Desde o dia em que conheceu Takeuchi Izuru na cafeteria, Kagome passou a frequentá-la muito mais do que deveria. Ela não passava por lá só na pausa para o café, como também antes e depois do expediente. Ela simplesmente não conseguia se conter.

Sabia que aquilo estava irritando o rapaz, que estava apenas exercendo sua responsabilidade como um cidadão respeitável de Tóquio, ou pelo menos tentava ser já que seu humor e seu cabelo platinado não o ajudavam, mas ela precisava conhecê-lo melhor. Precisava saber mais sobre ele, concluir por si mesma que aquele não era, definitivamente, o Inuyasha que conheceu na Era Feudal.

O problema era que quanto mais o conhecia, mais tinha certeza de que aquele rapaz poderia realmente ser algum tipo de reencarnação do meio-youkai.

— Então... Você disse que seu nome era Kagome, certo? – perguntava o rapaz. Este já havia finalizado o café que havia pedido quando aceitou o convite da moça de sentar-se junto com ela, após o seu turno terminar. Estava com o mesmo moletom vermelho de quando fora perseguido pela mesma.

— Sim, isso mesmo. – respondeu. Tinha um copo de chocolate quente pela metade entre as mãos.

— Nem um pouco feminino... – comentou baixinho, mas ela acabou ouvindo.

— Falou o cara que tem o nome mais feminino que o meu.

— Esse nome não tem gênero! – falou ele um pouco mais algo do que o normal, fechando o punho sobre a mesa. – Que droga, todo mundo diz a mesma coisa sobre o meu nome! É por isso que assim que tiver dinheiro suficiente eu vou mudá-lo!

Pronto, esse também tinha algo em si mesmo que queria mudar.

— Por quê? É um nome bonito. Você não deveria mudá-lo, ele faz parte de você e de quem você é.

— Keh! Você estava tirando sarro dele até segundos atrás. Além de stalker você tem essas oscilações de humor?

— Já disse que não sou stalker! – agora foi sua vez de erguer o tom da voz, porém, logo abaixou o rosto, tentando disfarçar seu constrangimento – É só que... Você me lembra alguém.

— Por acaso é um ex-namorado que te deu um chute?

— Nossa, você consegue ser bem irritante... Bem típico. – terminou, bebericando um gole do seu chocolate quente.

— Olha, menina. – começou, levantando-se da mesa e jogando sua mochila nas costas – Eu não posso ficar perdendo tempo com você aqui, tenho coisas para fazer em minha casa, então, eu vou indo. – terminou, seguindo até a saída.

— Ei, espera! Não vá! Eu... Eu só... Espera!

Izuru saiu finalmente do estabelecimento, deixando Kagome para trás. Nesse ponto, ela já havia se levantado da mesa, e observado, parada feito uma estátua, o rapaz sumir. Só então Kagome notou que todos os outros clientes estavam lhe encarando, e pôde até ouvir alguns comentários maldosos sobre ela ter “levado um fora” do funcionário da cafeteria.

Seu rosto ferveu em segundos. Além do constrangimento, acabou passando uma ideia ruim às pessoas ao redor. Aquilo não iria ficar assim.

Deixando seu chocolate quente de lado, Kagome saiu a passos apressados da cafeteria, querendo alcançar o rapaz. Conseguiu avistá-lo no fim da rua, mas não conseguiria alcançá-lo se virasse a mesma esquina da outra vez, então respirou bem fundo antes de gritar o que qualquer pessoa em Tóquio provavelmente gritaria à outra que precisa, a todo custo, alcançar.

— SENTA!!!

Izuru paralisou no exato momento, sentindo um arrepio subir por sua espinha. Talvez até tenha suado frio. Não entendeu exatamente por que aquilo o apavorou. Respirou fundo ao ver que estava tudo bem consigo mesmo, suspirou impaciente logo em seguida ao ver que aquela garota se aproximar.

— Quem você pensa que é para falar comigo daquele jeito? – Kagome aproximou-se já tirando satisfações com o sujeito.

— E por que eu deveria sequer estar falando com você? Já te disse que não te conheço! O problema não é meu se eu me pareço com seu ex-namorado idiota!

— Já disse que não é nada disso!

— Então o que é, Kagome? Me diz para que eu possa resolver isso de uma vez e você finalmente parar de me perturbar!

— Eu... Você não entende mesmo, não é? Você nunca entende! Que droga! Droga!

Kagome virou-se e saiu correndo dali, limpando as poucas lágrimas que decidiram cair por conta própria. Izuru estava confuso, não tinha feito nada para fazê-la chorar. Não disse nada demais, só queria que ela o deixasse em paz.

— Menina idiota...

Izuru virou a esquina e seguiu, finalmente, seu caminho para casa. Talvez agora tivesse o sossego que tanto havia implorado para aquela maluca.