Silthor escrita por L M Botelho


Capítulo 1
Capítulo 1




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     Desde tempos remotos o continente de Balenor é inabitado por homens. As civilizações que lá jaziam foram expulsas por hordas de gigantes das montanhas. Liderados por Tanthur, tais criaturas invadiram o continente em um avanço inesperado pelas praias do sul, vindos de regiões longínquas e desconhecidas até aos mais sábios dos homens. 

    A partir de então, o rei-gigante, sentado em seu trono no monte Nagmir, é o dono de todo um continente, protegido tanto por seus súditos gigantes quanto por seus dracus, criaturas semelhantes aos dragões, porém menores, mais fracos e de aparência menos imponente. Seres de aparência grotesca que viviam dentro das montanhas (por sua vez, muito abundantes em Balenor). Em geral, os gigantes os capturavam ainda jovens e os criavam para que os obedecessem de forma cega, atacando ou defendendo sempre em grupos; se vistos de longe, assemelhavam-se muito com morcegos gigantes extremamente desengonçados, com escamas, em geral, azul-esverdeadas.

    Anoitecia nas praias ao sul de Balenor, as mesmas pelas quais os gigantes invadiram o continente há milênios, quando Tjündir arrastou seu barco de madeira com capacidade para apenas uma pessoa para as areias marrom-avermelhadas da praia. O vento soprava a oeste, fazendo os cabelos e a barba longa do homem dançarem conforme o tom da natureza. Ao longe, da direção da qual viera o viajante, nuvens extremamente carregadas e trovões dignos da fama de Fellhror, o Deus das Tormentas, marchavam como um exército da destruição rumo ao continente. O homem rapidamente procurou abrigo em uma pequena caverna de clima aconchegante localizada numa grande pedra que se dividia entre o mar e as areias da praia. Armou um pequeno acampamento para passar a noite tempestuosa e dali, num dos poucos cantos escuros e não-vigiados de Balenor, o guerreiro fitou, após a fina faixa de areia da praia, o paredão de troncos e folhas vermelho-amareladas que o separava das montanhas dos gigantes e de seu maior objetivo: Tanthur.

    Tjündir viajou a pé por dias na floresta, portando apenas uma sacola com provisões para parte do percurso planejado, uma espada, um escudo redondo de madeira e uma capa típica dos viajantes do frio do norte. No caminho conseguiu coletar algumas frutas que serviram de alimento extra na viagem já que seu planejamento dos recursos não foi exato em decorrência da inexatidão dos mapas da região, que não era visitada por um homem há centenas de anos. O guerreiro por vezes precisou se esconder entre as raízes de ocasionais colossais árvores que se apresentavam em seu caminho para não ser descoberto e capturado por nenhum gigante ou seus dracus. Em uma dessas ocasiões um gigante pisou ao seu lado, quase o esmagando, fazendo com que Tjündir notasse o quão inimaginável é o tamanho de um gigante (não seria exagero compará-lo ao dedo mindinho daquele ser de tamanho espantoso).

    Depois de duas semanas de caminhada parando apenas para dormir, pela manhã, Tjündir alcançou o início da planície depois da floresta, e dali já podia enxergar o monte Nagmir. Porém, entre ele e seu objetivo ainda jazia um exército de gigantes guardando seu senhor e incontáveis dracus sobrevoando a planície e o monte quilômetros à frente. O viajante então encontrou uma árvore alta com muitos galhos fortes e seguros, escalou-a e sentou-se ali por mais dois dias, observando a movimentação dos guardas-gigantes e de seus morcegos exageradamente grandes e desengonçados, tentando encontrar alguma forma de chegar até Tanthur. Ao fim do segundo dia, antes de dormir, Tjündir decidiu que deveria seguir por uma pequena trilha abandonada, da época dos antigos homens que ali viviam, que conseguira identificar ao analisar a região do alto da árvore em que descansou. Além disso, notou que a quantidade de guardas e dracus era reduzida ao escurecer, de modo que sua passagem pela trilha poderia ser facilitada.

    O guerreiro então partiu ao amanhecer e rapidamente alcançou a trilha, que não tinha cobertura de árvores, obrigando Tjündir a seguí-la por entre as árvores que a bordeavam para não ser visto de cima. O clima era bastante úmido e a floresta seguia por mais alguns quilômetros repleta de arbustos atrás dos quais era possível se esconder e árvores altas que davam cobertura e forneciam alimento ao viajante.

    Depois de quase um dia de caminhada, Tjündir notou que a paisagem mudara, passando a enxergar, dos dois lados da trilha, intermitentes estátuas de uma pedra negra, do tamanho de homens normais, com diversas escrituras talhadas em uma língua antiga; provavelmente a língua dos homens que ali viveram antes da invasão comandada pelo rei-gigante. A partir dali Tjündir observou que não havia mais guardas e nem dracus sobrevoando o local e, ao tomar o caminho aberto da trilha, olhou para cima e percebeu que já se encontrava bastante próximo do sopé do inimaginavelmente colossal monte Nagmir, deixando escapar um leve sorriso de satisfação. Supôs que, se seguisse a trilha, provavelmente chegaria a alguma passagem pela base da montanha. 

    Após mais algumas horas, Tjündir alcançou uma espécie de portão de madeira na base do monte, já coberto por algumas plantas em decorrência dos milhares de anos em que foi intocado. Com exceção do portão e da trilha todo o resto do ambiente ao redor do guerreiro era de floresta, uma vegetação vermelho-amarelada extremamente densa, que se prolongava da praia do sul até a região da montanha. Tjündir encontrou uma alavanca próxima ao portão, igualmente coberta por cipós e outras plantas pequenas, e a puxou, deduzindo que serviria para abrir a entrada. Estava certo.

    Conforme o portão se abria sendo arrastado para cima por algum mecanismo de engrenagens, o viajante podia sentir um odor acre advindo de um ambiente abandonado há muito tempo. Tjündir cautelosamente adentrou no corredor pouquíssimo iluminado e notou que, por sorte, o caminho estava repleto de tochas apagadas presas às paredes, pegou uma e acendeu usando pedras do fogo que trazia consigo. Enquanto caminhava para o interior da montanha, o guerreiro podia notar que as paredes apresentavam escrituras em um idioma desconhecido por ele, escrituras muito semelhantes às que ele vira anteriormente nas estátuas da trilha. Os símbolos eram esculpidos diretamente na rocha e pareciam contar alguma história, já que vez ou outra eram intercalados por pequenas sequências de desenhos. Os desenhos por vezes retratavam guerras, em outros momentos mostravam colheitas ou plantações e até mesmo rituais religiosos. 

    Alguns minutos depois de ter entrado no corredor escuro, Tjündir se viu diante de um grande átrio que se abria em três portões e ferro, e no centro do salão jazia uma espécie de mesa feita da mesma pedra negra da qual eram compostas as estátuas de antes. O viajante parou diante da mesa e notou um símbolo familiar, era o mesmo símbolo do colar que ele trazia consigo, que lhe foi dado pelo avô, pouco antes de morrer, junto com um mapa de Balenor e uma missão, o motivo pelo qual Tjündir ali estava. No centro do símbolo na mesa o viajante percebeu um encaixe, no formato e tamanho perfeitos para o pingente do colar do guerreiro. O colar, na realidade, era a chave para o coração das montanhas. 


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