Assim que o dia amanheceu, continuamos seguindo na direção do castelo, afinal, precisavam chegar hoje. O casamento seria ainda de dia, antes do sol se pôr e por isso precisávamos nos apressar. 

A conversa com Regina de ontem a noite não saía da minha cabeça e esqueço que Henry pode ler meus pensamentos, então rapidamente tento desviar meu foco para qualquer coisa que pudesse estar acontecendo. Mas não era fácil, porque esse assunto mexia de diversas formas comigo e quando me dou conta, percebo que estou visivelmente irritada, apressando meus passos na frente de todos. E por agora estar liderando, tiro minha faca escondida na bota para ir cortando as folhas ou qualquer coisa que obstruissem a passagem.

—Zelena já mandou alguma mensagem? - Robin pergunta à Regina, mas ela checa seu celular e não vê nenhuma notificação.

—Só espero que ela consiga algo antes de chegarmos.

—E vocês estão juntos pra valer então? - Gancho pergunta vendo o sorriso bobo de Robin ao ouvir a pergunta.

—Por mim, sim. - Robin olha para Regina com um brilho no olhar, enquanto ela tenta manter sua pose de difícil.

—Estou pensando ainda no caso. - Ela brinca, mas não deixa barato e devolve a pergunta como forma de provocá-los - E vocês, quando vão se acertar?

—Nós? - Gancho é pego de surpresa e fica em negação instantaneamente.

—Do que você está falando?! - Me viro para ela indignada ao ouvir tamanho absurdo - Não... ok? Até parece que eu seria capaz disso.

—Na verdade... - Henry começa a falar, insinuando que sabia de algumas coisas secretas.

—Henry, agora não! - Gancho e eu disparamos juntos para interrompe-lo e isso fez com que nos entreolhássemos por um breve tempo.

Com sorte, chegamos antes do esperado no caselo e fomos direto para o depósito, onde guardávamos todos os tipos de roupas, acessórios e utensílios que não eram mais usados ou então estavam sendo preservados por conta da herança. Nessa parte do castelo não haviam guardas, apenas a partir do andar de cima, então todos puderam rapidamente se vestir conforme planejado com vestes adequadas a um casamento real, para que pudessem se infiltrar.

—Uau, você está... - Gancho me olha de cima a baixo, fazendo-me corar e me deixando completamente sem graça.

—Cale a boca. - Percebo sair da minha boca involuntariamente, constrangida por notar seu olhar tão vislumbrado.

—Olha ela! - Robin segura gentilmente a mão de Regina e a roda, para que seu vestido flutue pelo espaço. - Está linda!

—Quanta gentileza. - Regina sorri e lhe dá um beijo rápido como forma de agradecimento.

—Vamos ao que interessa? - Corto o clima, tentando apressar o plano o quanto antes pra poder me livrar de tudo.

—Bem a tempo! - Regina comenta ao ver seu celular, lendo assim a mensagem da irmã - "Será às 18:00 e quando disserem 'sim', ele poderá controlar todos, sem exceção".

—Típico. - Gancho revira os olhos entediado por não estar surpreso com aquele plano.

—Que horas são? - Henry dispara, preocupado.

—16:00... temos duas horas pra quebrar esse feitiço. - Robin é quem responde.

—Henry... é com você, garoto. - Gancho o segura pelo ombro para que pudesse olhá-lo nos olhos e ver o quão apreensivo estava - Tome cuidado, por favor... 

—Pode deixar, pai. - Ele responde com um sorriso de canto, enquanto recebe um beijo na testa.

—Hora de se infiltrar. - Digo, ajeitando o vestido para seguirmos.

Já haviam pessoas circulando pelo salão principal com seus enormes vestidos e elegantes smokings, bebendo champanhe e conversando sutilmente entre si. Era estranho estar ali e não ser reconhecida por empregados ou pelos amigos da família, mas o que mais me doeu foi cruzar meu olhar com meus pais e eles e não notar qualquer emoção. Enfim, eu era uma tremenda desconhecida ali agora e por mais que eu sempre havia desejado aquilo, percebi que não era bem o que imaginava.

—Você está bem? - Gancho me pergunta ao notar o que acontecera.

—É só... estranho. - Franzo a testa confusa, incomodada com aquela sensação um tanto perturbadora - Meus próprios pais não me reconhecem.

—Bom... Já que você não precisa se preocupar em agradar os convidados, poderia me dar a honra de uma dança? - Gancho estende a sua mão com um sorriso encantador.

—Não... não podemos nos distrair. - Desvio o olhar, extremamente tentada a aceitar aquele convite, por mais irônico pudesse parecer já que eu corria de qualquer dança a dois. - Rumpel pode aparecer, e nós...

—O casamento é só daqui a duas horas e Henry está com eles fazendo o que precisa ser feito... Vamos lá, aproveite pra relaxar um pouco. - Gancho insiste, novamente me olhando com um sorriso sedutor.

E lá estávamos nós, embalados na música ambiente do salão junto com outros casais que seguiam os padrões de coreografia tradicional. Mas nós éramos diferentes, ambos não ligavam para questões de formalidade e etiqueta, mas Gancho era um tremendo galanteador apesar de tudo.

—Vamos repassar o plano? - Tento desviar minha atenção da elegância de Gancho para o que viemos fazer - Henry descobre a brecha do feitiço, nós entramos no casamento para distraí-los, Zelena entra em ação com a magia e Regina retira a maldição da irmã... esqueci algo?

—E você? - Gancho me desnorteia com a pergunta, olhando-me preocupado - Já descobriu uma forma de acabar com a sua maldição?

—Ér... na verdade não. Regina me... - Lembro de tudo o que havia dito ontem a noite na fogueira, mas me negava a levar aquilo em consideração - eu não quero falar sobre isso.

—Eu vou achar um jeito de te ajudar, eu prometo.

—Você não precisa...

—Você salvou Henry e já salvou a minha vida... deixa eu tentar retribuir... - Ele desce seu olhar para os meus lábios, mas rapidamente ele parece retomar o foco - Mas agora... vamos dançar.

Por um momento ignorei qualquer coisa que pudesse estar acontecendo em volta e aproveitei apenas para observá-lo e seguir a música, quando Gancho de repente me rodopeia e me puxa de volta como se eu estivesse dançando sobre as nuvens. Quando nossos corpos se chocam após o giro, eu perco o ar e me vejo olhando fixamente pros seus olhos como se acionasse alguma coisa dentro de mim. Foi ali que eu me dei conta de que não havia sentido aquilo por ninguém até então.