Poliana Moça escrita por esterjuli


Capítulo 8
A Aposta


Notas iniciais do capítulo

Oláaa! Estou de volta! Espero conseguir postar com mais frequência. Talvez mais um ainda hoje. Obrigada a todos que leram até aqui e espero que gostem do novo capítulo.



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Pov. Poliana

Entrei no quarto aos prantos. Minha primeira visão não poderia ter sido mais linda: Tia Luíza segurando meus dois priminhos. Me aproximei sem conseguir conter as lágrimas e fui abraçada de lado pelo Tio Marcelo que também não parava de chorar. A titia olhou pra mim e disse:

— Poliana, esses são seus primos, Alice e Antônio. – assim que ouvi isso, senti um misto de felicidade, saudade e pura emoção. Pra mim não poderiam existir nomes mais lindos, já que traziam tanto significado pra mim. Chorei como uma criança e pedi pra segurá-los. Minha Tia assentiu. Pediu que eu me sentasse em uma cadeira e, em seguida, passou a Alice pro Tio Marcelo que passou ela pra mim cuidadosamente, me ensinando como segurar. Logo, fez o mesmo com o Antônio.

Ao olhar aquelas carinhas tão puras, o choro se intensificou, eles foram tão esperados por nós e agora estavam em meus braços. Eram, sem dúvida, presentes para nossa vida. 

— Oi Alice, Oi Toninho! Eu sou a Poliana, prima de vocês - eu disse, em meio a sorrisos e pequenos soluços de choro. – Vocês não imaginam como estou feliz de finalmente conhecer vocês! Saibam que vocês vão poder contar comigo pra tudo, tudo, tudo. Ah! Os nomes de vocês me lembram de pessoas muito queridas, que já não estão mais aqui. Quer dizer, estão no meu coração, mas vocês vão entender quando crescerem. O que quero dizer é que eu sei que nós seremos muito amigos e que vocês já são muuuito amados por mim. – depois de algum tempo conversando com aquelas fofurinhas, entreguei eles ao tio Durval, que já estava vermelho de tanto chorar. Não que eu estivesse em um estado tão diferente.

Foi com certeza um dos momentos mais emocionantes da minha vida, uma sensação inédita pra mim. Os rostos da tia Luíza e do tio Marcelo nunca estiveram tão iluminados, era como se todos os problemas, medos e situações tivessem sumido e agora tudo que importasse era que, finalmente, a Alice e o Antônio estavam bem e que, de agora em diante, eles teriam (e nós também) uma nova jornada repleta de desafios, aprendizado, mas, principalmente, muita felicidade. Assim que todos nós pudemos conhecer os gêmeos, a entrada do restante do pessoal foi permitida. Nós saímos pra poder dar espaço aos outros, para que o quarto não ficasse lotado e os bebês não se assustassem. Quando saí do quarto, a primeira pessoa que eu vi foi o João. Ele se levantou assim que nos viu sair e eu corri pra abraça-lo.

Chorei e chorei mais um pouco. Tudo isso em meio a muitos sorrisos. Achei engraçado como ele foi contagiado pela minha reação e começou a chorar também (mais timidamente do que eu, claro).

— João, você não faz ideia de como é emocionante! Quer dizer, você vai, mas já te advirto que eles são as criaturas mais fofas de todas! – eu disse, dando pulinhos de alegria. – Agora vai, o pessoal já tá entrando. – ele seguiu os outros, evidentemente nervoso por não saber como reagir. Foi fofo. Não demorou muito tempo, eles saíram. A expressão deles tinha se tornado outra, era incrível o efeito que os gêmeos tinham causado na gente. Todos pareciam ter conhecido dois anjinhos, alguns mais emocionados do que outros, mas todos serenos. O João chegou com o nariz um pouco vermelho, denunciando que ele tinha chorado, mas depois se controlado. A reação dele ao sair não foi tão diferente da minha, ele me abraçou e eu pude sentir o quão feliz e emocionado ele estava.

— Poliana, não sei se consigo explicar direito como isso foi emocionante. Entrar lá e ver aqueles pingo de gente, ver o amor que os pais deles sentem por eles e a vontade de chorar daquelas bem grandes que eu senti ao segurar eles nos braços. Eu não tenho palavras mesmo pra descrever – ele disse – Só fico muito feliz de ver como eles são queridos pela família, acho que todo mundo merecia poder ter isso. – percebi que ele começou a ficar um pouco emocionado de novo. O abracei mais forte, a vontade que eu tinha era dizer que por mais que ele tenha tido uma infância difícil, ele encontrou pessoas que se importam de verdade com ele, pessoas que o querem ver bem e que... o amam. Mas fui impedida pelo tio Durval que nos abraçou, enquanto soluçava de choro. 

Depois de mais algum tempo no hospital, acabou o horário de visitas, então tivemos que voltar para casa. Eu fui dormir na casa do tio Durval novamente, me despedi de todo mundo e combinei com o João de me encontrar na padaria na manhã do outro dia. Como já era tarde, quando chegamos em casa, organizei minha cama no chão do quarto das meninas e já fui desejando boa noite pra todo mundo. Adormeci bem rápido.

No outro dia, acordei cedo, animada para ir para a Ruth Goulart tentar arranjar um emprego. Como o Tio Durval não poderia saber também sobre isso (do contrário ele contaria rapidamente à titia), saí dizendo que iria fazer uma caminhada de manhã cedo, que era um novo hábito que eu tinha criado na França. Ele acreditou, afinal não sou do tipo que costuma mentir. Coitado, acreditando em mim e eu mentindo descaradamente. Enquanto esperava pelo João na praça em frente a padaria, comecei a pensar que isso talvez não fosse uma boa ideia e que seria melhor eu ligar pra o João e desmarcar. Mas, justamente no momento em que pensei isso, ele chegou todo animado.

— Bom dia, fulô do dia! – ele disse, sorridente. Me dando um abraço em seguida.

— Bom dia, João! – eu retribui.

— Tá pronta pra nossa missão? Realmente tô surpreso contigo. Achei que tu ia me ligar desistindo ainda ontem. Pensei “Poliana mentindo? É ruim, mais fácil o Feijão criar asas e sair voando por essa janela”. – ele disse, com tom zombeteiro e eu não gostei do que ouvi. Como assim, ele acha que eu não sou capaz de fazer algo diferente? Não sou capaz de me aventurar? Ah, mas ele vai ver.

— Pois você estava muito errado, mocinho. Você acha que me conhece totalmente, então hoje você vai conhecer uma Poliana que você nunca viu. – disse, não tão confiante do que falei, mas disposta a me desafiar. – Agora vamos, que eu disse ao tio Durval que fui caminhar e eu não quero que ele pense que eu men... – percebi o João me olhar com cara de vitorioso. - ...quer dizer, eu não me importo que ele pense que eu menti. Porque eu sou muito rebelde. – João riu e eu dei um tapinha no braço dele. Percebi que o tio Durval estava indo pra frente da padaria, apressei o passo e puxei o João pelo braço. – Eu só acho que se não nos apressarmos, vamos perder o horário e eu quero muito esse emprego você sabe. – falei rindo de nervoso, enquanto andava rápido, seguida de um João que não parava de gargalhar.

— Tô vendo essa sua rebeldia. Fugindo do Tio para que ele não saiba que tu mentiu, querendo chegar 1 hora antes na entrevista de emprego. Uau! É tanta rebeldia que acho que eu deveria parar de andar contigo, minha mãe disse pra eu fugir das más influências. – ele disse com um sorrisinho irônico.

— Talvez seja melhor, acho que meu estilo de vida é muito perigoso para pessoas como você – resolvi entrar na brincadeira. – Na verdade, acho que a maioria das pessoas não conseguiria acompanhar meu ritmo de vida frenético. – nós rimos.

— Então, o que tu acha de fazer uma aposta? – ele disse esfregando uma mão na outra.

— Aposta? Que tipo de aposta? – perguntei.

— Vai ser assim, eu aposto que tu não consegue ser rebelde o dia todo. Se tu realmente não conseguir, o que é bem provável, tu vai ter que... – ele parou pensativo. – Já sei! Vai ter que lavar minha roupa suja a semana toda.

— Eca, João. – eu disse fazendo cara de nojo.  

— Ah, mas minhas roupas nem ficam tão sujas. E tu pode até usar a máquina, coisa que eu não, porque a lavanderia do prédio cobra pra lavar e eu sou meio pão-duro. - ele disse, rindo.

— Tá, eu aceito. Vou conseguir fácil, fácil e quando eu conseguir... eu vou pensar em uma prenda muito boa pra você. – eu disse, mais convicta do que eu esperava. Talvez nem fosse ser tão difícil, era até um bom exercício de atuação. Era só fingir que estou interpretando uma personagem rebelde e pronto. Aposta ganha.

— Já que tu tá tão confiante, se tu perder, ao invés de uma semana lavando minhas roupas, vai ser um mês. – ele disse e fiquei um pouco mais preocupada, porém continuei confiante. – E aí? Ainda aceita a aposta? – ele disse, na certeza de que eu iria desistir. Aceitar aquela aposta era o primeiro passo da Poliana rebelde.

— Claro. Adoro um desafio. – agora sim, vou mostrar como posso ser bem diferente da Poliana de sempre.

— Se é assim, então que os jogos comecem. – ele disse. Eu estendi a mão para que fechássemos o acordo, ele ia pegar minha mão, mas eu tirei. – Ahá! Te peguei! Esse é o primeiro ato da Poliana rebelde.

— Oh Meu Deus! Estou até assustado com tanta rebeldia. – ele disse, revirando os olhos. – Poliana isso não é ser rebelde, isso é ser abestada.

— Mas te deixou irritado não foi? E com certeza, a antiga Poliana não faria isso, então... – respondi, com ar de sabe-tudo.

— Tá, tá bom. Vamos logo pra escola. – ele disse e eu concordei. Andamos um pouco e para minha surpresa, no caminho encontramos a Filipa passando de carro. Ela pediu pra o motorista dela estacionar, fiquei surpresa com esse ato dela já que ela sempre foi tão grossa comigo. Ela desceu do carro e correu para abraçar o João. Agora entendi tudo.

— Joãaaao!! Quanto tempo! Como você tá diferente! Cresceu, hein? Tá mais bonito. – Filipa falou tanto que até parecia eu, percebi o João ficar um pouco vermelho. Eu sei que eles até foram bem próximos quando estudávamos, mas será que foram tão próximos assim? Ele falou por algum tempo e depois de perceber que ela não iria falar comigo, resolvi falar.

— Oi Filipa! – cumprimentei ela gentilmente, que me retribuiu com um olhar de desprezo (o que não é bem uma novidade) e um sorriso amarelo.

— Poliana! Quanto tempo! Já você não mudou muito, né? Olha só, se veste do mesmo jeito que anos atrás, a moda de roupa de palhaço já passou viu? Há quantos anos mesmo? Ah, peraí, nunca nem existiu. – ela riu maldosamente.

— Filipa, não fala assim com ela. – João tentou intervir.

— Deixa, João. – eu disse, como sempre faço. Por um momento, passei a relembrar de todas as vezes que a Filipa me tratou mal sem eu ter dado motivo algum e que em todas essas vezes eu deixei que ela pisasse em mim, só porque eu não queria fazer mal a ela.

— Isso, Poli. Adoro como você é esperta a ponto de saber se colocar no seu lugar – ela disse com desdém, aquela menina estava começando a me dar nos nervos, mas me controlei. – Então, João. Como vai a vida? Sorte no amor? Com esse rostinho deve fazer um sucesso, né? – não sei porque, mas cada palavra que ela dizia só me deixava mais aborrecida. Ela pareceu ter percebido isso e resolveu me provocar mais. – Que foi, Poliana? Tá fazendo essa cara porquê? Não me diga que está com ciúmes! – Ela riu e eu corei, tentei me apressar pra negar, mas ela me cortou. – Será que no fim das contas a amizade de vocês virou romance?

— Não, não. Nós só somos amigos mesmo – João respondeu, bem rápido por sinal.

— Ah, sim! Eu imaginei! Você é muita areia pro caminhãozinho da Poliana. – ela disse dando aquela risadinha malvada dela. E eu não sei o que me deu, talvez seja toda a raiva que deixei guardada por anos ou a vontade de mostrar a ela que ela estava errada sobre mim. Eu simplesmente, por impulso, segurei a mão do João e disse:

— Não precisa ser tímido, João. Na verdade, Filipa, nós somos namorados, sim. É que é algo muito recente e não queríamos espalhar pra todo mundo ainda. – Ela ficou estática. Percebi o João ficando inquieto. Quando ele ia negar tudo, olhei pra ele suplicando pra que ele não contasse a verdade. Então, ele confirmou.

— É isso, Filipa. Eu falei que não, mas é porque ela acabou de voltar pro Brasil. A verdade é que eu sou apaixonado por ela desde que ela saiu daqui. Quando ela foi morar na França não conseguia parar de pensar nela. Então, assim que a gente se reencontrou, me declarei pra ela e ela disse que sentia o mesmo. E foi isso. – João disse, parecendo um tomate de tão vermelho, porém muito sério. Ele é realmente um bom mentiroso, até eu quase acreditei que ele estava falando a verdade. A Filipa nem parecia a mesma de segundos atrás.

— Ah, então é verdade? Bom, se é assim, felicidades ao casal. Mas esperava mais de você, João. Enfim, quando isso acabar, já sabe meu número. – ela disse, enquanto entrava no carro. Que descarada, dando em cima do meu namorado. Mesmo que seja falso namorado, ela não sabe disso. Humpf.

— Tchau, Filipa. – disse dando um tchauzinho com o sorriso mais falso que eu pude dar. Assim o carro foi se afastando e eu continuei a dar tchau. Isso até o carro virar na esquina. Olhei pro João rindo e ele continuava vermelho, então percebi que ainda segurava a mão dele. Soltei rápido e ficamos um pouco envergonhados por um momento.

— Viu só? Mereço muitos pontos na nossa aposta, não é? – eu disse, dando pulinhos.

— A-aposta? – ele perguntou confuso.

— Claro, né. Vai dizer que tem coisa mais rebelde do que mentir sobre sua vida amorosa para a menina que pegava no seu pé na escola?

— Na verdade, existem várias. Mas você realmente se superou nessa. Não achei que seria capaz de algo assim. – ele disse, já menos envergonhado.

— Ah! Desculpe por te envolver nisso. Mas você se saiu muito bem! Obrigada por não negar tudo e mentir por mim. – disse e o abracei agradecida.

— Mentir...claro! Sem problemas! Você sabe como sou um bom mentiroso, né. – ele riu um pouco nervoso. Eu saí do abraço e ri com ele, apesar de ter achado estranho. Voltamos a caminhar em direção a escola. – Mas, quer dizer que agora vamos ter que fingir pra Filipa que namoramos? – ele perguntou.

— Ah não, a gente pode só dizer que terminou. Que viu que, no fim, era para sermos amigos mesmo. – eu disse, já com o plano todo arquitetado. Estou surpresa comigo mesma.

— É, amigos..boa ideia! – ele disse, sem olhar pra mim. – Ou eu posso dizer que você era rebelde demais para mim. – ele riu e eu dei um empurrãozinho nele.

— Quando a gente terminar, você pode até ligar pra Filipa, já que, como ela disse, você sabe o número dela. – disse zoando e ele voltou a ficar um pouco vermelho.

— Haha. A Filipa é meio louca. Ela é uma boa amiga, mas nada mais do que isso. – ele sorriu e eu também. Percebi que ele ficou me olhando por algum tempo.

— Que foi? – perguntei.

— Nada, é só que estou ganhando os registros do seu rosto antes que tu acabe indo parar na cadeia por alguma rebeldia – ele disse rindo de novo.

— Nossa, Joãaao. É verdade! Mas acho que não precisa guardar meu rosto, vamos acabar nos encontrando lá. Com essas piadas você vai acabar na cadeia por crime contra a minha paciência. – eu disse debochada e ele ficou surpreso. - Viu só, melhor não me subestimar. Essa aposta já tá ganha.

— Veremos. – ele disse.

— Sim, veremos. - assim, chegamos na escola e entramos.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? Se puderem deixar suas opiniões nos comentários, eu agradeço bastante. Até o próximo capítulo!



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