mãos em frente ao rosto – Por que você viajou tão de repente para a Espanha? Você sempre dizia que não conseguiria viver longe da sua família...

O que ele disse era verdade e eu senti o meu coração falhar uma batida ao perceber que o Luan ainda se lembrava das conversas que tínhamos quando ainda éramos namorados.

— A oportunidade era muito boa – Respondi simplesmente – Na época os meus pais me apoiaram – A informação era verdadeira, mas a razão pela qual meus pais me apoiaram passava bem longe dos motivos profissionais. Na verdade era mais uma razão... física.

Encarei o Luan. Ele não parecia satisfeito com a resposta, mas não disse nada a respeito.

— Terceira pergunta – Ele fez uma pausa me fitando longamente – Por que você me traiu?

Meu sangue congelou dentro das veias e eu precisei de toda a minha força de vontade e concentração para manter a minha cara de "Tô nem aí par você". Soltei os cabelos, que estavam presos em um cuidadoso rabo de cavalo, e tirei as sandálias dos pés enrolando enquanto tentava acalmar a minha respiração.

— Foi coisa de momento – Eu parecia uma "pirigueti" falando aquilo. Eu odiava ter que mentir sobre aquele assunto, ainda mais quando na verdade eu queria gritar "Eu não te trai, idiota! Você não deveria acreditar em tudo o que eu te digo, ou pelo menos deveria desconfiar de algumas coisas"

— Você está mentindo – E aquilo não foi uma pergunta e sim uma afirmação. Droga! Sinal que toda a minha encenação não estava convencendo em nada.

— E por que você acha isso? – Falei, tentando manter o meu tom de voz calmo para não entregar completamente o "jogo" para ele.

O Luan não disse nada. Ele apenas apontou para um caderno de anotações que eu deixara em cima da mesinha de centro na noite anterior. Na mesma hora eu percebi o meu erro...

Peguei o bloco de papel que contava com folhas retangulares e uma espiral na parte superior. Virei a capa e encontrei na 1ª folha alguns pensamentos que eu registrei ali na noite anterior. Eu tinha o hábito de escrever para o Luan sempre que eu sentia muitas saudades deles. Era claro que aquelas eram cartas que eu nunca iria entregar e que eu esperava que ele nunca fosse ler. Bom, pelo menos era o que eu esperava até ele pegar o bloco...

Corri os olhos pelas linhas que escrevi com a letra meio borrada e sem muito capricho relembrando os meus pensamentos.

"É estranho, mas como eu posso me sentir ao mesmo tempo tão perto e tão longe de você?

Tão perto que sou capaz de te tocar, te beijar, te sentir... E tão longe que sinto meu coração sangrar ao imaginar que nunca mais poderei te chamar de meu novamente.

Um oceano inteiro nos separa... Um mar de mágoas, ressentimento, tristeza e de segredos que eu fui forçada a criar, como uma pessoa que acende um fósforo só para vê-lo queimar.

Nunca quis "queimar" o nosso amor. Aliás, dentro de mim, ele ainda arde muito vivo. Ouso dizer que ele também existe dentro de você... Mas como duas chamas podem atravessar um oceano para ficarem juntas?

Dói ficar sem você, mas o que me consola é saber que eu tomei a decisão certa.

Apaguei a chama do nosso amor para que o brilho da sua estrela pudesse brilhar sozinha pelo mundo. E hoje é isso que você é para mim: Uma estrela inalcançável que ilumina a vida de milhares de pessoas.

A minha chama ainda está aqui e vai queimar no meu coração até o meu último suspiro.

Lamento cada dia da minha vida por ter te perdido, por ter mentido para você e por ter te feito sofrer. Mas eu não tinha outra escolha! Não era o momento certo de me ter por perto e o seu destino era maior do que apenas ocupar o papel de "meu namorado".

Tenho orgulho de ver onde você chegou e tudo o que conquistou. Ver o sorriso no seus rosto ao comemorar cada vitória é o que me faz seguir, o que não me deixa desistir de tudo...

Serei sempre a sua maior fã, mesmo te acompanhando de longe, e você será sempre a estrela que ilumina o meu caminho...

Tão perto e tão longe... Sei que hoje estamos próximos (até demais! Rs!), e por mais que goste dessa situação, não me sinto no direito de me meter na sua vida dessa maneira. Preciso deixá-lo seguir, viver as escolhas que fez, as escolhas que eu fiz por você...

Tenho medo de perder esses momentos juntos, mas é como eu já disse, esse não era o momento certo para nos reencontrarmos. Talvez um dia, uma outra hora em algum outro lugar a gente consiga vencer essa distância que nos separa e sejamos capazes de reacender a chama do nosso amor.

Por enquanto, levo comigo os melhores presentes que você poderia ter me dado: O seu amor e a nossa canção.

P.S.C.V. (Pra sempre com você)

Júlia"

— Desculpa... Eu li enquanto você estava na cozinha... – O Luan confessou sem jeito – Mas alguma coisa nessa carta me diz que você não está sendo sincera comigo – Ele me olhou muito sério e seus olhos brilharam com a intensidade do momento – Quarta pergunta: Por que você está mentindo para mim?

Eu estava abalada demais para manter a minha pose de "indiferente". Levantei do sofá, e ainda com o caderno nas mãos, caminhei até as minha estante olhando os meus livros e DVD's que estavam ali sem realmente enxergá-los.

— Não vou responder essa pergunta. Você trapaceou lendo o meu caderno – Consegui juntar o resto de lógica que me sobrava para fugir daquela questão.

Ouvi o Luan suspirar frustrado. – Tá certo, você tem razão – Ele disse com a voz cansada – Já que eu li o seu texto, vou deixar "cê" ouvir a música que eu escrevi para você. Assim a gente fica empatado...

Eu ainda estava de costas, mas imaginei que ele devia estar pegando o celular e procurando o áudio no aparelho antes de apertar o play. Digo isso porque alguns instantes depois um som de violão encheu a sala e eu não me aguentei. Comecei a chorar me lembrando da noite que o Luan cantou a primeira música que escreveu para mim.

"Essa música eu fiz para mostrar o quanto meu amor pela Júlia é forte e importante para mim..." – Ele disse sentado na sala de casa na noite que foi me pedir em namoro para os meus pais. Depois ele pegou o violão e começou a tocar os primeiros acordes de "Pra sempre com você".

Mas dessa vez o que eu ouvi foi uma canção de batidas suaves. As notas do violão eram delicadas e combinavam perfeitamente com a voz de mel do Luan.

"Aqueles olhos verdes de tempestade

Que me paralisam e me fazem entregar inteiro

Que me roubam de mim, me jogam na tormenta

Que me deixam na rua, me tiram do rumo,

E sabem me fazer feliz como ninguém

Só ela é capaz de me deixar assim

Aquela que tem a tempestade no olhar,

Que me tira de mim, que me bagunça inteiro

E que mostra o que é o amor"

Eu prestei o máximo de atenção na letra tentando gravar cada palavra, o ritmo, a melodia... Como se eu quisesse memorizá-la de uma só vez na minha cabeça.

As lágrimas lavavam o meu rosto e eu não tinha coragem de encarar o Luan nos olhos. Mas eu devia estar soluçando muito alto, porque ele caminhou até mim e segurou a minha mão colocando o caderno sobre a estante.

— Ohhh Jú, desculpa! Não queria te fazer chorar... – Ele disse com uma expressão arrependida no rosto o que me fez derreter inteira. Como ele conseguia ser tão lindo desse jeito?

 *** Link para música: https://www.youtube.com/watch?v=ePjtnSPFWK8

— Não... Eu que peço desculpas. É que... – Ouvi outra música começar a tocar no celular e senti meu coração dançar um frevo dentro do peito. Se destino existia, ele estava realmente disposto a rir da minha cara sempre colocando a música certa na hora errada. Digo isso porque agora "Evidências" do Chitãozinho e Xororó servia de trilha de sonora para a minha D.R. com o Luan. O celular devia estar no modo "Reprodução Automática", ou algo assim...

— ... é que essa coisa de música mexe muito comigo – Ri da situação sem muito humor.

Quando eu digo que deixei de te amar,
É porque eu te amo.
Quando eu digo que não quero mais você,
É porque eu te quero.

— Eu tenho direito a mais uma pergunta, né? – Ele disse com a voz baixa, meio receoso, ainda segurando a minha mão com firmeza, mas sem machucar. Concordei com a cabeça e então ele respirou fundo antes de continuar – Você ainda me ama?

"Eu me afasto e me defendo de você,
Mas depois me entrego.
Faço tipo, falo coisas que eu não sou,
Mas depois eu nego

Mas a verdade
É que eu sou louco por você
E tenho medo de pensar em te perder.
Eu preciso aceitar que não dá mais
Pra separar as nossas vidas"

— Desculpa, Luan, mas eu não posso te falar essa resposta – Sequei as lágrimas do meu rosto com a mão livre e cheguei mais perto dele, tão perto que eu sentia o seu perfume que eu tanto adorava – Isso eu preciso te mostrar! – Completei a frase antes de beijá-lo nos lábios. Ele não recusou o meu beijo, e então eu me permiti voltar àquela tarde que ficamos juntos pela primeira vez. Eu sabia, eu podia sentir... Naquela noite nós ficaríamos juntos mais uma vez.


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Notas finais do capítulo

Bom, só para confirmar: Próximo capítulo será hot. A não ser que alguém seja contra que ele faça isso com a Jadelina! rs!

Cap 8 será mais curtinho, mas estará bem interessante! kkk

E aí, Julinha fez revelações importantes, né?

E a música? E a carta? Me contem o que acharam, ok?

(***)
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