As Prattis escrita por fdar86


Capítulo 15
[Capítulo 14]




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De repente, Angelina parou. Teria perdido completamente o controle. Acabara de notar que Jéssica já estava sem a blusa, e que já estava com a mão no sutiã dela para retira-lo também. O que fora isso? Nunca teria sentido efeitos tão intensos em um primeiro beijo. Aquilo fora muito mais do que um primeiro beijo. Foram preliminares.

— Eu preciso ir... Agora. - Disse, com o fio de voz que ainda lhe restava, enquanto afastava-se de Jéssica, na ilusão de que mantendo certa distância conseguiria conter seus impulsos mais primitivos. Mas a pele queimava, à mera lembrança do que acabaram de fazer. Estar com Jéssica era colocar fogo em um recipiente cheio de gasolina, e jogar o fósforo em um ambiente sem a menor chance de saída. Angelina ainda arfava um pouco, embora já estivesse sentindo a pulsação voltando ao normal bem devagar.

— E você se arrependeu. Como eu disse que faria. – Disse Jéssica, sarcástica, chateada consigo mesma. Sabia que não deveria ter permitido aquele beijo. e sussurrou no fim: – Ótimo! – Preocupada, Angelina reagiu intempestivamente, lhe surpreendendo com um rápido selinho. Não queria que a mais velha se culpasse pelo que aconteceu, sendo que fora ela que forçara tudo.

— Não. Não estou.

Jéssica sorrira, notando o quão verdadeira eram aquelas palavras. Mas encontrava-se confusa. Se ela não se arrependera porque cortara o momento no meio e aparentava estar tão tensa?

Angelina sussurrou um “Depois nos falamos” e saíra correndo do quarto, e num rompante entrara no seu. À medida que os segundos passavam, ela sentia uma tensão invadindo o seu corpo violentamente. Não se arrependera. Fora uma experiência boa demais para gerar quaisquer tipos de arrependimentos, mas agora tinha muito mais receio de suas sensações. Mais do que nunca sabia que não seria fácil afastar-se de Jéssica! Sua boca implorava por maior contato físico. E sua pele... Melhor nem comentar. A situação teria se agravado imensamente. Como faria pra evitar Jéssica, se ela era tudo o que Angelina mais queria no momento? Deveria mesmo evita-la? Suspirou pesadamente, apertando os olhos em sinal de nervoso.


Enquanto isso, Jéssica estava no seu quarto sentindo-se flutuar tamanha a emoção do momento. Foram muitos anos alucinando sobre aquele momento, embora jamais pensasse que realmente fosse possível de acontecer. E, agora, não conseguia pensar em fazer outra coisa. Queria passar o resto da vida com Angelina.

Tudo eram flores, mas seu coração amargava uma possível reação ruim da outra após o beijo. Ela ainda não estava pronta, e provavelmente seria o momento dela afastar-se com tudo, assustada com seus sentimentos. Precisava considerar seu próximo passo com cautela, porque qualquer coisa poderia verdadeiramente assustá-la.

Horas se passaram, e o relógio já aproximava da hora do jantar. Por alguma razão, sentira que aquele evento seria de alguma importância para o círculo familiar. Todas pareciam de alguma forma ansiosas por ele. A começar por Jéssica que não via a hora de rever o amor de sua vida. Finalmente saberia qual atitude Angelina tomaria depois daquele primeiro beijo.

Angelina saíra do banheiro, pronta para ir comer. Até chegara a tocar na porta para abri-la quando escutara Gabriela chamando Jéssica que, supostamente, parecera ter se rendido à agonia da irmã biológica, e a estaria acompanhando até a sala. Mais uma vez, a voz de Gabriela teria soado bastante ansiosa do outro lado da porta:

— Angel, Mônica fez um prato especial para nós. Venha logo. - Falou, em voz alta, enquanto adiantava-se na frente de Jéssica.

— Já vou. Estou me vestindo, Gaby. - Respondera em modo automático, soltando toda sua frustração em um só suspiro.

“Vai. Coragem!”, pensava, criando forças. Não havia outro jeito, agora teria que ir lá. Atravessar aquele corredor, chegar à sala de estar, dar de cara com Jéssica, vê-la no sorriso mais encantador, e simplesmente encarar.

Acima de tudo, sentia-se envergonhada. Deixara-se dominar pelo desejo, sem nem mesmo considerar o resto. Jéssica é apaixonada por ela, mas aquela é uma relação impossível, estava claro pra Angelina que tudo teria sido um erro, desde o princípio. Aquele momento no banheiro jamais deveria ter acontecido. E nenhum dos momentos seguintes.

Passaram-se alguns minutos, Angelina continuara petrificada em frente à porta, criando coragem para enfrentar toda aquela bagunça sentimental em que tinha se metido, quando ouvira uma nova movimentação no corredor.

— Quem foi convidado? - Perguntara uma voz feminina, que Angelina logo reconhecera como sendo a da governanta Sra. Perez.

Fora o suficiente para encostar mais uma vez o ouvido na porta. Agora estava virando moda aquela situação. “Cresce Angelina, sério!“ - Revoltou-se em sua voz interior, enquanto ouvia a mesma voz exclamar em choque:

— Diga que você não está falando sério. Srta. Mônica irá surtar.

“Ok. Vocês venceram”, pensou Angelina, rendendo-se a curiosidade de abrir a porta. Os empregados rapidamente dispersaram-se, e ela dirigira-se rapidamente até a sala de estar, onde todas já esperavam sentadas por alguma coisa.

A cara de Mônica não era das melhores, se não a conhecesse bem em sua fluente paz espiritual, diria que ela estaria bastante “irritada”. Outra cara curiosa era Gabriela, que parecia preocupada, conversando com Jéssica, que como imaginara parecia nas nuvens, porém com sombras de dúvidas, e logo que a viu entrar, a encarara intensamente. Por fim, Luísa, que estava balançando o pé, estranhamente agitada, enquanto olhava o relógio. Parecia incrivelmente ansiosa.

Angelina estava prestes a perguntar o que estava acontecendo, quando a sirene alertou “visita”. Luísa fora até a porta em um segundo alucinador, e retornara com Mário, que segurou na sua mão docemente no caminho de passagem, e assim seguiram juntos até a mesa. Era uma visão autêntica de um casal feliz.

Angelina finalmente compreendera a raiz do problema, a matriz da equação. Mônica tinha pavor daquela relação por tudo que Luísa já havia sofrido por aquele rapaz, e por tudo que a família dele já teria feito para separa-los. Enquanto Mônica só desejava o melhor para as irmãs, elas pareciam insistir nas piores escolhas, e em seguir os caminhos mais tortuosos. Bem, pelo menos era nisso em que a Mônica acreditava. Mas considerando sua situação atual, talvez fosse verdade.

Tirando o climão que foi gerado pela insatisfação de Mônica com aquele encontro, o resto do jantar ocorrera normalmente, exceto pela sobremesa. Mônica tinha feito um apetitoso pavê de maracujá com pedaços de chocolate amargo, a sobremesa preferida de Jéssica, que estava ansiosa para prova-lo quando a discussão começou. Mário teria ido ao banheiro e fora o suficiente para a conversa esquentar.

— Posso saber em que você estava pensando quando decidira voltar com esse rapaz? - Perguntou Mônica, com a irritabilidade exposta na voz. - Você sabe que ele não é pra você.

— Mônica, quando você vai parar de querer saber o que é melhor pra gente, e simplesmente nos deixar viver? - Questionou Luísa, com a ironia rebelde que lhe era peculiar.

— Vocês duas, parem de discutir na mesa de jantar. - Disse Gabriela, e Mônica se calou por alguns segundos, em sinal de respeito. Mas logo continuou, em sussurros:

— Gaby, desculpa, mas... Vocês não lembram o que família desse rapaz fez com a Luísa? Ele é volúvel, inconsistente, sempre foi. Não sabe o que quer.

Luísa respirou pesadamente, em busca de relaxamento, enquanto Mônica olhava para as outras meninas, na necessidade de ouvir uma palavra de apoio.

— Mônica, eu entendo que ele não deveria ter sido tão fraco em deixar-se dominar pela família do jeito que fez, mas se a Luísa que passou por tudo foi capaz de perdoa-lo, por que nós não podemos aceita-los juntos de novo? - Gabriela posicionou-se, corajosamente, a favor de Luísa.

— Eles não foram feitos pra ficar juntos. - Disse Mônica, em mais uma defesa fracassada. - E a família Pontes vai fazer da sua vida um inferno astral! - Apontara para Luísa que virou os olhos em profundo desprezo. – Irmã, entenda, ele não é o cara certo pra você! Nossa mãe jamais aceitaria isso!

Luísa até considerou responder que se dependesse da irmã mais velha todas ficariam sozinhas pelo resto da vida enfurnadas naquele casarão cheio de estatuetas de santos espalhadas, do tanto que Mônica era exigente com as escolhas amorosas de todas, porque ninguém comparava-se ao seu Deus. Fora quando, de repente, ouvira-se um alto ruído, que a distraiu. Todas viraram para Angelina, que teria deixado o talher cair no chão, em súbito nervosismo.

E enquanto Luísa levantara a sobrancelha em compreensão aguda dos fatos que estaria presenciando, Gabriela finalmente observava o evidente nervosismo de Angelina, estranhando, já que a jovem nada tinha a ver com o fato de Luísa ter trazido Mário de surpresa para ceiar com elas. Portanto, por que ela estaria tão nervosa?

Diante de tantos olhares aturdidos ou desconfiados sobre si, Angelina decidira se posicionar também. Era isso, ou ficar mantendo a atenção sobre si, a respeito de assuntos que por mais que fossem ocultos aos outros, a constrangeram imensamente.

— Luísa sempre foi louca por ele, Mônica. Não vejo porque, agora que ele está viúvo, e mais maduro, eles não possam ficar juntos. - Posicionou-se Angelina, gerando um virar de olhos contrariado de Mônica, seguido de um suspiro exausto, por reconhecer estar, mais uma vez, com a opinião em menor número naquela família.

Jéssica ouvira Angelina, sentindo-se triunfante. Aquela opinião, e naquele momento, contra os paradigmas pregados por Mônica, era algo admirável. E para ser sincera até mesmo sexy. Sorrira de lado, mordiscando o lábio inferior, sutilmente. Angelina a olhara rapidamente, sorrindo, e baixara os olhos em seguida, tímida. Angelina podia sentir a satisfação no olhar da outra, e sentiu-se corar em involuntária resposta.

— Desculpem-me, mas eu não posso compactuar com isso. - Disse Mônica, saindo da mesa, e atravessando o vazio corredor em direção ao quarto.

Mário passou pela porta, logo após a passagem de Mônica, sem compreender a razão da retirada. Todas pareciam tensas, cada uma com suas razões. Educadamente, Gabriela começou a partir o pavê em pedaços, e cedera o primeiro corte a Mário que a agradeceu, solenemente.

Angelina observara por alguns segundos o casal, Luísa parecia tão feliz. Mário teria sido seu único e verdadeiro amor, ela merecia essa felicidade. Entendia Mônica, entretanto, mas nada deveria ficar entre o verdadeiro amor.

Olhara para Jéssica instantaneamente. O que estaria sentindo agora... O que sentira quando elas se molharam no chuveiro, quando quase se beijaram no parque, e quando finalmente ficaram juntas no quarto... Eram tantas sensações, e quanto mais elas divergiam em experiências físicas, e em sintomas emocionais, mais compatíveis e enriquecedoras se tornavam. Eram puras, mas ao mesmo tempo tão carnais. Sutis, mas com efeitos devastadores. Seria Jéssica o seu primeiro amor?


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