Aqui sentado na poltrona de veludo vermelha que ela escolheu na loja de móveis quando reformávamos nossa casa, posso apreciar uma grande parte de Seul, e suas luzes fluorescentes acesas nesta hora da madrugada — onde os adolescentes aproveitam para ir aos bares e baladas e encherem a cara com bebida — não os culpo, eu fazia a mesma coisa quando tiveras sua idade. Ventava forte, e as cortinas cinza da sala estavam me atrapalhando. As folhas das plantas que ela havia cuidado por tanto tempo, já se desprendiam e voavam para longe.

Tudo era tão iluminado. Cores diversas se espalhavam pelo horizonte, se destacando em contrapartida com a luz emitida pela lua cheia desta noite. As estrelas também nunca ficaram tão intensas como estão. Ficara do mesmo modo que naquele dia, era como se tudo tivesse acontecido ontem mesmo. Seus cabelos negros, ficavam com um brilho azul intenso graças a luz noturna que tocava os fios.

Lembro-me do seu sorriso na noite em que a conheci. Eu também estava indo para a balada — como os jovens que citei faziam neste momento — junto dos meus melhores amigos Park Yugyeom e Kim Yong-sun. O segurança nos barrou, éramos menores de idade aquela época. Kim ficou indignado por não entrar, queria esquecer que não tinha ido tão bem na prova que fizeras no colégio de manhã.

Nossos sentimentos de desgosto são rapidamente cortados por uma música que tocava ao fundo, e aos poucos ia tocando-me no peito. Desvio meu olhar para a direção que o som vinha. A garota dos cabelos negros ganhou meu coração naquele pequeno instante que os meus olhos tocaram os seus. Os movimentos que seus lábios faziam ao cantar era como hipnose para mim. Nunca vou me esquecer daquela música e de suas palavras.

"Você pode sentir isso? Nós estamos conectados

Como por um fio invisível, esses corações transparentes ..."

Era mesmo aquilo que eu sentia. Meu coração havia se conectado ao dela na primeira vez que a vi. Pode parecer loucura para muitos, mas minha caixa torácica era esmurrada pelos meus batimentos acelerados. Sua voz era tão doce, e eu não conseguia parar de ouvir aquela música que se encaixava tanto em suas cordas vocais...

"As belas palavras que você deixou para trás

Se tornam um poema, se tornam uma canção..."

Suas palavras. Todas elas. O tempo que passamos juntos. Tudo isso virou um poema que se construía pouco a pouco dentro de mim. Suas manias de me levar café todas as manhãs na cama, ou a de fingir que estava chorando só para que ganhasse um cafuné em seus cabelos. Nosso primeiro beijo naquele dia de chuva, depois que criei coragem para pedir seu número de celular.

"Eu te envolvo tão precioso em meus braços

Quero preencher as páginas desta história inacabada

Preenchê-la juntos até o final..."

Sim meu amor. Eu te segurava quando você queria brinca de subir no alto dos morros, nunca te soltaria, nem que uma corda estivesse me enforcando, jamais te deixaria só.

Na verdade, você me deixou só.

Sabia que não deveria ter bebido tanto. Não enxergava nada em minha frente. Você ainda teve tempo de segurar firme em minha mão que tentava puxar o freio de mão sem sucesso, e disse que me amava e nunca isso mudaria. Os paramédicos te levaram coberta com um lençol branco, mas eu pude ver suas mãos ensanguentadas se afastando cada vez mais de mim. A sirene foi ligada e a ambulância dizia adeus aos meus olhos, você dizia também...

Agora estou aqui. Não mais sentado na poltrona de veludo vermelha que você escolheu na loja de móveis quando reformávamos nossa casa. Estou de pé, na varanda com cercado de vidro, olhando as luzes fluorescentes de Seul. O nosso porta-retratos emoldurado com pequenos ramos dourados, já estava estilhaçado no chão, não contive minha raiva quando não te encontrei em casa...

Como a primeira música que você tocou aquela noite em que não pudemos entrar na balada dizia: Quero preencher as páginas desta história inacabada...

Sim meu amor, me espere. Em breve vou te encontrar e irei preenche-las... Até o fim.