Ruídos musicados saiam da boca da garota de cabelos negros como breu, e dessa forma, aquela outra conseguia escutar alguma coisa que refletisse, e a afetasse. Kairi não deveria se sentir tão aflita com aquele olhar ferino sobre ela. Não era para sua pessoa, afinal. Se fosse prestar uma concentração a um desvendamento mais pleno, veria que aquele mesmo olhar faiscava como o fogo de um isqueiro, mas que também, ao mesmo tempo, era lânguido como uma doença. 

Expressava um apagamento como uma vida que se esvaía, e uma revolta que dava reviramentos em sua cabeça de garota quase frágil e que quase não mais era, porque Kairi estava ali por meios próprios, vidas danificadas, corpos aos seus pés. Aquela outra era de uma natureza tão próxima, mas com um preço pago muito mais alto que o dela.

Sabia, sabia. De alguma forma, se tivesse uma voz mais treinada, queria poder acompanhar Xion em um dueto. Mas só escutaria.

Aquelas poéticas chamuscadas de algum sentimento desesperado pareciam enlaçá-la ao serem verbalizados.  Nos ouvidos, eram uma sintonia roxa que enfatizava solidão.

Tinha uma mão estendida em sua direção, ainda que não notasse Kairi no instante que tentava alcançá-la também. A salvaria do que se alimentava de sua existência? Beijo verde, adocicado, levemente amargo. Apaixonado. 314 dias depois, em um lugar quase mesmo, quase próximo. A noite estava fria, aqueles olhos também.

Kairi pedia algum perdão, quase arrependida pelo atrevimento, se não tivesse sido salva também.