As Prattis escrita por fdar86


Capítulo 25
[Capítulo 24]




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Passaram-se algumas horas do flagrante, e Jéssica tentara em vão falar com Angelina, que esforçara-se em evita-la por todo o dia. Saíra mais cedo de casa, e passara horas na biblioteca da faculdade aproveitando a necessidade que sentira de esconder-se para ler.

Depois do que acontecera com Gabriela pela manhã, a realidade lhe parecera mais cruel do que nunca. Tornara-se um bruto choque de realidade do tanto que tinham a perder, considerando todos os riscos que elas enfrentavam para estarem juntas. Primeiro foram flagradas pela Luísa, agora Gabriela, a primeira recebeu numa boa a novidade, mas e a outra, como procederia? Contaria a Mônica?

Aquilo tudo a atingira negativamente, conforme fora relembrada continuamente do tudo que Jéssica traduzia em sua vida. Não era apenas sua namorada que estaria arriscando perder, era sua melhor amiga, sua família, alguém que vivi em sua casa, e que fora criada ao seu lado como uma irmã – mas que mesmo contra todas as expectativas e dogmas familiares, ambas se apaixonaram arrebatadoramente.

 

—_________

Já era de tardinha, quando finalmente Jéssica recebera um aviso para encontra-la no lugar de sempre. Sem pensar duas vezes, fora até o estábulo e tomara o seu cavalo favorito, saindo em disparada pela estrada atalho à caminho do parque.

Minutos depois finalmente chegara ao destino, e pôde ver Angelina sentada na grama, de frente ao lago, observando a linda paisagem de pôr do sol que se formava no céu, com uma forte luz alaranjada refletindo-se nas pacíficas ondinhas da água. Ágil, escalara para descer do cavalo e prendera-o na árvore mais próxima.

A jovem aproximara-se da namorada, que a olhara de canto de olho, e em seguida desviara a atenção, parecendo pensativa. Sentara ao seu lado, e dera-lhe um beijo no rosto em cumprimento, mas logo reparara que algo estava errado, já que Angelina tinha uma expressão triste no rosto. Deveria perguntar o que houve ou esperar ela falar?

Felizmente Angelina decidira se antecipar em palavras.

— Gabriela me pegou saindo do seu quarto hoje de manhã. - Fora tudo o que disse. Jéssica colocou a mão direita na testa, mas logo em seguida ponderou:

— Nós já dormimos juntas várias vezes, Angel. Porque você acha que eles vão pensar que agora é diferente?

— Porque agora é diferente. - dissera com a voz falha, como se aquilo a magoasse, e Jéssica sentira como se dolorosamente tivessem lhe enfiado uma faca no peito. Angelina exalara o ar como se quisesse eliminar aquela angústia que mais uma vez apoderava-se de si, e então continuou. - Eu não soube lidar, fiquei nervosa, entrei em pânico, fiz besteira. E eu...

Cortara a voz de repente, e Jéssica fora capaz de sentir todo o carrossel de emoções que a jovem estaria presenciado, em cada palavra pronunciada, e a observara com atenção, mas legitimamente preocupada, esperando a continuidade.

— Eu vi nos olhos dela que ela entendeu sobre nós. - Concluíra, enfim, seu martírio, e a namorada encostou a cabeça sobre o ombro esquerdo da mais nova, abraçando-a de lado, tentando ignorar a forte aflição inesperada que aquela reação da mais nova motivara, e seus olhos castanhos marejaram levemente.

— Você está arrependida? - Perguntara, triste, mas de forma meiga, expondo a preocupação zelosa mais como sua amiga, do que como namorada, e notara uma lágrima cair dos olhos de Angelina em resposta. Parecendo mais emocionada pelo gesto, a mais nova finalmente virou-se para Jéssica, que se afastara o suficiente para encara-la.

— Não, claro que não. Não me arrependeria de ser feliz nem por um momento. - Suas lágrimas mostraram-se cada vez mais insistentes, transparecendo a dor em sua voz embargada. Dera um selinho carinhoso e demorado em Jéssica, que sentira a umidade no rosto da menor molhando sua pele, e assim que separara os lábios de Angelina, começara a limpar o incômodo líquido que escorriam pelos seus dedos, e agora forçavam descida pelos olhos da mais velha também. - Eu não sei se eu estou pronta... - Dissera finalmente, mergulhando ao pranto de vez.

Jéssica já sabia que era isso, a conhecia demais para não compreender aonde Angelina queria chegar com todo aquele discurso, e embora devastada por finalmente ouvi-lo soar em palavras, a abraçou em íntimo suporte. Pensava silenciosamente, em meio às lágrimas também, que se fosse para vê-la sofrer tanto estando consigo, preferia mesmo que aquele fosse o fim da relação, porque nunca quisera magoa-la.

De repente, Jéssica se levantara, limpando o rosto da recente inundação, e estendera a mão para Angelina acompanha-la.

— Vem, eu vou te levar pra casa. - comentara, mais uma vez tratando-a com todo o cuidado, e Angelina a abraçara impulsivamente, trazendo-a para o mais perto de si que conseguira.

Era tão fraca. Não resistira ao seu maior temor, que era continuar investindo naquela relação que a deixava totalmente vulnerável à imensidade de sentimentos que jamais pensara experienciar com alguém – especialmente por quem já nutria um vínculo familiar tão forte e insubstituível –, arriscando perde-la de alguma forma, no futuro, fosse por causa de uma briga estúpida, ou por causa da desaprovação da família.

Minutos se passaram, e aquele abraço continuara confortando ambas, que passaram a concentrar-se nas fragrâncias que emanavam de seus corpos, como se estivessem abraçando-se pela última vez. Enfim, suas lágrimas cessaram, e elas entreolharam-se com ternura, juntando testas suavemente, e à medida que aproximavam-se os narizes, o céu já bem menos brilhoso, mas ainda alaranjado, refletia em seus lábios irresistível chamariz, e Jéssica tomara a boca da outra, com ardor e saudade, por mais uma – longa – vez, até que as duas tornaram-se duas silhuetas na penumbra da noite.


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