As Prattis escrita por fdar86


Capítulo 34
[Capítulo 33]




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Jéssica batia insistente em uma das portas do conhecido corredor que dava acesso aos aposentos do casarão. Depois de alguns instantes, ouvira um barulho lá dentro, seguido do som da maçaneta e a porta se abrindo, para uma confusa Gabriela aparecer, com a roupa recém posta e cabelos ainda molhados, sendo enxugados naquele momento pela toalha que sustentava em sua mão direita.

Sem pedir permissão, a jovem invadira o quarto, e Gabriela estranhara a visível tensão da jovem. Porém, antes que pudesse perguntar alguma coisa, Jéssica começara o discurso:

— Gabi, eu preciso de sua ajuda. Não sei o que fazer, aconteceu uma coisa ontem, e agora Angelina está na sala esperando a Mônica e. . . Eu não queria isso, mas concordo que não tem outra saída, então... - A mais nova dissera com a voz mais esganiçada que o costume, e em ritmo acelerado evidenciando seu nervosismo e a preocupação do momento. Gabriela a observava em legitima confusão.

— O que foi que aconteceu? O que tem a Mônica? Não estou entendendo nada.

— Angel decidiu contar a Mônica o que está acontecendo entre nós. – Explicara, gerando um silêncio de pesar por parte de Gabriela. O medo do que estaria para acontecer caso aquela informação lhe fosse revelada apenas aumentava dentro do seu coração. – Foi tudo culpa de Henrique, ele nos pegou, e aí estragou tudo. Por isso eu sempre odiei esse rapaz! Ele não vale nada...

— Espera, o que? - Perguntou a mais velha, interrompendo a jovem ao dar-se conta das poucas palavras que conseguira compreender, já que ainda estavam sendo expelidas de forma impacientes e apressadas, o que prejudicava por completo a absorção das informações recebidas. – Henrique pegou vocês? Fazendo o que?

— Nos beijando... - Dera uma pequena pausa pedindo internamente por coragem, e sentida por decepciona-la não cumprindo o único pedido que teria recebido da irmã biológica. - No parque.

— Em público? Meu deus, Jéssica! No que vocês estavam pensando? - Perguntou chocada, recebendo um revirar de olhos aflito da mais nova como resposta.

— Foi sem pensar.

— Um ato inconsequente desse pode destruir nossa família. - Disse, transparecendo sua mágoa, e Jéssica reagira de imediato àquela dolorosa verdade. E naquele momento o risco mostrava-se mais próximo do que nunca. - Nós combinamos que eu tentaria preparar Mônica para receber a notícia primeiro.

— Me desculpa. Eu sei como vocês são próximas. Como ela é importante pra você. Não queria fazer nada que pudesse afetar a relação de vocês. Mas aconteceu. A gente se ama, e não temos como mudar isso.

Gabriela suspirara pesadamente, em crescente desânimo, mas reagira em seguida.

— Bom, não adianta pensar nisso agora. O que precisamos fazer é pensar em como contornar os danos. Vamos até a sala logo, porque é melhor que eu esteja presente quando a verdade vier a tona.

 


Estavam caminhando pelos corredores quando escutaram alto tons de vozes evidenciando uma calorosa discussão. Adiantaram-se enquanto podiam ouvir as palavras soarem cada vez mais próximas.

— Eu a amo!

— Mas é lógico que você a ama, vocês são irmãs!

— Não falo desse tipo de amor. Nunca considerei a Jéssica minha irmã, Mônica. Acho que no fundo eu sempre soube que havia algo entre nós, mas eu---

— Que absurdo é esse que você está dizendo? Angelina, que pecado é esse que vocês---... - Fez-se um instante de silêncio petrificante que Gabriela conseguira imaginar em sua mente Mônica fazendo um gesto de mãos que sempre fazia quando era contrariada e rejeita o argumento do outro. - Não, você não sabe o que está dizendo. Meu Deus, perdoa ela pelo engano de suas palavras.

— Não é engano nenhum, Mônica. Nós estamos namorando há 2 meses!

— Mônica, não! - Gabriela gritou, passando pela porta no exato momento em que um agudo estalo soava pelo ambiente. Jéssica a acompanhara, vindo logo atrás.

Em questão de segundos, ambas correram na direção das duas irmãs, e enquanto Gabriela gritara firme atraindo a atenção de Mônica – que ainda estava consternada –, e segurara a mão da mais velha reativamente, Jessica puxara
Angelina um pouco para trás, em instinto de proteção.

— O que você pensa que está fazendo? Não fomos criadas assim, por Deus!

Assustada com a fúria de intolerância que apossara-se de ti, Mônica se afastou, trêmula, e só então notara a marca da violência na face de Angelina, evidenciada na recente vermelhidão.

Preocupada, Jessica segurara na mão de Angelina, e sussurrara algo que parecera ser um “Você está bem?”, e Mônica as observava sem reação, ainda horrorizada pela verdade que teria sido revelada, mas acima de tudo, em choque pelo próprio comportamento de chegar a machucar a irmã.

Nesse momento, Luísa passara pela porta sem perceber o que estaria acontecendo.

— Eu vim assim que recebi sua mensagem, Jés. O que hou---? - Parou o discurso no meio, ao notar as faces de suas irmãs, biológicas e de criação, reparando finalmente na perplexidade de Mônica e como o casal parecia assustado, além do fato de estarem de mãos dadas.

Compreendera, simplesmente. A maior bomba que a família haveria de enfrentar teria sido revelada. O que ainda não tinha acontecido em nenhuma das gerações anteriores da tradicional linhagem Prattis, acontecera na nova geração com a caçula da família, e agora Mônica teria que aprender a lidar com isso. Ou não, e a julgar pelas caras que via à sua frente, a revelação já teria sido uma catástrofe completa.

Consciente do que estaria em jogo, e da necessidade de posicionamento em caso de haver uma fragmentação de opiniões, Luísa se aproximara do casal em silêncio, e acariciara o ombro de Jéssica como sinal de suporte, recebendo um olhar emocionado da irmã de criação.

Fora o momento em que Mônica compreendeu. O olhar desconfiado de Luísa ao entrar, sua atitude seguinte, a troca de olhares, cada detalhe servira para transparecer que ela já sabia de tudo. E considerando o fato de Jéssica ter trazido Gabriela para sala, em visível defesa das duas, era evidente que ambas sabiam sobre aquele... relacionamento... – concluíra o pensamento, depois de considerar uma palavra que lhe parecesse menos ofensiva para descrever o comportamento depravado de Angelina e Jéssica.

Sem condições de dizer mais nada naquele momento de desgosto devastador, e ainda arrependida pelo comportamento violento, a mais velha simplesmente dirigira-se até o quarto e trancou-se lá para uma boa dosagem de orações para pedir perdão a Deus pela perversão das jovens, mas também pelos próprios atos.

 


Meia hora se passou. Luísa ainda consolava o casal, especialmente Angelina que chorava muito, lembrando do forte tapa que teria recebido. Enquanto isso, Gabriela permanecia na porta do quarto de Mônica tentando contato. Batera na porta, mandara mensagens, mas Mônica não abria a porta, e não a respondia.

Depois de muito insistir e esperar em vão, ela perdeu a paciência e ameaçara abrir a porta se não tivesse uma resposta. Continuado o silêncio, ela cumprira a promessa, abrindo-a e adentrara o recinto.

Mônica estava no chão, no canto do quarto à direita da cama, perto de onde localizava-se a porta do banheiro privativo da suíte, sentada com muitos rosários e bíblia seguros na sua mão. Com as pernas apoiadas no chão, a mais velha tinha as mãos unidas em forma de oração, e os olhos fechados transparecendo sua concentração.

A mais velha rezava suas orações repetidamente, em voz baixa, evidenciando uma clara autopunição, enquanto pedia em pensamento paciência, perdão e a ajuda de Deus para recuperar sua família que agora lhe parecia corrompida e arruinada.

— Me deixe sozinha. Por favor - Disse, ainda de olhos fechados, ao notar o som de movimento à sua frente, mas fora completamente ignorada pela mais velha Lopes, que ao invés de ouvi-la, sentara do seu lado, no chão.

Em silêncio, Gabriela esticara sua mão, e tocara em um dos rosários que estavam na mão de Mônica, e sentindo o toque, a mais velha finalmente a olhara. Permaneceram entreolhando-se por alguns instantes, até que Gabriela puxara um rosário das mãos da Prattis e ajustara em suas próprias mãos.

Gabriela sabia que Mônica não estava pronta para interagir, e ali permaneceria até que fosse possível conversarem. Temia o que poderia estar passando pela mente da mais velha naquele momento, mas ainda assim, sentia que precisava ajuda-la. Mônica parecera compreender a atitude amorosa e sorrateira, pois não colocara impedimentos, e ainda parecera apreciar o gesto da outra.

De olhos fechados, elas rezaram juntas, e embora fossem motivos de orações e preocupações essencialmente diferentes, o desejo final traduzia-se no mesmo, na restauração da harmonia familiar perdida.

 


— Eu vou entender se você quiser que a gente saia da casa. - Dissera, quarenta minutos depois, quando finalmente o clima parecera ter melhorado e Mônica guardara os rosários de volta à cabeceira da cama. Surpresa, a mais velha Prattis encarara Gabriela.

— Por que eu iria querer isso? Essa casa é tão de vocês quanto minha.

— Você sabe que isso não é verdade, Mônica. - A tensão em seus ombros mostraram o desconforto que Gabriela possuía em falar sobre aquele assunto, e Mônica fora capaz de sentir cada emoção e pensamento exposto naquelas palavras, e a encarara sentida.

— Acho que a culpa disso é minha por não ter te contado a verdade. - Falara, recebendo um olhar completamente aturdido de Gabriela, que observara Mônica abrir a mesma gaveta onde guardava os rosários e sua bíblia, e retirar uma pasta de papelão, descolorida e manchada pelo tempo. Entregara a Gabriela que abrira o elástico sem entender. Logo que lera os primeiros parágrafos compreendera do que se tratava, mas ainda folheara as páginas em íntima necessidade de confirmação, até chegar na última folha, onde avistara a assinatura de sua mãe Maria Celeste Lopes, ao lado da de Aparecida Toledo Prattis.

— Meu deus! - Exclamou Gabriela sentindo o coração ir para a boca, embargando-se pela emoção do que estaria lendo. Mônica sorriu, e repousara a pasta no chão, para tocar nas mãos da mais velha Lopes em seguida, em um gesto tranquilizador.

— Essa casa é tão sua quanto minha. Antes de minha mãe falecer, ela fez questão de garantir isso, acrescentando o nome da tia Celeste no contrato e escritura da casa. Dessa forma, vocês são herdeiras da casa, como nós somos. Sua mãe era a guardiã legal desse documento, segundo o estipulado no testamento de minha mãe, e pouco antes de falecer, deixou isso aos meus cuidados.

— Mas... Por que... Ela não... Como eu não sabia de nada? - Tentou falar, embora o estado de intensa perplexidade não ajudasse, mas Mônica compreendera o que a outra estaria pensando, e continuara a explicação.

— Eu perguntei a ela uma vez, porque ela mantinha isso em segredo, e ela me respondeu que não queria que vocês cometessem o mesmo erro que o pai de vocês, se deixar levar por uma ambição desmedida que pudesse levar à ruína da família.

Os olhos de Gabriela lacrimejavam intensamente à medida que ela entendia o pensamento de sua mãe. Maria Celeste queria que a união das jovens fossem consolidadas pelo tempo e amor que as unia, sem interferências externas e disputas que envolvessem dinheiro ou colocassem em cheque a paz daquele amoroso território familiar.

Isso levara Gabriela a recordar o doloroso momento após Aparecida falecer, que embora tivesse sido um período muito triste, Gabriela e Jéssica teriam recebido uma enorme quantia de dinheiro, que teria sido estipulada no testamento da matriarca Prattis, dando às jovens Lopes e Prattis um confortável fundo de garantia – que as mais novas apenas teriam acesso após completar a faculdade –, que deveriam ajuda-las pelo resto de suas vidas, se fossem bem administrados.

— Vocês nunca foram visitas nessa casa, Gabriela. E eu não fazia ideia que você pudesse pensar isso. Sinto que falhei com... - Mônica tentara explicar-se, transparecendo preocupação pelos possíveis receios de Gabriela, mas a mais nova fora mais rápida, e a interrompera puxando-a para um forte abraço.

O rosto de Gabriela estavam cada vez mais úmidos, e a lâmpada do quarto já faziam brilhar em seu rosto as lágrimas derramadas, e Mônica, carinhosa, dera um suave beijo no rosto molhado da irmã de consideração. Confortada pelo abraço, Gabriela finalmente admitira seus pensamentos à mais velha.

— Eu nunca senti. Aí que está. Eu só tinha muito medo de alguma coisa destruir nosso vínculo, Mônica. Nos afastar. E eu passar a me sentir intrusa aqui, e precisar ir embora, deixar você. Você é a irmã mais velha que eu nunca tive. Você é minha melhor amiga. Minha família. E não preciso de genética pra determinar disso. Eu amo você.

Mônica segurara as mãos da outra, sentindo uma lágrima descer inevitável pelos seus olhos, emocionados pela declaração emotiva que recebera.

— Eu também amo você, e isso nunca vai mudar. - Uma longa pausa se fez presente enquanto ambas se entreolharam como se lembrassem o que estariam fazendo ali em primeiro lugar. Aquela companhia lhes apresentavam um ambiente tão íntimo e seguro, que as duas mulheres até esqueceram a fatídica polêmica que as teriam trazido àquele momento. – Mas nós precisamos conversar sobre o que estava acontecendo nas minhas costas esse tempo todo.

Em íntimo assentimento, Gabriela sentira-se invadir de intensa pressão sobre os seus ombros, mais uma vez, e dera um forte suspiro em reação involuntária.


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