Sobre fadas e bruxas escrita por Bárbara Vitória
— Papai, papai, papai! — Gritava Rosie a correr, pulando de alegria com algo nas mãos que John não reconhecia. Chegando perto de si, pulou com força em seu colo, quase afundando a cadeira com o peso do impulso. John rapidamente segurou a ela e a si, com medo que caíssem.
— Rosie, o que eu já disse sobre pular desse jeito? Você poderia ter machucado a nós dois — repreendeu-a enquanto aguardava uma resposta da garotinha, que agora com seus seis anos de idade era um furacão em forma de gente.
— Desculpe-me papai — respondeu-lhe timidamente, torcendo as mãozinhas sobre o que carregava nelas — é que eu estou muito feliz. Olha o que o Dada me deu de presente — ditou colocando-lhe um objeto de frente ao seus olhos. Ele precisou focar a vista para poder enxergar o que era, mas mesmo assim, após visualizá-lo não pôde ainda o identificar.
— É bonito — se limitou a dizer, pondo um sorriso verdadeiro em seu rosto. Ele amava a relação que sua filha tinha com Sherlock, eram como pai e filha, tanto que Rosie apelidara-o de Dada uma forma carinhosa que ela passara a lhe chamar, quando pequena e não sabia completar as letrinhas da palavra Daddy.
— Não papai, não é bonito — respondeu-lhe Rosie alegremente, tirando-o de seus devaneios.
— Não?
— Não papai. É magnífico, maravilhoso, estupendo! — Disse-lhe animada, remexendo-se em seu colo, enquanto abraçava o objeto contra o peito com olhos brilhosos.
— E o que é? Eu sou leigo, seria bom explicar para o papai aqui, não acha? — Pediu já derrotado, seria impossível adivinhar o que era o presente de Sherlock para Rosie.
— É um quadro. Na verdade uma cópia.
— E quem é o artista minha princesinha?
— Ida Rentoul Otawaite¹ papai — ditou segura de si, sorrindo com o sorriso banguela pela troca de dentes a esperar uma resposta de John.
— Outhwaite querida Rosie — corrigiu-lhe Sherlock, que aparecera a pouco no umbral da porta que dava acesso as escadas do apartamento.
Rosie pulou de seu colo, correndo ao encontro de Sherlock, pulando em seus braços e abraçando-o com força.
— Obrigada Dada, eu amei o presente.
— Não há de quê Rosie — ditou carregando-a até John, sentando-se sobre o braço da cadeira, pondo-a novamente no colo de seu pai. Sherlock pegou o quadro, admirando-o.
— Quem é essa Ida Sher? — Perguntou John, curioso pelo estranho fascínio que os dois amores de sua vida tinham perante a imagem.
— Dias atrás Rosie me informou que havia visto um livro dela na Biblioteca,quando estiveram ali em excursão. O livro dela Elves and Fairies estava aberto na página 75, onde nossa garotinha viu essa ilustração feita pela senhorita Outhwaite.
— Eu me lembro desse dia, ela voltou mais animada do que nunca. Achei que fosse somente energia extra pelo açúcar ingerido, já que a mocinha aqui não me contou nada disso — ditou olhando-a para então sorrir enchendo-a de cócegas.
— Ela não te falou nada, pois veio a mim pedindo que conseguisse uma cópia. Eu tenho meus contatos e sem querer ofender John, mas Rosie e eu compartimos mais interesse pelas artes do que você.
— Hey, eu posso muito bem me interessar pela arte também — respondeu emburrado, cruzando os braços a olhar para os dois que riam de si, até que Rosie lhe abraçou e John lhe deu um pequeno beijo nos lábios.
— Não fica chateado papai, o senhor vai me ajudar a fazer minha fantasia.
— E a pendurar o quadro na parede do seu quarto — emendou Sherlock, abraçando-o também.
— Fantasia?
— Sim papai, iremos sair fantasiados para o Halloween não? — Pediu com os olhinhos esperançosos.
— Iremos, claro que iremos, como todos os anos, mas não sem antes pendurar essa coisinha aqui e me explicarem que fantasia termos que fazer.
— Eba! — Gritou Rosie animada, correndo para o seu quarto, com Sherlock e John andando atrás de si, enquanto intercambiavam uma mirada.
Image on p.75 of Elves & Fairies by Ida Rentoul Outhwaite. 1st edition, Lothian, 1916
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[1]. Ida Rentoul Outhwait, foi ilustradora australiana de livros infantis. Nascida em Carlton, em 9 de junho de 1888, retratou em suas obras majoritariamente fadas, seguidas de bruxas, elfos e outros seres encantados. Produziu junto de sua irmã Anne, que era escritora alguns livros, como Elves & Fairies onde os versos de sua irmã adornavam as páginas em junção de seus desenhos. Começou a desenhar aos 15 anos, em 1904, quando teve sua primeira ilustração publicada na revista New Idea, acompanhada de uma história da autoria de Anne. Após casar-se passou também a trabalhar com seu esposo, Grenbry Outhwaite em diversos títulos, e quando teve seus filhos, Robert, Anne, Wendy e William, teve-os como modelos para muitas de suas ilustrações. Seu traço delicadamente fino e fantasiosamente belo eternizou sua obra. Mesmo após sua morte, datada de 25 de junho de 1960, suas ilustrações ainda adornam o imaginário infanto-juvenil e adulto, assim como as cópias que são vendidas em diversos sites, como Etsy entre outros.