As Prattis escrita por fdar86


Capítulo 13
[Capítulo 12]




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Jéssica descera do cavalo e andara às pressas pelo jardim dos fundos. 20 segundos depois, Angelina chegara em alta velocidade e jogara-se do cavalo de qualquer jeito, correndo risco de se machucar. Correra até Jéssica, tentando alcançá-la, enquanto gritava:

— Espera, Jes, nós temos que conversar!

— Não estou a fim de papo agora, Angelina. - Respondeu, sem parar de andar, sendo seguida pela outra que finalmente conseguia se aproximar dela. - Aliás, você já me mostrou o seu ponto de vista o suficiente .

— Não é o que você está pensando... - Retrucou em vão, em voz relativamente baixa, enquanto Jéssica ignorava sua presença ali, continuando seu caminho pelo jardim andando a passos largos em ácida determinação.

Quando ela finalmente chegara ao estábulo e liberara seu cavalo dos acessórios de cavalgada, Angelina segurara seu braço, forçando-a a virar-se, embora a contragosto. Cada uma em suas razões transpareciam em seus olhos uma profunda irritação.

— Eu já perdi as contas das vezes que você fugiu de mim essa semana! Dá pra gente ter uma conversa madura? Por favor? - As palavras de Angelina eram sinceras e coerentes, e tocaram Jéssica que encontrava-se no ápice da irracionalidade do seu ser, ainda brava pela cena que teria presenciado na lagoa. Angelina tinha razão. Estava agindo como uma criança. Uma criança birrenta. Estava mesmo na hora delas terem aquela conversa. Se eles haviam voltado, Jéssica precisava saber logo. Tirar o band-aid e estancar a ferida de uma só vez. Esquecer Angelina de uma vez por todas!

Sentindo a outra finalmente desarmar-se, Angelina largou o braço de Jéssica que ainda mantinha como refém, e acariciou sua mão com delicadeza. Não pôde deixar de comparar as sensações que aquele toque lhe proporcionava, diferentes do que sentira com Henrique há instantes atrás.

Séria, Jéssica tirou sua mão da amiga, e se endireitou.

— Você quer falar sobre o que? - Perguntou, decidida, mas visivelmente contrariada. Mordera o lábio inferior levemente, em reação involuntária. Angelina, que a observava de maneira intensa, sentira uma bizarra vontade de rir, ao notar mais uma vez o quanto Jéssica era transparente, e o quanto ela a conhecia bem. Entendia cada gesto e todo o seu significado.

— Antes de mais nada, eu não procurei aquele reencontro. Eu estava te esperando, e ele apareceu. - Decidira começar o discurso, e recebera um olhar mortal de Jéssica em resposta, cada vez mais irritada. O início do discurso não respondia a principal questão daquela conversa, embora sequer tivesse sido verbalizada.

— E? Mudou alguma coisa? - Perguntou incisiva, dando a Angelina a inevitável tarefa de responder a única coisa que gostaria de saber naquele momento.

Diante da pressão do momento, e da frieza sentida nas palavras de Jéssica, Angelina acabou ficando sem palavras pra responder, o que definitivamente atrapalhou ainda mais a situação, já que deixara Jéssica furiosa, e erroneamente certa da resposta errada.

— Sabe, eu nem sei porque ainda me surpreendo. Eu deveria saber que você iria correr atrás dele na primeira oportunidade que tivesse. - Reclamara, enquanto virava-se em direção à porta do estábulo, sem condições de encara-la nos olhos naquele momento. Fora novamente impedida por Angelina, que saíra do transe e a virara para si, trazendo-a contra a parede de modo que não pudesse mais fugir daquela conversa, em um gesto firme e determinado.

Sem saída, percebendo-se há menos de um palmo de distância, Jéssica teve que encara-la. Angelina suspirou diante da proximidade em que as teria colocado, sentindo automaticamente o coração bater mais forte. Pra que diabos colocara tanta força no braço dela? Sentira como se fosse perder a força há qualquer momento, ou Jéssica daria um jeito de sair, e ela estaria muito zangada para que a permitisse sair sem explicar o que tinha acontecido, então Angelina adiantou-se em respondê-la:

— Não, Jes. - Pronunciou, enquanto afastava-se um pouco, apenas o espaço que considerara suficiente para a manutenção de sua sanidade emocional naquele momento. Jéssica, que transparecia o mesmo incômodo por tal proximidade, agradeceu Angelina em silêncio. Novamente sã, Angelina finalmente continuou, embora parecesse uma volta ao início, já que a razão do último “Não" tenha claramente passado despercebido pela Jéssica, que estava muito ocupada analisando a proximidade entre os rostos naquele momento, para ouvir qualquer coisa. - Aí que está. Eu não sinto mais nada por ele.

Jéssica respirou aliviada, em um audível suspiro e apoiou os braços na porta, evitando o olhar de Angelina. Estivera completamente fora de si. Jamais teria perdido a cabeça assim. Fora quando ela se lembrou do momento no banheiro. Estava perdendo a cabeça muitas vezes ultimamente. Seria o efeito “Angelina” em si. Era muito mais fácil quando a amava em silêncio, platonicamente, e quando Angelina nem sonhava saber de nada.

— Eu não quero voltar pro Henrique, Jes. Nem hoje, nem amanhã, nem nunca mais.

— Eu preciso te dizer, Angel. Isso não me deixa verdadeiramente feliz. E não é por causa dos meus...

— Eu sei. - Interrompeu Angelina, com tom de voz calmo. - Eu sei que acima de qualquer coisa você se importa comigo e quer o melhor pra mim.

— E ele não te merece. – Confirmou, Jéssica.

— Também sei disso. Bom, sei disso agora, pelo menos - Angelina riu e Jéssica disfarçou um súbito nervosismo rindo também. Angelina já era linda séria, mas sorrindo exagerava na dose.

— O que você queria falar comigo? - Perguntou Jéssica, finalmente recordando a razão daquela confusão toda. Teria ido ao parque encontra-la.

— Eu queria te dizer pra não ter esperanças sobre nós. - E foi assim que Jéssica tomara um belo banho frio. - Eu não vou negar que estou sentindo algumas coisas estranhas por você, mas não quero que você se iluda acreditando que nós iremos terminar juntas, por que não vamos. Eu preciso que você entenda, não tem lugar para homossexuais na minha família.

— Uau. “Não tem lugar pra homossexuais na minha família”?! Foi o que eu acabei de ouvir? Então não tem lugar pra mim na sua família? - Questionou ofendida, fazendo com que Angelina compreendesse o erro que tinha cometido.

— O que? Não, claro que não. - Tentou desculpar-se, mas já era tarde. Jéssica continuava cada vez mais irritada:

— Foi o que você disse. Que eu não faço parte da sua família.

— Não foi isso que eu quis dizer. Por deus, Jes. Me escuta. Você sabe que eu jamais diria algo assim.

— Nossa, Angel. Eu realmente não esperava por isso. Não de você. - Retrucou Jéssica, visivelmente aturdida. Não acreditava no que teria escutado, aquelas palavras haviam soado tão cruéis e insensíveis que a magoaram violentamente.

— Já disse que não foi o que eu quis dizer. Eu me expressei mal. Jes... - falou, aproximando-se de Jéssica que a afastou em repulsa, e saíra dali a passos firmes.

— Não me toca, por favor. – dissera antes de sair, e lágrimas insistiram em cair dos seus olhos, enquanto ela andava em direção à casa.

Angelina permanecera travada na porta do estábulo, sentindo-se um lixo. Uma intensa dor atingia seu peito novamente. A magoara profundamente, embora não teria sido o que ela quis dizer. Ela jamais falaria ou sequer consideraria isso! Ela só pretendeu dizer que aquilo não era um comportamento esperado ou aceitado naquela família. E que ela era muito covarde pra enfrentar uma possível rejeição da própria família. Que ela não era tão forte como Jéssica! Só isso!

Precisava se explicar, precisavam conversar e tinha que ser agora. Não deixaria que Jéssica passasse mais um minuto sequer com aqueles pensamentos absurdos. Ela jamais diria algo do tipo intencionalmente! Ela jamais a magoaria. Ela a ama!

Fora quando finalmente dera-se conta. Não era apenas amor de irmã ou amiga. O que ela sentia era muito maior que isso. O sentimento gritava dentro de seu peito, intenso, e ensurdecedor.

Jéssica correra pela casa e passara na direção dos quartos como um flash. Não queria que Angelina a seguisse. Não queria falar com ela naquele momento. Nunca se sentira tão magoada na vida. Chegara finalmente no corredor dos quartos, e entrara no seu quarto. Quando tentara bater a porta atrás de si, sentira um peso na porta impedindo-a de fechar.


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