When Night Comes escrita por Bia


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Estou empolgada para postar um cap atrás do outro? SIM



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Pov Brenda

A primeira coisa que percebi foi que eu estava sendo carregada... Sentia meu tronco e cintura sendo amparados e mãos perto do meu pescoço e joelhos. Depois eu ouvi, passos fortes e firmes, ouvia uma respiração baixa também, até mesmo suave. Por fim eu abri os olhos, mas a única coisa que eu consegui ver foi o chão, escuro, passando conforme eu era levada... Mas levada para onde? Esse pensamento me fez despertar por completo, estremecendo-me, porém isso fez a pessoa parar de andar.

Meu provável sequestrador começou a me abaixar, mas assim que toquei o chão exclamei de nervoso e cambaleei para longe dele, escorando em uma árvore, olhando para a pessoa, que me encarava de volta. Mas por sorte, ou não, quem me carregava não era um homem, mas uma menina... Bom, ela parecia jovem, mas não sei ao certo se era uma menina ou mulher, de qualquer forma, é do sexo feminino! Bom... Pelo menos parecia...

O rosto era simétrico, mas seu nariz era relativamente protuberante... Seu cabelo era extremamente negro, seus olhos verdes como as folhas ao redor. Sua pele branca, mas a maçã de seu rosto era rosada, não muito, mas era. Seu corpo era magro, mas ela usava uma blusa xadrez de lã, abotoada até a base de seu pescoço, cobrindo-o levemente.

Ela ficou me olhando, sem se mover, mas olhando-me nos olhos fixamente.

—Quem é você? – Perguntei, em um tom meio exasperado. – Para onde está me levando?! De onde você veio?!

Ela nada falou de imediato, o que me irritou um pouco, mas quando eu ia insistir, ela respondeu:

—Você não os ouviu? – Perguntou baixo, ainda olhando-me fixo. – Se eu a deixasse lá, eles iriam te pegar. Você está sangrando, eles sentem o cheiro... – Ela olhou para meu joelho e eu acompanhei, realmente, me lembro de tê-lo machucado, mas agora ele estava coberto com algo verde e seco! – Não sei como não te acharam primeiro, esse é o domínio deles. – Dessa vez ela olhou ao redor, para o horizonte. – Eles devem estar sentindo nosso cheiro... São dois cheiros fortes, com certeza já sentiram.

—Do que você está falando? – Perguntei preocupada... Será que era algum animal?! Uma onça ou um puma talvez?! – Tem um animal nos perseguindo?

Enquanto eu falava, ela olhava para o horizonte, aparentemente de onde estávamos vindo. Não sabia o que tanto ela olhava, mas percebi que ela inspirou forte o ar, com os olhos fechados e imóvel, mas no segundo seguinte os abriu e me encarou.

—Eles estão vindo. Precisamos ir! – Ela se aproximou de mim, mas eu dei um passo para trás. – Nós vamos mais rápido se eu te carregar! – Seu tom de voz era urgente. – Precisamos ir rápido!

—Você nem me falou quem é! – Exclamei para ela, que me encarava com os olhos arregalados, alterando o olhar para o horizonte e para mim. – E para onde nós estamos indo?! Eu preciso voltar ao acampamento!

—Tem mais de você aqui?! – Ela perguntou de uma forma até irritada e atônita, mas voltou a olhar para o horizonte. – Eles estão chegando.

Abri a boca, porém minha fala foi cortada por um som alto e continuou que me fez arrepiar dos pés a cabeça... Um uivo cortou o ar da noite que era iluminada por uma lua cheia brilhante no céu.

—O que foi isso? – Perguntei encarando-a, mas ela apenas ficou fazendo o que estava fazendo! Olhando do mato para mim e de mim para o mato com uma expressão que não consegui decifrar.

—Não vai dar tempo! – Ela olhou para mim e depois para a árvore acima de nós. Achei estranho e olhei para cima. – Não grita.

—O que? – Perguntei me virando, mas vi ela vindo em minha direção.

Não sei como aconteceu, nem a velocidade que aconteceu, mas ela veio em minha direção e içou-se para cima segurando em minha cintura, fazendo-me subir junto com ela a metros do chão! Eu realmente senti como se estivesse sendo puxada por uma corda, mas quando paramos a uma altura bem distante do chão, em um galho grosso e alto da árvore, percebi que realmente foi ela, o que me fez ficar olhando do chão para ela e dela para o chão! Como ela conseguiu fazer isso?!

Meu coração disparou e me senti tonta! Minha respiração falhou e me agarrei ao sem ombro, tentando não me desesperar na irracionalidade do que aconteceu e pela altura! Estávamos realmente alto!

A olhei e percebo que em momento algum ela me olhava, seus olhos estavam voltados para o chão da floresta, atenta a alguma coisa que eu estava alheia. Resolvi seguir seu olhar e o ar terminou de faltar de meus pulmões. No chão havia um único lobo, mas um lobo ENORME! Ele deveria ter quase dois metros de altura, seu corpo era bem mais comprido do que o dos outros animais, suas patas finas, mas o corpo peludo e robusto, o focinho era longo e pontudo, seus dentes a mostra enquanto o focinho se mexia. Ele estava farejando.

Abri minha boca para falar, mas a menina cobriu minha boca. A olhei e ela fez um sinal de silêncio com a mão, sem emitir nenhum som, balancei a cabeça e ela livrou minha boca, o que me permitiu respirar aliviada, porém quando fui respirar eu engasguei e tossi (talvez pela falta de ar a pouco tempo? Provável), fazendo-me olhar para baixo no mesmo instante que o enorme lobo olhava para cima e rosnava, mostrando ainda mais seus caninos enorme.

Mas minha respiração cessou quando a menina ao meu lado soltou um tipo de rosnado e caiu, praticamente voando para cima do lobo com os braços e pernas abertos, caindo nas costas do animal, que saltou, tentando soltá-la de lá, rosando enquanto mostrava seus caninos enormes enquanto tentava morder a mulher de todas as formas! O barulho de rosnados, grunhidos, galhos e muito mais ecoavam como se estivéssemos em um lugar com eco.

Me sentei no tronco para não me desequilibrar, agarrando o tronco em que estava sentada com força, pois senti tudo girar ao meu lado vendo a mulher lutar com aquela besta. Meus olhos tentavam acompanha-la, mas a mesma parecia ter uma velocidade acima do normal, pois até o lobo tinha dificuldade em mordê-la ou localiza-la.

A mulher cercava o lobo com movimentos precisos, talvez tentando deixa-lo tonto, mas o animal parecia incansável e também irritado, cada vez mais, com a movimentação incansável da mulher. Uma hora ela saltou sobre ele, um salto digno de filmes de ação, pois quando ela saltou sobre ele, suas mãos agarraram a pelagem acinzentada das costas do animal em pleno ar e com uma força tremenda foi o levantando do chão enquanto caia em pé na terra, jogando-o contra uma árvore, fazendo um grande estrondo e um ganido do animal. Foi incrível ver a cena, passou como se fosse em câmera lenta...

Arregalei os olhos para o animal que estava deitado, se contorcendo enquanto tentava levantar, olhando para a mulher. Olhei para ela e vi que ela me olhou e em um segundo, saltou para onde eu estava, a metros e metros do chão! Meu! Quem é essa pessoa?

Meu corpo gelou ao vê-la perto de mim. O que ela faria comigo? Olha o que ela fez com o lobo!

—Meu Deus, quem é você? O que você é?! – Eu estava atônita quando a mesma parou no galho a minha frente, com os joelhos dobrados e uma posição que a mesma parecia estar acostumada. Eu a olhava e meu coração parecia saltar o peito, de medo ou de apreensão, não sei.

—Não temos tempo! Precisamos sair daqui agora! – Ela olhou para o animal e eu a acompanhei, ele estava quase se levantando, voltando a rosnar. – Suba nas minhas costas!

—O que? – A olhei abismada. – Nós duas vamos cair daqui!

Ela parou de se movimentar e olhou para mim de forma séria.

—Você já viu! Já o viu, já me viu! O que acha que vai acontecer? Cair?! – Ela parecia irritada. – Se você não subir e ir comigo, vai ser comida de lupino hoje!

Engoli em seco e sem falar mais nada montei em suas costas e forma desajeitada, quase que no mesmo instante ela saltou para o chão e caímos com um baque surdo e forte, depois ela começou a correr segurando meus joelhos. Olhei para trás e o animal não estava mais na árvore, avançava contra nós, porém o mesmo estava longe e quando mais ela corria, mais distante ele parecia ficar...

Olhei para ela e a mesma parecia, mesmo [talvez] com medo, calma... Seu rosto parecia muito mais perfeito de perfil... Seu queixo era quadriculado, mandíbulas bem desenhadas e aparentes, queixo pontudo e o nariz era deveras grande, mas ainda dava um charme... Realmente muito linda, mas o que será que ela era... Aquilo atrás de nós parecia um lobo, mas era muito grande para ser um lobo normal... Ela parecia uma humana normal, mas era muito rápida e muito forte... O que mais teria de estranho nela?

Depois de um tempo a observando, olhei para trás e não vi mais nada nos seguindo.

—Acho que você o despistou. – Falei, sentindo seu curto cabelo fazer cócegas em meu queixo. Pela alta velocidade dela, nossos cabelos esvoaçavam ao redor da cabeça, o meu mais que o dela, por ser grande.

—Ele ainda está aqui, consigo sentir. – Disse sem um pingo de cansaço na voz, ou de esforço.

Como ela consegue sentir?

Olhei para o lado e percebi que a mata mudou... Agora havia uma floresta caducifólia e aberta, mas tudo passava muito rápido... Como se eu estivesse em um veículo em alta velocidade.

Vi que nós subíamos pela reserva, ficando cada vez mais longe da civilização que eu participava, do acampamento... Da minha vida.

Ela parou de andar, chamando minha atenção. Colocou-me no chão e olhei para frente, havia uma casa aqui, no meio da floresta e ainda em um dos montes mais altos! A casa era toda feita de madeira e havia um varanda com uma porta e duas janelas na lateral.

A mulher pegou meu braço e começou a me puxar para casa.

—Ei! – Puxei meu braço, chamando sua atenção, mas ainda sem o liberta-lo. – Onde você está me levando?! Acho que me deve algumas explicações! – Eu falava enquanto puxava meu braço, tentando me soltar. – Eu não quero entrar na casa!

Ela me soltou e eu parei, ela parou. Nos olhamos... Senti meu coração falhas algumas batidas e meu cérebro começar a raciocinar. Provavelmente eu teria morrido se ela não tivesse me salvado... Eu estava em uma floresta e sangrando, com certeza algum animal sentiria o cheiro e viria me pegar, mas ela chegou primeiro, lutou com um lobo e me trouxe para uma casa, talvez sua casa! Se ela em salvou do lobo, eu estava segura... Certo? Espero que sim.

—Eu não quero lhe assustar. – Ela disse em um tom baixo, olhando-me nos olhos. – Eu não quero te fazer mal, mas se ficarmos aqui fora, nós duas corremos perigo.

—Há tantos animais assim? – Perguntei, olhando ao redor. Passei a mão no meu pulso e olhei para ele, o mesmo estava vermelho...

—Eu te machuquei.

Olhei em sua direção e quando vi ela já havia avançado, parando em minha frente, tomando meu pulso em suas mãos. Engoli em seco e vi que a mesma parecia apreensiva, sua expressão deixava claro que ela estava com dor, realmente parecia com dor. O cenho franzido, lábios retorcidos e olhos cabisbaixos.

—Tudo bem! Você me salvou de algo pior do que um pulso vermelho... – Sua cabeça se levantou e nossos olhos se encontraram... Ela tinha olhos lindos... Tão verdes.

Um pigarro chamou nossa atenção, fiz menção de me afastar, mas vi que ela não se moveu... Então resolvi ficar. Olhei na direção do som e vi uma mulher jovem com cabelos amarrados em um coque alto e bem feito, vestindo um vestido negro como seus olhos e cabelos... Sua pele era morena, mas não tão escura.

—Mais problemas, não é mesmo, Nevena?

Olhei para a mulher ao meu lado. O nome dela era Nevena?! Que nome estranho... Bonito, mas estranho.

—Me desculpe. Você foi a primeira pessoa a quem pensei em recorrer! – Ela disse gesticulando na direção da mulher, que riu e balançou a cabeça.

—Pelo cheiro ela é humana... – A mulher me analisou e riu novamente, porém seu sorriso morreu e ela me olhou mais atentamente... Como se prestasse atenção em um detalhes específico. – Vamos, entrem as duas. Não vamos procurar mais problema, não é mesmo?

Assenti para a mulher e olhei na direção de Nevena... Ela estava olhando para a mulher, notei que em momento algum ela sorriu... Mas também não ficou brava, a não ser na hora que eu disse que não iria segui-la... E bom, segui.

Ela foi a primeira entrar na casa, seguida da mulher e por último eu... Eu que pensava não estar entrando em uma fria, ao mesmo tempo em que eu pensava o que eu estava fazendo seguindo essas doidas que eu nem sabia quem era para uma casa desconhecida em um lugar em que nunca estive! Espero não estar indo me ferrar bonito.

ʘ

A casa parecia comum por fora, mas por dentro não era mesmo. Primeiro que havia muito preto, todos os móveis eram pretos, mas o chão e as paredes eram de madeira, o cheiro era de madeira misturado com terra molhada, um cheiro bom, pelo menos me agradava, mas a disposição e a casa em si não me agradavam muito... Mesmo assim me pus a segui-la por dentro da mesma, passando pelo hall de entrada, depois pela entrada da sala de estar, um corredor e por fim uma cozinha, onde ambas pararam e se separaram pelo cômodo.

Eu não sabia o que estávamos fazendo aqui, mas a tranquilidade da mulher de vestido chamou minha atenção, pois, além de ter cara de “está tudo normal”, ela começou a fazer café.

—Eu gosto de café puro e sei que ela também, mas e você? – Ela se dirigia a mim.

—Ah, eu?! – Surpreendi-me e balancei a cabeça. – Por mim pode ser puro também, não tem problema.

—Ótimo. Sente-se. Sou rápida com muitas coisas, mas fazer café é uma arte! – Ela riu brevemente e continuou a falar enquanto me sentava. – Quantos anos você tem?

—Tenho dezoito. – Respondi. Era uma pergunta inofensiva, certo?

—Interessante. – Comentou, mexendo pelas coisas na cozinha, preparando o café. – Qual sua religião?

—Católica. – Respondi e ela ergueu uma sobrancelha. – Não nasci aqui, nem minha família. Mesmo que aqui no Reino Unido a predominante seja a presbiteriana mesmo. – Dei de ombros, apoiando-me na bancada. – A família de meus pais, tanto por parte de mãe quanto de pai, sempre foram católicos, são poucos os que não seguem. 

Escutei Nevena arfar ao meu lado enquanto a anfitriã da casa cujo nome ainda não sabia, se ausentava dizendo ir pegar café na dispensa. Ela se ajeitou na bancada da cozinha da mulher estranha, ela encarava um ponto da cozinha em silêncio, parecia pensar... A fitei mais detalhadamente e reparei, novamente, de como ela era bonita... Sua pele branca, seus lábios rosados e rosto quadricularmente perfeito... Seu cabelo negro jogado para trás de uma forma a se ondular, seu pescoço relativamente longo...

—Faz tempo que não presencio isso.

Sobresaltei-me e virei para a mulher que segurava duas xícaras em suas mãos, enquanto nos encarava com um sorriso. Olhei rapidamente para Nevena e a vi encarando a mulher também, mas com a mesma expressão séria e concentrada dela de desde quando há vi...

—Do que você está falando? – Perguntei, pegando a xícara que a mesma estendia em nossa direção.

—Nada! – Ela entregou a xícara para a mulher ao meu lado, que aceitou com um aceno de cabeça. Observei a mulher rir levemente e Nevena fechar ainda mais a expressão. – Enfim! Vamos ao que interessa! – Ela se sentou com um copo enorme de café nas mãos, começando a bebê-lo. A acompanhei, começando a bebê-lo. – Como iremos lidar com essa situação, heim? – Ela fez um barulho com a boca, olhando para a mulher ao meu lado. – Sabe que isso não é bom. Com certeza eu não tenho nada haver com isso e não tenho consequências a sofrer, não ligo para essas regras idiotas entre vocês ou do bando de vocês, mas você sim pode sofrer consequências, querida.

—Eu sei. - Sua voz estava mais fria do que me lembrava... Olhei para ela. – Não tive escolha. – Ela encarava a mulher fixamente.

—Ah, você sempre tem escolhas. – A mulher sorriu. – Todos temos escolhas.

—Você pode me ajudar ou não? – Seu tom era ríspido. – Não vim até aqui para ficar escutando sermão! Nada foi descoberto! Não tem como sofrer consequências se informações não foram assimiladas por gente que não deveria!

—Mas você facilitou e muito essas informações a, talvez, serem assimiladas de uma maneira verdadeira. – Ela disse sorrindo, soltando um riso no final, voltando a bebericar seu café. Eu apenas acompanhava a discussão em silêncio... Parecia que elas nem me via aqui! – Só porque eu gosto muito desse tipo de coisa que vou ajudar.

—Obrigada. – Seu tom agora era mais calmo, mais relaxado. Sua expressão também se suavizou.

—Não agradeça ainda. – Disse, sorrindo largo. – Não agradeça, definitivamente.

Ninguém disse mais nada... Elas ficaram se encarando e por fim Nevena desviou o olhar, começando a beber seu café. A mulher se levantou, com o copo na mão, e partiu para dentro da casa, deixando-nos sozinhas... Olhei de relance para Nevena e a peguei me olhando, engasguei com o café, começando a tossir freneticamente, sentindo o ar se extinguir em meus pulmões.

—Respira! - Senti suas mãos em minhas costas, geladas, arrepiando-me por completo. Se possível, engasguei ainda mais. – Nossa! Você precisa respirar, é sério.

Inspirei profundamente pelo nariz, fechando os olhos, tentando controlar minha respiração. Inspirei novamente, expirando de forma rápida para meu pulmão não ficar sem muito ar novamente. Fiquei um tempo assim, com os olhos fechados, e quando os abri um par de orbes verdes brilhantes me encarava.

—Está melhor? – Seu tom era... Temeroso, talvez preocupado!

—Sim! Obrigada! – Falei, sorrindo um pouco nervosa. – Me engasguei, desculpe.

—Tudo bem. – Ela fez uma longa pausa, pegando seu café, voltando a se sentar. Olhei suas mãos segurando a xícara e lembrei como elas são frias ao tocar minha pele... Sempre falaram que eu era quente, também nunca senti muito frio, mas a pele dela realmente era gelada... – Você é de onde?

—De onde? Tipo, cidade? – Perguntei.

—Não. Onde você nasceu? – Ela se explicou melhor e me surpreendi um pouco com a pergunta... Normalmente subentendemos que todos que vivem em um país conosco possuem a mesma nacionalidade, a não ser claro, quando alguns traços estrangeiros eram mais fortes, mas não era meu caso.

—Nasci na Irlanda. – Falei, olhando para seus olhos que pareciam me prender. – Vim para cá quando tinha dez anos.

—Qual seu nome?

—Brenda.

—Você tem irmãos? Seus pais são presentes?

—Sou filha única. Meus pais são bem presentes, unidos.

Sua voz parou de entrar em minha mente e pisquei algumas vezes, olhando ao redor, depois parando nela.

—Desculpe...

Franzi o cenho e me senti muito mal... O que ela fez? Foi ela?! Eu não estava raciocinando, apenas respondendo de maneira automática. Não consegui sentir meu corpo, era como se ele estivesse adormecido. Me senti muito incomodada, violada!

 Fiquei olhando para ela, seus olhos estavam tristes, sua expressão cabisbaixa e percebi que ela se sentia culpada.

—Você fez de propósito?! Como você fez isso? – Falei me levantando. O que estava acontecendo? Quem era ela?! – Por que você fez isso?

—Desculpa, eu... Precisava saber mais sobre você e... – Novamente aquela careta de dor. – Desculpe! Nada justifica isso! Nunca mais farei esse tipo de coisa!

Não respondi mais nada... Apenas encarei-a uma última vez e lhe dei as costas, indo na direção da porta. Eu iria embora, estava me sentindo mal, queria chorar. Não sei o que aconteceu, como aconteceu, por qual razão aconteceu, mas sei que me senti muito mal, uma sensação ruim tomava parte de mim. Meu corpo sabia o que tinha ocorrido, mesmo que minha consciência não, eu confiava no meu corpo.

Minha mão alcançou a maçaneta a girei, abrindo a porta começando a içar-me para fora daquele lugar, daquelas pessoas, porém meu corpo parou, como se estivesse preso em alguma coisa! Dei alguns passos para trás e olhei para a porta, não tinha nada ali! Tentei sair de novo e de novo fui parada, presa, como se uma rede me prendesse! Voltei para trás novamente e encarei aquela saída, tentando analisar tudo ali para tentar achar uma explicação racional. Tentei colocar minha mão para fora e ela foi presa por algo... Não era uma rede, nem uma teia... Era como se fosse uma nuvem que barrava minha saída!

—Magia, querida. – Olhei para trás e vi a mulher de vestido encarando-me na metade da escada que levava para o piso superior. – Ninguém entra e ninguém sai. Serve até mesmo para humanos.

—Você está me dizendo que tenho que ficar aqui contra a minha vontade?! – Exclamei, começando a me irritar. Olhei para o corredor e Nevena vinha em nossa direção. Voltei a olhar para a mulher. – Vocês estão falando sério? O que é que está acontecendo aqui?! – Minha voz subiu um tom, denunciando meu nervosismo. – Quem são vocês? Que droga é essa que está acontecendo?! Acham que é legal, ficar sendo carregada feito bagagem para lá e para cá?! Acontecendo coisas que nunca vi na vida e ter que agir naturalmente sem receber nenhuma explicação! – Nenhuma delas falou nada... Me olhavam e olhavam uma para a outra. – Querem que eu fique?! – Perguntei em escarnio. – Tudo bem! Mas vão ter que me explicar quem são vocês ou melhor, o que são vocês e o que está acontecendo! Onde estamos e por qual motivo racional eu não posso ir embora agora!

Um silêncio se instaurou na casa, ambas as mulheres estranhas ficavam se olhando sem me responder nada e eu já começava a perder a paciência que eu pensei já ter perdido, mas quando fui falar alguma coisa, ouvi passos vindo detrás de mim, então me virei e vi um homem surgindo na varanda. Ele tinha a pele branca como a neve e enrugada, denunciando sua idade avançada, mas por sua vez andava muito perfeitamente e de maneira elegante, com um terno que parecia lhe cair sob medida. Seus olhos eram negros e seus cabelos em um tom castanho claro que o deixava com uma aparência engraçada.

Ele se aproximou da porta, abotoando seu palito com calma e um singelo sorriso no rosto. O mesmo parou em frente a porta e olhou para ela, sorrindo mais largamente, depois olhou para a mulher de vestido, para Nevena, ficando completamente sério e encarando-a por mais tempo, e por fim para mim. Fui analisada dos pés a cabeça diversas vezes, por fim ele inspirou profundamente e abriu um sorriso largo.

—Temos visita? – Disse, olhando para as duas e depois para mim, sorridente.

Não sabia quem era aquele homem, mas minha intuição me avisava que deveria ter cuidado, assim como um arrepio se fez presente em minha coluna. Ninguém falou nada de imediato, mas meu braço foi puxado para longe da porta, alguns passos para trás, e me virei, encarando Nevena que encarava-me com uma expressão preocupada e assustada.

—Me desculpe, mas você precisa ir!

Franzi o cenho e abri a boca para responder, mas senti algo frio em minha nuca e depois meu corpo inteiro ficou mole, tudo escureci e apaguei.

ʘ

—Brenda?

...

—Brenda?

...

—Brenda! Acorda!

Sobressaltei-me, abrindo os olhos e deparando-me com uma luz forte que me fez gemer virando o rosto, levando a mão até onde a luz surgia, para tampa-la de minha visão.

—Graças a Deus! – Virei para a voz, encontrando Jessie. – Se é que ele existe né! – Franzi o cenho e a vi balançar a cabeça, se aproximando. – Como você está se sentindo? Está com dor, com fome?

—Onde a gente tá? – Perguntei, olhando ao redor, deparando-me com um quarto. Será que eu ainda estava na casa da mulher de vestido?!

Falando nela... Lembrei-me da floresta... Dos olhos verdes... Do lobo... Do homem estranho chegando na casa...

—Brenda? Você ta bem? Está sentindo alguma dor? – Pisquei, voltando a olhar para minha amiga que permanecia séria e com um olhar preocupado no rosto. – Depois que a gente saiu da trilha procurei por você e não achei, mas um dos meninos disse que viu você correndo atrás do grupo... Então pensei que estivesse com alguém da sala! – Ela se sentou e sua expressão se entristeceu. – Fomos andar com quadriciclos e apenas quando chegamos nas barracas para comer e dormir, foi que percebi que ninguém estava com você. Entrei em desespero, Brenda! Você tem noção? – Fiquei pensando na aflição dela, coitada... Realmente ela devia ter se preocupado horrores! – Falei com todo mundo daqui, ninguém tinha te visto a tempos! Saímos para te procurar na floresta de novo, não te achamos!

—Como eu vim parar aqui então?

Minha voz estava lenta, eu estava lenta. O que tinha acontecido?

—Eu também queria saber! – Disse ela, exasperada. Sua expressão de irritação, mesclada com preocupação e indignação seria cômica, se a situação não fosse séria. – Eu vim dormir de madrugada! Você não estava aqui! Agora aparece como se nada tivesse acontecido, praticamente desmaiada dentro da barraca!

—Eu não estava desmaiada! – Exclamei. Ou estava?... Me ajeitei no colchão inflável e passei a mão nos cabelos, respirando fundo com os olhos fechados. Quando abri, reparei na marca vermelha em meu pulso... Me lembrei do aperto de Nevena em meu braço... – Quantos dias eu sumi?!

—Dois dias!

Arregalei os olhos, me surpreendendo com o tempo longo em que estive com ela...

—Onde você esteve, Brê? – Olhei para minha amiga e a vi entristecida de novo. Me senti culpada, mesmo achando que não tinha culpa. – Onde você estava? Eu te procurei feito doida! O que eu ia falar para sua mãe, se você não tivesse aparecido?!

—Desculpa! Desculpa mesmo, Jess! – Falei, me remexendo, pegando suas mãos. – Eu me afastei de vocês no lago e quando resolvi voltar tive que correr atrás de vocês! Corri muito, mas estava longe e acabei caindo, machuquei meu joelho e daí perdi vocês de vez. – Mexi em meu cabelo. Eu costumava passar a mão por eles quando ficava nervosa. – Eu desmaiei! Acho que minha pressão baixou e quando acordei já era noite! Estava sendo carregada por uma mulher e... Deus! – Passei a mão no rosto. Eu estava nervosa! Meu coração batia descontrolado, como se minha mente e meu corpo estivessem passando por aquilo tudo de novo1 – Ela me salvou... Um lobo surgiu, Jess! Ele era enorme e ela lutou com ele! Ela ganhou dele! – Olhei para minha amiga e ela em encarava sem expressão, mas prestando atenção. – Nós fugimos e... Ela corria muito rápido! Fomos para a casa de uma amiga dela e elas ficaram conversando. Eu e ela discutimos e resolvi ir embora, mas tinha alguma coisa... A mulher do vestido falou em magia e... Daí um homem surgiu e daí tudo apagou! Acho que desmaiei, mas eu não estava passando mal, sabe? Isso que é estranho... Também não senti uma dor forte ou algo assim! Sei lá, muito doido...

Um silêncio se instaurou e tudo o que eu ouvia era a minha respiração entrecortada e a respiração acelerada dela... Jessie me encarava sem piscar, mas seu peito subia e descia em uma velocidade impressionante, até pensei que ela estava passando mal! Mas quando ia mencionar a possibilidade, ela se levantou e saiu da barraca praguejando.

—Jessie! – Gritei, chamando-a. Me levantei rapidamente e sai da barraca. – Jessie! Onde você vai?!

Ela não parou e foi andando para longe da barraca, eu já estava a perdendo de vista, então reparei que estava de noite e o vento abraçou meu corpo com força, fazendo-me tremer. Abracei-me e me virei, começando a voltar para a barraca, quem sabe colocar uma roupa mais quente.

—Brenda? – Olhei para o lado e vi Mota. – Brenda! – Ele correu e me abraçou forte, espremendo-me com seus braços. – Onde você estava?! Ficamos te procurando feito loucos! Todos no acampamento ajudaram!

Balancei a cabeça e sorri minimamente, mas apenas passei por ele e segui até a barraca, fechando-a com o zíper e deitando-me debaixo do cobertor que deixávamos no colchão. Apertei o pano macio contra meu pescoço e encolhi-me... Senti falta de algo... Fechei meus olhos e quis chorar. Encolhi-me mais e esperei meu corpo relaxar para pegar no sono.


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Notas finais do capítulo

Então minhas fofíssimas? O que estão achando? = >.< = Espero que estejam gostando!
Realmente estou adorando escrever essa história! Nunca tinha escrito algo sobre esse assunto, sobrenatural sim! Mas vampiro, lobisomem e mais alguns que irão aparecer e.e