As Prattis escrita por fdar86


Capítulo 32
[Capítulo 31]




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Angelina e Jéssica teriam marcado de se encontrar no parque, após as aulas. Já tinham mais que 2 meses de namoro, desconsiderando a semana do término.

De frente para o lago, Angelina a esperou sentada, admirando a paisagem. Só depois de alguns minutos, sentira um par de mãos macias tapando seus olhos, e o floral familiar confundira seus sentidos.

Recebera um beijo no rosto, enquanto tentava se recompor dos efeitos extasiantes daquela essência que tanto a atraía. Finalmente abriu os olhos e virou-se na direção de uma Jéssica sorridente que possuía algo escondido nas mãos.

— Eu trouxe algo pra você. - Dissera, levantando a mão deixando em evidência uma pequena caixinha de couro preto, que Angelina encarou curiosa. Seria uma joia? - Nós passamos por muitas coisas nesses últimos dois meses, e por causa disso eu acabei não entregando isso... Eu comprei quando fui em Águia do Rio Branco com a Luísa, para comemorar o nosso primeiro mês de namoro. Estava esperando o momento certo para entregar, e aí terminamos, e depois eu perdi a coragem, mas hoje eu cheguei a conclusão que o momento é a gente que faz. E eu quero te dar isso.

Angelina a encarou sem palavras. Não apenas pelo presente, mas por tudo o que aquilo significava pra ela, e pensara no tempo que Jéssica estaria completando com aquilo em suas mãos. A emoção tomava conta de sua face, e ela então sentira-se dominar por um estado entorpecedor que a paralisara. Apenas conseguira acompanhar as ações da mais velha que abrira a caixa que tinha nas mãos, e retirara de dentro um pequeno objeto reluzente que logo fora entregue em suas mãos imobilizadas.

Os olhos marejaram a medida que ela podia ler o que tinha escrito no objeto que notara ser uma linda pulseira dupla, confeccionado em ouro rosé. Possuía uma liga especial onde sustentava-se uma pequena pedrinha quartzo de cor rosa claro, e a outra via que destacava-se o símbolo de infinito da mesma cor. Por fim, notara a personalização em forma de declaração com as iniciais “J ♡ A”, na parte de trás.

De repente, sentira o suave toque de Jéssica, que agora colocava o presente no braço direito da mais nova, que teria sido estendido sem Angelina sequer perceber o próprio movimento. Aquilo tudo era tão novo e tocante para a jovem, que seria algo indescritível para colocar-se em palavras. Jamais teria recebido um presente tão delicado, ou doce, e aquilo lhe garantira esse momento de silêncio enternecedor, involuntário ao intenso torpor que a afligia.

Passado alguns instantes, e ainda olhando aérea para a pulseira agora fixada em seu pulso, Angelina enfim compreendera porque sentira-se tão bizarra àquela experiência. Jamais teria se sentido tão vulnerável à alguém como sentira naquele momento, mas acima de tudo, naquela presença. Invadira-se de uma legítima sensação de sorte e felicidade por Deus ter providenciado àquele encontro, e facilitado a ela à oportunidade de encontrar sua alma gêmea.

Compartilhara aquele momento de íntima fragilidade com a melhor pessoa que poderia pensar. A única pessoa que teria escolhido para amar. Aquela com quem já teria atingido todos os níveis de intimidades que se é possível conquistar na vida.

— Eu escolhi essa pulseira porque a vendedora disse que a pedra quartzo rosa incentiva o amor e regula as energias emocionais tendo um efeito calmante para enfrentar as adversidades. E é isso que eu...

Finalmente recompondo-se de seu episódio de entorpecência aguda, e sem pensar nas consequências, Angelina interrompeu a garota com um público e surpreendente beijo nos lábios, mas o momento foi interrompido de imediato com um baixo som de algo se quebrando atrás delas.

Olharam assustadas para a origem do barulho, e logo deram-se conta do jovem rapaz abençoado de aparência familiar que estaria ali em pé, parado, observando-as, e teria pisado sobre um galho seco que encontrava-se na grama.

— Henrique... meu deus. – Balbuciou Angelina, com a voz estranhamente tremida, logo que recobrara a consciência. Jéssica, preocupada com o nervoso súbito da namorada, pegara em sua mão.

— Quer dizer que eu estou interrompendo o novo e mais polêmico casal de Catedral do Norte? - Dissera, em ironia, aplaudindo as duas que agora evidenciavam uma instantânea palidez na pele. - Agora tudo faz sentido... Tudo.

— Não, você não entendeu, não é isso, nós vamos explicar a você... É uma... – Em um ato involuntário ao agudo medo que a aterrorizava por aquele flagrante, Angelina iniciara uma bizarra (e desnecessária) tentativa de explicação, mas fora interrompida por Jéssica que sussurrara na sua direção:

— Angel, ele viu a gente se beijando, o que você ainda acha que pode ser explicado nesse caso? - Disse, fazendo gestos com a cabeça para que a mais nova interrompesse sua tentativa em vão, e Angelina suspirou pesado em concordância.

— Há muito tempo que eu desconfiava da natureza da relação de vocês. Confesso que não estou tão surpreso em finalmente ter essa certa. Eu só não podia acreditar... Sabe que o mais irônico nisso tudo é a Mônica, que não sabe como é hipócrita, pregando uma falsa imagem familiar tradicional que não existe, e julgando os outros como bem entende, sem nem imaginar que a irmã caçula está comendo a rameira Lopes.

Jéssica movimentou-se na direção do rapaz enfurecida, mas Angelina a segurou, acalmando-a, e imediatamente reagira em sua defesa:

— Não fale dela assim! - Gritou, com o tom de voz firme e exasperado, ainda sustentando o braço de Jéssica que mantinha-se tentando fugir para encara-lo. - E não seja vulgar.

— Eu sou vulgar? Terminamos há 3 meses e você já está se agarrando com outra pessoa no parque.

— Não seja ridículo, Henrique. Com uma semana de término você estava se agarrando com uma qualquer na missa de sétimo dia da ex-primeira dama. - Retrucou Jéssica, cada vez mais irritada com a hipocrisia machista do rapaz, e Angelina, preocupada com o que poderia acontecer naquele embate, se aproximara do seu ouvido, e pedira, em um tom de voz baixo:

— Jes, por favor vá embora. Me deixa sozinha com Henrique.

— O que? Te deixar sozinha com ele? Não, de jeito nenhum. E se ele fizer alguma coisa a você? - Desesperara-se em acentuada preocupação. Não poderia deixa-la sozinha naquele momento. Nem mesmo confiava na integridade daquele rapaz. Suas palavras foram pronunciadas em alto e bom som, portanto escutadas por Henrique que estava pouco mais à frente.

— Eu conheço Henrique e ele não seria capaz de me machucar. - Afirmou com a voz suave, tentando transmitir a segurança que Jéssica precisava ouvir naquele momento.

— Isso, Jéssica. - Interrompera o casal, com uma concordância desnecessária, claramente para provocar a mais velha, que o encarou com a expressão raivosa. - Pode ir embora. Eu jamais bateria em uma mulher, não faz o meu feitio.

— Está vendo? Ele não fará nada comigo. – Repetira, inicialmente no mesmo tom do rapaz, mas logo sussurrara discreta aproximando-se do ouvido da outra para que não fosse escutado por ele: - Eu lido melhor com ele sozinha. Vá, amor. Por favor. Eu ficarei bem.

Instantes de raciocínio depois, e completamente contra a própria vontade, Jéssica acatara o pedido da namorada, e dera um beijo no seu rosto em despedida, passando ao lado de Henrique em seguida, ainda o encarando feio.

— Se eu souber que você tocou um simples dedo nela sem devida autorização, eu acabo com sua imagem nessa cidade. - Ameaçara, recebendo um gesto de paz do rapaz que assim que a viu sair de vista, girou sua atenção para Angelina.

— Bem protetora ela, né? - Dissera, soando irônico aos ouvidos de Angelina, que impaciente, decidira cortar as brincadeiras do rapaz de uma vez por todas.

— Já chega de ironias, Henrique. Nós estamos sozinhos agora e vamos conversar como adultos pra variar.

Alguns minutos se passaram. Jéssica não conseguira ir embora, preocupada com o que poderia acontecer a Angelina, então retornara ao parque e ficara distante, mas à espreita, para caso alguma discussão ocorresse e ela precisasse intervir. Contudo, o clima ruim logo cessou, e os ex-namorados sentaram pacificamente na grama observando a bela paisagem do lago.

— Você não acha estranho estar romanticamente envolvida por uma irmã?

— Jéssica não é minha irmã de verdade. – Respondera dando ombros. Mas entendia o que ele queria dizer, e imediatamente imaginara a continuação que viria a seguir. - Você mesmo sempre chamou ela de bastarda... E confesso que isso me irritava bastante.

— Eu sei, mas quando digo irmã me refiro ao fato que ela foi criada na sua casa, frequentando seu quarto, dividindo banheiro. Não acha isso estranho? - Explicara, gerando na outra um inevitável suspiro tenso.

— Se você quer saber a verdade, às vezes me parece um pouco estranho sim. E às vezes me assusta. Mas aí eu olho pra ela, e eu sinto um click. Percebo que tudo faz sentido e que eu não poderia estar em melhor companhia.

Angelina observou Henrique que olhava para o nada, e simplesmente rendera-se ao desconfortável silêncio que acompanhava aquele momento.

— Aconteceu, Henrique. Eu não escolhi e nem esperei que fosse sentir isso algum dia, mas eu sinto, e não posso evitar.

— É sério, então? Vocês? - Indagou o rapaz, olhando-a pela primeira vez há vários minutos.

— Eu nunca senti por ninguém o que sinto por ela, Henrique. Nem mesmo por você.

A pesada respiração reativo àquelas dolorosas palavras se fez presente, e o rapaz levantou-se de repente.

— Por favor, Henrique. Não conta isso a ninguém. Não está sendo fácil lidar com a Mônica no momento... Não fala esse assunto com ninguém. Promete pra mim? Por favor... - Falara em tom de súplica, que fizera o rapaz prender a respiração por um momento, ligeiramente exasperado.

— Não posso prometer nada a você nesse momento... na verdade, eu só quero ir pra casa e absorver tudo isso. - Disse virando-se de costas para Angelina que tocara no seu braço impedindo sua saída, obtendo novamente o olhar do rapaz que agora transparecia melancolia.

— Por favor, Henrique, isso é muito importante. Se algum dia eu fui importante pra você, faça isso por mim.

Instantes de silêncio depois, o rapaz finalmente considerou.

— A única promessa que posso te fazer nesse momento é que não direi nada a ninguém até amanhã. Vou terminar de absorver tudo isso, e então nos encontraremos novamente, e te direi o que decidi fazer.

O rapaz foi embora, à passos largos e determinados, e Angelina fechou os olhos na direção do lago, sentindo o desespero tomar conta de si. Henrique saber da relação delas era um risco que as duas não estavam em condição de correr. Não até Mônica saber de tudo. Era imprevisível o que ele faria naquela situação, e de repente ela se vira nas mãos da boa vontade dele.

~~~~~~~~~~~~~
Horas mais tarde

Já passavam de 22h e Angelina e Jéssica estavam no quarto vendo – melhor dizer, tentando ver – um filme juntas. A mais nova estava deitada no colo da mais velha que mantinha-se sentada, recostada por travesseiros posicionados contra à estrutura da cama.

A tensão do inevitável se fazia presente, mesmo que sem querer. O incômodo aterrador de não saberem o que aconteceria amanhã. Estavam nas mãos de Henrique, e isso para Jéssica – que junto com Mônica sempre ouviram coisas ruins a respeito do rapaz e duvidaram do seu caráter –, era prenúncio de dias dolorosos.

— Você acha que Henrique vai cumprir a promessa de não contar pra ninguém até falar com você? - Perguntou a mais nova, após dar um pause no filme e receber de Angelina um olhar de incompreensão e surpresa.

— Não sei. – Respondera, com a voz soando mais rouca do que pretendia. – Espero que sim... Mas a cada dia que eu o vejo, ele parece tão diferente, então nem sei o que pensar.

Jéssica deu um riso irônico, que atraiu a atenção da mais nova imediatamente.

— Que ? - Perguntara, olhando pra cima e rendendo-se a rir também sem nem mesmo saber o motivo.

— Você sabe que isso não é verdade. Não é que ele esteja diferente, você que nunca o conheceu direito. - Explicou Jéssica, estimulando um movimento de cabeça de descrédito, em sequência. - Você conhecia a imagem irrealista que você criou dele, não o que ele era realmente. E a distância entre vocês apenas está amplificando a percepção dessa diferença.

— Não acho que isso seja verdade. Isso significaria o que... que com você é assim também? Eu amo uma imagem que fiz de você, e não você realmente?

— Claro que não. Comigo não. Nossa relação é diferente em todos os aspectos. – Disse, tencionando os olhos como se estivesse se concentrando em dar a melhor resposta e Angelina sorriu, mordendo o lábio inferior.

E antes de concluir o pensamento, Jes colocara um travesseiro para apoiar a cabeça de Angelina, enquanto posicionava-se na cama ao seu lado:

— Inclusive eu acho que você me conhece mais do que ninguém.

Angelina sorrira radiante, sem imaginar como seus olhos mostravam-se cintilantes para Jéssica que a fitava intensamente.

— Ah, é? Prova.

Fora a vez de Jéssica sorrir, e lançar-se para um longo beijo, enquanto sentia as mãos de Angelina apossando-se de sua pele, em toques que deslizavam em suas costas por vezes suaves, e por vezes ousados, invadindo-a por debaixo da camisa e desafivelando o sutiã.

Logo, a mais nova sentira o beijo se estender pelo pescoço, destemido, descendo pelo seu corpo, incitado por aquele desejo arrebatador, que elas compartilhavam em profundo deleite daquele contato físico.


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