A arte de se expressar escrita por TMfa


Capítulo 21
21 - Aquele da sala de música




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No dia seguinte, assim como todas as segundas nas ultimas três semanas, a turma 1-A acordou junto com o sol. Kyouka estava receosa de descer para o café da manhã, não queria responder nenhuma pergunta sobre ontem na sala de jantar. Para sua surpresa, nem mesmo Ashido ou Hakagure tocaram no assunto, trabalho de Momo, com toda certeza.

A última aula da manhã foi de inglês, sem treinos físicos. As aulas regulares foram reduzidas, mas ainda aconteciam, o que era uma quebra de clima do treinamento intenso. Jirou saiu da sala conversando com Yaoyorozu sobre a aula e discutindo um ponto da gramática que bagunçava um pouco a interpretação das duas.

— Estou te dizendo, poderia ser o inverso – insistiu Jirou – se você ler rápido demais pode bagunçar todo o sentido da frase!

— Não é culpa do autor se você leu rápido demais. – contrariou Momo fazendo beicinho.

— Vai cair a mão se ele colocar uma vírgula? – debochou Jirou revirando os olhos – Eu não quero ter que parar para... - Kyouka parou por um segundo e olhou ao redor.

— O que foi?

— Nada – Kyouka piscou e olhou para amiga rapidamente – Eu preciso ir, te vejo no almoço? – perguntou Kyouka retoricamente.

Momo nem teve tempo de responder quando a amiga simplesmente sumiu. Yaoyorozu ficou parada, aturdida, até que Ashido e as outras garotas a chamaram para o refeitório. Yaomomo explicou que a garota punk precisou sair e disse que as encontraria para almoçar.

Enquanto isso, Kyouka estava atrás do bloco de salas de aula, olhando em volta, até encontrar Inasa coberto pelo casaco da Shiketsu, o rosto escondido pelo chapéu e a penugem da gola do casaco.

— Você me achou – sorriu ele animado.

— Bem, uma corrente de vento quente praticamente gritava seu nome nesse tempo frio – Zombou Jirou rindo.

Os dois se olharam sem saber exatamente o que fazer, ontem à noite parecia irreal demais para que eles agissem normalmente hoje. Depois de algum tempo Kyouka começou a sentir o frio do ambiente, ela estava sem nenhum casaco, e agora não havia mais corrente de ar quente.

— Então... Você me chamou - Ela esfregou os braços e mordeu os lábios para impedi-los de tremer.

— Me desculpe, você está com frio – começou ele retirando o casaco freneticamente – Eu devia ter escolhido um lugar melhor!

— Tudo bem – riu Kyouka enquanto ele colocava o casaco sobre ela.

Ele demorou as mãos nos ombros e deslizou-as em um abraço. Kyouka olhou para ele, os rostos se aproximando, ela corou novamente sabendo o que iria acontecer.

— Aqui não – interrompeu ela afastando-se e segurando a mão dele – Vem comigo.

Então ela o arrastou correndo para dentro do bloco de salas de aula. Quando entraram, Jirou soltou a mão de Inasa e caminhou calmamente, passando por um ou dois alunos do terceiro ano da UA. Ela o guiou por alguns corredores até parar em frente a uma porta que ela discretamente abriu sem sequer olhar para Inasa. Agindo sem o menor indício de culpa ou conspiração.

Quando eles entraram, vários instrumentos ocupavam a sala. O espaço era um pouco menor que uma sala de aula, ainda assim, bem organizado.

— Essa é a sala de música, basicamente, minha sala – explicou ela enrolando os fones nos dedos – Eu tive permissão para criá-la depois do festival cultural, então eu meio que ensino alguns amigos de vez em quando.

— São todos seus? – perguntou Inasa tocando em tudo na sala, como uma criança.

— Não todos. Um ou outro são do pessoal que eu ensino, os outros meu pai trouxe de casa. Meu velho chora de felicidade quando eu ensino alguém – Kyouka revirou os olhos enquanto sentava-se em uma mesa com as pernas cruzadas.

— Você deve ser a professora mais incrível do mundo – elogiou Inasa aproximando-se dela lentamente.

— Cala a boca – resmungou ela desviando o olhar e corando.

— Não – respondeu Inasa, agora bem à sua frente, o tecido da calça roçando os joelhos de Kyouka – Eu não vou me calar. Por que eu gosto de dizer a verdade.

Ah, seu desgraçado... Gemeu Kyouka mentalmente. Ele estava perto demais para seu cérebro conseguir fazer alguma coisa além de xingar para se defender. Ela engoliu em seco, os olhos desejando que ele a beijasse logo, o que ele parecia não querer fazer. Yoarashi estava parado, com o mesmo olhar de Kyouka, ainda assim, ele estava respirando fundo e lentamente, esperando por um sinal positivo (o qual Kyouka já havia dado desde o momento em que chegaram).

— Ah, foda-se – declarou ela puxando-o para o beijo.

Ele estava demorando demais, e ela não sabia quanto podia aguentar a espera. Inasa não perdeu tempo depois que ela o beijou, abraçando-a e puxando-a para si. Foi um beijo mais coordenado que o da noite anterior, os dois tendo pensado nisso a noite toda. A paixão e a fome, no entanto, pareceu aumentar também. 

A muito contragosto, foi Kyouka quem parou o beijo para buscar oxigênio. Inasa, talvez pelo costume de lutar em ares rarefeitos, não tinha interesse algum em parar. Então ele continuou beijando a mandíbula da garota e fez uma trilha até o pescoço, deixando Kyouka mais zonza do que já estava.

A garota punk deslizou a mão para o cabelo curto de Yoarashi, guiando-o pelo seu pescoço. Sem perceber, Kyouka descruzou as pernas e encaixou os quadris de Inasa entre elas, puxando-o mais para perto de si.

— Sensei! – pulou Jirou empurrando Inasa.

— O que? Quando? Onde? – disparou ele atordoado.

— Rápido, senta ali – Ordenou Kyouka pegando uma guitarra e caminhando até um banco sem encosto no outro canto da sala.

— O que houve? Eu fiz alguma coisa...

— Shiii! Ele está na porta – sussurrou ela enfiando a guitarra no colo de Inasa – Então se você colocar os dedos assim... – ela posicionou os dedos ele em um acorde

— O que estão fazendo aqui? – interrompeu Aizawa monotonamente entrando na sala – É hora do almoço, deveriam estar almoçando.

Inasa arregalou os olhos em surpresa e corou como Jirou nunca tinha visto (era raro ele sequer apresentar uma mancha rosa, quem dirá esse tom de vermelho).

— D-desculpe, sensei – pediu Jirou fingindo o melhor que podia – E-eu pensei em ensinar um pouco de guitarra para o Yoarashi, achei melhor aqui do que no meu quarto – mentiu ela encostando as pontas do fone de ouvido uma na outra.

Ela estava nervosa, graças aos céus ela estava acostumada a fingir que estava bem, do contrário, Aizawa saberia que o rubor em seu rosto era um resquício de suas atividades anteriores.

O sensei suspirou e esfregou as têmporas.

— Vocês tem 20 minutos para almoçar e ir para o Delta 3, é melhor encerrar por hoje – terminou ele pondo-se ao lado da porta aberta, indicando a saída.

— Sim – concordaram os dois levantando-se.

Tanto Kyouka quanto Inasa mantiveram a cabeça erguida, no entanto, não olharam nos olhos do professor. Shota pôs a mão no ombro de Jirou antes de fechar a porta.

— Yoarashi, continue andando. Jirou, eu quero falar com você.

Kyouka engoliu em seco, os olhos arregalados e o rosto pálido ao ouvir as palavras de seu professor atrás dela. Yoarashi olhou para Aizawa um pouco surpreso, então olhou para Jirou, a garota punk acenou para ele e o garoto dos ventos continuou andando.

— Você é uma boa aluna, Jirou, e é por isso que eu quero acreditar em você – começou Aizawa com o tom brando e cansado - Como eu disse antes, você não precisa ajudar Yoarashi só porque ele pediu, você sabe disso, não é?

— Sim – sussurrou Jirou um pouco confusa e nervosa com a conversa.

— Eu não sei bem o que está acontecendo aqui, mas fui eu quem deu a primeira aula para a Shiketsu, e alguns alunos pareceram surpresos de ver Yoarashi vivo esta manhã. Algum motivo especial para isso?

— N-não... Não, senhor! – Tentou Kyouka virando-se para Shota.

— Tem certeza disso? Não aconteceu no jantar ontem à noite? – insistiu Aizawa

Kyouka desviou o olhar e baixou a cabeça para esconder o rubor. Mentalmente seu cérebro gritou todos os xingamentos que conhecia enquanto imaginava as punições que Aizawa-sensei lhe atribuiria, Jirou tinha certeza que o professor estava apenas facilitando para ela confessar o que ele já sabia.

— Você quer me contar o que aconteceu? – Aizawa agachou-se para alcançar os olhos de Kyouka, ele parecia mais preocupado do que irritado. Jirou piscou por isso – Posso chamar Midnight se você preferir falar com ela.

— Quê?

— Se Yoarashi deixou você desconfortável, não precisa ignorar isso, você tem seus amigos e os professores também estão aqui para ajudar.

— Oh, não, não. Ele não fez nada disso – Apaziguou Jirou rapidamente ao compreender a situação. – Ele só me desenhou, foi tudo. – ela corou novamente ao pensar em como era uma meia verdade.

— Certeza?

— Sim, sim. Eu fiquei irritada porque ele não me perguntou nada. – Ela enrolou o dedo indicador em um dos fones nervosamente – Talvez eu tenha exagerado um pouco – confessou ela encolhendo-se - Mas ele me deu os desenhos e pediu desculpas.

— Bem, nesse caso – Aizawa levantou-se e enfiou as mãos no bolso – Apenas evite salas vazias. Não é muito apropriado.

— O-ok.

Dali, Kyouka foi para o refeitório, não tinha muito tempo para almoçar. O local estava quase vazio, então foi fácil encontrar Inasa, especialmente por que ele estava esperando por ela. Ela sentou-se à mesa enquanto era recebida pelo garoto.

— Está tudo bem, Jirou-san? Eu a coloquei em problemas?

— Bem, ainda não – sorriu ela ao perceber a preocupação do garoto – E, bem, você não acha estranho me chamar de “Jirou-san” considerando... você sabe – Kyouka cutucou sua comida para desviar a atenção. – Kyouka está bem.

— Kyouka – repetiu ele satisfeito – Eu gosto do som.

— Você gosta de tudo – ironizou ela sorrindo sarcástica – De qualquer forma, Aizawa-sensei está desconfiado. Ele pediu para evitar salas vazias – continuou ela desviando o olhar.

— Ao menos não estamos com problemas.

— Eu não diria isso – resmungou ela.

— Por quê?

— Eu... – Kyouka mordeu o lábio envergonhada e olhou para Inasa de soslaio – Eu não consigo pensar em um lugar melhor para... ver você.

— Entendo – Inasa focou os olhos na comida e começou a comer rapidamente para esconder o sorriso nos lábios.

Eles comeram em silêncio mais alguns minutos até um sinal sonoro avisar o fim do almoço. Os dois levantaram-se às pressas, precisavam chegar ao Delta 3 em cinco minutos para o treino e ainda nem terminaram de comer.

— Vejo você hoje à noite? – perguntou Inasa quase chegando ao Delta 3.

— Claro – concordou Jirou – Depois do jantar?

— Mal posso esperar! – afirmou ele animado como sempre.

Os dois entraram no campo de treinamento bem a tempo de começar. O treino da tarde os permitia escolher seus adversários e duplas seriam montadas de acordo com as lutas escolhidas. Isso foi um pequeno problema, por que Bakugou estava determinado a espancar Inasa ainda mais do que a humilhar Izuku. O garoto explosivo foi instintivamente para cima de Yoarashi assim que soube que podiam escolher contra quem lutar. Os professores o detiveram e chamaram Aizawa-sensei, por ser um aluno da 1-A.

— Me solta, esse idiota precisa de uma lição! – rosnou Bakugou preso por dois clones de Ectoplasma-sensei – Vocês disseram que eu podia escolher quem matar!

— Bakugou, o treino ainda não começou, se acalma! – pediu Kirishima a alguns passos de distância

— Morre você também!

— Alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui? – ordenou Aizawa-sensei.

— Katsuki iniciou uma briga com Yoarashi. – explicou Ectoplasma sucinto liberando o garoto de seus clones.

— Eu...! – Bakugou ia começar um protesto quando Kirishima cutucou-o com o cotovelo e o fez virar irritado para ele.

— Por que não estou surpreso? – suspirou Aizawa.

— Sensei, eu peço desculpas por não ter parado Katsuki antes – começou Inasa altivo.

— Como se você pudesse, seu pedaço de merda! – retrucou Bakugou dando um passo à frente, os clones de Ectoplasma novamente o segurando.

— Fique quieto! – ordenou Yoarashi já irritado.

— Ei! Com quem você pensa que está falando, seu merdinha?! – Bakugou se agitou destruindo um dos clones – A orelha é muito mole pra te dar uma lição, mas eu vou te dar uma surra pela sua palhaçada!

— Já chega! – encerrou Aizawa imponente. - Eu avisei que meus alunos não se metem em lutas sem sentido. Katsuki, eu vou escolher com quem vai lutar, e como punição por agir como idiota você e Yoarashi terão mais duas horas de treino comigo hoje. Estamos entendidos?

— Sim! – exclamou Yoarashi condescendente.

— Sim – resmungou Bakugou irritado.

O grupo se dispersou e Midnight aproximou-se do sensei de olhos casados.

— Não disse nada para não desrespeitar você na frente dos garotos, mas Yoarshi não teve culpa, não acha melhor liberá-lo da punição? – sugeriu Midnight em um sussurro.

— Não, eu vou mantê-lo ocupado por outros motivos – recusou Shota retirando-se para controlar os demais estudantes.

Iida e Yaoyorozu aproximaram-se de Kirishima em busca de alguma explicação, Jirou estava a reboque, acompanhando a amiga.

— Ele simplesmente surtou – contou Kirishima – Voou no Yoarashi-san gritando como sempre. Por sorte Yoarashi desviou bem. Aizawa-sensei disse que os dois vão ficar mais duas horas de treino hoje.

— Honestamente, pensei que Katsuki iria atrás do Midoriya-san – confessou Iida.

— Oh, merda, eu esqueci completamente o efeito Bakugou! – ofegou Kyouka cobrindo a boca com as mãos

— Agora que você falou, Bakugou gritou alguma coisa sobre você ser muito mole para dar uma lição no Yoarashi – ponderou Kirishima - Isso é sobre ontem?

— Eu preciso falar com ele, Kiri. Onde ele está?

— Ele foi por ali – apontou Eijirou com o polegar atrás de si – Cuidado, ele ainda está fumegando.

Kyouka acenou com a cabeça e correu na direção que Kirishima lhe indicou, não foi muito difícil achar Katsuki, havia uma curta trilha de pessoas reclamando de sua grosseria ao caminhar entre eles.

—Bakugou! – chamou Jirou aproximando-se, Katsuki virou-se para ela com o olhar zangado – Está tudo bem?

— Por que não estaria? – resmungou ele arrogante.

— Bakugou, que porra você está fazendo? – suspirou Kyouka esfregando as têmporas.

— Chutando a bunda daquele cabeça de vento, é o que eu estou fazendo!

— Você não precisa fazer isso! – protestou Kyouka batendo o pé irritada.

— Do que você tá falando?! Ele é um idiota, ele tem que morrer!

— Bakugou, está tudo bem – apazigou Jirou encostando a mão no braço do amigo – Sério, ele não é tão idiota assim – brincou ela esperando uma resposta positiva.

— Que porra aconteceu ontem no seu quarto, orelha? – Bakugou estreitou os olhos – O que aquele filho da puta fez?

— N-nada! – recuou ela lembrando-se do instinto protetor que Bakugou tem pelos amigos (não que ele admita) - Quer dizer, ele pediu desculpas. E me deu os desenhos, e conversamos... – Kyouka estava murmurando e encostando as pontas dos fones uma na outra.

— É melhor ter ficado só nisso, ou eu vou arrancar a cabeça dele!

— O que você é, meu irmão? – retrucou ela revirando os olhos.

— Eu poderia ser! – gritou ele de volta.

Kyouka piscou duas vezes e sorriu radiante. Katsuki quis recolher suas palavras, ele sabia que ela faria de sua vida um inferno depois disso.

— Bem, nesse caso – começou ela com um sorriso travesso – Você poderia fazer um favor à sua irmãzinha e não matar o Inasa?

— Ei! – Bakugou iria protestar contra o sarcasmo no “irmãzinha”, contudo, ele franziu o cenho quando percebeu outra coisa - Desde quando aquele verme deixou de ser Yoarashi?

A voz de Present Mic anunciou o início do treino e ordenou que todos fossem para as posições demarcadas por Cementos-sensei.

— Parece que tenho que ir – desconversou Jirou virando-se. Bakugou segurou seu braço.

— Nós não terminamos essa conversa, orelha – declarou Bakugou, de forma tão calma que assustou Kyouka, Bakugou nunca está calmo.

— Por favor, só não o mate. – Pediu ela, preocupada com o motivo da calmaria de Bakugou.

Katsuki não prometeu. Ele apenas caminhou para sua posição predeterminada e iniciou sua luta – desta vez com Deku. Aizawa precisaria de alguém que aguentasse a raiva de Bakugou antes do treino extra, ele queria dormir afinal.


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