Alone escrita por sweetheart


Capítulo 1
Único.




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Naquela noite o sono não veio. Os sonhos e os pesadelos decidiram dar uma folga ao meu cérebro embaralhado. Depois da discussão com o meu filho antes do anoitecer, pedi à ele para que não fosse ao meu quarto naquela noite. Suspeitava seriamente que toda noite ele espreitava sorrateiramente de meia em meia hora, para ver se eu estava acordada e finalmente se aventurar naquela ilha, fugindo dos meus cuidados.

Em sua última aventura, ele havia ficado preso em cipós de uma grande árvore, por horas. Eu o procurei, insistentemente, e quando o achei, sua perna estava roxa – fruto da má circulação por ficar preso. Ele andou mancando por dois dias, até a perna normalizar.

Agora eu o havia proibido de sair de um raio de quinhentos metros de perto da nossa casa. E, mais uma vez, esta era uma das decisões que me faziam sentir uma idiota completa. Ele não veio me pedir desculpas, e assim, o sono também não veio. Estava sentada na cama olhando o vazio completo. Sentia como se mil pensamentos esmagassem a minha cabeça. Maternidade era um negócio complicado, ainda mais quando se estava sozinha.

Eu estava ali há anos. Meu filho, surpreendente, faria dez anos amanhã. Isso significava que seu pai viria, passaria um dia inteiro com nós. Mas o que é um dia para quem esperou dez anos, não é mesmo?

Eu estava feliz. Will estava a salvo. E em breve eu o veria de novo. Mas meu tímido sorriso desvaneceu-se. Meu filho estava mais ansioso do que eu (e isso era errado). Tudo o que ele sabia do pai eram histórias, ora contadas por mim; ora contadas por piratas, que às vezes, atracavam em nossa ilha. Todos falavam do grande Will, o capitão do Holandês Voador. Grande merda. Como se ele só se resumisse à isso.

Nenhum pirata ousava nos atacar, no entanto. Todos sabiam quem eu era, afinal, ainda tinha meu título de “Rei dos Piratas” e era a mulher possuía o coração de Will Turner.

Mal sabiam eles que literalmente.

Além disso, eu sabia bem como me defender, sempre soube.

Todos diziam que eu era uma mulher forte, guerreira, que criara o filho sozinho naquela imensidão azul e se mantinha fiel, esperando o meu marido voltar. Mas eu não gostava de receber glórias sobre isso, para mim, bastava que apenas meu filho sentisse orgulho da mãe que tinha. E do pai.

Passar anos esperando o meu amor, não era algo do qual eu deveria me orgulhar. Não há felicidade nenhuma nisso. Mas a eternidade ao lado de Will Turner tinha um custo, de fato. Depois que ele se transformou no capitão do Holandês, eu fiquei sem ver a humanidade por um bom tempo. Tive de aprender a controlar-me naquela ilha, sem arriscar a minha vida, ou a vida do bebê, que surgiu logo depois que ele foi embora. O bebê, foi a minha plena felicidade por um bom tempo, até eu me dar conta de que ele nasceria sozinho, e, eu faria o meu próprio parto, sozinha. Se nós sobrevivêssemos, ele estaria fadado a viver comigo naquela ilha por muitos anos. E eu odiei Will por isso, muito.

Meu filho – que chamei de Henry – era a razão de eu não ter me jogado de um penhasco ainda. Era a razão de eu ainda manter minha sanidade, de não ter enlouquecido. Afinal, sem ele, o que seria de mim sozinha naquela maldita ilha? Outro dia, já quis perfurar o coração de Will, por simplesmente não aguentar mais a situação. Mas, eu pensei nele e pensei em como seria triste para ele. E aquele velho amor que sentia em meu peito, me deixava covarde demais. Então, eu continuei amando William Turner.

Sabia que um dia Henry cresceria. Sabia que não demoraria muito para ele querer se aventurar mundo à fora – quem sabe até, ir embora com o pai – e assim, meus dois amores teriam sumido no mundo. E quando chegasse aquele momento em que veria todos desaparecer…

Não.... Não. Não queria pensar nisso. Não agora.

Ouvi um barulho e fui até à janela. Seria Henry? Olhei em volta. Não se via nenhuma alma viva. Henry nunca quebrava regras. E esse era o meu desespero muitas vezes, porque sabia que um dia ele iria se rebelar. Há alguns anos nós não éramos mais os únicos habitantes daquela ilha, mas nem mesmo as pessoas que ali estavam serviam de distração para o seu espírito selvagem. Concentrei-me e os seus roncos eram audíveis.

O meu coração acelerou mais uma vez, quando minhas memórias me levaram à batalha contra o Kraken.

Virei de costas à janela da cabana e senti um leve som de folhas a serem pisadas. Olhei de novo. O silêncio era pesado. Senti um bocado de medo. Talvez algum pirata desgarrado estava rondando a casa, talvez algum animal. Talvez alguma pessoa caminhando pelas proximidades. Não tinha tanta certeza. Afinal, agora era à noite, e eu estava em uma reforçada cabana, ficava mais difícil me atacar. Mas talvez... eu estivesse mesmo enlouquecendo. Ao longe, em algum lugar no meio da floresta, um uivo pôde ser ouvido. Nesse momento o meu coração perdeu uma batida. A tristeza transportada nisso era tão perceptível que congelei no mesmo lugar. E ele assolou-me o pensamento.

Jack Sparrow.

Jack me lembrava um lobo. Um animal noturno.

Eu havia ganhado um sol, que era Will, mas a consequência disso é que havia perdido a lua para sempre. Desejei que Jack pudesse estar ali perto e me fizesse uma visita. Mas era engraçado como certos acontecimentos em minha vida ficavam cada vez mais distantes. Ele não me visitaria. 

Senti-me egoísta. Will quase havia morrido, dera seu coração à mim, e, eu ali, pensando em Jack Sparrow.

Me repreendi por um momento, era como se ele corrigisse meus próprios pensamentos com: “É capitão. Capitão Jack Sparrow”.

Pensei em como ele estaria. Ele era uma espécie de porto seguro, o ombro amigo que me amparou e me salvou quando Will me deixou e eu simplesmente virei as costas para a sua causa que era encontrar o seu pai. Jack sempre me salvava, até de mim mesma.

Senti os meus olhos umedeceram, mas ao mesmo tempo, um pequeno sorriso assolar o meu rosto. Reencontrei um amor antigo, lutei contra piratas, criaturas do mar... E, o maior de todos os erros: Apaixonei-me por um pirata.

Afinal, bússolas não mentem.

Mas nós nunca daríamos certo. Não é?

Os meus olhos se fixaram no pequeno objeto pendurado na cabeceira da cama. Era para afastar os maus sonhos, eu mesmo tinha confeccionado, há muito tempo atrás. Quando se vive numa ilha, não tem muito o que fazer, e, pesadelos eram frequentes. No entanto, parece que não funcionava lá muito bem. Depois que Will foi embora, as noites passaram a ser o meu maior pesadelo. Sentia-me como uma criança quando tem medo de que um monstro saia de baixo da cama ou do armário.

— Ah, Jack... – Suspirei, olhando de novo a janela.

Jack Sparrow era a minha alegria particular e secreta. Quando ficava triste, pensava no seu sorriso – que era tão luminoso que cheguei a duvidar se não ficaria morena em pleno inverno – então, eu me sentia feliz por uma fração de tempo. Eu sentia falta das tardes passadas no navio, das piadas sempre alegres ­– e às vezes sem graça – de Jack. E é por isso que me sinto culpada. Para ter o meu amor, tive que magoar aquele em que eu confiava, aquele que me fazia sorrir de coisas bobas, tive que abdicar do seu sorriso reconfortante e quente, da sua voz suave e relaxante, daquele tom sarcástico irritante. Do meu Jack, aquele que já fez o meu coração palpitar, e talvez, só talvez, ainda faça. Não me sentia culpada por deixá-lo, sentia-me culpada por pensar que as coisas podiam ser diferentes se eu tivesse escolhido diferente.

Senti-me subitamente ridícula. São duas da manhã, imagino, e eu Elizabeth Swann, em vez de dormir como uma pedra, encontro-me à janela, pensando em alguém que nunca vai vir. Alguém que eu não deveria pensar além de meu próprio marido.

Ouvi de novo o lamento de um lobo solitário. Por mais que soubesse que Jack conhecesse o mar como ninguém conheceria, o meu coração contorceu-se ao pensar na hipótese de ele andar sozinho (embora eu soubesse que ele sabia se virar muito bem, e que solidão para ele não era um problema), e quem sabe, angustiado por minha culpa. Abafei um gemido e voltei para a cama. Não tinha o direito de pensar que ele ainda gostava de mim.

Tentei pegar no sono e não pensar mais em histórias de amor com finais infelizes, já bastava a minha história. Afinal, ela era bem mais complicada. Meu homem agora era um pirata com obrigações, e eu, uma mãe desolada em uma ilha. Eu o amava, era verdade, mas ao mesmo tempo eu penso como seria minha vida se eu tivesse escolhido não estar com ele.

Não tenho certeza se as pessoas deveriam me culpar.

O sono venceu-me por fim. A minha mente ficou escura e em algum momento, senti uma mão gélida acariciar a minha face. E pela primeira vez, quer fosse sonho ou realidade, desejei que em vez de Will, tivesse dois braços fortes e quentes abraçando-me, e sentir tranças compridas tocar meu braço, me protegendo do mundo real, dos problemas e das dúvidas. Desejei que Jack Sparrow tivesse me abraçando. Mas era Henry.

Henry deitou-se ao meu lado, e sussurrou um singelo: “Desculpa por fazer você se preocupar tanto, mamãe”. E como eu era um cisne frágil, derreti-me à súplica do meu filho. Abracei-o fortemente, despejando todos os meus medos do dia de amanhã. Por uma fração de segundo, pensei em meu pai, e, aquela mulher forte que todos conheciam, desmontou-se. Voltei ao tempo em que eu era a criança imatura que não conhecia o mar. Meu pai me embalava em suas asas protetoras, até o meu medo esvair-se. Naquela noite, Henry era o meu pai, e eu, sua frágil criança.

Enquanto estávamos abraçados, sussurrei um: “Eu te amo”. Mas eu não sabia direito se era exclusivamente para ele.

Eu não deveria tirar meus olhos do horizonte.


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