A Nossa Canção escrita por Manu Dantas


Capítulo 11
Capítulo 11 - As lembranças vão na mala


Notas iniciais do capítulo

Prontas para descobrir o segredo da Julinha?

Então, bora lá!



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A maior mágica da vida é que ela segue adiante. Não importa em quantos pedaços o seu coração foi quebrado, os dias continuam a passar, ininterruptos, e a única opção que resta no final é viver.

No fim das contas, todos os dias é o fim de algum mundo. E se eu fosse realmente contar, o meu mundo já acabou duas vezes e eu sobrevivi. É como dizia a música "São tantas marcas que já fazem parte do que eu sou agora, mas ainda sei me virar".

E foi me virando que eu consegui não me "afogar" no meu oceano "particular". A vantagem em ser veterana em "perder tudo" é que da segunda vez você consegue se reerguer mais rápido...

Dias e noites... Acordar, trabalhar, comer, dormir... A rotina é uma importante aliada na hora de superar a dor. E a dor de perder o Luan e ainda brigar com ele foi forte demais para mim. Se fechasse os olhos por mais de um instante eu ainda conseguia ver a sua expressão de sofrimento me encarando, o jeito como ele quase implorou pela verdade, a forma como me mandou embora...

Nós dois chegamos naquela noite em um beco sem saída. Contar poderia magoá-lo profundamente. Não contar também... A única solução era deixá-lo, permitir que ele seguisse em frente, sem mim.

Soltei o ar pesadamente e olhei pela janela do ônibus. Eu estava acompanhando a Thaeme em um dos seus shows, em uma tentativa frustrada dela e da Bruninha de tentar me animar um pouco. Eu não sabia quantos dias tinham se passado desde a minha briga com o Lú, mas o meu coração ainda sangrava, ferido.

   *** Link para música: https://www.youtube.com/watch?v=b2eVWzPZ7Jk ***

Olhei em volta. Dentro do veículo o pessoal da banda e os dois cantores, a Thá e o Thiago, se divertiam juntos, cantando uma música de ninguém mais, ninguém menos, que do Luan. O clima era de diversão e de descontração e não combinava em nada com a minha "cara de poucos amigos", amuada em canto, sentada em um dos bancos.

"Sua consciência não vai te deixar dormir,
Pois ninguém mais faz palhaçada pra te ver sorrir
Ninguém vai te abraçar, pra ver o sol se pôr
Ninguém vai escrever no muro uma história de amor

Mas se mesmo assim, quiser me deixar,
As lembranças vão na mala pra te atormentar"

Ri sozinha e sem humor da ironia naquela música.

— Sem dúvidas as lembranças vão na mala, Luan Rafael... E lá vou eu de novo, pegar as minhas malas e ficar longe de você - Resmunguei para os meus botões. Depois encarei a revista que repousava no meu colo. Ali, estampada nas páginas da Caras, um Luan (lindo de matar no nível máximo) passeava pelas ruas de Nova York ao lado da Jadelina e seu nariz de um quilômetro. Ela estava muito elegante, o que me fez pensar que, com certeza, não foi ela quem escolheu a roupa que estava usando naquele ensaio... Eles pareciam bem, mas lá no fundo, algo me incomodava. Talvez eu o conhecesse bem demais para saber decifrar que aquele não era o seu sorriso mais sincero. Mas se ele a escolheu, por que não estaria feliz?

Reli a entrevista pela décima vez. Em uma das respostas o Luan dizia que não devia nada a ninguém... Por mais que aquilo me doesse, ele estava certo. Ele não me devia nada. Fui embora para vê-lo feliz e voltar foi um grande erro. Eu não deveria ter aparecido naquele show na Outlaws... O beijo que rolou aquela noite me permitiu ter esperanças de que o nosso amor não tinha morrido. Eu vivi aqueles dias sob a luz de um raio de felicidade que agora havia se apagado.

— Você tá esperando o Luan sair da revista e pular em cima de você te pedindo desculpas? - A Thaeme surgiu ao meu lado arrancando a publicação das minhas mãos.

— De certa forma, eu estava me despedindo... - Falei meio triste.

— Despedindo? - Ela se sentou do meu lado, tomando o cuidado de manter a revista longe de mim.

— É, eu vou embora de novo - Avisei. Ela era a primeira a receber a notícia.

— Como assim embora? - A voz dela entregava toda a surpresa que estava sentindo.

— Voltar não foi uma boa ideia - Me ajeitei no banco para olhar melhor para a Thá - Achei que já pudesse tocar uma vida aqui no Brasil normalmente, mas a primeira coisa que eu fiz foi correr para os braços do Luan quando eu devia estar longe dele... Baguncei toda a vida do Lú, baguncei ainda mais a minha, acabei bagunçado a sua e a da Bruninha também... O melhor jeito agora é ir embora, deixar a poeira abaixar...

— Eu não consigo entender... O quê rola entre você e o Luan? Dá para ver que você gosta dele, que ele gosta de você... Por que vocês não podem ficar juntos? - A Thá me olhava séria e seu olhar me dizia só uma coisa: Ela queria respostas - E essa história da gravidez, da falsa traição? Jú, eu queria poder te ajudar, mas estou no escuro...

Encarei a minha amiga e respirei fundo. Ela merecia saber de tudo e, honestamente, abrir o meu coração naquele momento me parecia uma boa opção. A tristeza que eu estava sentindo já ameaçava me sufocar.

— Tá preparada para saber a verdade? - Encarei ela, séria, meus olhos a avisando que o que vinha pela frente não seria fácil.

— Estarei sempre ao seu lado, Júlia. Não importa o que tenha acontecido - Ela me respondeu, determinada, mas com um sorrido gentil nos lábios. Aquela era a minha Thaeme.

— Bom, você já sabe que eu e o Lú namoramos antes dele fazer esse sucesso todo, né? - Mexi as mãos como quem diz "Isso é notícia velha" - Namoramos mais ou menos uns seis meses "firme", mas antes disso a gente já ficava na época do colégio. O Lú foi o primeiro homem da minha vida...

— Ai que fofo, Jú! - A Thaeme se derreteu toda e eu não consegui evitar sorrir. Lembrar daquela tarde era algo muito especial para mim.

— Então... Foi assim que eu fiquei grávida - Contei, olhando pela janela, sem coragem de encará-la.

— Eu lembro que você disse isso no chat! Mas se você estava grávida, por que terminou com o Lú? E onde tá esse filho? - A Thaeme estava tensa ao meu lado.

— Uma resposta por vez - Avisei, amarga - Quando eu contei da gravidez para o Anderson, ele, o pessoal do estúdio, a Dagmar... Todo mundo concordou que isso seria péssimo para a carreira do Luan. Ele estava no começando a estourar, e uma namorada adolescente grávida não ajudaria em nada. Isso só ia queimar o filme dele - Engoli as lágrimas que ameaçavam cair. Chorar de novo, não!

— Não acredito, Jú! - A expressão da "Thaeme" era de choque.

— Como eu sabia que o Luan não ia simplesmente aceitar que eu terminasse com ele assim... do nada, eu inventei a falsa traição. Peguei um cara que dava em cima de mim na época e sai com ele. Não aconteceu nada, mas eu pedi para que esse menino me adicionasse no Orkut, que na época fazia o maior sucesso, e postasse um monte de coisas deixando entender que a gente ficou... O Luan viu, ficou muito bravo, claro, e veio tirar satisfações comigo...

"Júlia, que história é essa de você ter ficado com esse cara ontem? Isso não é verdade, né?"

'É sim... Você estava fazendo show, eu estava de bobeira em casa, ele me chamou pra sair e acabou rolando..."

"Como assim acabou rolando? Júlia, por que você fez isso? Agora que tudo está dando certo... que a gente tá tão bem..."

"Eu queria ficar com um cara mais velho, Luan. Desculpa, mas eu enjoei de você. Sempre preocupado com as suas fãs, com os seus shows..."

"Você não tá fazendo isso, Júlia. Você não está falando mal do meu sonho, dos meus fãs... Diz que você não saiu com esse cara, só fala Júlia, por favor..."

"Desculpa, mas é a verdade, Luan. E eu acho melhor a gente terminar o nosso namoro por aqui. Eu não posso ficar com alguém tão bobo e imaturo como você..."

Só de me lembrar daquelas palavras eu já sentia o meu coração parar de tão amargurado. Aquelas foram as palavras mais difíceis que eu disse em toda a minha vida e ver o sofrimento do Luan ali, na minha frente, parado na porta do meu quarto, era demais. Precisei de toda a minha força de vontade para terminar com ele. Mas era para o seu bem, era pelo seu sonho... Ele nunca aceitaria sair em turnê se soubesse que eu estava grávida.

— Nossa, imagino como você ficou arrasada, amiga. Ter que terminar com alguém que você ama por causa de uma gravidez não programada. E o Luan, então? Ficou boiando na história, né? - A Thaeme estava boquiaberta com todo aquele rolo.

— Eu sei que ele sofreu muito... A Bruna me contou. Mas por um lado foi bom. O coração partido fez o Lú focar no trabalho e aquele foi um ano muito importante. "Meteoro" estourou em todo país, ele correu os quatro cantos do Brasil, fez show até cansar... No fundo, o Anderson estava certo. Um filho naquela altura poderia ter atrapalhado. O Luan passava quase um mês fora de casa. Como ele poderia fazer isso preocupado comigo e com o filho? - Eu acabei confessando, a voz fraca, o coração doendo. Fazia muito tempo, mas ainda doía lembrar.

— E o "baby", Jú? O que aconteceu? - A Thá me perguntou com jeitinho, como se já soubesse da resposta.

Respirei muito fundo. Aquela era a pior parte da história. - Meus pais não queriam que eu fosse mãe solteira. E eles também não acreditavam no sucesso do Luan. Achavam que aquilo tudo seria passageiro... Na opinião deles, ser mãe solteira do filho de um cara que não ia assumir suas responsabilidades como pai era a pior coisa do mundo. Eles não aceitaram isso... Eu estava começando a minha carreira de modelo, e eles apostavam muito em mim, achavam que eu tinha muito o que viver ainda e que ser mãe tão nova acabaria com a minha vida... - Comecei a chorar sem perceber. O ônibus seguia pela estrada e eu encarava a paisagem lá fora sem coragem de olhar para a Thaeme - Então eles arrumaram um médico... E ele cuidou de tudo - Não tive coragem de dizer a palavra. Aquilo era cruel demais. Foi o meu pior erro, o que eu mais me envergonhava em toda a minha vida. Eu tive um pedacinho do Luan dentro de mim, e permiti que me tirassem isso, de maneira tão fria e sem sentimento, por um motivo tão egoísta, por puro medo dos meus pais e da pressão da equipe do Luan.

— Seus pais fizeram isso com você? Eles não te apoiaram com a gravidez? - A Thá estava com a voz enrolada de choro ao meu lado.

— Não... Eles não queriam que eu tivesse o meu filho... - Concordei ainda sem coragem de olhar para ela.

— E depois? - Ela quis saber.

— Eu briguei feio com meus pais. Estava disposta a sair de casa. Foi aí que o Sorocaba apareceu. Ele sabia que eu tinha terminado com o Luan para não "prejudicá-lo", mas não sabia da gravidez. Ele chegou todo cheio de "papo" querendo me consolar, dando em cima de mim... Eu me aproveitei disso. Fiz ele usar os contatos dele e conseguir um vaga de modelo para mim em uma agência na Espanha. Eu lembro que o Sorocaba foi a minha rota de escape... Ele estava louco para ficar comigo, e eu meio que me deixei levar... Foi uma época negra. Eu bebi, fumei, saí da linha, amanhecia na balada, larguei o colégio, conheci outros caras bem "suspeitos"... Sinceramente, acho que o Sorocaba não ficou comigo por respeito ao Luan, porque eu perdi completamente o juízo. Eu surtei! Perder o Luan e o meu filho foi uma pancada muito forte para mim. Foi como ter um buraco dentro do meu coração que nada seria capaz de preencher - Confessei, as palavras deixando a minha boca como se fossem a minha pena de morte, a minha condenação eterna.

— Eu imagino como foi difícil! Meu Deus, Jú! Quem poderia imaginar que por trás dessa princesa linda, divertida, super determinada e direta existe uma história dessas? - Ouvi a Thaeme comentar ao meu lado. Sua voz era de quem estava muito impressionada e triste.

— Não me chama de princesa - Pedi com a voz baixa - Eu posso ser qualquer coisa, menos uma princesa - Completei, amargurada - Mas o que não te mata; fortalece, Thá. Eu fui para a Espanha, iniciei a minha carreira de modelo lá, aprendi a me virar sozinha, virei senhora do meu destino. Hoje ninguém mais manda em mim. Eu faço o que eu quero...

"Só não posso ficar com o Luan", pensei, o coração doendo dentro do peito, aflito, só de pensar naquilo.

— E o seus pais? - Ouvi a cantora perguntar receosa. Com certeza ela tinha medo de me magoar com aquela questão.

— A gente nunca mais voltou a se falar como antes. O sobrado, o carro, a mesada... Tudo isso é a maneira que eles encontraram de compensar o que fizeram - Senti a raiva ir me dominando conforme falava aquilo. Pensar na minha família era algo muito doloroso para mim - Quando eu voltei para o Brasil eu achei que pudesse arrumar as coisas. Recomeçar com os meus pais, tentar ao menos ser amiga do Luan, mas nada deu certo...

Fiz uma pausa, respirando fundo. Eu sabia que a Thá estava me encarando, mas eu não poderia olhar para ela. Lá na frente do ônibus, a bagunça continuava, todo o pessoal alheio ao meu sofrimento - Essa é a minha história, Thá! Essa é toda a verdade que eu escondo do Luan, porque eu sei que ele está melhor sem esse "peso" todo em cima dele...

— Vem cá, princesa - Ela me puxou para junto dela me abraçando muito forte - Agora eu te entendo. Mas é como a Bruninha disse aquele dia na sua casa: Essa culpa não é sua... Você era muito jovem e tinha muita gente fazendo a sua cabeça... Ninguém aguentaria essa pressão toda - Ela acariciava os meus cabelos e falava como uma mãe tentando acalmar um filho - O que passou, passou. Não dá mais para voltar atrás e consertar tudo. Eu entendo que você não queira contar a verdade para o Luan, mas você não pode deixar isso te torturar mais. Como você diz, é muito "peso" para você carregar sozinha... E eu ainda acho que ele merece saber de tudo o quê você encarou para vê-lo feliz...

Tentei falar alguma coisa, mas os soluços estavam me dominando. Tudo o que eu queria era dormir e acordar sem nenhuma daquelas lembranças.

— Vem cá, olha pra mim - Ela me levantou, me deixando cara a cara com ela - Se você acha que fugir é a melhor solução, tudo bem... Eu te entendo, sério. Você aprendeu a lidar com tudo isso, e conseguiu segurar a barra durante todo esse tempo. Mas você não está mais sozinha, entendeu? Agora eu estou aqui, e vou te ajudar! Independente de qual seja a sua decisão de contar ou não para o Luan, eu vou estar aqui. E não importa o quê diga, você é a minha princesa, sim senhora. A minha princesa que teve o seu conto de fadas roubado...

Voltei a me deitar no seu colo, agradecendo silenciosamente por ela não ter me julgado. Eu me envergonhava muito do meu passado, já havia feito muita coisa errada. A única coisa boa que restou de tudo isso era o meu amor pelo Luan. Foi esse sentimento que fez seguir em frente, que me impediu de me afogar em vez no meu "oceano de recordações".

— Obrigada, Thá! - Consegui dizer me ajeitando no seu colo e ficando ali o resto da viagem, como uma criança assustada.

***

— Uaaau - Ouvi a Thaeme exclamar ao encarar o meu visual assim que terminei a minha maquiagem. Nós estávamos no camarim dela e do Thiago, ela se arrumando para receber os fãs e dar entrevistas. O Thiago já estava pronto e agora andava pelos bastidores do palco, conversando com um e com outro. A principal vantagem de ser homem era aquela: Ficar pronto para o show em questão de minutos!

— Gostou? Estou aprovada? - Perguntei para a minha amiga encarando a minha própria imagem no espelho: Sandália de salto bem alto, o vestido preto de um ombro só que deixou o Luan babando naquela noite que ficamos juntos, maquiagem ressaltando bem os meus olhos claros, cabelo jogado de lado, brincos e anel combinando.

— Aprovadíssima! Tá um arraso! - A Thá me respondeu fazendo um sinal de positivo com os dedos - Agora me fala: Para quem é essa produção toda?

— Adivinha! - Provoquei terminando de passar o gloss.

— Luan? - Ela me perguntou virando a cabeça para o lado em sinal de dúvida.

— A minha melhor defesa é o ataque, Thá - Encarei a cantora, fazendo charme - Posso tirar o meu time de campo e entregá-lo de "bandeja" para a Jadelina, mas antes quero que ele saiba o que perdeu...

— Bandida! - A "Lora" caiu na risada ao ouvir o meu plano - Então vem cá, vamos tirar uma foto e postar no Instagram! Certeza que ele vai ver - Ela se juntou a mim e juntas, na frente do espelho, fizemos uma pose bem bonita. A foto ficou linda e logo a Thaeme postou na rede social.

— Pra fazer mané derrapar na curva... - Ela foi falando a frase que serviria como legenda enquanto digitava no seu celular.

— Opa! Essa legenda ficou bem provocativa, né? - Brinquei.

— É a despedida da nossa "Tempestade"! Tem que ser em grande estilo, amiga! - A Thaeme piscou para mim, se divertindo mais do que eu com a situação - E agora vem! Vamos achar o Thiago porque também quero uma foto nossa juntos antes de você nos abandonar - Ela me puxou para fora do camarim com a sua alegria contagiante e eu não tive outra opção senão segui-la.

***

Ponto de vista do Luan

Algum tempo depois...

Finalmente eu estava voltando para casa. O Rober dirigia enquanto eu ia no banco do passageiro ouvindo um "modão" do Milionário e José Rico tocar.

*** Link para música: https://www.youtube.com/watch?v=kmUwyMPDmoQ

Eu me sentia feliz, mas também cansado. Minha primeira turnê internacional foi bacana "dimais" e aquela seria uma experiência que eu nunca iria me esquecer. É muito "bão" ouvir pessoas de outras partes do mundo curtindo e cantando as suas músicas. Aquilo era muito mais do que eu poderia ter sonhado um dia... Eu realmente não conseguia mais imaginar até onde a minha música ainda poderia me levar. Sem dúvidas, eu era uma pessoa muito abençoada por Deus.

Paralelo aos shows, ainda teve aquela matéria e as fotos com a Jade que causaram o maior "trupé" com as minhas "neguinhas'. A situação andava meio complicada para o meu lado. Assumir o namoro não foi uma ideia tão boa assim, pelo menos no meu ponto de vista. Mas agora já estava feito, e eu estava me esforçando para que desse certo. Talvez com o tempo as minhas fãs se acostumassem com a ideia... Talvez eu mesmo passasse a me acostumar melhor ao fato de agora ter uma namorada...

No meio de tudo isso, ainda teve o tal do furacão "Sandy" destruindo parte dos Estados Unidos e ameaçando cancelar os meus shows. Só eu mesmo para ter a sorte de ter um furacão passando justo quando vou fazer show no exterior. Graças a Deus que deu tudo certo...

E já não bastasse o furacão, ainda tinha a tempestade...

— Tá que pariu, viu! - Falei baixinho, olhando para a foto que estava na tela do meu celular.

— Que isso aí, Luan? - O Testa quis saber enquanto parava em um sinal cruzando as ruas de Londrina.

— Nada não... - Tentei disfarçar.

Dei mais uma "espiada" na foto que a Thaeme postou no Instagram. Ela e a Júlia juntas, no camarim antes de algum show que rolou enquanto estive fora do país. A Thatha estava linda, mas a Júlia... Aquele vestido preto...

"É um anjo loiro
Dos cabelos cacheados
Um metro e setenta e cinco
Meu pedaço de pecado
É uma paixão
Que rasga o peito pelo avesso
Trinta e cinco de cintura
Cem por cento que eu conheço"

— Até vocês, Milionário e Zé Rico? - Comentei azedo, pulando a música passando para a próxima.

— Eii, eu gosto dessa moda, rapáiz - Ouvi o Rober reclamar, mas nem dei atenção.

Júlia, Júlia... Como ela conseguia fazer aquilo comigo? Passei a viagem inteira pensando em tudo o quê aconteceu nos últimos dias, tentando achar uma maneira de descobrir todos os seus segredos.

As últimas revelações dela foram bem "brabas". Descobrir que ela não tinha me traído e que fez tudo o que fez pelo meu bem me deixaram "desconsertado". Mas justo agora que eu estava começando a juntas as peças, eu acabei me precipitando e assumindo a Jade.

Olhei pela janela. O céu estava azul, o sol brilhando... Será que um dia eu conseguiria entender a Júlia daquele jeito? De uma maneira tão clara e nítida? Sem ela ficar me "enrolando" e me passando pra trás que nem ela sempre fazia?

Suspirei alto dentro do carro. Como sempre quando se tratava da Jú, eram muitas perguntas para poucas respostas...

— Êêê "paxão", hein... - O Rober "tirou" uma com a minha cara enquanto estacionava o carro em frente de casa.

— Não enche, Testa - Falei sem paciência, abrindo a porta e saindo para a calçada.

— Tira essa mulher da cabeça, rapáiz... Agora "cê" tem a Jade, não vai se complicar ainda mais... Resolve uma coisa de cada vez - Ele me aconselhou, saindo do carro também.

— Eu vou tirar... Eu vou tirar - Resmunguei contrariado. Tirar da cabeça era fácil, difícil era tirar do coração - Eu só queria entender esse rolo todo - Confessei, enquanto pegava as minhas coisas para entrar em casa. Era mala pra dar com "pau". Comprei muita coisa quando estava em Miami...

—Já disse, resolve uma coisa por vez. Agora que você decidiu ficar com a Jade, fica com a Jade... Depois, se não der certo, você volta a brincar de detetive com a Júlia... - O Testa fez piada da situação.

Tava aí uma boa pergunta: Eu queria mesmo ficar com a Jade? E eu aguentaria ficar "brincando" de detetive com a Júlia? Eu aguentaria ficar longe da Júlia depois de tudo o que aconteceu desde que ela voltou da Espanha?

— Cara, mulher é um bicho complicado "dimais" - Concluí, enquanto entrávamos em casa. O Rober me ajudou a ajeitar as coisas ali pela sala mesmo e depois foi embora. Subi para falar oi para minha mãe e depois fui para o quarto da Bruna para ver como minha irmã estava.

— E aêê, maninha? Sentiu minha falta? - Perguntei parado da porta do quarto dela.

Ela veio até mim para me dar um abraço. - Trouxe os presentes que eu pedi? - Aquela ali não perdia tempo.

— Trouxe, Brú, trouxe "tudinho" - Mexi no cabelo, sem jeito. Eu não tava valendo nada mesmo para aquela mulherada, viu! - Falando nisso, que história é essa sua e desse tal de Lucas? A senhorita pode me explicar? - Perguntei me lembrando de uns comentários que ouvi sobre os dois estarem de "rolinho".

Ela me olhou brava por um instante, depois voltou a prestar atenção no que estava fazendo no seu notebook sentando na cadeira em frente à escrivaninha antes de me responder - Você deveria cuidar mais da sua vida ao invés de ficar tomando conta da minha...

— Bruninha, Bruninha... - Falei, bravo.

— É sério! Você sabia que a Júlia vai embora? - Vi minha irmã me perguntar com uma expressão séria no rosto.

Embora? Eu ia ficar sem a minha princesa de novo? A minha tempestade estava me deixando?

— Não, sabia não... - Tentei disfarçar o aperto que eu estava sentindo dentro do coração por causa daquela notícia.

— Pois é, ela vai... Enquanto você fica aí fingindo sentir algo pela Jade que não sente, a Jú tá te deixando... De novo... - A Bruna estava brava comigo por causa daquilo? Agora que eu não entendia mais nada mesmo...

— Bom, mas eu não posso fazer nada em relação a isso! Foi ela quem terminou comigo e foi embora da primeira vez... E agora, sei lá, a gente só não consegue se entender ... - Tentei defender o meu lado.

Minha irmã revirou os olhos para mim, nitidamente nervosa. - Claro que vocês não conseguem se entender. A Prin é teimosa que nem uma porta e você é tão lerdo que não consegue enxergar nem o que está na sua frente...

— Ai, ai, ai... Você tá querendo me dizer que a culpa é minha? - Quem estava ficando nervoso agora era eu.

— Caramba, Luan! Depois de tudo que a Júlia te disse no dia que vocês brigaram, será que você não sacou ainda que ela te ama e nunca quis te magoar? - Ouvi a Bruna me perguntar me encarando com um brilho de esperança no olhar. De repente eu entendi. Ela era a chave para resolver aquele quebra-cabeça. Minha irmã sabia de tudo e sempre defendeu a Júlia para mim. As duas nunca deixaram de ser amigas e mais uma vez a Brú estava tentando proteger a companheira abrindo os meus olhos como ela já fizera muitas vezes antes. Mas eu estava cego de raiva e não queria ver. Agora era a chance de eu tentar matar aquela charada.

— Eu sei... Mas eu já cansei de pedir para a Júlia abrir o jogo comigo, mas ela não confia em mim... Eu não sei mais o quê fazer, Brú. Tô "perdidinho" nessa história - Confessei me jogando na sua cama, de repente me sentindo muito cansado por causa de todo aquele rolo.

Fechei os olhos e passei as mãos pelo cabelo. Respirei fundo, uma, duas, três vezes... Por que a Júlia sempre conseguia me deixar daquele jeito? Louco por ela e mais louco ainda por não poder ficar com ela?

Quando abri os olhos de novo, minha irmã estava ao meu lado segurando uma folha de papel nas mãos.

— Toma... eu prometi que nunca ia contar, mas realmente acho que essa situação já fugiu do controle. Não importa o quê a Júlia acha, você merece saber a verdade. Não é justo ela sofrer calada por erros que ela cometeu pensando no seu bem...

Sentei na cama e peguei o pedaço de papel. Era uma folha de caderno, já meio amarelada pelo tempo com a letra corrida e sem muito capricho da Jú.

Prendi o ar antes mesmo de ler a primeira linha. Eu sabia que toda a verdade estava registrada naquela folha. Tomando coragem, comecei a ler a carta.


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Notas finais do capítulo

Não sei se o capítulo ficou tão bom quanto eu queria, mas eu tentei fazer o melhor possível!

Mas vamos por partes:

1 - Segredos revelados. E aí, quem apostou certo?

2- Jú é terrível, né? Sabe "virar" a cabeça do Luan direitinho...

3 - Luan todo lindo confessando ser louco pela Júlia... Que fofo!

4 - Bruninha, sua linda! Finalmente alguém tomou uma atitude nessa história, rapáiz! Gostei de ver!

5 - Gostaram do momento BFF da Jú e da Thá?

6 - E essa carta, hein?

Espero realmente que vocês tenham gostado do cap. Enfim, preciso saber o quê vocês acharam...

Estamos entrando na reta final da fic, hein pessoal! Façam suas apostas!

Beijo grande!



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