Harry Potter e a Princesa Ravenclaw escrita por V Giacobbo


Capítulo 1
Prólogo




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Prólogo

Dois homens surgiram no meio da estrada sob o nublado céu noturno. O mais alto e mais velho segurava o outro, que ainda era um garoto, pelo braço.

- Eu já sei aparatar! – o garoto se soltou com rapidez.

- Mas não tem permissão. – disse o homem, cheio de ira, segurando o braço do garoto com violência – Se você aparata o Ministério nos rastreia, imbecil!

- Ok, não precisa apelar para a ignorância. – murmurou o garoto com calma, tentando ocultar o assombro que a mudança brusca de temperamento do outro lhe causara.

- Você ainda precisa treinar muito para não demonstrar suas emoções. – o homem o soltou devagar e olhou em volta.

- Eu sei. – concordou o garoto, a contra gosto – Onde estamos?

- A questão não é onde estamos, mas sim aonde queremos ir. – o homem apontou com o queixo a estrada na frente deles – Reconhece o lugar?

O garoto observou com cuidado o local. Por fim, sorriu em reconhecimento. Contudo, tal sorriso foi substituído por um semblante preocupado.

- Por que estamos aqui? – perguntou aos sussurros – Podem estar vigiando!

- Eu sei. E estão! – confirmou o homem, debochado – Foi exatamente por isto que não aparatamos diretamente lá. – ele apontou para um local ao longo da estrada e começou a caminhar naquela direção.

O garoto suspirou e seguiu-o.

- Mantenha a varinha pronta. – ordenou o homem, a sua própria segura na mão.

- Você não respondeu o porquê de estarmos aqui. – murmurou o garoto enquanto olhava em volta, a varinha firme na mão.

O garoto reconhecia a estrada, mesmo nunca tendo antes caminhado por ela à noite. O local estava muito mais sombrio que à luz do dia. Os arbustos, à esquerda, estavam maiores e com folhas e sombras mais escuras. A sebe, à direita, não era aparada há meses e estava toda desgrenhada.

- Fomos intimados para uma reunião. – respondeu o homem friamente, e, ignorando o repentino mal-estar do garoto, completou – Nosso meio de transporte é nosso objetivo.

- Fomos? Por que nós? E... eu não preciso ir! – o garoto não conseguiu controlar a voz trêmula.

- Não seja tolo. Se ele nos chamou, devemos ir. Você sabe muito bem o motivo. – ralhou o homem, irritado – Precisamos iniciar a próxima etapa.

- Agora que a primeira já foi completada com sucesso. – murmurou o garoto com tristeza, fitando o caminho à sua frente.

O garoto não pôde ver, porém, os olhos negros do homem se tornaram mais frios e seu semblante mais carregado.

- Preste muita atenção. – o homem parou, instantes depois, e completou com murmúrios – É certeza que os aurores estão vigiando a casa. Então, devemos ser rápidos. Procure por uma fita negra, perto da porta.

- Uma chave de portal?

- Sim, ilegal. Vamos entrar devagar, você fica de olho na entrada, procurando desde o começo. Foque nisto, a fita e apenas ela. Eu cuido dos aurores. – argumentou o homem, firme – Devemos tocar a fita juntos, entendeu?

- Perfeitamente. – assentiu o garoto.

Eles recomeçaram a caminhada em perfeito silêncio. Viraram à direita, entrando em uma larga estrada, que conduzia até um portão grandioso e sombrio. Através das grades era possível ver o caminho escurecido pelas sebes de teixo que conduzia até a entrada da casa.

O garoto olhou entristecido para a escuridão.

- Proteções? – perguntou o homem, sussurrando.

O garoto negou com a cabeça, incapaz de falar.

O homem avançou e empurrou o portão. Um rangido seco ecoou na escuridão. Eles passaram pelo portão, que se fechou lentamente, e seguiram pelo caminho.

- Está muito escuro. – o garoto ergueu a varinha – Lum...

- Não! – o homem tomou a varinha dele – Imbecil! Se iluminar algum auror poderá nos ver. – embora a voz fosse muito baixa, a ira era facilmente perceptível.

Após devolver a varinha ao garoto, eles continuaram a andar silenciosamente. O garoto segurava a varinha com firmeza, os olhos fixos na porta de entrada, que se aproximava. Estavam na metade do caminho quando um ruído entre os arbustos assustou o garoto.

- Estupefaça! – gritou ele.

O lampejo iluminou o caminho e, para alívio do garoto e desespero oculto do homem, atingiu um pavão. Antes que o mais velho pudesse sibilar sua bronca, fagulhas verdes iluminaram o céu.

- Idiota! – o homem segurou o braço do garoto e começou a correr.

Gritos de ordens chegaram aos ouvidos deles e várias varinhas lançaram feitiços.

- Procure! – ordenou o homem, soltando o garoto ao chegarem à entrada da casa.

Alguns aurores saíram de trás dos arbustos e lançaram feitiços. O homem se defendia e atacava com precisão enquanto o garoto procurava a fita, a varinha emanando luz.

- Depressa! – gritou o homem, após derrubar outro auror.

- Entreguem-se! – gritou um auror oculto – Severo Snape e Draco Malfoy, desistam!

- Achei! – gritou Draco.

Snape desviou de alguns feitiços enquanto pulava até Draco e, junto do garoto, tocou a fita.

Como sempre, sentiram que eram puxados para frente. Os pés deixaram o solo e avançaram em meio ao rodopio de cores sombrias. Tão rápido como saíram, eles voltaram ao chão.

Snape permaneceu de pé, os cabelos desalinhados e a capa revirada. Draco estava esticado no chão, entretanto, não permaneceu assim. Ele foi brutalmente erguido pela gola do sobretudo.

- Seu imbecil! – gritou Snape, o rosto lívido de ódio – Podia ter estragado tudo!

- Eu pensei que era um auror. – defendeu-se Draco, assustado.

- A maioria dos aurores são idiotas, nós sabemos disto, mas os que perseguem, não! Eles nunca cometeriam um erro que provocasse a morte de um companheiro. – ralhou Snape, os olhos sem brilho algum.

Um rangido atraiu a atenção deles.

- Ve... vejo que chegaram. – gaguejou um homem encolhido.

- Sim, Rabicho, nós chegamos. – falou Snape, frio.

Eles estavam em uma sala iluminada apelas pelo brilho da lua crescente que ultrapassava as cortinas negras.

- Venham comigo. O mestre vos espera. - disse Rabicho, saindo pela porta.

Snape soltou Draco, lançando-lhe um olhar significativo, e seguiu Rabicho. O loiro ajeitou as vestes e seguiu os homens.

Um corredor escuro foi atravessado e uma porta, aberta. Pela abertura eles viram uma mesa comprida, ladeada por pessoas silenciosas. Na extremidade oposta, um vulto pálido os encarava.

Ao entrarem, fizeram uma longa reverência.

- Finalmente! – exclamou uma voz cruel e fria – O que aconteceu?

- Houve um contra-tempo, milorde. – respondeu Snape, endireitando-se – Aurores vigiavam a mansão Malfoy, como já sabíamos.

- Todos tiveram o mesmo problema. – as mãos de longos dedos fizeram um movimento amplo, apontando para todos que ocupavam a mesa – Sentem-se.

Rabicho permaneceu em pé, ladeando a porta fechada. Snape caminhou até o lado esquerdo do vulto e sentou-se na primeira cadeira. Draco tomou seu lugar, muito mais afastado, ao lado da mãe.

O vulto pálido ergueu a mão e, com um aceno displicente da varinha, duas lareiras iluminaram o local com chamas negras. O vulto refletiu à luz e tornou-se perfeitamente visível. Lorde Voldemort mantinha o semblante sereno, os olhos vermelhos de pupilas em fendas pareciam queimar. Ele deixou a varinha sobre a mesa e pousou as mãos sobre o encosto da cadeira.

Com um aceno positivo de sua cabeça, a reunião se iniciou. Os assuntos foram os mesmos de sempre: tomada do Ministério; ataque ao Beco; chacina em cidades trouxas; destruição de Azkaban; posse do Castelo de Hogwarts; listagem de aliados obtidos desde a última reunião e os que ainda estavam pendentes; e, por fim, o mais importante de todos: Harry Potter.

- A casa onde ele mora com os tios trouxas é vigiada 24 horas por dia. – informou um espião infiltrado no Ministério – Se tomarmos o comando do Ministério teremos total controle sobre os feitiços instalados e sobre os vigias.

- Quantos vigiam? – questionou Voldemort.

- Cerca de cinquenta aurores se revezam, milorde. – respondeu o espião, contente por ser útil ao mestre.

- Lestrange! – chamou Voldemort, o olhar oscilando entre os presentes à mesa.

Um casal de pôs de pé.

- Responda-me, Rodolpho, - iniciou Voldemort apoiando o cotovelo na mesa e a cabeça sobre a mão erguida, um sorriso de escárnio nos lábios finos – quantas vezes em todas as nossas reuniões eu já te chamei?

Risinhos e murmúrios divertidos ecoaram pelo aposento.

- Nenhuma, milorde. – respondeu Rodolpho, o rosto duro e pálido.

- Então, sente-se! – a voz bruta de Voldemort e sua nova postura ereta, além da mão direita pousada sobre a varinha, fizeram com que todos os sons desaparecessem e uma tensão caísse sobre todos.

Rodolpho obedeceu à ordem. Bellatriz mantinha-se impassível, o imaculado olhar de devoção sobre seu mestre.

- Bellatriz... – sibilou Voldemort, a voz baixa e rouca, a mão direita abandonando a varinha sobre a madeira.

Um tremor percorreu todo o corpo da mulher e um sorriso obstinado tomou seus lábios.

- Em que momento você acha oportuno para um ataque ao Potter? – perguntou Voldemort, a rouquidão ainda presente e o olhar firme sobre a bruxa.

- Durante a troca de guarda, milorde. – respondeu a bruxa, a felicidade de ter sua opinião levada em consideração estampada no rosto – Atacamos a maior quantidade de aurores possível com um único contingente e, assim, evitamos que reforços sejam chamados.

- Quantos você consegue preparar para um ataque definitivo ao Potter? – questionou Voldemort, um sorriso aflorando em seus lábios.

- Quantos o milorde precisar. – respondeu Bellatriz.

- Quero cento e cinquenta em três dias. Acha que consegue? – perguntou Voldemort, zombeteiro.

- O milorde terá cento e cinquenta antes disto. – respondeu a bruxa, séria apesar do largo sorriso.

- Perfeito! – exclamou Voldemort, sorrindo largamente - Ataque ao Potter em três dias... ou menos!

Risadas e salvas de palmas encheram a sala. Bellatriz sentou-se, o olhar devoto ainda fixo no mestre e o sorriso firme.

Draco encarou Snape.

- Milorde. – falou Snape.

Voldemort ergueu a mão pálida, ordenando silêncio, e foi prontamente atendido. Ele lançou um olhar sério à Snape, que tomou aquilo como uma permissão.

- Por meio de informantes confiáveis, descobri que há uma pessoa que possa nos ser útil. – ele lançou o assunto.

Imediatamente os murmúrios recomeçaram. A mão de Voldemort bateu na mesa, sobre a varinha, e o estrondo, além da explicita ameaça, silenciou a todos.

- Prossiga. – disse Voldemort, visivelmente interessado.

- Sei onde encontrá-lo e como trazê-lo para a nossa causa. – informou Snape, a expressão impassível ante o olhar absorto de Voldemort.

- Por que não falou sobre isto antes? – questionou-o Voldemort, uma sobrancelha arqueada, revelando seu ar de intrigado.

- Porque essa pessoa logo será descoberta pela Ordem da Fênix e eles tentarão retirá-la do nosso alcance a qualquer preço. – respondeu Snape, completando com entusiasmo – Essa pessoa é diferente de qualquer outra que nós conhecemos ou possuímos, milorde. Ela poderá encontrar qualquer um em qualquer lugar. Inclusive Potter.

- Um caçador?! – perguntou Voldemort, absorto novamente.

- Sim, milorde. – confirmou Snape – É com base nisto que lhe peço, com toda a humildade que possuo, que não ataque Potter agora.

Os murmúrios recomeçaram.

- Calados! – ordenou Voldemort, irritado, os longos dedos envolvendo a varinha e os olhos vermelhos percorrendo toda a extensão da mesa, que se calou, antes de voltar-se para o homem ao seu lado – Por que, Snape, eu devo cancelar um ataque que tem grandes possibilidades de ser bem-sucedido?

- Perdoe-me, milorde, mas mesmo um ataque com grandes possibilidades de ser bem-sucedido pode fracassar. Tome por exemplo a noite do teu retorno. – disse Snape, sereno – Potter estava sozinho enquanto o senhor possuía comensais para lhe ajudar. Tudo fora perfeitamente planejado e, com toda a certeza, deveria ter dado certo.

Voldemort soltou a varinha e recostou-se à cadeira, unindo as mãos com os olhos fechados.

- Mesmo um plano perfeito como aquele falhou. – prosseguiu Snape, a voz firme – O ataque ao Potter também pode fracassar e não é ao menos um ataque perfeito.

Bellatriz virou o rosto para Snape, os olhos brilhando coléricos. Draco viu a reação de sua tia e engoliu em seco. A última coisa que eles, Draco e Snape, desejavam era ter Bellatriz atrapalhando seu caminho.

- As informações sobre a guarda do garoto podem estar erradas. – argumentou Snape.

O espião no Ministério abriu a boca, em choque. Depois, fechou-a e contraiu as mãos em punhos firmes, sua expressão assumindo uma máscara de ira.

- Há a possibilidade de desferirmos um ataque no local errado e perder aliados durante o ataque, pois se a informação sobre o local estiver errada, certamente a sobre a quantidade de aurores também estará. – continuou Snape.

O espião no Ministério fez menção de se erguer, porém, um homem sentado ao seu lado segurou-o pelo braço e, lançando-lhe um olhar reprovador, balançou a cabeça em negativa. O espião recostou-se na cadeira e cruzou os braços, uma carranca mascarando-o.

- Se atacarmos o Potter com o caçador junto a nós, teremos todas as possibilidades a nosso favor e qualquer uma que se vire contra será imediatamente aniquilada. – expôs Snape, a voz mais firme para dar valor ao seu argumento final – Nenhum erro, milorde. O caçador é extremamente perfeito e insuperável.

O silêncio dominou o aposento e a tensão tornou-se opressora. Bellatriz encarava Snape, a respiração descompassada e a mão trêmula pousada perto da varinha, o ódio estampado em seus olhos.

- Que seja. – anunciou Voldemort, abrindo os olhos e fitando Snape – Deixarei que parta em busca do caçador e não atacarei Potter até que retorne. Contudo...

Uma sombra de lembranças passou pelos olhos de Draco e de Snape, que, ao contrário do garoto, soube ocultá-la completamente. Narcisa Malfoy puxou a mão do filho de cima da mesa e a apertou entre as suas sobre seu colo, o olhar fixo em Snape.

- ... não posso conceder comensais para ajudá-lo. – completou Voldemort.

- Não será necessário, milorde. – interveio Snape rapidamente – Preciso apenas de uma pessoa, que sei que não lhe fará falta alguma.

- Quem?

- Draco Malfoy. – Snape fitou o garoto.

- Você quer levar o jovem Malfoy? – perguntou Voldemort, um sorriso cruel brotando nos lábios enquanto fitava Draco – Logo ele, que iria render-me algumas semanas de divertida tortura?!

Narcisa soltou um gemido baixinho e apertou a mão do filho com força. Draco não conseguiu ocultar o temor perante o futuro que Voldemort havia lhe planejado.

- Milorde... – Snape riu desdenhoso – Malfoy não suportaria meros segundos sob sua tortura. Completamente entediante, acredito. Creio que deve ser um completo inútil até mesmo para isto.

- Então, por que deseja levá-lo consigo? – perguntou Voldemort, encarando Snape.

Um sorriso orgulhoso surgiu no rosto de Snape. Uma sobrancelha do rosto ofídio de Voldemort se elevou, demonstrando sua surpresa e curiosidade.

- Eu sabia que o milorde perguntaria isto. – Snape confirmou as suspeitas de Voldemort – Quero levar Malfoy comigo porque somente assim ele deixará de ser um completo inútil. Ele deve entrar na parte efetiva da guerra com mais brutalidade do que simplesmente matar alguém, coisa que ele não foi capaz de realizar. Creio que, ao submetê-lo a uma vida violenta e sombria, ele fará jus ao sangue-puro que corre em suas veias e ao titulo que Salazar Slytherin lhe concedeu ao permitir que habitasse sua morada em Hogwarts.

Os lábios de Voldemort se repuxaram nos cantos com sutileza, mal revelando seu sorriso.

- Em resumo, milorde. – continuou Snape, o sorriso ainda mais orgulhoso de si mesmo e todo seu semblante emanando a superioridade Sonserina, que não habitava nenhum dos outros sonserinos ali presentes – Levo Malfoy comigo com a simples intenção de treiná-lo, de forçá-lo, se necessário, a aprender que o mundo que visamos precisa de bruxos não somente de sangue-puro, porém, de astúcia, ambição e desenvoltura, sinais tão fortemente presente nos sonserinos.

Voldemort sorriu abertamente e bateu palmas. Nenhum outro no aposento se moveu, a duvida forte demais para permitir-lhes acompanhar o mestre. Voldemort estaria parabenizando Snape pelo seu belo discurso com sinceridade ou apenas com a intenção de repudiá-lo e humilhá-lo em seguida.

- Sempre me prova que não cometi erro algum ao lhe dar toda a minha confiança, Severo. – disse Voldemort, risonho – Convenceste-me. Pode levar o pirralho Malfoy com você. Servir-me-ei de Lúcio, assim que retirá-lo de Azkaban, junto com os outros.

O sorriso orgulhoso de Snape deu lugar ao humilde e ele inclinou a cabeça, a mão direita apoiada sobre o peito, demonstrando sua gratidão perante o elogio e permissão. Sob a exposição da futura desgraça de Lúcio Malfoy e a certeza mesma para o próprio Draco, todos os presentes riram frios e superiores.

As exceções foram o próprio Voldemort e Snape, que apenas admiravam a felicidade dos presentes; Draco e Narcisa, que permaneciam calados e trocavam olhares de sutil tristeza; o espião no Ministério, que mantinha a carranca irritada e os braços cruzados; e Bellatriz, cujo olhar ainda pregava-se sobre Snape, um insano desejo de causar-lhe dor iluminando seus olhos fundos.

- Mendor?! – chamou Voldemort.

As risadas pararam imediatamente e o espião no Ministério ficou ereto e descruzou os braços, os olhos espantados fitando o mestre.

- Sim, milorde.

- Por que mantinha aquela carranca? – perguntou Voldemort, novamente apoiando o queixo na mão cujo cotovelo tocava a mesa e pousando a outra mão sobre a varinha.

- Por nada, milorde. – respondeu Mendor, um tom forte de desculpas em sua voz.

Voldemort sustentou o olhar sério sobre o espião, que não suportou os segundos seguintes e confessou:

- Minhas informações estão corretas, milorde. Confie em mim, por favor! – a súplica explicita do comensal levou aos outros aos risos.

- De fato, Mendor, - iniciou Voldemort, sua voz suave, calando a todos – neste caso pouco importa se suas informações estão corretas ou não. Se elas estão corretas, ótimo. Mantenha contato com o informante e não o perca a qualquer custo. Já se a minha preferência pelas informações e argumentos de Snape te incomoda aconselho a deixar isto explicito imediatamente.

Apesar da voz suave do Lorde, todos os presentes sentiram um frio mortal apoderar-se de seus corpos.

- De ma...maneira alguma milorde. – gaguejou Mendor, pálido – Sentir-se incomodado por tal preferência é tão atroz quanto à falta de fé no milorde e no que nós desejamos. É completamente inconcebível, inaceitável. – ele limpou a garganta e completou, a voz mais firme – Vou manter constante contato com meu informante.

- Ótimo. – assentiu Voldemort, o olhar virando-se para Bellatriz – Lestrange?!

Bellatriz desviou o olhar assassino de Snape e fitou Voldemort, o ódio cedendo o lugar para a devoção.

- Sim, milorde.

- Contenha-se, sim? Não quero rixas entre meus comensais. Isto provocaria rachaduras que certamente nos levariam à ruína. – sibilou Voldemort, ainda apoiando o rosto na mão e mantendo a outra sobre a varinha, a voz novamente rouca.

- O milorde sabe dos meus sentimentos. – disse Bellatriz, inclinando a cabeça em uma reverência rápida – Farei o que me pedes milorde, apenas por que és tu que o fazes.

- Sei que o fará, Bella. – murmurou Voldemort, voltando à postura ereta.

Ao som de seu carinhoso apelido, um tremor se apossou de Bellatriz e um gemido de prazer foi ouvido pelos mais próximos. A expressão dura de Rodolpho acentuou-se.

- Todos os assuntos foram abordados e devidamente resolvidos. – informou Voldemort, sério novamente – Sendo assim, apenas um ato nos separa do término do nosso encontro. Rabicho, traga-o!

O homem encolhido saiu apressado pela porta.

Cochichos se apossaram dos comensais, que conversavam tanto sobre a reunião que acabava quanto sobre assuntos banais.

Voldemort se inclinou na direção de Snape.

- Siga comigo hoje, para acertarmos os detalhes de sua busca. – sussurrou ele, próximo ao ouvido do outro.

- Certamente, milorde. – confirmou Snape no mesmo tom de voz.

- O garoto Malfoy deve vir também. Vocês partem imediatamente. – informou Voldemort e afastou-se.

Snape apenas assentiu com um maneio da cabeça e dirigiu o olhar para Draco, que já o fitava. O garoto suspirou e apertou a mão de sua mãe com força.

- Tome cuidado. – murmurou ela, olhando os outros presentes.

- Snape estará comigo, eu não correrei perigo. – disse ele, sério – É a senhora que deve tomar cuidado. Quando Lúcio retornar principalmente.

Um ar sombrio pousou sobre o garoto. Narcisa mordeu o lábio inferior e pressionou ainda mais a mão do filho entre as suas.

- Nenhum de vocês jamais pisou nessa casa antes dessa noite. Eu a tomei como abrigo semanal. – disse Voldemort, em voz alta, calando a todos – Como de costume, o ato que finaliza nosso encontro é a morte do antigo dono da casa.

Risadas frias e divertidas encheram a sala. Rabicho retornou, arrastando um homem inconsciente amarrado em cordas negras. Com um aceno seco da varinha do bruxo, o homem foi jogado sobre a mesa. As risadas se intensificaram quando o homem despertou e gritou, mudo, de pavor.

- Senhores e senhoras... – Voldemort silenciou a todos novamente – apresento-lhes Alan Richmore.

Alguns murmuraram irônicos: “Prazer”. Outros apenas acenaram com as pontas dos dedos, os sorrisos alucinados nas faces. Snape manteve-se impassível, fitando o homem com indiferença. Narcisa engoliu em seco, apertando a mão do filho, que fitava o teto, com mais força, como se somente isto bastasse para dar-lhe forças.

- Obrigado pela hospitalidade senhor Richmore. – agradeceu Voldemort com uma voz cruel, os longos dedos envolvendo a varinha – Devo também, de todo o coração, agradecer pelo divertimento, pois foram horas onde a Cruciatus e o senhor regozijaram-me imensamente.

Risadas e palmas explodiram entre os comensais. Um sorriso largo e cruel desenhou-se nos lábios finos de Voldemort.

- Como pagamento, senhor Richmore, livro o mundo de sua patética existência. – completou ele, erguendo a varinha.

As risadas transformaram-se em gargalhadas quando o homem se contorceu na tentativa de se livrar das cordas.

- Avada Kedavra! – exclamou Voldemort.

O lampejo verde iluminou todos os rostos antes de atingir o alvo.

 

Foi a vez de Voldemort gargalhar.


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