A Family Portrait escrita por The heiress of Time


Capítulo 1
Capítulo único - A Family Portrait


Notas iniciais do capítulo

Hello e sejam bem vindos a mais um episódio de: eu chorei escrevendo isso.

Sugiro que escutem "estranho natural" e "the bug collector" enquanto leem, não que tenha qualquer significado profundo que relacione a história com as letras das músicas, mas elas são tristes o bastante para terem me dado a ideia pra essa fanfic.

Enjoy! :3



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Era normal ter coisas aleatórias aparecendo da TARDIS. Uma nave como a dele, que costuma a saltar de era em era e de planeta em planeta, estava sujeita a ser atingida todos os dias por resquícios de diferentes épocas e até de diferentes universos. O Doutor estava acostumado.

Porém, alguns resquícios às vezes podiam doer.

Não a dor física de ser atingido na cabeça com um livro ou algo do tipo ─ por mais que isso já tenha acontecido diversas vezes ─, mas a dor praticamente espiritual, daquela que fazia os dois corações dele ficarem apertados, que significava perda.

Esses resquícios não eram exatamente raros, mas eram recentes. O Doutor podia lembrar claramente quando ele encontrou o primeiro objeto.

Era uma polaroid, daquelas padrões. Na parte de trás estavam escritos um nome e uma data, numa caligrafia bagunçada e assustadoramente familiar: Louise Σ. Noble - 07/02/2009.

Mas a surpresa mesmo estava na foto em si. Donna, em todo seu esplendor exausto, com lágrimas nos olhos e uma recém-nascida no colo, que olhava para o segundo adulto (era ele, ele mesmo) com arregalados olhos azuis.

Inicialmente, a dedução óbvia a se fazer era que Donna havia engravidado e eles ainda eram amigos o suficiente para que ele fosse conhecer a menina recém nascida, mas a data estava se aproximando cada vez mais rápido e Donna nem sequer havia demonstrado interesse em nenhum par em potencial, quanto mais em ser mãe, então algo estava provavelmente errado no raciocínio lógico do Doutor.

E então chegaram as primeiras páginas.

Eram pedaços incompletos de diários e até algumas cartas, em caligrafias diversas, mas o Doutor conseguiu identificar a letra redonda e espaçosa de Donna e até sua própria letra (a mesma da polaroid. Por que ele estava escrevendo tantas cartas assim?) . Ele não tinha interesse algum em xeretar na vida alheia — por mais que a vida alheia parecesse ser a dele — e quase, quase, ignorou completamente o conteúdo daquelas folhas de papel, se não fosse por uma parte que se destacou das demais.

[...] e papai inventou agora uma “nova futura tradição” de sempre usar terno de listras — não só ele, todos nós — no dia 5 de abril (que aliás é aniversário do Jamie) pra comemorar o dia em que ele e a mamãe se reencontraram. Os dois dizem que é o aniversário dos dois.

Normalmente seria algo infinitamente comum, uma carta contando um fato engraçadinho da vida de alguém, mas a coisa é que aquela carta era da mesma bebê da foto que ele tinha recebido, a tal Louise, o que queria dizer que a filha de Donna estava é dando pistas sobre os pais e…

Oh deuses

5 de abril. Terno de listras. Reencontro.

Ele estava delirando ou queria dizer que a tal menina era filha dele e da Donna?!

Ele tinha que estar delirando, tinha! Donna deixou dolorosamente claro que ele não passava de um alienígena magricela, e se ela havia o beijado era apenas porque a vida dele dependia de um grande choque.

Obviamente ele estava delirando.

Ainda assim, ele pegou uma nova carta da pilha, só pra ter certeza.

Querida filha,

Antes que você nos chame de antiquados, não existe computador em 1532 [...]

Novamente a letra dele mesmo, e novamente os corações dele deram uma balançada perigosa. Então era isso mesmo. Em algum universo ele era pai.

Da filha de Donna Noble.

As mãos dele pegaram mais uma das folhas, a de um diário dessa vez, a letra era de Donna.

[...] as coisas vão bem, dentro do possível.

O ambiente da Escócia está fazendo bem à Lou, por mais que todos os dias ela volte cheia de lama. Ela está feliz como uma garotinha de 4 anos deve ser, cada mais parecida com o pai. São os mesmos cabelos, a mesma sobrancelha.

E Theta todos os dias parece ter um sotaque escocês mais pesado, e eu já não sei  se só falta noção naquela cabeça dura ou se é um sotaque real.

Eu ainda não consigo virar à esquerda.

Mas as coisas vão bem. [...]

Da primeira vez que ele lera essa página, um sentimento quase esperançoso se apoderou dele, porque isso claramente queria dizer que as coisas dariam certo, né?

Mas não durou muito tempo, aquela esperança.

No dia em que ele resolveu conversar com a Donna sobre as relíquias que a Tardis havia capturado, o Doutor inventou de levá-la em um mercado alienígena que sempre tinha os melhores preços e as pessoas mais diversas, na esperança de os dois poderem sentar pra conversar no final do dia e resolver tudo que tinha que ser feito.

E então Bad Wolf aconteceu.

E tinha tanto a ser feito, todo um universo a ser salvo, que ele nem sequer lembrou do assunto até Donna ficar presa sozinha dentro da Tardis, milagrosamente retornando com uma metacrise, um cérebro completamente novo e uma resolução mirabolante que só podia ser dela.

E em meio à todo o desespero e eventual alívio, ele finalmente voltou a perceber o porquê de esperança ser algo tão perigoso. Era estúpido imaginar que em algum universo ele poderia ter alguma filha com Donna. O corpo de um ser humano não poderia nunca comportar a natureza de um timelord, era óbvio.

E Donna também havia quase morrido e ele fora obrigado a tirar as memórias dela.

Era óbvio que os dois nunca seriam pais daquela garotinha da foto.

O universo era raramente tão gentil.

Mas ainda assim, ele desceu até o console da Tardis apenas para se deparar com mais um objeto aleatório que se perdeu na passagem do tempo, mais um lembrete cruel do que jamais aconteceria.

Alguns resquícios doem e zombam de quem já não tem nada.

Era pra ter parado, era para o que já existia sumir. Não havia possibilidade alguma daquilo dar certo em universo nenhum, pelo amor dos Deuses!

Ainda assim.

Ele pegou a foto do console com mãos gentis, a polaroid minúscula nas mãos dele. Era um retrato de família como qualquer outro: pai, mãe e filha, já mais velha, parados em uma praia ao pôr do Sol. Mas era a família dele, a família que ele nunca teria.

Porque talvez, de fato, eles tenham feito algo certo em algum outro universo, ou em alguma outra dimensão o universo decidiu fazer vista grossa e- Não. Nunca.

O universo é raramente tão preguiçoso.

Algo foi diferente, algo deu certo.

E ele pôde ter uma esposa. Ele pôde ter uma família.

Aquela garotinha cresceu com os pais. Aquela garotinha cresceu.

Mas não foi nesse.

Nunca seria.

 

 

 

 

(Com talvez alguns meses de diferença, uma garotinha de cabelos castanhos e olhos azuis nasceu de uma recém-transformada senhora do tempo de cabelos vermelhos.

O universo não era assim tão impiedoso.)


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Notas finais do capítulo

Bem, espero que tenham gostado. Se sim, deixem um favorito e quem sabe um review? Eu ficaria muito feliz!

Enfim, até a próxima!