Shine

Talvez, se tudo fosse possível e melhor, eu poderia ter me tornado mais forte para salvá-lo. Eu poderia ser mais forte para não deixa-lo lutar sozinho e protegê-la. Eu poderia... Eu poderia...

Talvez, se eu não fosse eu, poderia ter corrido contra todos os meus medos para lutar com ele, protegendo-o do que não sabíamos que iria acontecer. Ele me contava tudo pelo o que ele passou, mas não conseguia escutar, pois fui fraco. Mal conseguir lutar contra aqueles três vilões, imagine ele lutando contra o chefe da máfia.

Ele ficou muitos minutos lutando sem seus poderes para proteger a Eri e eu desmaiei assim que terminei com os caras que lutava. Não conseguia sentir meu próprio corpo.

— Mirio. – Chamei-o.

Estávamos sozinhos no corredor da escola. Mirio não podia frequentar as aulas por causa da sua falta de individualidade, então ele sempre nos visitava. Os médicos faziam o possível para usar a individualidade da Eri sem machucá-la, para que ele voltasse a ter poderes.

— Aconteceu alguma coisa, Tamaki? – Ele pergunta, abrindo aquele sorriso de sempre.

— Você vai ficar bem?

Não conseguia olhá-lo nos olhos, mesmo depois de tudo o peso da culpa vinha me consumido dia após dia quando não o via na sala de aula e até mesmo ao nosso lado. Hadou disse para eu ficar tranquilo, mas...

— Claro que vou! – Ele colocou as mãos na cintura e inflou o peito. — Não se preocupe!

Abaixo mais meu olhar, querendo sair daquela situação que julguei constrangedora.

— Ei... Olha pra mim. – Pediu, aproximando-se de mim.

— Desculpe-me.

— Não precisa de desculpar, Tamaki. Você foi útil em todos os momentos da missão. Você derrotou três vilões! Poxa, foi incrível! – Mesmo sem olhar para seu rosto eu sabia que ele estava com um sorriso orgulhoso.

— Sério? – Ergui um pouco o olhar, ainda desviando meu rosto para não ter muito contato.

— Sim. Pra mim, você é um herói!

Suas palavras bateram fundo pelo meu corpo. Virei meu rosto para encará-lo melhor, surpreso com aquelas palavras tão sinceras e profundas. Mirio sabia como me deixar envergonhado e, ao mesmo tempo, motivado.

— Você também é um herói, Mirio. Eri sempre diz isso para nós quando vem aqui. – Disse numa voz baixa e deu um sorriso de lado.

— Não precisa se sentir culpado pelo o que aconteceu, eu fui impulsivo demais para salvar a Eri. Esse é o primeiro erro de um herói. Você fez tudo certo, sabendo que tínhamos que ganhar tempo. Isso é atitude de um verdadeiro herói. Não deveria se subestimar, Tamaki. – Explanou com um sorriso no rosto, olhando-me orgulhoso e feliz.

Abaixei meu olhar e sorri com aquelas palavras calorosas.

— Obrigado, Mirio. – Falei num tom baixo, pois não queria que ele escutasse.

Senti sua mão tocar no meu queixo, ele ergueu minha cabeça e nossos olhos se encontraram.

— Você é meu herói. – Disse de forma carinhosa, fazendo-me ficar envergonhado e sem jeito. — O herói Suneater é o melhor de todos! – Sorriu de lado e beijou minha testa.

— Pare com isso... – Murmurei e me afastei dele, não aguentando aquela demonstração súbita de amor. Encostei minha testa na parede, só para não olhá-lo. — Você sabe mesmo me desconcertar.

Ouvi-o dar uma risada e senti-o me abraçar pela cintura, encostou sua testa no meu ombro e suspirou pesado. Eu sabia que ele estava triste por não poder mais salvar gente, ele sabia como eu estava me sentindo depois de tudo. Será que...

— Fiquei preocupado quando me disseram que você lutou com três vilões.

Surpreendi-me com suas palavras. Será que fui egoísta ao ponto de ignorar que ele também se preocupou comigo durante a missão? Eu ignorei seus sentimentos? Ele me aperta um pouco como se me protegesse de algo. Virei um pouco meu rosto para olhá-lo de canto.

Eu, mais que ninguém, conhecia o Mirio. Foi ele que me ensinou a não temer, a não sentir medo do perigo. Ensinou-me também que meu mundo poderia ser mais brilhante se eu tivesse ao seu lado. Ele é a razão por eu continuar com minha mínima ambição de querer ser herói, mesmo sabendo que não sou digno.

— Tamaki, lembre-se das minhas palavras: você é um grande herói, mesmo que a situação esteja difícil quero que saiba que, sim, você é capaz de solucionar tudo. – Ele ergueu o rosto, encostando o queixo no meu ombro. — Certo?

— Como você quer que eu aceite isso? – Questionei-o.

— Porque você é o brilho da minha vida, não quero que fique triste por eu estar desse jeito.

Voltei a encontrar minha testa na parede, escondendo minha expressão e meu sorriso de felicidade.

— Falei algo de errado?

— Não. – Sussurrei.

Ele deu uma risada curta e beijou meu ombro. Ouvimos Nejire gritar por nós para que acompanhássemos ela a uma aula extra. Sorrimos ao vê-la e seguimos para o destino conversando sobre coisas aleatórias para o clima ficar mais divertido entre nós.

Contudo, o que o Mirio não sabia era que qualquer coisa que ele falava me alegrava.