Gostosuras ou Travessuras escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Essa é em comemoração ao halloween.
Como diria o Cebolinha: Laloin, laloin, essa festa tá pla mim...



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Na manhã de 31 de outubro, Rosalie saiu da cama pronta para trabalhar nos detalhes finais da festa de halloween que aconteceria no ginásio da escola logo mais a noite. Desceu a escada correndo, levando a mochila pesada nas costas e uma caixa vermelha, onde guardava itens finais para a decoração.

Entrou na cozinha se mostrando animada para aquele horário o que raramente acontecia em se tratando de ir à escola. Sua mãe, que preparava panquecas diante o fogão, olhou em sua direção com desconfiança.

A caixa que trazia foi deixada sobre a mesa, e a mochila deslizou de seus ombros até o assoalho de madeira polida.

— Bom dia, mamãe! — cumprimentou enquanto se punha em seu lugar à mesa. Servindo-se imediatamente de uma torrada com geleia de uva, sua favorita.

— Bom dia, querida — Esme respondeu, em seguida, levou algumas panquecas à tigela no centro da mesa. — Parece animada hoje.

Rosalie mordeu a torrada, levando um instante para responder.

— É halloween, mamãe. A festa à fantasia da escola acontecerá hoje. A minha fantasia ficou perfeita. O garoto de quem gosto combinou fantasia comigo. Vou de me vesti de Arlequina, ele, Coringa. Mal posso esperar para hoje à noite. Estou tão ansiosa.

— Rose, meu bem, era exatamente sobre isso que precisava falar com você.

— Minha fantasia e a de Emmett? — questionou, comendo mais um pedaço da torrada.

— Não.

Rosalie olhou para ela como não entendesse.

— É sobre hoje à noite.

— Não entendo.

Esme parou diante a mesa, deixando as últimas panquecas na bandeja.

— Seu pai foi convidado para a festa à fantasia que acontecerá no prédio onde trabalha.

— Legal — ela continuou comendo da torrada sem dar importância ao que estava sendo dito.

— O convite se estende a mim. O que significa que irei com ele — Esme concluiu.

— Tenho certeza que irão se divertir — concordou sem chegar a uma conclusão a respeito.

— Eu preciso de alguém para ficar com London e levá-la para a coleta de doces.

Finalmente, Rosalie deu atenção à conversa deixando a comida de lado.

— Quem vai fazer isso? — pediu com desconfiança. Começava não gostar do ritmo da conversa.

— Então, meu bem, seu pai e eu decidimos que será você a fazer isso.

A notícia pegou Rosalie de surpresa, levantando-se da cadeira com ímpeto.

— Não, de jeito nenhum. Sem chance.

— Rose...

— Não podem fazer isso comigo. Eu dei duro nos preparativos da festa da escola. Vai todo mundo estar lá. Não posso ser a única a ficar de fora, o que é ainda pior, de algo que trabalhei tanto. O garoto que eu gosto...

— Eu sei vocês combinaram fantasia. Você disse isso alguns minutos atrás.

Rosalie deu a volta em torno da mesa como não soubesse o que fazer, tomada pelo espanto do rumo da conversa. Chegando mais perto da mãe implorou:

— Mamãe, por favor. Se fizerem isso vocês estarão arruinando minha noite de halloween. Vão marcar minha vida no ensino médio para sempre.

— Não seja exagerada. Não é como se fosse o baile de formatura. Halloween é comemorado todos os anos.

Rosalie bufou.

— Mais era só que me faltava, não ir ao meu próprio baile de formatura. Seria meu fim.

— Veja pelo lado bom.

— E tem lado bom?

— Você ainda vai poder usar sua fantasia e sair de casa. Vai levar sua irmã para pedir doces. Depois vai voltar e entregar doces para as crianças que ainda estiverem na rua.

Rosalie ergueu as mãos no alto.

— Pedir doces é para crianças. Minha reputação vai ficar arruinada. Vou virar motivo de piadas na escola por tempo indeterminado — declarou horrorizada.

— Sinto muito que pense assim. Já está decidido. Você vai levar sua irmã para pedir doces e voltar para casa a tempo de distribuir alguns doces, também.

— Mamãe, por favor, não faça isso comigo. Não é obrigação minha.

— Já está decidido, Rose.

— Mas eu não quero ter de cuidar de London. Não pode me obrigar.  — Ela gritava, quando a garotinha, de cabelos louros escuros, vestida de pijama, carregando um ursinho de pelúcia embaixo do braço, chegava à cozinha.

O olhar irritado de Rosalie encontrou o olhar desapontado da criança.

— Não quero ser babá — se queixou antes que pudesse controlar a língua.

London abaixou a vista, magoada.

Esme alcançou a filha caçula pela mão.

— Vem tomar café, meu amor. Mamãe preparou as panquecas que você gosta.

A menina caminhou em silêncio evitando olhar na irmã mais velha.

— London — Rosalie chamou assim que ela sentou à mesa, cabisbaixa.

Esme teve cuidado em servir London, mas a menina não tocou em nada. Toda a cena fez Rosalie se sentir mal. Não era para London ter ouvido a conversa. Ela gostava da companhia da irmã, só não era justo ter de ficar de babá na noite de halloween, quando seus planos eram outros.

— Desculpe, London — ela pediu a irmã. Chegou ao lado da cadeira onde ela estava sentada e se ajoelhou. — Eu não quis dizer aquelas coisas. — Ainda assim London não olhou em seus olhos. — Por favor, London, olha para mim. Estou te pedindo desculpas.

— Você não quer me levar para pedir doces hoje à noite. A mamãe e o papai não poderão ir. Então serei a única criança de sete anos, desta cidade, a não ter halloween.

Rosalie abriu um sorriso involuntário.

— Você terá sua noite de halloween, criança de sete anos. — E cutucou a barriga da menina, que se contorceu dando risadas.

— Você promete?

— Ainda que signifique que não terei a minha festa, eu prometo.

London olhou para a mãe com o rostinho feliz. Como a promessa da irmã abrisse seu apetite, passou a comer panquecas com mel. Rosalie bagunçou os cabelos dela com a mão ao se por de pé.

— A gente se ver mais tarde — disse a London. — Já escolheu sua fantasia? Ainda não vi.

— A mamãe vai sair para comprar a fantasia dela e do papai e eu vou junto para escolher uma fantasia nova, a que ela trouxe antes estava com defeito.

— Legal! Você mostra pra mim quando eu chegar.

Rosalie pegou a caixa vermelha na mesa. Ergueu a mochila do chão pondo-a nas costas novamente. Quando se encaminhava para fora da cozinha, Esme tocou seu braço.

— Você é uma boa irmã. London tem muita sorte.

Rosalie meneou a cabeça, deixando a cozinha para trás sem nada responder. Esme ouviu a porta bater quando saiu de casa. Ela estava desapontada, sabia disso. Mas entre deixar a irmã infeliz, preferia ser ela a estar infeliz.

[…]

— Uau! — exclamou. — Que coisa mais linda essa bruxinha. — Rosalie declarou a London quando essa entrou em seu quarto, vestida com a fantasia de bruxa: vestido preto de mangas compridas, meia-calça listrada de preto e amarelo e botinhas de cadarço. Os cabelos estavam soltos. — A bruxinha mais fofa que já vi — Rosalie continuou. Ela tinha parado com a maquiagem de caracterização de sua fantasia para dar atenção à irmã. — Será que posso dar um abraço nessa bruxinha? Ela não vai me transformar em um sapo, não é?

London deu risada, e saltitou para junto dela. As duas riram juntas. Rosalie a soltou em seguida.

— Adorei sua fantasia. Mas está faltando uma coisa, não está?

— O quê? — London pediu ansiosa.

— O chapéu e a vassoura.

— O chapéu está com a mamãe. Não vai ter vassoura, porque a mamãe disse que já vou carregar o baldinho de doces. É uma aboborazinha muito fofa, você tem que ver.

— Entendi — Rosalie comentou, achando graça.

London olhou bem no rosto da irmã, para então fazer um comentário.

— Sua fantasia também está muito bonita. Está bem parecida com a do filme.

— Obrigada — Rosalie agradeceu verdadeiramente. — Uma pena não poder ir à festa da escola. Passei vários dias pensando nessa noite. No final, Emmett nem me verá com a fantasia que combinamos.

A voz de Esme soou pelo corredor alcançando o quarto de Rosalie.

— London, vem para mamãe pôr o seu chapéu. O papai quer tirar foto antes de sairmos.

— É a mamãe — a pequena se alegrou. — Rápido Rose! Temos de tirar fotos.

— Encontro vocês em alguns instantes.

London saiu correndo e Rosalie voltou à maquiagem.

[…]

Rosalie e London estavam sozinhas em casa, ambas devidamente fantasiadas para o halloween. O chapéu na cabeça de London tinha detalhes na cor amarela assim como a meia que usava. Rosalie segurou sua mão livre, pois, na outra London levava o balde em formato de abobora.

— Pronta? — perguntou a London.

London reparou na outra mão da irmã.

— E o taco de basebol? Você está esquecendo o taco de basebol.

— Ah, sim — Rosalie pegou o taco ao lado da porta. — Isso também pode servir para nós defendermos, caso precise. — London concordou com um movimento de cabeça. — Pronta? — repetiu.

— Gostosuras ou travessuras? — London se agitou.

As duas saíram no início da noite fria de outubro. Quase todas as casas do bairro haviam sido decoradas como pede a tradição americana. Alguns moradores levavam muito a sério tornando suas casas cenários dignos de cinema. Aqui e ali encontravam grupinhos de crianças, todas fantasiadas, acompanhadas por um adulto responsável.

As irmãs foram à primeira casa. London cruzou o jardim e bateu na porta. Rosalie aguardou na calçada, atenta a cada passo seu.

— Gostosuras ou travessuras? — ouviu London dizer para a senhora que abriu a porta. Doces foram colocá-los em seu baldinho. Antes de partir London ouviu da mulher que sua fantasia estava linda. Ao alcançar a irmã, segurou novamente sua mão.

Na segunda casa, London não quis bater à porta. A decoração no jardim estava assustadora demais para ela. Havia fantasmas, monstros horripilantes que moviam e personagens marcantes de filmes de terror.

— Não são de verdade, você sabe disso não é? — Rosalie arriscou.

— Não gosto de fantasma, nem de monstros.

— Vou com você até a porta. Qualquer coisa eu taco-lhe pau em todos eles.

London balançou a cabeça se negando pedir doces naquela casa.

— Não quero.

— Tudo bem, vamos para outra então.

— Gostosuras ou travessuras? — London pediu numa terceira casa mais a frente. Outras duas crianças estavam atrás dela, com seus baldinhos de doces, esperando sua vez.

Casa após casa, assim fizeram até que o baldinho de doces de London estivesse cheio.

Ao voltarem para casa, Rosalie decidiu que era hora de quebrar uma regra muito importante daquela noite, não ficar para entregar doces as crianças que batessem em sua porta, depois de London ter pedido os doces dela.

Pegou o carro da mãe na garagem e dirigiu até a escola para conferir como estavam às coisas por lá.

O estacionamento estava lotado, lhe dando um trabalhão para encontrar uma vaga onde estacionar. Parecia que todos os seus colegas tinham pegado o carro dos pais emprestado aquela noite.

London olhava o movimento pela janela do carro. Vez por outra avistava um grupo de adolescentes que falavam muito alto e riam de forma exagerada algumas vezes. Havia um ou outro que carregava um copo vermelho descartável na mão.

Rosalie abriu a porta, pronta para saltar do veículo.

— Vamos? — sugeriu a London, numa rápida olhada no banco de trás.

— A mamãe não vai gostar nada disso — London lembrou um pouco relutante em sair do carro. Só que Rosalie estava decidida. Seu próximo movimento foi sair do carro e abrir a porta traseira para a irmã também sair.

— A mamãe não precisa saber — arriscou. — Eu não vou demorar. Só quero ver como as coisas estão funcionando. Eu tenho esse direito. Trabalhei duro para essa festa acontecer.

— Eu não quero ir lá — London continuou resistindo, sem se mover do banco.

— Por favor, London. Eu te levei para pedir doces. Fiz tudo o que você queria. Meus amigos estão se divertindo sem mim. Por favor...

London finalmente abriu o cinto e saiu de seu assento. Ela olhou no rosto da irmã, uma vez fora do carro. Rosalie segurou sua mão pequena, murmurando um obrigada. London colocou um moletom amarelo sobre a fantasia, antes de sair de casa uma segunda vez aquela noite, e tinha ficado satisfeita quando Rosalie elogiou sobre ter combinado com a meia-calça e o detalhe no chapéu.

À medida que se aproximavam do ginásio, onde a festa acontecia, London se sentia cada vez mais desconfortável. Já era possível ouvir a música alta. Uma concentração maior de jovens se aglomerava na entrada do ginásio.

Rosalie avistou seu grupo de amigos mais próximo ao lado da entrada principal.

— Olha lá a Alice e a Bella — Ela apontou para o local onde as duas amigas se encontravam. — Bella está com a fantasia da Dorothy. Alice, da Ravena. Legal, não é?

A irmã apenas meneou a cabeça.

— Aquele com a fantasia de Pirata — ela seguiu apontando —, é o Jasper. O com a fantasia do Espantalho é o Edward. Você adora o Mágico de Oz, não é mesmo? O outro, com a fantasia de Van Helsing, é o Jacob. Van Helsing é um caçador de monstros e vampiros. Ele está na série que o papai gosta de assistir. E também em alguns filmes e livros.

— Eu já vi o papai assistindo — London acresceu, quando uma voz masculina as interrompeu.

— Pessoal — Jasper avisou a todos —, Rose está chegando.

O grupo de amigos olhou para onde ele indicava.

— Rose! — Alice se precipitou correndo até elas. — Ei, o que essa bruxinha está fazendo aqui? — Olhou em London ao falar. — Você não é jovem demais para estar aqui?

London sorriu para ela.

— Rose me trouxe.

Chegaram mais perto do restante do pessoal.

— Acho que ela não pode entrar — Jasper foi logo dizendo. — A música está alta e a decoração assustadora demais para ela. Melhor não arriscar.

— Pensávamos que você não viesse — confessou Alice. — Sua mãe mudou de ideia? Que legal!

— Não. Ela nem mesmo sabe que estou aqui. — Então olhou no rosto da irmã. — E nem vai saber, não é London? — London afirmou com um sutil movimento de cabeça. — Vocês poderiam olhar ela pra mim um instante? Gostaria de poder entrar mesmo que por pouco tempo.

— Claro — Isabella foi a primeira a aceitar.

— Sem problemas — foi a vez, então, de Alice concordar.

— Vamos ser babás agora? — a queixa partiu de um Jacob desafiador. — Não tive o trabalho de escolher uma fantasia para ser babá de irmã caçula dos outros.

— Pare com isso — Jasper pediu, tentando manter as coisas em calmaria.

— É só um instante, cara — Edward entrou na conversa. — Não é como se fôssemos ficar com ela a noite toda. Pega leve.

— Vocês são muito bobos mesmo — Jacob continuou.

Rosalie lançou um olhar desaprovando a atitude dele.

— Vai levar apenas um instante, Jacob — ela ressaltou.

— Claro, princesa. Melhor dizendo, Arlequina.

Rosalie ignorou a provocação olhando para as meninas, que conversavam com London.

— Emmett veio?

— Está lá dentro — Isabella foi a primeira a responder.

— Disse que você daria um jeito de aparecer, e ele estava certo — Alice revelou.

Sua resposta quase fez Rosalie sorrir. Ela se abaixou para falar com a irmã.

— Vou lá dentro rapidinho e já volto. As meninas vão cuidar de você até eu voltar, tudo bem?

London concordou, e sorriu para Isabella quando essa cutucou sua barriga.

— Ei, loura — Jacob iria voltar com as provocações, quando Edward lhe deu uma cotovelada. Mas ele não ficou satisfeito, bastou Rosalie desaparecer de vista para voltar às reclamações. — Então é isso, vamos bancar as babás enquanto ela fica lá dentro se pegando com Emmett?!

Alice cobriu os ouvidos de London com as mãos, olhando feio para Jacob.

— Pare com isso. Não vê que há uma criança entre nós.

— Que deveria estar na cama há essa hora, não acha? — ele bateu de volta.

— Pega leve, ok? — Jasper fez o alerta velado.

London segurou firme na mão de Isabella, não gostando nada de como Jacob soava.

Alice afagou o ombro dela tentando transmitir um pouco de confiança.

— Ele é um bobo, não dê ouvidos ao que diz.

— Vocês são muito certinhos pro meu gosto. — Jacob tomou o último gole do ponche batizado, atirando o copo vazio no chão.

Edward sacudiu a cabeça com indignação, antes de se abaixar, recolher o copo e levá-la até a lata de lixo mais próxima.

Jacob chegou mais perto de London, falando diretamente com ela.

— Ei menina — começou.

— Ela tem nome, Jacob — Alice interferiu.

Ele olhou em Alice como quisesse xingá-la, em seguida, voltou olhar na irmã de Rosalie.

— Menina London — outra vez ele falou, e olhou para os amigos como questionasse está certo. Tornando dar atenção a London perguntou: — Você quer ouvir uma história?

London olhou para Isabella como questionasse ser seguro. Em seguida, balançou a cabeça recusando a oferta de Jacob.

— Vamos lá — ele insistiu, cutucando o ombro dela. — É uma história legal. É sobre a menina fantasma.

— Não — London recusou rapidamente.

— Deixe ela em paz, Jacob — Edward pediu.

Jacob continuou.

— É só uma história.

— Ela não quer ouvir — Jasper tentou, pondo a mão no ombro de Jacob alertando para longe da menina. Ele sacudiu o ombro afastando a mão do amigo de forma brusca.

— A menina fantasma — prosseguiu. Ele falou bem perto de London, que se encolheu agarrando o braço de Isabella. — Reza a lenda que a menina saiu para pedir doces na noite de halloween, muitos anos atrás, e nunca mais voltou para casa. Descobriu-se, dias depois de seu desaparecimento, que ela havia sido raptada no trajeto para gostosuras ou travessuras e foi cruelmente assassinada. Seu corpo foi encontrado dentro de um baú, no porão de uma casa abandonada já em processo de decomposição.

— Não. Não — London se negou ouvir. Nem mesmo se atrevia olhar no rosto dele.

— Jacob, ela não quer ouvir — Isabella tentou. — Pare com isso.

Mais uma vez ele ignorou o alerta dos amigos.

— Ela usava uma fantasia de bruxa e tinha um chapéu como esse. — Ele tocou a ponta do chapéu na cabeça de London de maneira a deixá-lo torto.

— Não — London murmurou.

— Rose vai arrancar os seus olhos, estou avisando — Alice fez o alerta.

Outra vez ele ignorou.

— A cada halloween ela aparece, desde então. E escolhe uma criança que esteja usando uma fantasia igual a que ela usava. Ela convida para gostosuras ou travessuras e se a criança escolhe a travessura, nuca mais volta para casa.

O olhar de pavor estava estampado no rosto de London. Em momento algum ela soltou do braço de Isabella. O medo a dominava.

Jacob fingiu se afastar, e, num gesto exagerado, voltou para perto dela. O tom de voz que usou fez a menina estremecer.

— Você quer brincar?

London gritou de susto.

— Gostosuras ou travessuras? — ele continuou usando o mesmo tom de voz assustador. Então, falando alto demais, tentando arrancá-la de perto de Isabella. Os gritos de London tornaram-se cada vez mais fortes, quase ensurdecedor.

Tanto Alice e Isabella, quanto Jasper e Edward tentavam afastá-lo da menina.

— Ela escolheu você. Ela escolheu você — Jacob repetia para ela.

Rosalie chegava à porta principal, quando percebeu de quem eram os gritos. Não se importou em largar Emmett para trás, correndo rumo ao centro da confusão, empurrando quem estivesse em seu caminho, conseguindo finalmente pôr as mãos em Jacob, cravando suas unhas na pele do rosto dele.

— Larga ela! — seu pedido furioso foi cuspido na cara dele. — Larga ela agora.

Jacob não teve escolha, senão soltar London.

Enquanto a menina chorava agarrada a Isabella, Rosalie o desafiava, o peito subindo e descendo em fúria.

— Sua louca — Jacob acusou, levando as mãos à pele do rosto machucada pelas unhas dela.

— Se voltar a fazer o que estava fazendo, arranco seus olhos — ela cuspiu ruidosa.

— Louca, é isso que você.

— Você não viu nada ainda. Volte a fazer o que estava fazendo e eu não respondo por mim.

— Vá para o inferno! Pegue essa sua irmã idiota e saia já daqui.

— Tem sorte que deixei o taco de basebol no carro.

— Dê o fora daqui.

— Eu irei, mas só porque eu quero.

Ela procurou pela irmã e a encontrou com Isabella.

— Eu te avisei — Alice sussurrou para Jacob.

— O que foi tudo isso? — Emmett chegou um tanto atrasado, com sua fantasia de Coringa.

— Essa louca — Jacob acusou. — Olha o que ela fez no meu rosto.

— Por que você não diz que estava aterrorizando a irmã dela, quando ela chegou? — Alice desafiou. — Sendo um grande babaca, para variar.

— O que você tem na cabeça? — Emmett questionou, parecendo não acreditar na atitude do amigo.

Rosalie se aproximou de London e a menina finalmente largou Isabella para agarrasse a irmã, chorando.

— Está tudo bem — Rosalie murmurou. — Nada do que esse idiota disse é verdade.

— Quero ir pra casa — London implorou, fungando.

— Já estamos indo — Rosalie afagou as costas dela, em seguida segurou sua mão.

— Eu levo vocês — Emmett se ofereceu.

— Estou com o carro de minha mãe.

— Eu dirijo e volto para pegar o meu depois.

Rosalie concordou, começando a caminhar de mãos dadas com London até onde estava estacionado o carro de sua mãe.

Jasper deu um safanão na cabeça de Jacob.

— Babaca — acusou.

Rosalie entregou a chave do carro a Emmett ainda enquanto seguiam pelo estacionamento. Ele abriu a porta do carro para elas. London não quis sentar sozinha no banco de trás, então Rosalie acabou sentando ao lado dela.

A menina ficou com o rosto colado ao corpo da irmã por medo de olhar para o lado de fora da janela.

O olhar de Emmett encontrou o de Rosalie através do espelho retrovisor interno.

— Ela vai ficar bem? — ele pediu, voltando a atenção a estrada logo em seguida.

— Espero que sim — Rosalie respondeu, passando gentilmente a mão na cabeça da irmã, que havia tirado o chapéu de bruxa e deixado no banco.

— Quero ir pra casa — London sussurrou ao lado dela.

— Já estamos indo — Rosalie a tranquilizou.

[…]

Emmett deixou o carro na garagem exatamente como Rosalie pediu.

London entrou correndo em casa assim que Rosalie abriu a porta.

— Deixe o balde na cozinha, mamãe vai verificar todos os doces depois.

— Seus pais não sabem que você a levou, não é? — Emmett pediu quando ela se voltou para ele.

— Não.

— E se ela contar para eles o que aconteceu hoje?

— Ficarei de castigo pelo resto da vida. E nunca mais terei a confiança deles.

Ambos ficaram parados olhando no rosto um do outro. Passado alguns segundos, Emmett falou:

— Você ficou linda nessa fantasia.

Rosalie olhou para si mesma antes de responder.

— Obrigada. — Novamente os dois ficaram em silêncio. Um minuto depois, ela continuou: — Você não quer entrar um pouco?

O olhar de Emmett foi para a porta aberta por London tinha passado.

— É seguro — brincou ela.

Emmett esfregou as mãos na lateral da fantasia, logo depois fez sinal para que ela fosse à frente.

A porta já estava fechada quando ela avistou London voltando da cozinha sem a fantasia.

— Onde está sua fantasia? — pediu.

— No lixo. Não quero mais.

Rosalie segurou na mão dela, notando que Emmett havia virado de costas.

— Pode me esperar um pouco? Vou subir para ela vestir o pijama e escovar os dentes e já volto.

— Estarei esperando bem aqui.

Emmett as ouviu cochichando enquanto subiam a escada.

— Você não pode tirar a roupa com um garoto na sala.

— Mas ele não estava na sala.

Ele sentou no sofá, rindo do modo como elas cochichavam, achando que não estava ouvindo. Reparou na grande tigela de doces ao lado da porta.

Rosalie voltou à sala de mãos dadas com London alguns minutos depois.

— Ela não quis ficar sozinha lá em cima — se explicou como esperasse Emmett precisasse disso.

— Tudo bem — ele aceitou. Seu olhar voltou para a tigela de doces ao lado da porta. — Você não distribuiu nada.

A expressão no rosto dela foi de culpada.

— Vou ter de desaparecer com todos eles antes que meus pais cheguem e descubram que não fiz o que eles mandaram. — Ela sentou ao lado de Emmett, e London, depois de ligar a televisão, sentou entre os dois.

Por mais de duas vezes London cochilou, e Emmett aproveitou cada ocasião para beijar Rosalie na boca sobre a cabeça dela. Até finalmente cair no sono solto ao lado deles.

— Posso levá-la para cama se você quiser — ele ofereceu.

— Seria ótimo.

Ele recolheu London cuidadosamente do sofá e seguiu Rosalie escada acima até o quarto da menina. Após deixar London na cama, se viram sozinhos no corredor, presos a uma intensa troca de olhar, até não aguentar e correr para os braços um do outro. Os lábios dele sugando os dela com voracidade, erguendo-a do chão pelos quadris, girando de maneira a prensá-la contra a parede.

O som da campainha tocando ecoou pela casa interrompendo o que estavam fazendo. Emmett a pôs de volta com os pés firmes no chão. Ambos se recompuseram no caminho pela escada, de volta a sala.

Emmett abriu a porta para ela e foi atingido por um animado pedido de dois pré-adolescentes com fantasias jedi.

— Gostosuras ou travessuras?

— Achei que não tivesse mais ninguém pedindo doces há essa hora — Rosalie comentou, estranhando o horário.

— Somos os últimos, porque não vimos mais ninguém.

— Ótimo! Então vocês podem ficar com tudo isso. — Ela pegou a tigela de doces ao lado da porta e despejou tudo nos sacos de tecido que os meninos carregavam.

— É nosso dia de sorte — um deles falou.

— Obrigado — disseram ao mesmo tempo, animados, rindo um para o outro.

Emmett fechou a porta, sorrindo para ela, expondo covinhas que marcavam suas bochechas. Ela mal concluiu os pensamentos a respeito do sorriso dele, estavam outra vez trocando beijos e carícias. Esbarrando na poltrona, desabando no sofá, Rosalie sobre o corpo largo dele. Seus cabelos estavam revoltos quando se deu por encerrada a seção de beijos.

O peito subindo e descendo com a respiração ofegante. Ela passou as mãos nos cabelos numa tentativa de domar a juba.

— Isso foi insano — declarou.

Emmett ainda estava deitado com as costas sobre as almofadas coloridas do sofá da mãe de Rosalie. Seus olhos cintilavam revelando as sensações que beijar Rosalie implicavam.

— Eu poderia viver momentos insanos como esse para sempre — ele declarou de forma natural. — Você é a garota perfeita para mim. Não desejaria que fosse diferente, em nada. Absolutamente nada.

— Olha que desse jeito vou acabar acreditando.

— É para creditar mesmo. Ouça — pediu, fazendo uma pausa dramática. — Consegue ouvir? — ariscou então.

A expressão no rosto dela dizia que não.

Emmett tomou a mão dela na sua, levando até seu peito musculoso.

— Você não está prestando atenção. Tum, tum, tum... — Moveu os lábios devagar soltando a pronuncia num ritmo cadenciado. Rosalie sorriu para ele, quando por fim concluiu. — É o meu coração batendo por você.

— Pensei que fosse o tic-tac do relógio — ela tentou conter a expressão de zombaria no rosto.

— Poxa vida, fez pouco caso dos meus sentimentos. Pensei que essa fantasia fosse de Arlequina, não da Princesa do Gelo.

Achando graça das coisas que dizia, Rosalie se dobrou sobre ele unindo seus lábios num beijo breve. Quando se afastava, ele passou o polegar no pequeno coração desenhando na maçã de seu rosto.

— Dolorosamente sexy — sussurrou num tom de voz grave. Erguendo o torço de modo a alcançar a pinta sobre os lábios dela com um beijo. — Linda — finalmente se sentou ao lado dela.

— Você está um tanto assustador com essa fantasia devo dizer — ela confessou, e deu risada.

Emmett meneou a cabeça fingindo não acreditar.

— Você tirou a noite para zombar de mim.

— Não é verdade. — Ela beijou rápido na bochecha dele, bem onde havia surgido uma covinha.

— Acho melhor eu ir embora. — Estava com o olhar vidrado no dela, sentindo todas as sensações aflorarem na pele. — Pensamentos num lugar nada seguro — comentou dando um meio-sorriso. 

— E se eu dissesse que gostaria de ter conhecimento destes pensamentos?

Emmett se curvou alcançando a pele do pescoço dela com os lábios. Ela sentiu os pelinhos na nuca se eriçarem, consciente do desejo crescente de estar com ele. Ele levantou o rosto. Rosalie podia sentir o hálito morno acariciar sua pele.

— Gostosuras ou travessuras? — pediu de forma cadenciada.

Rosalie tremulou os cílios, incapaz de controlar as sensações que a voz rouca dele lhe causava.

— Travessuras — murmurou. Seus lábios estavam quase a se tocarem, quando o som do telefone tocando chamou atenção para outro pensamento.

Rosalie se afastou para retirar o aparelho da base.

— Alô!

Emmett se recompôs no momento que se deu conta que ela falava com a mãe. Quando Rosalie finalmente desligou, achou melhor se despedir e ir embora.

Ela se encontrava tirando a maquiagem, sentada diante sua penteadeira, quando Emmett lhe enviou uma mensagem pelo aplicativo de celular, pedindo quando seria possível falar com os pais dela para oficializar o namoro. Ela enviou outra tão logo leu a dele. Onde dizia que seria muito em breve, só teria de preparar o terreno antes. Ele lhe enviou emojis de chamas. Rosalie, emojis de água. Emmett terminou a conversa enviando uma carinha de desapontado.

Finalmente, após tirar toda maquiagem, ela foi para cama. O celular foi deixado na mesinha de cabeceira ao lado de um porta-retratos com uma foto de família.

Pouco mais de uma hora depois, London entrou em seu quarto, carregando o urso de pelúcia embaixo do braço.

— Rose? — chamou. — Rose?

Enquanto Rosalie ainda focava sua imagem pequena, London subiu na cama.

— Posso dormir com você? — pediu, de joelhos ao lado dela. — Tive um pesadelo.

Rosalie apenas levantou o cobertor mostrando que London podia deitar-se ao seu lado.

— Quando a mamãe e o papai irão chegar?

— Eles já devem está a caminho. Mamãe ligou mais cedo.

— Estou com medo — London olhava o teto iluminado apenas pela luz fraca do abajur.

Rosalie passou o braço em volta dela, trazendo para mais perto.

— Não precisa sentir medo, estou aqui com você.

London se aconchegou a ela confiando no que dizia. Em pouco tempo, as duas estavam dormindo profundamente.

[…]

Carlisle e Esme chegaram em casa pouco antes de o dia começar amanhecer. Ambos ainda usando a fantasia escolhida para aquela noite: Morticia, e Gomez Addams.

— Parece que muitas crianças passaram por aqui — Carlisle comentou notando a grande tigela vazia ao lado da porta. — Não sobrou nem mesmo uma balinha.

— Parece que Rose seguiu as regras ao pé da letra. — Esme seguiu falando no trajeto até a cozinha. — Talvez ela ganhe o novo celular que vem pedindo. Seria também uma forma de compensá-la por não ter ido ao baile no qual trabalhou duro para que acontecesse. — Notou o balde de doces de London em cima da ilha. Logo mais teria de inspecioná-los. No vaso de lixo reciclável encontrou a fantasia de bruxinha que ela havia escolhido especialmente para aquela noite.

Carlisle entrou na cozinha no momento em que ela retirava a fantasia do lixo e pendurava na banqueta.

— Por que London jogaria a fantasia dela no lixo? — ele tinha um olhar desconfiado ao fazer a pergunta.

— É exatamente o que estava me perguntando.

Eles subiram a escada logo depois, para ver como as duas estavam. Passando primeiro no quarto da caçula, não a encontrando na cama, foram então até o quarto de Rosalie. Encontraram as irmãs dormindo abraçadas. Apenas tornaram a fechar a porta e se afastar.

Minutos mais tarde, London despertou tendo a impressão de ter ouvido alguém chamar por ela. A menina saiu da cama nas pontas dos pés e chegou junto da janela. Espiando no lado de fora através do vidro, avistou alguém no gramado ao lado das aboboras decorativas.

— Gostosuras ou travessuras? — a menina de cabelos escuros, usando a fantasia de bruxa, em meio a nevoa das primeiras horas do dia, repetiu: — Gostosuras ou travessuras?

Os olhos de London se arregalaram, afastando-se da janela abruptamente.

— Mamãe! — ela gritou. Levou poucos segundos para que Esme e Carlisle estivessem no quarto de Rosalie. London se agarrou a mãe com o corpo trêmulo, evitando a todo instante olhar na direção da janela.

Rosalie ainda estava sonolenta quando saltou da cama procurando pela irmã.

— Tem uma pessoa lá fora — London contou aos pais. O medo estampado no rosto.

Carlisle se aproximou da janela, olhando no lado de fora, como London havia feito.

— Não tem ninguém. Vai ver era alguém fazendo travessuras de final de halloween. Bem — ele mudou de assunto, voltando para junto da mulher e da filha caçula —, já que estamos todos acordados que tal se fizéssemos panquecas em família?

— Seria ótimo — Rosalie aceitou, embora achasse que era muito cedo para estar de pé.

A família desceu a escada juntos. Carlisle carregando London no colo. Todos conversando sobre o que gostariam que tivessem em suas panquecas. Quando entraram na cozinha e London se deparou com a fantasia de bruxa pendurada na banqueta, seu grito ressoou pela casa com horror, despertando a desconfiança dos pais sobre o que teriam feito na última noite de halloween.

 

Fim

 

 Trick or treat


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Notas finais do capítulo

Se curtiu, deixe um recadinho para mim. Terei o maior prazer em responder.
Beijo grande
Sill