Coração que Cura escrita por Carolina Muniz


Capítulo 23
24


Notas iniciais do capítulo

Oiiii



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× Capítulo 24 ×

Ana não sabe em que momento, mas ela apagou. Por causa da dor, por causa do sangue, ela não sabe.

Ela se encontrava num quarto típico de hospital, e mais uma vez havia eletrodos em seu coração, deixando-a desconfortável. Não estava sozinha, Grace Grey estava ao seu lado. O rosto vermelho e inchado, mas a expressão severa.

— Por que? Por que fez isso? - a mulher questionou.

Ana franziu o cenho.

O que havia feito?

— Matou meu neto. Você matou minha filha e o meu neto - Grace acusou.

Ana arregalou os olhos.

O bebe... Onde estava o bebê?

Sua mão diretamente para sua barriga, e não havia nada lá, estava lisa.

Ela queria falar, queria dizer que sentia muito, que não havia feito de propósito, mas sua voz não saía, não conseguia pronunciar as palavras necessárias.

As lágrimas começaram a escorrer por seu rosto.

Havia perdido o bebê, houve muito sangue. Foi tão de repente. Como aquilo aconteceu? Ela apenas estava deitada, apenas dormiu.

— Você é uma assassina - Grace vociferou.

Ana balançou a cabeça.

Ela não tinha culpa. Não havia feito nada.

Mas mais uma vez as palavras não saíam.

— Eu nunca mais vou deixar minha família chegar perto de você. 

Ana fechou os olhos com força, as lágrimas ainda escorrendo, a mão apertando a barriga.

Não havia mais nada ali. Não havia bebe, não havia desejos, não havia chutes. E nunca mais haveria. O tanto que ela pediu para não acontecer, agora estava realizando seu pedido.

Ela nunca quis aquilo, não queria o bebê morto e nem machucado, só não era justo com ela. Mas ela não odiava o bebê, ela até queria ele em sua barriga.

As lágrimas vinham como uma cachoeira, o choro era tão intenso que seu corpo chegava a chocalejar na cama com os soluços altos.

Ela só...

Foi de repente, como acender e desligar uma luz com o interruptor, e então ela se viu no quarto novamente, seu olhos encaravam o teto branco, a respiração ofegante com o peito subindo e descendo rápido, o rosto estava molhado e uma das mãos na barriga.

Havia sido um sonho. Apenas um maldito sonho.

Ana apertou a mão contra o ventre e sentiu o familiar vão que tinha ali, e nunca imaginou que ficaria tão feliz em sentir aquilo.

Como se quisesse confirmar que estava mesmo ali, o bebê se mexeu dentro de si, era como uma minhoquinha em sua barriga, fazendo cócegas por onde passava.

Suspirando de alívio, a garota finalmente deixou seus olhos observarem o lugar, estava mesmo num quarto de hospital, e havia eletrodos em seu corpo, mas dessa vez não era em seu coração, e sim em sua barriga.

Era rápido e ritmado o som que saía do monitor, diferente do de um adulto, diferente do seu.

Ela não se lembrava de muita coisa, somente da dor, muita dor. Era como se tivessem enfiado uma agulha em seu ventre.

A morena inspirou o ar e então expirou, testando se ainda estava doendo, e constatou que já passara.

Olhou ao redor e constatou também que não estava sozinha no quarto, Grace Grey estava ao seu lado, segurando uma de suas mãos e acariciando seu cabelo.

Ana nem havia sentido os toques pelo desespero.

— Eu sei que não quer me ver - Grace começou logo. - Mas eu queria muito saber como estava, fiquei preocupada, sua mãe foi comer alguma coisa e eu fiquei para que não ficasse sozinha, 

Christian precisou voltar para a empresa - ela disse de uma vez, afastando os toques.

Ana mordeu o lábio inferior.

— Você estava se mexendo muito, e ficou dizendo coisas sem sentindo, e quando começou a chorar eu fiquei preocupada, até chamei uma enfermeira.

Naquele momento a tal enfermeira entrou, junto com a Drª. Greene. 

Grace se virou para a porta e Ana mirou as duas mulheres entrando.

— Grace, chamou? - a douta questionou.

— Acho que foi só um pesadelo, na verdade - explicou a Grey.

Ana tentou se sentar, e Grace logo se prontificou a ajudar, a morena ignorou a vontade de dizer que não precisava, mas ela precisava sim, então...

Grace gentilmente a colocou sentada recostada num travesseiro fofo.

— Ana - a doutora chamou.

— Estou bem - disse a garota, estranhando a voz rouca por parecer não ser usada há muito tempo. - Foi só um sonho ruim.

Greene balançou a cabeça em concordância e analisou o monitor eletrocografo do bebê. 

— Os BCF estão bons, não há queda nenhuma.

— Está tudo bem com ele? - questionou sem evitar.

Grace sentiu o coração encher quando percebeu o tom meigo e preocupado de Ana com o bebê, e então viu ainda a mão da menina na própria barriga, bem em seu ventre.

— Sim, o pior já passou - Greene respondeu para o alivio de Ana. - Mas precisamos conversar sobre esse caso delicado em que estamos com sua gestação, querida. E é bom que seus pais estejam aqui também. Todos precisam saber dos cuidados que se deve ter.

— É grave? - a garota perguntou com medo.

Greene maternalmente pegou em sua mão. 

— Nós vamos cuidar para que tudo fique bem, não se preocupe.

Ana balançou a cabeça e mordeu o lado de dentro da bochecha.

Toda vez que falavam para que ela não se preocupasse, era quando ela mais se preocupava.

Não demorou nem um minuto inteiro e sua mãe entrou no quarto.

— Geralmente, eu gosto de conversar na minha sala, mas Ana precisava descansar, e de muito repouso nos próximos dias - falou a obstetra.

Carla beijou a lateral da cabeça de Ana.

A morena nem lembrou que aquela era a primeira vez que via a mãe depois que os pais se separaram, mas se deu conta que seu pai não entraria por aquela porta momento nenhum depois de sua mãe.

Ela encarou sua mãe por alguns segundos antes de voltar a prestar atenção na doutora. Carla estava vestindo uma calça jeans, uma blusa larga e o cabelo estava preso num coque um pouco desarrumado, denunciando que com certeza não penteou o cabelo. Não parecia em nada com sua mãe. A aparência de quem não dormia há dias estava impregnada ali, assim como a expressão de quem estava pronta para que der e vier ao lado da filha.

— Grace, você tem que ficar também. É o seu neto, afinal - Carla falou em algum momento.

Ana percebeu que havia se distraído, pelo que percebeu Grace estava se preparando para ir embora, a bolsa já em mãos. A Grey olhou para Carla com um sorriso de lado e então para Ana.

Era clara a frase "você é quem decide".

Ana concordou com a cabeça.

Não estava se importando muito naquele momento, só queria que a doutora falasse logo o que precisava falar. Além de tudo, sua mãe estava ali, e era o que ela precisava.

Não importava o que ela havia feito, toda a confusão e desastre, ela precisava de sua mãe quando as coisas ficavam difíceis.

E o bebê era realmente neto de Grace, ela iria querer ficar com sua filha e saber o que estava acontecendo com ele. Bem, Mia não estava mais lá com o bebê, então cabia a Ana aquela função.

Enfim, a obstetra não tardou a começar, direta e profissional como sempre.

— Ana, você está sofrendo de algo que chamamos de Placenta Previa - ela declarou. - É quando por algum motivo o feto acaba se formando muito abaixo no útero, e causa um grande desconforto, até mesmo dor como a que você sentiu. Muitas mulheres tem a sorte de enquanto o feto se forma e cresce, ele se mova para o outro lado da placenta.

— Eu fiz alguma coisa errada? - questionou a garota.

— Não, querida, não pense nisso. Placenta Previa é algo que nem mesmo nós, médicos, sabemos como acontece, apenas acontece. Não há nada a se fazer se não esperar que o bebê se mova.

Carla apertou a mão de Ana contra o peito numa forma de conforto. 

— Então isso está acontecendo há semanas? - perguntou a morena.

— Sim. Você provavelmente não sentia por ele ainda ser bem pequeno e não se mover dentro de você.

— Mas tinha sangue também - disse ela, lembrando-se.

— O sangue é algo preocupante, mas o bebê esta bem, felizmente. Foi como uma descamação do útero. Como posso explicar melhor? Bem, imagine que seu útero esteja fechado agora que tem um bebê se formando dentro dele, por um momento, pela dor e a pressão que o bebê fez para baixo em sua barriga, diretamente na abertura de seu útero, seu corpo começou um processo de expulsão, fazendo seu útero se abrir para a descamação. A vinda rápida para o hospital e a estabilização do combate contra os anticorpos foi o que fez o útero se fechar novamente.

— Eu quase abortei? - seu tom foi tao baixo que se não houvesse um silencio absoluto na sala, ninguém teria escutado.

— Sim - a doutora foi sincera.

A enfermeira que até então estava parada ao lado da porta, se moveu até a cama, preparada caso Ana tivesse alguma mudança no estado pela noticia.

Mas a morena apenas teve os olhos enchendo d'água. 

Aborto era uma palavra que ela tinha medo, era tão pesada.

— O que eu faço quando sentir dor novamente? E se eu começar a abortar de novo? - ela perguntou agitada.

— Primeiro de tudo você precisa se acalmar, o alarme de nervosismo que o sistema nervoso produz faz com que seu corpo trate a placenta como um intruso, pois é ela quem está provocando o desconforto, e o primeiro instinto é expulsar. Se você se manter calma, respirar fundo e sentar com as costas apoiadas de maneira reta, apenas espere que a dor irá passar. Não é uma coisa recorrente, sem esforços e sem qualquer aborrecimento você conseguirá seguir com a gravidez até as quarenta e duas semanas se for a sua escolha. Como já conversamos antes, o parto é uma escolha sua se as condições forem favoráveis. Você pode tomar um buscopan caso a dor não passe em um minuto, mas não exagere, seu corpo pode de acostumar rápido devido a tantos medicamentos que tomou a vida inteira.

— Ela vai precisar de repouso absoluto durante toda a gestação? - foi Carla quem perguntou.

— Absoluto não. Mas nada de extravagâncias é um bom concelho. Hoje você ficará aqui, e amanhã quando os exames estarem prontos vamos fazer outra ultra para ver como ele está novamente.

Ana concordou, se sentindo extremamente cansada de repente.

— Talvez possamos ver o sexo - disse a doutora, tentando animá-la.

Mas Ana nem sabe o que deveria sentir, então apenas concorda mais uma vez.

Greene se despede de Carla e Grace, com a certeza de que podem chamá-la a qualquer momento.

A enfermeira fica no quarto, retira os eletrodos da barriga de Ana como a obstetra mandou e sorri para a morena minimamente antes de sair do quarto.

Carla e Grace não disseram nada, apenas se entreolham e Grace sabia que Carla tinha um trilhão perguntas.

— É melhor eu ir, Carrick também ficou preocupado - disse a Grey. - Preciso dar notícias.

Ana nunca mais vira Carrick, desde o dia em que se conheceram, mas sabia que ele sabia sobre o bebê de Mia e que também se preocupava com ele, Christian havia lhe confessado. Ele apenas não se sentia pronto ainda. Ana não julgava, ele gostava do bebê e não dela, afinal. E também tinha Elliot, o filho mais velho dos Grey, quem ela sabia que com certeza não queria vê-la e nem ao bebê, pois ele alegava que a partir do momento que entrou em Ana, não era mais de sua irmã. Christian era sincero com ela.

— Eu vou com você até o carro - disse Carla. - Querida, eu já volto - ela deu um beijo na cabeça de Ana e seguiu em direção a porta.

— Grace - Ana chamou. 

Grace de virou, em expectativa. Nada seria como antes, uma quebra de confiança não se resolvia nunca. Mas podia ter uma tentativa ali, era tudo o que mais queria.

— Pode dizer ao Christian tudo o que a doutora disse? Eu nunca saberia explicar aquilo tudo - disse a garota.

Grace abriu a boca e então a fechou.

— Claro, assim que eu chegar em casa ligarei para ele, não se preocupe - prometeu.

Ela teria tempo. Elas teriam.

— Ta', valeu - murmurou a garota antes de inclinar para pegar o controle da TV no criado mudo ao lado da cama.

Grace e Carla saíram do quarto e logo depois entrou a mesma enfermeira de antes com comida para Ana.

Finalmente.

Ela estava com fome.

A garota colocou a bandeja com o almoço em cima da mesinha de rodas e a colocou na altura de Ana, sorrindo mais uma vez.

A morena a encarou enquanto a mesma abria tudo o que precisava. A enfermeira era bonita, parecia ser um pouco mais velha que Ana, o cabelo loiro preso num rabo de cavalo deixava-a com a aparência de adulta, mas com certeza não tinha mais do que vinte e dois anos.

A enfermeira se virou e deu de cara com Ana a encarando.

— Tudo bem? - questionou, logo colocando a mão no cabelo e então olhando a própria roupa para ver se tinha algo errado.

— Qual a sua idade? - Ana perguntou.

A enfermeira olhou para a porta e então para Ana.

— Bom, já que estamos nos tornando intimas perguntando até a idade, não tem problema eu ficar aqui te fazendo companhia na hora em que a enfermaria toda adora pedir para aferir pressão - a garota resmungou, logo se sentando na cadeira que antes foi ocupada por Grace, pegando uma revista no suporte. - Eu tenho vinte e um, e eu sei que você tem vinte. Então, me conta, como é essa loucura?

Ana arregalou os olhos, mas logo se recompôs. Gostava de companhia. Era exatamente por aquele motivo que havia conhecido Christian, não era? E a garota parecia legal.

— Loucura? Tipo, ter um bebê dentro de mim? - questionou enquanto comia.

— Não, estou falando de namorar Christian Grey. O magnata está em todos os jornais, ele acaba de se tornar um dos homens mais ricos dos Estados Unidos.

Dizer que Ana quase cuspiu o suco que tomava é eufemismo, porque ela cuspiu de verdade.

— Como sabe disso?

— Bom, ele não saiu daqui enquanto os médicos não disseram que você estava e pôde certificar. Ah, e ele também disse para todo mundo que era seu namorado e não precisava de - ela fez um sinal de aspas com as mãos - porra de parentesco nenhum.

Ana riu alto.

Aquilo era tão a cara de Christian quando estava irritado.

A morena sentiu o coração encher de alegria.

— Nossa, alguém está apaixonada - murmurou a enfermeira.

Ana sentiu o rosto esquentar.

— Se bem que ele é um deus grego, não é difícil se apaixonar por aquele corpo e aquele rostinho. Com todo o respeito, é claro.

— É, ele é bonito mesmo - Ana se forçou a dizer.

— Bonito é pouco. Ele não tem um irmão gêmeo? Não, ele não tem, eu sei. Mas ele tem um irmão mais velho que é um delicinha também.

Ana deu uma risadinha.

Ela não achou ruim, ou sem respeito, era apenas engraçada a forma que a garota falava tão espontânea sobre seus pensamentos referente a um homem. Ana nem conseguia dizer para sua mãe que achou alguém bonito.

E nunca havia conversado daquele jeito com alguém da sua idade.

E a enfermeira continuou a falar, dessa vez mostrando os caras bonitos na revista que folheava e falando dos demais detalhes que ela preferia neles e coisas que ela não gostava de jeito nenhum. E de repente Ana também estava dando sua opinião, percebendo que não tinha um "tipo", mas a loira declarou que o "tipo" dela era Christian Grey no fim das contas.

Logo Ana terminou seu almoço e o horário da enfermeira terminou, avisando que as visitas iriam começar em alguns minutos então ela precisava ir para a enfermaria supervisionar.

A garota pegou a bandeja de Ana, e deixou ali a mesa de rodinha depois da morena dizer que iria usar o computador. A enfermeira seguiu para a porta após se despedir - para a surpresa de Ana - com dois beijos na bochecha.

— Ah, aliás, eu me chamo Kate - a loira disse, voltando-se para Ana, já com a porta aberta. - Katherine Kavanagh, ma verdade - falou num revirar de olhos e fechou a porta em seguida, deixando Ana sozinha.

Já passava das 16h quando Christian entrou no quarto de Ana, a garota estava na cama, assistindo ao terceiro episódio da primeira temporada de O Mundo Sombrio de Sabrina. 

Ana estava completamente concentrada na TV, nem mesmo percebeu a porta abrindo e se fechando, ou sua mãe saudando Christian.

Somente percebeu o namorado ali quando o mesmo beijou seu rosto.

A garota sorriu e se virou, ganhando um beijo na boca dessa vez.

— É melhor você nunca mais fazer isso comigo - ele sussurrou contra seus lábios.

— Eu prometo que vou tentar - ela murmurou, aprofundando o beijo logo em seguida.

Christian tirou seu cabelo dos olhos e beijou sua festa, interrompendo o beijo ao se lembrar que não estavam sozinhos no quarto.

— Você demorou - Ana acusou.

— Desculpa se eu precisei trabalhar - ele foi irônico.

A garota revirou os olhos e permitiu que o outro a beijasse novamente, outra vez apenas um selar de lábios.

— Hum-hum - Carla pigarreou, chamando a atenção dos dois.

O casal se virou para a mulher e Ana levantou uma das sobrancelhas.

Eles só estavam se beijando, e nem era um beijo tão beijo assim.

— Bom, eu vou comer alguma coisa lá embaixo - disse a mulher, rapidamente se retirando.

Ana sorriu e e desligou a TV, querendo apenas ter total atenção de Christian. 

— Sente aqui - pediu, afastando-se para dar espaço na cama.

Christian se sentou ao seu lado e Ana não perdeu tempo ao pegar sua mão e fazê-lo abraça-la. 

— Como você está? - ele questionou e Ana soube que Grace havia lhe contado.

— Bem. Sem dor nenhuma - ela garantiu. - Sua mãe te disse o que houve, não é? Eu não sei explicar.

Ele balançou a cabeça.

— Ótimo, então você já sabe que precisa fazer tudo o que eu quero.

— Isso eu não sei não - ele murmurou.

Ana sorriu atrevida.

— Agora sabe. Não posso me estressar, e eu sempre me estresso quando escuto um não.

— Hum, eu sei. Longe de mim te dizer um não.

Ele beijou a lateral de sua cabeça e ela beijou sua boca, apenas para terminar o que haviam começado antes de serem interrompidos.

Ele segurou o rosto dela com delicadeza, como se ela fosse um cristal muito frágil e raro, e a beijou com gentileza, mas segurança, fazendo o coração da garota disparar e logo ela perder o fôlego.

— Eu gosto de te beijar, mas ainda acho que isso vai me fazer ter uma parada cardíaca - ela sussurrou ao se afastar.

Ele riu e selou seus lábios novamente.

— Então, como é ter vinte e seis anos e ser um dos caras mais ricos da América? - ela soltou.

Christian levantou uma das sobrancelhas. Ele até havia se esquecido do contrato com o Japão, um contrato que o fez bilionário, e o anuncio havia ido a mídia naquela manhã. Não era atoa que teve que entrar pela porta dos fundos do hospital.

— É... Normal - ele murmurou.

— Obrigada por ter me dito. Foi divertido não saber nada sobre meu namorado quando uma enfermeira me falou dele - ela foi sarcástica.

Christian mordeu o lábio inferior e a encarou.

— Desculpa, eu só não imaginei que você iria querer sabe do meu trabalho, não é muito importante para você. E eu se eu me lembro bem você disse que era chato.

Ela deu uma risadinha.

— Mas o trabalho é sobre você. E você é importante para mim, então... Sem contar que isso é totalmente importante para você.

— Você iria se assustar se eu dissesse que você é mais? - ele questionou.

Ana sorriu de lado.

— Que eu sou mais importante do que você se tornando bilionário?

Ele inclinou a cabeça num gesto de confirmação.

— É um pouco assustador sim, mas eu gostei de saber - ela respondeu e ele sorriu para sua forma manhosa de falar.

Ele tocou a ponta de seu nariz de leve, fazendo-a fechar os olhos, e então beijou sua testa, suas bochechas e sua boca novamente.

Não durou muito, e ele voltou a encará-la.

Era difícil não olhar para Ana, seja em que momento for. Até mesmo ali, naquela cama de hospital, com o cabelo meio desarrumado, a carinha de sono e aquela camisola de hospital. Ela era perfeita.

Ele olharia para ela o dia todo sem se cansar, e ainda assim, em cada manhã se apaixonaria mais por ela. Porque Ana era linda em qualquer hora do dia.

Quando ele a olhava nem conseguia disfarçar, reparava em tudo, os cabelos pretos já quase chegando a cintura, aquela boca, meu Deus, aqueles lábios cheios sempre com um sorriso que acabava com ele, sua pele ainda pálida demais devido ao Sol que nunca pegava, mas agora mais corada, brilhando, uma harmonia perfeita com seus olhos azuis. E quando ela falava, ele ficava hipnotizado, né? Ela sempre era tão confiante, pronunciava as palavras de sua opinião com uma certeza absoluta, e Christian poderia ficar escutando-a por horas. Eles não tinham nenhuma daquelas coisas em comum, ele sempre foi sério, quieto e na sua, enquanto Ana fazia amizade até na fila do mercado. E eles também não gostavam das mesmas coisas.

Sério, como eles funcionavam tão bem? Como eles podiam ter tanto harmonia e sincronia?

Nenhum deles saberia responder, só acontecia, sem mas.

Christian permaneceu ali até as 18h, quando Ana já estava dormindo em seus braços e agarrando sua camisa entre os dedos. Foi um processo lento levantar sem a garota acordar, mas Carla que já havia voltado alegando que dera bastante tempo a eles, ajudou com tudo.

E a noite passou, e outro dia amanheceu.

Às 8h Ana estava já estava de alta, havia trocado de roupa e apenas precisa esperar a Drª. Greene para uma consulta ali no hospital mesmo. Foi um pouco antes de Ana entrar em sua sala que Christian chegou, ele havia prometido que a buscaria para levá-la ao Parque Nacional do outro lado da cidade. E Ana não aceitaria uma desculpa num sábado.

— A Drª. Greene só precisa fazer uma ultra e nós podemos ir - ela informou a ele.

— Eu te espero no carro - falou o Grey já se preparando para sair.

— Não, você entra comigo - disse ela, segurando sua mão, impedindo-o de ir embora. - É legal ouvir o coração do bebê, você vai ver - garantiu.

Não era que ele não queria, o problema era que só de pensar sobre aquilo, se sentia estranho. Ainda nem sabia como se sentia em relação ao filho de sua irmã que estava no útero da sua namorada.

Era para ser fácil aquela situação?

De qualquer forma, Ana continuou falando, e ele apenas concordou quando ela - é sério, aconteceu— teve os olhos marejados enquanto falava sobre ele não querer mais ficar com ela.

Sem comentários sobre o fato de assim que ele disse que ficaria, ela ter parado com o drama e até sorriso, já sem lágrima alguma a vista.

E então chegou a hora, Ana estava deitada na cama e a blusa que usava totalmente fora da barriga, tendo completo alcance para que pudesse ver e ouvir o coração do bebê pelo monitor e Pinard.

Carla e Christian estavam na sala, a mulher ansiosa como sempre, até segurava a mão de Ana, enquanto Christian apenas olhava para a janela.

Sabe, Ana nunca teve tantas certezas na vida, e as que tinha eram completamente bobas ao decorrer dos vinte anos que tem, como ter certeza de que prefere uvas sem caroço do que as com, gostar mais do Ian Somerhalder do que do Paul Wesley, ela ama ler e não é muito fã de escrever. 

Também tinha certeza de que era apaixonada por Christian Grey. E então tinha aquele som.

Tum tum tum tum...

Lá estava algo que Ana tinha certeza que amava: o coração do bebê de Mia.

Rápido, alto e forte. O coração de um bebê em formação há dezoito semanas. E em volta dele já tinha 17cm e 198g. 

Ana olhava atentamente enquanto a obstetra lhe mostrava tudo sobre ele, e Ana quase sentiu o coração sair pela boca quando viu o bebê bocejar e confirmou que realmente vira quando a doutora brincou ao dizer que ele estava com sono.

A garota se virou para Christian para perguntar se ele também vira aquilo, e com certeza ele vira, os olhos do mesmo não saíam por um segundo do monitor, totalmente concentrados.

Não era apenas ela quem se sentia estranha com toda a situação, afinal ela tinha o bebê de outra pessoa na barriga. Mas ela sentia uma coisa maravilhosa por aquele bebê, e nem sabia identificar o que era. Nunca pensou sentir aquele tipo de coisa por alguém que nem conhecia ainda, nem sabia como era, a cor dos olhos, do cabelo... Nem tinha um nome ainda.

Christian sentia o mesmo?

Seus olhos pareciam brilhar só de olhar o bebê se mexendo na barriga de Ana, escutando o coração pequeno e rápido.

Naquele momento, Ana queria que aquele bebê fosse dela e de Christian.

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Notas finais do capítulo

Aaaawn



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