Colors escrita por Urano


Capítulo 1
Sirius Black era cinza


Notas iniciais do capítulo

“Você era vermelho e gostava de mim porque eu era azul. Você me tocou e de repente eu era um céu lilás; Então, você decidiu que roxo apenas não era para você”
(Colors - Halsey)



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Sirius Black era cinza
“O mundo não se divide em pessoas boas e más. Todos temos luz e trevas dentro de nós”

Eponine sempre soube que Sirius teve uma infância difícil. Eles estudaram juntos pela maior parte da vida, desde os onze anos, e ela viu os sinais. A forma como ele ansiava por qualquer tipo de atenção, em sua maneira de ser vibrante e chamativo, tendo muito sucesso em fazer parte do grupo mais popular de Hogwarts; mas, contudo, também a forma como ele evitaria qualquer afeto maior, como se apenas não estivesse acostumado com um carinho tão aberto — Eponine reparava como seu rosto ficava, por vezes, quando James recebia uma carta amorosa dos pais ou como Potter sempre estava ansioso para voltar para casa nos feriados, onde poderia ficar em família.

Eventualmente, Eponine descobriu os detalhes. Uma mãe fria e indiferente e um pai demasiado rígido e — ela desconfiava — propenso a explosões violentas. Eponine concordava com Sirius em relação a seus pais, nas poucas vezes em que acabou ouvindo ele reclamar dos pais terríveis que tinha, mas discordava silenciosamente sobre seu irmão, Regulus. Ela podia ver a expressão triste, manchada de saudade, que Regulus lançava para ele quando achava que ninguém estava olhando; a forma que ele não podia esconder a esperança em seus olhos toda vez que perguntava se Sirius voltaria para casa naquele feriado.

Sirius não percebia o amor e admiração que seu irmão direcionava a ele, o amor que Regulus nunca aprendeu — ou não podia — demonstrar. Ou, se percebia (o que, depois de ter vivido o que viveu, Eponine achava que era o mais provável), se fazia indiferente sobre. Sirius fazia muito isso, trancar qualquer coisa que o desse sentimentos muito conflitantes em algum lugar escuro dentro de si. Mas Eponine só descobriu isso depois e, às vezes, se perguntava se haveria mudado alguma coisa se ela soubesse disso antes. Provavelmente não.

Ela era muito observadora e descobriu isso mesmo antes de se aproximarem. Sabia bem que a grande maioria de Hogwarts nunca chegou a perceber em algum momento, e, em defesa, Sirius sabia esconder muito bem. Todo mundo sabia que Sirius havia sido repudiado e deserdado da própria família no momento em que foi selecionado para a Grifinória, mas como levar isso a sério quando ele comentava o fato com um grande sorriso e uma risada de escárnio? Como entender o quão profundamente o trauma o havia atingido?

Eponine entendeu e, na presunção da descoberta, achando conhecer muito bem quem era Sirius Black, não se protegeu o suficiente quando ele chegou. Ela foi cautelosa, é claro. Negou os primeiros pedidos com uma sobrancelha arqueada e repassou a situação em sua cabeça com algo próximo a desprezo, depois, um pouco indignada que ele julgasse que alguém como ela fosse cair naquele joguinho. Mas era fácil deixar suas defesas caírem quando Sirius focava toda sua atenção em você; era ela quem Sirius procurava se sentar nas aulas, chegando muito perto e sussurrando em seu ouvido, ignorando os olhares raivosos que recebiam das outras garotas; era ela a quem Sirius piscava quando o time marcava um ponto no quadribol e era para ela a quem ele focava a atenção enquanto se exibia em sua vassoura. E, afinal, que mal tinha em deixá-lo se aproximar? Ninguém nunca havia entrado no coração de Sirius, mas nenhuma das outras garotas havia o conhecido como ela. Ela seria diferente, garantiu a si mesma, e deixou o furacão que Sirius era tocá-la.

Quando suas amigas tentaram alertá-la, Eponine dispensou suas preocupações com um aceno. “Sirius namorou com metade de Hogwarts, Eponine, tem certeza do que está fazendo?” e tudo o que ela fez foi dar de ombros. Sem perceber, já estava mudada.

E ela foi mudada — destruída — tão rápida e intensamente como só uma paixão poderia. Sirius entrou e a mudou e ela estava cega para ele, apaixonada por aquele garoto belo e quebrado. A forma como ele sabia o que falar e o que tocar para deixá-la vermelha, como ele sempre conseguia convencê-la a se esgueirar depois do horário de recolher. A forma como as vezes ele ficava surpreendentemente doce, sussurrando palavras amorosas em seu ouvido.

Havia também os olhares. Os das garotas, os dos amigos dele. Daquelas por quem ele já havia passado, aquelas que não haviam sido suficiente, ela pensava, a raiva no olhar delas. O modo como os Marotos olhavam para ela com condescência, como não pareciam se importar o suficiente para decorar seu nome, como se ela não fosse ficar o suficiente para tanto. Ao invés de se sentir irritada, Eponine sorria para si mesma; Ela ficaria, garantia-se.

Uma hora, porém, tudo parou.

Ela percebeu os sinais muito rápido, em pouco dias que não pareciam terminar nunca. Foi como assistir a destruição de um mundo — toda a ilusão que ela havia criado — em pouco mais de uma semana. A forma como ela não era mais o foco de seus olhares, como ele começou a sorrir para outras garotas. Eponine havia sido tão difícil, havia o negado tanto para quando, finalmente, ela havia dito sim… ele foi embora.

Doía, a rasgou por dentro, a bagunçou como o bom furacão que Sirius Black era. O que havia faltado?, ela se perguntava, enquanto observava ele sussurrar no pescoço de outra garota, ela não havia sido suficiente?

Foi o desafio, ela percebeu. Sirius nunca foi apaixonada por ela, mas pela caça. Quando ela achava que estava se protegendo, ao tentar afastá-lo, não sabia que estava apenas o instigando ainda mais. E, quando ele chegou perto o suficiente, e ela de repente era apenas uma garota apaixonada como todas as outras — quando ele a transformou em uma garota apaixonada como todas as outras —, ele foi embora.

Sirius havia procurado quem ela foi um dia, mas, quando ele chegou perto e a mudou, não gostou do que ele encontrou.

Sirius era tão negro quanto o resto de sua família.

Quando a maior parte da dor passou, Eponine entendeu que a culpa não era dela, e sim dele. Não havia nada que ela poderia ter feito e o problema não era ela não ter sido o suficiente; Sirius testava garotas, procurando aquela que mostraria um segredo para resolver as cicatrizes enraizadas tão fundo dentro dele.

Provavelmente, até ele mesmo sabia que não daria certo. Que ele nunca encontraria. Mas ele continuava tentando.

A raiva lentamente se esvaiu, um balão que se esvaziou lentamente. Eponine deixou para trás um amor que nunca viveu, observando ele partir de garota para garota, bagunçando uma por uma. Pensou nele cada vez menos. O ódio se esvaiu.

Continuou observando-o, porém. Via o modo como ele era com seus amigos, como amava James, como sofria por Regulus. Surpreendeu-se ao perceber que em algum momento voltou a sentir compaixão por ele. Os momentos que haviam passados juntos, depois de perderem o amargor causado pelo término, eram lembrados com carinho; as vezes quando ele era paciente ao lhe ensinar um conceito complicado em transfiguração e nos poucos momentos em que fora permitida presenciar um momento de amizade entre os marotos.

Sirius tinha seu lado branco.

A última vez que pensou nele, foi quando o encontrou na torre de Astronomia. Tinha certeza que Sirius nem chegou a reparar que ela estava ali; ela havia escapado após o horário de recolher e estava escondida nas sombras escuras da torre. O sétimo ano havia começado a pouco tempo. Sirius havia fugido de casa naquele verão.

Ela registrou vagamente o boato que havia ouvido naquela manhã, que Regulus e Sirius haviam tido uma briga feia ainda no trem; olhou o grifinório, escondido nas sombras e observou o seu rosto obscurecido pela pouca luz. Ele acendeu um cigarro e, quando a luz da chama iluminou seu rosto, Eponine percebeu com choque que ele estava chorando.

Ali, na torre escura, Eponine contemplou tudo que era Sirius Black. O quanto ele havia a machucado. O que ele tinha que a fez amá-lo. Seu passado e seu presente. Admirando o rosto tão belo, iluminado pela luz do cigarro, os cabelos emoldurados pela fumaça, Eponine finalmente sentiu que poderia ficar em paz em relação ao garoto. Não mais amor, não mais ódio. Em paz. Ela finalmente não pensou mais em Sirius e deixou o garoto ser apenas uma lembrança apagada em sua história.

E, em seu coração, Sirius Black era cinza.


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Notas finais do capítulo

(Pode ser encarada como uma homenagem ao aniversário do Sirius. Feliz 3 de novembro!)
Eventualmente, Eponine se apaixonou de novo. Um corvino, monitor, com humor sarcástico e muito apaixonado por ela. Eles ficariam juntos por um meses após terminarem Hogwarts, mas, como tantos amores, acabou ??” Eponine foi quem partiu o coração do garoto, dessa vez, ao negar um pedido de casamento de um homem apaixonado. Se a história fosse contada do ponto de vista do corvino, ela seria a odiada da história. No fim, todos somos cinza.
Fazia muito tempo que eu queria escrever uma história inspirada em Colors, focada no Sirius; Assim como na música, o personagem principal não é o narrador; é sobre quem a narrativa está contando. Eu acho que Colors tem muito, muito com Sirius e sempre penso nele quando ouço.
Porém, nunca conseguia embalar na hora de escrever. Houveram muitas outras versões, começos frustrados que sempre paravam no meio e, depois de meu notebook ser roubado, levando consigo todo o meu “progresso”, parei de pensar um pouco no projeto. Repentinamente, então, tive uma onda de inspiração e escrevi a maior parte do capítulo em um só dia. Terminei em outro. Foi incrível, fazia muito tempo que algo assim acontecia.
Não quero passar a impressão que o Sirius foi um mocinho com o perdão de Eponine no final. Muito menos quero deixá-lo como vilão. O ponto da história é exatamente alcançar o cinza. Pessoas tem um lado muito bom, mesmo que tenham te magoado tanto. Isso é muito bonito, de certa forma. Bonito e trágico, como a maioria das coisas na vida.



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