When Night Comes escrita por Bia


Capítulo 12
Capitulo 12


Notas iniciais do capítulo

Agora sim kkkk Este é o 12 e.e kkkk



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/769195/chapter/12

Pov Brenda

Já chorei tanto que não havia mais lágrimas em mim. Eu realmente nunca pensei que em algum ponto da minha vida eu seria sequestrada, muito menos por seres sobrenaturais! Ou que pior, eu sentiria algum tipo de atração por algum ser que não seja o humano!

Suspirei, passando a mão na cabeça.

Não que Nevena não parecesse humana, muito pelo contrário, a única coisa que denunciava em sua aparência eram os dentes, porque o resto nada era diferente. Muito pelo contrário! A vampira chefona era perfeita, totalmente linda! Impossível eu não me atrever a aproximar-me, impossível mesmo, principalmente levando em consideração que a mesma aparentava possuir uma aura que emanava beleza, sexualidade e atração.

Eu ando pensando muito para constatar essas coisas, principalmente nas últimas setenta e duas horas, sim, eu estava tranca neste quarto sem comer direito faz três dias! Eu recebia comida de uma maneira incrivelmente rápida, que percebi ser uma característica de todos os vampiros dadas minhas circunstâncias, mas a comida que vinha era tipo... Frutas e salgadinhos, nada que me sustentasse mesmo, o que deixava meu humor pior ainda! Para piorar o humor, Nevena não havia voltado para me ver.

Revirei os olhos e joguei-me na cama. Uma das coisas que me frustraram quando me jogaram aqui é que nada tinha o cheiro dela! Haviam roupas da mesma no armário, essas sim tinham o cheiro dela, tanto que peguei algumas roupas para colocar, pois tomei banho e não tinha roupas, daí peguei dela e o cheiro era maravilhoso, acalmava-me em meio a essa confusão que virou minha vida.

Suspirei novamente. Queria entender o que se passava comigo, com minha vida, tudo havia virado de cabeça para baixo, tudo havia mudado e por Deus, eu fui sequestrada por lobos e salva por vampiros! “Salva”, pois ainda estou presa aqui, então não estou muito livre para o meu gosto.

Levantei e fui até a janela, o dia estava amanhecendo e vi algumas pessoas, ou melhor, deviam ser vampiros, passando lá em baixo, hora em grupos, hora em trios, duplas e sozinhos, vários, o que me trouxe o pensamento de: quantos será que haviam deles aqui? Por que ninguém ainda veio importunar-me? Eu não sabia essas respostas, mas também se fossem para ser negativas e colocar minha vida em risco, como Nevena deixou transparecer de uma forma completamente mínima! Eu ficaria feliz em ficar aqui e só sair quando estivesse em segurança.

Me dirigi ao banheiro, fazendo minha higiene matinal e quando voltei assustei-me por vê-la em pé, em minha frente. Engoli em seco quando nossos olhares se encontraram.

Olhar para Nevena me trouxe a lembrança do dia anterior... Quando a mesma em pressionou contra a parede, querendo ou não, e quase nos beijamos, sem falar que eu quase tive uma taquicardia com nossos corpos unidos, sua respiração batendo em meu rosto e quando seus olhos se fecharam, denunciando que estava gostando do momento, quase desfaleci. Lembrar-me disso sem ela junto era mais confortável, tê-la ali e lembrar do ocorrido deixa-me completamente sem graça...

—Bom dia, Brenda. – Cumprimentou, olhando-me com calma e... Ternura? – Quero me desculpar por ontem e bem... Pelos dias que me ausentei. – Ela foi até o cabideiro que havia perto da porta de entrada e pegou um manto negro que estava pendurado ali, nem o havia notado. – Infelizmente ocorreram muitas coisas desde sua chegada. Algumas já consegui resolver, graças aos deuses, mas outras ainda está em processo. – Ela me olhou, percebendo que eu não falava nada, apenas a escutava parada na entrada do banheiro. – Tudo bem?

—Estaria melhor se tivesse aparecido antes. – Falei desviando o olhar dela, caminhando para o seu escritório. Sim, fiquei tempo o bastante aqui para saber que ela possuía um banheiro e um closet além do quarto com cama e armário. – Por que apareceu só agora?

—Agora que tive tempo. – Falou seguindo-me para o escritório. Comecei a ver alguns livros nas estantes. Tinha a leve impressão de que não sairia cedo daqui. – Está com fome? Gostaria de almoçar comigo?

Franzi o cenho, voltando-me para ela e por fim ergui uma sobrancelha, estranhando.

—O que vai acontecer neste almoço? – Perguntei, virando-me para ela com os braços cruzados e a expressão séria. – Não acho que quer só me levar só para almoçar com você.

—Quero sua companhia, mas também quero lhe passar... Hm... Informações relevantes para nós. – Seu tom era calmo, mas ao mesmo tempo tremulo, como se ela estivesse nervosa ou ansiosa.

—Que seria?

—Pode me acompanhar, por favor? – Questionou, fazendo menção a porta. Assenti e caminhamos até a porta de saída e entrada do quarto, mas antes ela parou, olhando primeiro para baixo e depois para mim. – Promete que não vai fugir de mim? – Olhei em seus olhos e vi neles algo que não havia visto ainda... Mas não soube identificar, então apenas assenti. Nevena se virou para a porta e falou antes de abrir. – Espero ser verdade mesmo.

As portas se abriram, revelando um hall e uma escadaria que levava para baixo. Impressionei-me pela decoração do lugar, tudo em marrom, dourado, preto e vermelho, tudo bem escuro, mas ao mesmo tempo clássico e gótico. Gostei, achei muito bonito e elegante.

Caminhamos para baixo e só então notei as roupas que eu estava: camiseta branca dela que ficava deveras larga para mim e deveria ficar para ela também, pois era tamanho G e ela aparentava usar o tamanho M! Um short muito curto e desfiado na cor preta e pantufas azuis que havia achado socadas no fundo do armário. Sim, eu me vesti para continuar no quarto, não para almoçar com ela! Foi inevitável não corar, principalmente quando notei que ela estava impecável com aquele cabelo lindo penteado para trás, uma camiseta vermelha vinho e uma calça de pano grosso com tênis e seu manto por cima, dando um ar mais dark nela (o que super combinava levando em consideração que ela a darkness em pessoa sendo uma vampira, mesmo ela não sendo uma desvairada por sangue).

—Vamos almoçar sozinhas? – Perguntei olhando para todos os lados, notando que a decoração do lugar era realmente lida! Agora passávamos por um corredor com pinturas emolduradas na parede direita, retratos de vários homens e poucas mulheres, mas uma delas eu reconheci: Nevena. E outra reconheci da primeira vez que vi Astrid, um homem alto de terno e olhos azuis, na placa abaixo do nome dele estava escrito “Ancião Pax” e seus vários sobrenomes. – O que é um ancião? Você é uma? Você está junto da moldura deles. – Percebi que ela estava logo depois desse Pax.

—Os anciões são eleitos para comandar nosso povo. Há eleições de dez em dez anos e o ancião vigente tem o direito de tentar permanecer no posto e o povo escolhe alguns dos nossos para “tomar” o poder do ancião vigente, esperando um novo governo. – Explicou, parando parcialmente para olhar as pinturas. Ela parou em frente a do tal Pax, logo depois vinha a dela... Sua expressão séria combinando com uma camisa social que usava. – Não vamos almoçar sozinhas e sim, sou uma anciã. – Ela apontou para o retrato do homem a frente. – Pax era o ancião antes de mim, ele estava no poder a mais de cem anos. Agora quem governa nosso povo sou eu.

—Então você conseguiu se tornar anciã? – Sorri por ela, segurando seu braço, fazendo-a me olhar. – Era disso que me falava naquele dia da sorveteria? – Perguntei sorrindo e ela assentiu. Abracei-a com um de meus braços enquanto o outro acariciava sua nuca. Pensei vê-la prender a respiração por um momento. – Que bom, Nevena! Sei que não queria isso, mas o pouco que me mostrou de você me faz crer que será uma ótima governante! Anciã no caso. – Ri me afastando, mas ainda me mantendo perto, vendo-a suspirar forte e piscar, movendo-se para tentar disfarçar. – As coisas que me falou que estava resolvendo antes de ir me ver, eram sobre isso? Coisas de anciã?

—Basicamente sim. – Falou, olhando-me nos olhos, mas sem esboçar alguma reação ou emoção nas expressões.

—Entendo agora. Tudo bem, pelo menos você voltou. – Sorri para ela e percebi os olhos da mesma descerem para meus lábios, entreabrindo os dela, como se fosse falar algo, mas no mesmo instante que isso ocorreu, no outro ela balançou ligeiramente a cabeça e se afastou, voltando a andar pelo corredor, virando-se de costas e avançando rapidamente, fazendo eu correr um pouco para alcança-la. – Me diga, como conseguiu se tornar anciã?

—Matei pax e os outros concorrentes.

Diminui um pouco o ritmo dos passos e entre abri a boca, um calafrio percorreu minha espinha com seu tom frio e calmo, como se isso fosse comum... Mas me distrai quando o corredor se abriu em uma ampla área de entrada com um enorme lustre no teto, uma enorme escadaria central que dava para cima e dois corredores, um de cada lado do local e duas portas de cada lado também, duas dela, uma de cada lado, não havia portas. Fora na porta esquerda, sem porta, que entramos.

—Até que enfim! Pensei que iria ter que buscar vocês duas! – Franzi o cenho, reconhecendo a voz e não me surpreendendo ao vê-la ali, muito pelo contrário, revirei os olhos e me sentei do lado direito de Nevena, sendo que Astrid e Jessie ocupavam os dois lugares a esquerda. – Já contou para ela? – Perguntou olhando para Nevena, que apenas fechou o olho e balançou a cabeça em negação. – Sério?! Pensei que só assim para ela aguentar ficar ao seu lado. – Astrid riu e se ajeitou na mesa, olhando-me. – Como vai, minha querida? Ótima estadia na casa de nossa digníssima anciã? Confesso que os empregados aqui não são dos melhores.

—Não são empregados, mas se você quiser eu posso te fazer virar uma. – Ameaçou Nevena, olhando-a de forma impaciente. – Lhe aceitei de volta, mas posso muito bem exila-la novamente! Agora com uma companhia deve ser melhor!

—Digo o mesmo a você, anciã. – Sorriu irônica. – Com uma companheira seus anos devem ser mais gloriosos. – Sorriu grande, olhando de Nevena para mim. – Já soube da nova, Brenda?

—Pondere as falas, Astrid. – Sibilou Nevena. – Você já deve saber que não ando com bom humor ultimamente! Não teste minha paciência!

—E quando você está de bom humor? – Perguntou revirando os olhos. – Eu estou com fome. – Astrid olhou para os lados e estalou os dedos umas três vezes. – Cadê o pessoal com a comida?! Podem trazer, estamos famintos! E por favor! Não tragam sangue para mim!

Senti meu corpo se arrepiar e notei Nevena cerrar os punhos em cima da mesa, assim como notei seu maxilar trincado mostrando o quanto ela estava irritada com as ações de Astrid. Talvez ela realmente estivesse passando por muito estresse ultimamente.

Por impulso, ou não, apenas no intuito de acalma-la e não matar a bruxa antes de comermos, e sim, eu estava com fome! Levei minha mão até a dela em cima da mesa, enfiando meus dedos em seu punho, apertando levemente para chamar sua atenção. Quando a mesma me olhou, sorri minimamente e lhe acariciei a mão de forma amena.

—Podemos comer? – Perguntei para ela de forma calma. – Estou mesmo com fome. Não como algo descente há dias.

—Claro, me desculpe. – Falou retribuindo o aperto e a caricia em minha mão, levando a outra até as nossas, apertando suavemente, depois largando. Confesso que poderia me acostumar com nossas mãos unidas... As mãos de Nevena eram ligeiramente frias, quase mornas, uma temperatura ótima! – Não sabia o que você comia! Mas me lembro que pediu torta de carne da última vez que nos encontramos, então pedi que fizessem bolo de carne com algumas outras coisas. – Sorri com sua preocupação e assenti, notando seus olhos fixos em mim, esperando uma reação. – Se você quiser podem fazer outra coisa!

—Não! Por mim está ótimo. – Falei rindo e tocando-lhe o braço novamente, logo afastando minha mão. – Adoro bolo de carne!

Ela suspirou em alivio e estalou os dedos. Quatro pessoas surgiram por uma porta e deixaram pratos a nossa frente, logo depois reverenciaram Nevena que acenou e eles se foram. Quis rir com a cena, porém achei que não seria uma boa ideia então me limitei a ignorar.

—Peço desculpas pelo jeito de Astrid. – Jessia falou, só então me lembrei que a mesma estava ali e por mais que fosse algo totalmente peculiar, ainda não era ao lembrar da cena na varanda da casa dela. Agora está explicado o motivo de ter fugido de mim! – Você mais do que ninguém sabe os comportamentos de Astrid, desculpe.

—Não precisa pedir desculpas. – Falou Nevena, pegando um copo térmico que deixaram no meio do prato. Olhei para o meu e vi bolo de carne, bacon, legumes, arroz e salada! Tudo para me deixar feliz! Sorri e comecei a comer. Nevena se encostou a cadeira de forma relaxada, suspirando. Olhei-a rapidamente, notando as olheiras debaixo de seus olhos. – A chamei aqui para absolver sua pena, trazendo-a de volta a nosso território, mas é como ela me disse: agora sou anciã e as leis estão a minha frente para reformula-las e segui-las, ou não.

—Falei mesmo e estou completamente certa. – Falou enquanto comia um peixe cru. Sim, eu observava a cena calmamente enquanto comia. – E repito com toda a certeza, porque é verdade mesmo. – Ela deu de ombros, comendo. – Você me propôs um trato e eu lhe dei uma condição... A aceitou?

Olhei para a mulher de olhos verdes e a vi encarando Astrid, mas por fim ela assentiu devagar.

—Sim. Poderá trazer Jessie com você, tornando-a sua aprendiz legalmente, mas as duas nos seguiram e responderão apenas a nós, não a nenhum outro povo. – Falou de forma convicta, como se não tivesse chances de objeções.

—Sim, senhora. – Ambas falaram, olhando para Nevena.

—Ótimo. – Ela se ajeitou na cadeira, bebendo mais de sua caneca térmica que suava, denunciando que o liquido estava gelado. – Astrid, quero que me auxilie no entendimento que passarei a Brenda, tudo bem?

—Sim. – Astrid respondeu sem olhar para nós, devorando suas batatas fritas.

A morena ao meu lado suspirou, deixando de lado sua garrafa, voltando seus olhos esmeraldas em minha direção, fazendo-me parar de comer por vergonha de ter seus olhos e sua atenção totalmente para mim. Cocei a garganta e tomei um pouco da água que estava em meu copo, depois sustentei o olhar de Nevena.

—Eu sei que você já sabe um pouco sobre nós, sobre tudo isso. – Seu tom de voz era calmo, como se tomasse cuidado para não falar algo de errado. – Eu sei que já sabe dos lobos, das bruxas e dos vampiros. Você me falou e ouviu explicações naquele dia da sorveteria e depois ficou sabendo de outras na varanda da casa de Jessie, quando eu e Astrid discutimos, Astrid também me disse que falou algumas coisas para você... Quero te falar, Brenda, que tudo é verdade. – Ela procurou minhas mãos e as segurou. – É realmente tudo verdade! Ontem você questionou-me sobre as fronteiras que comentei quando disse que os lobos causaram a batalha e realmente há fronteiras de território, como te falei. Naquele dia os lobos as ultrapassaram, o que é caracterizado invasão, o que nos da direito de contra-atacar e foi o que fizemos.

—Você disse que os lobos me sequestraram. – Falei só para ter a confirmação mesmo, vai que foram eles! Mesmo eu duvidando disso.

—Sim! Foi um lobo chamado Gargok e uma chamada Lumía. – Ela assentiu e quando ouvi o nome dela, congelei. – Lumía é o lobo que vem me cercando há anos, aparentemente ela descobriu você de alguma maneira que ainda não sei como. Ela nos observou e até chegou a nos atacar, aquele dia no ponto de ônibus, se lembra?

—Sim... Sim, eu... – Eu olhava o prato de comida, juntando as coisas na cabeça. – Lumía é minha aluna na oficina de artes do instituto, ela... Ela surgiu do nada, todos falavam que ela vinha de uma cidade distante e tinha um namorado na sala da Jessie, o que era muito bom!

—Eu lembro dele! – Exclamou Jessie, chamando nossa atenção. – Senão me engano, o nome dele é Lakan!

—Se isso for verdade, faz todo o sentido, Nevena. – Falou Astrid. – Mas ainda não sabemos como ela descobriu Brenda.

—Ela... Apareceu alguns dias depois que eu fiquei perdida na floresta e você me salvou. – Olhei para a morena de olhas verdes, buscando e apertando sua mão com a minha. – Lobos nos perseguiam aquele dia...

—Ela pode ter sido um deles! – Seu tom fora tão baixo que senão estivesse ao seu lado, não ouviria. – Foi assim que ela descobriu sobre você, mas... Não faz sentido! Eu apenas te ajudei a sair de lá! Isso não significava nada ainda.

—Mas na cabeça paranoica e vingativa daquela loba, já era muito. – Astrid resmungou e todos tivemos que concordar...

—Bom... O ponto é que era ela. Lumía percebeu que de alguma forma você me deixava mais fraca e se usou disso. – Nevena voltou a falar, fazendo todas olharem. - Passou essa informação para seu Alfa, Aeolus, foi ele quem ordenou seu sequestro e lhe manteve como prisioneira até o dia em que ocorreu a ascensão para ancião do meu povo.

—O dia que vocês me salvaram... – Falei, fixando meu olhar no seu.

—Sim... – Ela sussurrou. – Tudo indica que eles assistiram meu desempenho e apenas quando Pax morreu e eu comecei a passar mal, eles invadiram o Coliseu. Não notamos, pois todos de meu povo estavam lá! Ninguém os notou, ainda não sabemos como, mas eles não foram notados até a hora que apareceram no campo com você como prisioneira.

—Esqueceu que eu tentei avisar você, mas já tinha entrado na arena e de nada adiantava! Eu avisei Eco, mas ela também não podia fazer nada. – Falou Astrid, cruzando os braços. Todos tinham esquecido a comida, menos Nevena, que as vezes bebericava o copo térmico. – E também esqueceu de falar o motivo de estar quase morrendo no campo, mesmo sem ele te machucar.

Nevena respirou fundo, apertando minha mão de leve antes de soltá-la, encostando-se na cadeira e pegando a garrafa, bebendo um grande gole dessa vez.

—Eu sou uma vampira. – Falou sem me olhar. – Nos mantemos fortes e sadios com sangue, seja humano ou animal. Sangue é nossa fonte vital de vida. – Ela me olhou... Seus olhos estavam frios, distantes. – Há uma lei antiga que diz ser proibido um vampiro sugar o sangue de outro, tomando-o... Dizem que pode ficar tudo bem, mas também dizem que não. – Ela bebeu novamente e então percebi que aquilo deveria ser sangue... – Eu suguei o sangue de Pax depois que o matei... Eu sinceramente não sei dizer se o que eu passei é normal e se é a parte boa, porque para mim parecia o inferno! Eu realmente achei que ia morrer. – Ela desviou o olhar, dessa vez encarou o vazio, como se houvesse algo ali. – Minha garganta e boca estavam muito secos, secos como nunca estiveram! Meus pulmões pareciam ter areia, não conseguia mesmo respirar, também pareciam petrificados. Em minhas veias parecia percorrer algum veneno, meu corpo tremia e eu não tinha forças.

—Como conseguiu fazer isso passar então? – Questionou Jessie, fazendo todos olha-la e a mesma ficou envergonhada, abaixando a cabeça.

Voltei a olhar para Nevena. Ergui minha mão e segurei a dela novamente, por algum motivo, sentia-me angustiada de vê-la contanto isso.

—Por que você entrou. – Seu olhar ergueu-se e agarrou-se ao meu, não deixando-me desviar ao mesmo tempo que meu corpo estremecia pelo tom de sua voz: intenso e com emoção, assim como seus olhos. – Eu senti seu cheiro, Brenda. – Eu respirei fundo, mas depois prendi a respiração, como se sua fala tivesse me feito perder o ar por pensar se ela entendia e sentia a mesma coisa que eu sentia quando eu percebia seu cheiro em algum lugar. – Tudo ainda ocorria, tudo! Mas quando Aeolus me agarrou e mostrou-me você... Foi como uma corrente de energia passasse por meu corpo! Dando-me forças para me erguer e combatê-lo! E foi o que fiz. – Suas duas mãos seguravam a minha com força.. – Eu sentia sua presença, seu cheiro veio a mim como nunca tinha vindo! Até agora eu não sei o que aconteceu, mas a primeira coisa que pensei foi que você tinha que sair dali... Meu povo aguentaria os ataques dos lobos, mas você morreria com qualquer movimento brusco! – Ela se remexeu, dando uma pausa, mas logo voltando. – Aeolus queria uma batalha entre nós, o território e você eram o prêmio, mas eu avisei um grupo de confiança para lhe tirarem assim que desse o sinal e assim o fizeram... Quando matei o Alfa, você sumiu de minha vista e sabia que Eco tinha conseguido te salvar! Depois disso a batalha começou e só parou horas depois, com os últimos lobos fugindo de nós.

Alguns segundos se passaram... Eu não sabia o que responder, eu realmente só me lembrava de vê-la contorcer-se, sofrendo nas mãos do homem alto e negro. Lembro de vê-lo machuca-la e de tudo estar embaçado pelas minhas lágrimas. Parando para pensar agora, eu me lembrava...

—Eu achei que você iria morrer... – Falei baixo, olhando para nossas mãos. – Nevena, você não tem noção de como eu pensei que ia morrer! – A olhei com os olhos marejados, sentindo minha mão sendo pressionada pela dela. – Quando eles me sequestraram eu só fiquei apavorada ao ver Lumía lá! Ela vinha aparecendo nas minhas aulas de sábado no instituto e depois começou a se aproximar, ela chegou até a falar de você algumas vezes! E quando foi me sequestrar falou que você não estaria lá para me salvar, para me proteger. – Comecei a chorar.

—Foi tudo premeditado, Nevena. – Astrid falou para a mulher que me amparava carinhosamente com as mãos. – Eles sabiam que seria o dia de ascensão do ancião e sabiam que você não a estava observando, nem de longe! Eles tinham um plano! Foi realmente tudo premeditado.

—Estou vendo. – Nevena falou em um tom raivoso. – Não se preocupem que farei eles pagarem, principalmente Lumía.

—Quando eu acordei, não sabia onde estava. – Continuei sem me importar com a conversa delas. Afastei minhas mãos das de Nevena e tomei um pouco mais de água. – Como te falei, eu estava em uma floresta de árvores grandes e grossas, mas não sabia onde estava. Lembro-me... Lembro-me deles falarem de ataque, emboscada e que matariam todos os vampiros... Lembro-me de falarem seu nome, quando eles falaram eu entrei em desespero, eles pareciam convictos que iriam matar todos e isso inclui-a você! E ainda me usaria para isso! Eu era importante, parecia que eu era a chave para sua derrota! Fiquei desesperada e me debatia, daí eles me bateram. – Repousei a mão nas costelas diretitas, lembrando do chute, a pancada que mais doeu, tirando a da cabeça... – Depois eles me apagaram e eu lembro só de entrar no que você chamou de coliseu, me lembro só de começar a chorar e depois ver você quase morrendo... Eu pensei que eles já tinham atacado e conseguido pegar você!

Comecei a chorar e dois segundos depois senti o corpo de Nevena ao meu lado, o calor de seu corpo passando-me um certo grau de tranquilidade. De algum modo nós estávamos de pé e ela me abraçava

—Tudo bem... Tudo bem, está tudo bem. – Ela beijou minha cabeça e eu me encolhi contra seu abraço.

—Eu fiquei com medo! – Falei entre soluços. – Eu não queria mais ficar sozinha! Quando me trancaram aqui pensei que eles tinham só me trocado de lugar, não pensei que seu povo havia me salvado! – Comecei a controlar minha respiração, desvencelhando-me para limpar meu rosto. – Eu entendo agora, mas na hora fiquei com muito medo, por isso te pedi para não me deixar só quando se foi aquele dia... Pensei que iriam voltar para me pegar.

—Eles não vou te pegar, Brenda. – Ela segurou minhas mãos, falando em um tom determinado. – Eu não vou deixar! Como falei, vou te proteger! Eu prometo.

—É... Bom, daí entra minha parte. – Falou Astrid, sorrindo minimamente, atraindo nossas atenções. – Como todos aqui agora sabem, existem quatro mundos: o dos humanos, dos lobos, dos vampiros e das bruxas, nós que somos as últimas perambulamos entre os mundos sem um fixo, mas mesmo assim somos uma raça que não compartilha semelhança com as outras, além da semelhança humana. – Começou explicando. – Mas o que poucos sabem e que venho tentando falar com muitos anciões desde o descobrimento disso, e que só Nevena me ouviu agora! – Ela revirou os olhos. – É que existe um quinto mundo, o dos espíritos e poucos conseguem falar com eles! Apenas dois desses cinco conseguem, esses dois são o dos humanos e o meu, mas nem todos conseguem se comunicar, mesmo fazendo parte da raça dos humanos e das bruxas. Na lista de meus antepassados, poucos conseguiam se comunicar e nenhum consegue fazer como eu! Pelo menos não encontrei nenhum relato. – Ela suspirou olhando para a mesa, depois voltou a erguer os olhos. – Quando meu povo foi exterminado por um dos anciões antepassados de Nevena, sendo que pouparam a mim e exilaram-me como punição, não matando-me apenas para manter por perto a única que eles sabiam que conseguia falar com o quinto mundo.... Bom, mesmo exilada, tentava passar informações importantes para o ancião vigente cujo eu “prestava serviços”, mas ainda sim nenhum nunca me ouviu e assim foram caindo em desgraça. O único que sobreviveu tempo o bastante para ser derrotado apenas na última chance, foi Pax.

—A última chance de derrota dele era eu? – Perguntou Nevena e Astrid assentiu, fazendo-a se surpreender. Eu não entendia muito... Mas isso parecia algo importante. – Se eu não tivesse conseguido! O que aconteceriam?

—Nada de bom aconteceria, disso posso te garantir. – Falou a bruxa, com uma expressão séria. – Continuando... Nevena é a única que agora me ouve, faz muito bem, inclusive. Sendo assim, além do motivo dela ser a anciã, lhe passei algumas informações que eles me deram, o quinto mundo. – Assenti para ela continuar, dando a entender que eu estava entendo tudo, o que era mais ou menos verdade... Porém Astrid tomou muito ar antes de continuar. – O ponto, Brenda, é que o seu destino, mesmo você sendo humana,  está totalmente entrelaçado ao de Nevena. Como falei para ela, não há nada, que não tenha de ser muito forte, que possa mudar isso, se ocorrer é algo muito raro, pois realmente o destino está traçado.

—E? – Perguntei.

—E que vocês estão predestinadas a ficarem juntas. – Falou, trazendo de brinde um arrepio em minha espinha. Eu realmente aceitava que estava começando a ter uma queda por Nevena, mas tornar isso uma obrigação?! Só esse pensamento não me dava vontade de ouvir o resto que Astrid queria falar.  – Há uma lenda entre os mundos de que dois deles irão se apaixonar e este amor será muito forte, mas sofrerá conflitos fortes de seus povos, consequências, retaliações. A lenda faz menção ao amor de vocês... Ele ainda está nascendo, mas já está lá, como se estivesse adormecido. Esse amor trará o destino das duas para o presente, o destino que falei para Nevena: a união de todos.

—Essa parte é a que eu não entendo. – Falou Nevena, virando-se para Astrid, esquecendo que nossas mãos estavam unidas até agora e nem mesmo eu havia reparado! Corada, afastei-me para sentar e sem me virar para ela, que me olhava. – Que união de todos é essa?

—De todos os povos, Nevena. – Falou Jessie. – Isso é óbvio!

—Para você! – Ralhou para a minha amiga. – Porque a união de todos os povos seria algo bom? O que está vindo? Por que isso seria um destino a ser alcançado? A ser trilhado?

—Sabe que essas respostas virão com o tempo, não me foram dadas para que eu possa lhe fornecer. – Respondeu Astrid, fazendo Nevena bufar impaciente. Realmente... Acho que a mesma deve estar muito estressada para agir tão explosiva assim. – Eu passo as informações que eles me disponibilizam e ajo de acordo com elas e o destino. – A bruxa suspirou, voltando a olhar de mim para a anciã. – O ponto é que: vocês estão predestinadas a ficarem juntas, humana e vampira. Não há como mudar e vocês simplesmente não conseguirão ficar muito tempo longe uma da outra, mesmo que vocês forcem é como eu falei: o destino já está traçado.

Silêncio.

O silêncio reinou por um longo tempo na mesa... Eu havia perdido a fome a muito tempo, então nem toquei mais na comida e nem o restante de nós, claro que ainda devia haver sangue no copo térmico de Nevena, mesmo sem vermos, e Astrid comeu toda sua comida... Enfim, era muita informação.

Aparentemente eu estava ligada a vampira de uma forma sobrenatural, literalmente, e nada poderia mudar isso, talvez somente a morte e olhe-la. Até aqui eu entendia tudo... Mas eu ainda não via qual era o problema! Afinal ficar com Nevena não era nenhum sacrifício para mim! Muito pelo contrário, mesmo que seja de uma forma... Meio obrigatória.

—Eu entendi o que me falaram até agora, mas qual é o problema de fato? – Trouxe meus pensamentos para o mundo real. – Qual é o real problema?

—O real problema, querida. – Começou Astrid com tom de ironia. – É que você é humana e o povo dela costuma ver o seu povo apenas como bolsas de sangue ambulantes ou melhor ainda! Objetos sexuais, que servem só para satisfazer os desejos carnais e sádicos da maioria do povo dela.

Absorvi suas palavras, sentindo como se elas percorressem meu corpo e parasse no coração e que agora bombeava raiva para o meu corpo.

—É por isso que tenho medo de que saia por aí sozinha... – Olhei para Nevena, pegando-a já a me encarar com um olhar tristonho e culpado. – Tenho medo deles machucarem você. Ontem eu já avisei um dos meus para que ninguém tocasse em você, mas... Eu falei que você era minha propriedade, que ninguém mais poderia tocar-lhe. -  Eu sei que isso é ruim, mas também é bom... Porém imaginar várias pessoas, talvez mais de cem! Me vendo como um bonequinho para uma pessoa me embrulhava o estomago! – Eu sei que não é o certo e nem mesmo eu me sinto assim em relação a você! Mas esse foi o plano que pensei para que você... Para que nós pudéssemos ficar um tempo juntas, afinal como sou anciã, não posso ausentar-me daqui por muito tempo.

—Qual o seu plano? – Questionei de forma rápida e fria.

Nevena pareceu hesitar... Como se estivesse com medo de falar, como se soubesse que não era uma boa ideia, mas mesmo assim quisesse insistir.

—Você... Você ser apresentada como meu... “Minha humana”... Para que eles não impliquem e ache que é apenas “um caso”, como vocês humanos falam.

—Para ser apresentada como seu objeto sexual, certo? – Falei, fechando meus olhos e senti o peso daquelas palavras. Respirei fundo, ajeitando-me na cadeira até encostar meus cotovelos na mesa e esconder meu rosto na palma das mãos.

—Eu sei que parece ruim, Brenda. – Era a voz de Astrid que eu ouvia agora. – Mas essa é a tradição deles... Vocês tem que ficar juntas! Então...

—O que eu tenho a ver com isso? – Perguntei, afastando o rosto das mãos. – Por que é que falar isso para o seu povo é a melhor opção? – Perguntei olhando para Nevena. – O que você está pensando em fazer?

—Eu... Bom, você... Eu... – Ela travou, olhando para todos os lados, menos para mim. – Eu pensei que você poderia passar um tempo comigo...Já que nós, bem... Nós estamos predestinadas a ficar juntas.

—Quanto tempo é esse? Por que eu não posso vir normalmente? Por que eles precisam saber o que faço com você e ainda por cima querer rotular algo? – Perguntei de forma ríspida.

Sim, eu estava irritada com aquilo!

—Bom... Um tempo, Brenda! – Falou Nevena, inquietando-se. – Um tempo! Meses talvez!

—Meses? – Ri surpreendendo-me. – Eu tenho uma vida, sabia?! – Exclamei, olhando para todos ali, parando em Astrid. – Você fala que essa é a tradição deles então deixe-me falar a tradição do meu povo! Isso que vocês estão falando tanto parece uma coisa para mim: amor! Amor! E quando nós, humanos, amamos, nós fazemos tudo pela outra pessoa, mas sem subjugá-la, trata-la mal, aprisiona-la e muito menos usar esse tipo de linguajar. – Falei a última parte voltada para Nevena, que desviou o olhar do meu. – O meu povo, quando ama, se casam! Se juntam! Moram juntos, constroem um futuro juntos e não tomam um futuro pré-escrito e muito menos se importam com a opinião de pessoas de fora sem ser os amigos e familiares!

Balancei a cabeça não acreditando naquilo tudo. Afastei-me da mesa, pondo-me a alguns metros de distâncias das bonitas alí, começando a andar de um lado para o outro.

—Brenda, eu não quero ter que fazer isso e peço desculpas pela ideia. – Falou Nevena, fazendo-me olha-la enquanto andava, mas logo desviei o olhar com raiva, balançando a cabeça. – Brenda! Por favor! Eu quero te ver! Como que eu faço?! – Ela se levantou encarando-me, fazendo-me parar e olha-la. – Eu preciso te manter por perto! Quando você está por perto... Eu não sei! Eu me sinto melhor! – Engoli em seco, tentando não me deixar levar por suas palavras, tanto para ficar irritada ou amolecida. – Eu não posso mais sair daqui como fazia antes quando queria te ver! Não posso, tenho obrigações!

—E você acha que não tenho obrigações? – Exclamei para ela, voltando-me para ela. – Eu vou começar uma faculdade daqui a dois meses e vou começar a trabalhar! Só essas duas coisas vão ocupar quase meu dia inteiro e fora que é o meu sonho! É o meu sonho lecionar! – Eu gesticulava em pleno ataque de raiva e olhava para Nevena querendo soca-la! Como ela podia pensar em me prender aqui?! Ela parecia gostar tanto de mim, mas não entendia meu lado? Não entendia ou gostaria de entender como me sinto?! – Você quer me prender aqui, mas eu tenho uma vida, Nevena! Eu não vou abdicar minha vida por essa história de ninar que me falaram agora!

—História de ninar? – Questionou-me, mas limitei-me a olha-la com raiva, voltando a andar impaciente. – Então quer dizer que não sente nada por mim?

O tom chateado e magoado, mas ao mesmo tempo frio fez-me parar e olha-la. Nevena tinham em seu olhar um brilho turvo, como se estivesse magoada, como se estivesse quebrada e aquilo me fez parar, fez um nó crescer em minha garganta e me amaldiçoar por ter escolhido palavras ruins para lhe dizer!

Suspirei, passando a mão na cabeça para logo depois caminhar até ela, segurando seu rosto entre minhas mãos, olhando fundo dentro de seus olhos.

—Eu não sei o que é amor, não me venha com essas coisas agora, pois não saberei explicar. – Falei olhando em seus olhos. – Mas Deus! Eu gosto muito de você, como eu gosto de você. – Aproximei meu rosto do dela, encostando nossas testas, sentindo sua respiração contra meu rosto. Fechei meus olhos. – Por mim eu ficaria o dia inteiro com você assim, sentindo seu cheiro, seu calor, seu corpo me abraçando, me mantendo por perto. – Afastei-me minimamente, apenas para olhar em seus olhos e vê-los menos enevoados. – Eu não sei quando aconteceu, mas eu sei o que sinto por você! Não sei se é amor, mas eu sei que é forte o suficiente para lhe querer e querer ficar ao seu lado, mas ao mesmo tempo... Ao mesmo tempo que eu respeito você e sua identidade, quero que respeite a minha. Sei que é forte o suficiente para me sentir magoada com suas palavras. – Falei, afastando-me, porém mantendo nossos corpos perto, afinal sua mão havia ido para minha cintura, prendendo-me ali, não deixando-me afastar, e Deus, era bom tê-la tocando em mim mesmo que fosse um simples toque na cintura coberta pela camiseta. – Quero que você deixe-me e não me prenda! Quero ficar perto e ficar com você porque nós duas queremos isso e não por força de um destino doido! – Segurei seu rosto novamente, olhando em seus olhos. – Quero que nós sejamos nós mesmas, cada uma em seu mundo, mas que consiga, ainda sim, unir-se e ficar juntas. Quero lhe conhecer, lhe entender e quero que faça o mesmo comigo! Me respeitando assim como respeito você.

Nevena colou nossas testas e depois me abraçou apertado. Senti um alivio imenso dentro do peito! Um peso sair de meu corpo e apenas seu cheiro, seu calor e seu toque serem importantes agora.

—É... Acho que dá para ser assim também. – Falou Astrid, mas nem eu e nem Nevena nos movemos. – No final, vai acontecer o que me passaram mesmo. É como falei: tem de ser algo muito forte para mudar o final, muito forte mesmo.

Jessie deu de ombros.

—Eu achei bom e interessante elas decidirem as coisas juntas e não só uma impor algo. – Falou calmamente.

Sorri... Acho que isso era um ótimo começo.

ʘ

Pov Nevena

Depois de toda aquela conversa as bruxas despediram-se e foram para os aposentos que falei para Eco preparar para elas na Vila, já eu e Brenda subimos para meus aposentos para que ela se trocasse e eu rumasse para sua casa, afim de deixa-la lá e depois decidiríamos como faríamos as coisas, por mais que ela já tenha falado como as quer... Afinal, o destino é algo longo mesmo, poderia esperar essa parte.

Enquanto ela se trocava no banheiro eu esperava pacientemente olhando pela janela o meu povo passeando para cá e pra lá, animados. Isso me fez sorrir.

—Está pronta? – Virei-me e a vi sair com uma calça jeans, tênis e uma camiseta com cactos estampados.

Sorri. De tanto observa-la, acabei por gostar de seu jeito de se vestir, mesmo sento o oposto do meu.

—Sim, podemos ir? – Perguntei e ela assentiu.

Saímos de meus aposentos e descemos a escada em silencio, mas assim que cruzei a porta de entrada com ela, fomos paradas, ou melhor, eu fui parada por uma Eco descabelada, suada e com cheiro de cachorro.

—Acharam eles? – Perguntei ansiosa, virando-me completamente para ela.

—Sim, senhora! – Ela me reverenciou e depois olhou para Brenda... Por fim e talvez com duvida, a reverenciou também, voltando-se para mim logo depois. – Conseguimos pegar mais alguns no caminho enquanto fugiam, mas infelizmente eles entraram no território dos humanos e os perdemos.

—Não os seguiram? – Perguntei e ela maneou com a cabeça. – Bom... Tudo bem, queria que tivessem conseguido pegar todos, mas tudo bem. Conseguiu pegar algum vivo?

—Sim, senhora! Alguns dos nossos já começaram a preparar tudo para o interrogatório!

—Ótimo! – Sorri apertando-lhe o ombro amigavelmente, vendo-a sorrir comigo, fazendo o mesmo movimento. – Muito obrigada, Eco. Você foi incrível mais uma vez! – Nos afastamos, mas ainda sorrindo. – Cuide desse interrogatório pessoalmente, depois passe-me as informações! Vou levar Brenda para casa e retorno logo em seguida! – Ela assentiu depois de olhar para nós duas de forma demorada e profunda, mas antes de sair, a chamei lembrando de um assunto. – Quando terminar o interrogatório, lembre-se do pedido do escritório, por favor.

—Pode deixar, senhora. – Ela reverenciou-nos novamente e saiu caminhando para norte, provavelmente onde o lobo estaria para o interrogatório.

Sorri vendo minha amiga afastar-se. Sempre soube que podia contar com ela, mas agora a mesma estava sendo meu braço direito nisso! E era ótimo tê-la comigo para resolver as coisas!

—Quem era?

Sobressaltei-me, lembrando-me de Brenda ao meu lado. Ri com meu pensamento e a chamei para caminharmos até meu carro que ficava estacionado atrás da casa.

—Uma velha amiga. – Respondi, dando a volta na casa junto dela.

—Pelo que entendi seu povo capturou um lobo e vai interroga-lo... Tem certeza que não vou te atrapalhar? – Pergunto, fazendo-me olha-la. – Eu acho que você deveria estar lá.

—Eco irá me passar tudo, não há necessidades. – Respondi quando chegamos ao carro, entrando logo em seguida. – Vou lhe levar até sua casa e depois volto para cá, é o mínimo que posso fazer, Brenda.

Ela nada mais falou e rumamos para sua casa em silencio, o que foi até ruim, pois o caminho era longo e chegaríamos para o almoço, talvez.

Quase chegando a casa dela eu percebi que seu cheiro havia mudado... Estava mais parecido com... Madeira! Um aroma mais amadeirado e não doce como estava antes. O que será que isso significava?

Estacionei em frente a sua casa e destranquei as portas, saindo do meu assento, indo até o dela e abrindo a porta para que ela descesse, estendendo uma mão de apoio.

—Não precisava, mas obrigada mesmo assim. – Ela falou e eu abri a boca para responder, mas no segundo seguinte ouvi gritos, passos e portas batendo, assim como soluços de choro.

Eu pisquei e Brenda estava sendo esmagada pelos pais, o que me fez rir, mas tentei esconder isso para não ser mal educada!

—Filha, por Deus! Onde você esteve?! – Era o pai dela que falava, segurando-a pelos ombros.

—Você está bem, querida? Ficamos preocupados! – Agora foi a vez da mãe de esmaga-la um pouco mais. – Você está machucada?

—Gente! Eu estou bem! – Ela exclamou, tentando não rir.

Cocei a garganta, chamando atenção de todos e todos me olharam.

—Olá senhor e senhora MacDonald, meu nome é Nevena Besugo e lhe peço desculpas pelo incomodo. – Saldei-os com um sorriso e um aperto de mão que foi correspondido. – Eu insisti para trazer Brenda até em casa, mesmo ela falando que não havia necessidades. – Ri e eles pareciam olhar de mim para o carro, do carro para mim e de mim para Brenda em uma velocidade absurda que nem eu conseguiria fazer! – Peço que me desculpem, infelizmente não conseguia a trazer antes, pois minha família é um pouco... Complicada. – Ri sem graça, tentando achar as palavras certas. – Espero que me perdoem pelo incomodo.

Claro que eu não poderia falar a verdade! Fazê-los achar que Brenda passou os últimos dois dias e meio comigo e com “minha família” de uma maneira amigável e descontraída seria o melhor mesmo!

—Ah... Claro. – Falou seu pai.

—Obrigada por ter trago ela para casa, Nevena. Obrigada mesmo! – A mãe dela pareceu mais calma e menos aflita apertando minha mão como agradecimento várias vezes, balançando-a, o que achei engraçado. – Obrigada mesmo!

—Imprevistos acontecem, não é mesmo? – Falou o pai dela, rindo minimamente. – Mas quem bom que nossa pequena está bem! Agradeço muito mesmo!

—Você tem algo para fazer? – Questiona a mãe, atraindo minha atenção. – Pode almoçar conosco se quiser!

—Ah não! Obrigada. – Sorri sem graça, gesticulando com a mão, balançando o corpo sem querer. Realmente não esperava por isso! – Como disse, minha família é um pouco complicada e marquei um compromisso com eles agora, então senão se incomodam, eu já vou indo!

—Ah, tudo bem! – Falou ela, sorrindo. – Deixa para uma próxima, certo?

—Claro! – Olhei para Brenda agora, sorrindo com as mãos no bolso da calça. – Eu volto para lhe ver, não se preocupe. Pretendo não demorar desta vez. – Sorri olhando em seus olhos.

Fiz menção de me aproximar, porém achei melhor não e limitei-me a um aceno de cabeça, um olhar profundo e sorriso perfeito dirigido para ela! Despedi-me dos pais da mesma com um aceno e entrei no carro dando partida, inspirei profundamente e sorri: o cheiro doce havia voltado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Agora sim e.e
O que acharam????
O próximo vai demorar um pouquinho pq ainda estou escrevendo e tô numa correria danada, então vou tentar fazer ele nessas próximas duas semanas, até duas semanas kkkk

Espero que tenham gostado, até o próximo ;*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "When Night Comes" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.