Luz se espalha delicada pelo ambiente, tornando-o quase ideal para um confortável descanso. A lareira ao lado crepita calmamente anunciando a futura necessidade de madeira para que o fogo mantenha-se. No lado de fora a chuva cai, como se acariciando a cansada terra (e também a fadiga dos ocupantes do estranho prédio).

Ao invés de um longo sono por parte do ocupante, entretanto, pode-se ver dezenas de papéis e volumes espalhados pelo local. Alguns dos mesmos pareciam a ponto de se desintegrarem ao serem tocados, saltando em diferentes idiomas há muito esquecidos pelos homens comuns.

Havia, também, os restos de substancias inidentificáveis espalhadas sobre cada superfície plana ali presente. A poeira de giz colorido espalhava-se pelo chão ao lado de alguns restos de sal de algum tempo derramado. Sobre as paredes estavam cartazes obscurecidos de diferentes figuras que por enquanto não importam. Livros e mais livros completavam as duas grandes estantes de mogno na esquina norte do quarto.

E então havia o pequeno garoto que vivia naquela rotina pelo menos quatro horas por dia durante os últimos anos:

Vá para a escola.

Seja normal das 7 ás  17h.

Sofra nas mãos de algum valentão durante esse meio tempo, é claro.

Então volte para casa e leia. Devore tudo que dêem a você.

Visite sua mãe pelas 20 h. Sorria para ela e minta sobre como foi bom seu dia.

Se estivessem em casa apenas  ele e sua mãe, teria de regrar-se para dormir antes das 23h, depois de preparar-se para começar o dia novamente. Se mais alguém estiver em casa então, haveria companhia se precisasse chorar (esses dias estavam sendo cada vez menos necessários felizmente. A mentira tornara-se mais facilmente tragável, inclusive para ele mesmo). Se os outros moradores de sua desajustada família estivessem ali eles se encarregariam de levá-lo até a cama, forçadamente se necessário, cantariam melodias suaves em seus ouvidos e nunca prometeriam que amanhã seria melhor.

Quase nunca era pior do que ontem, pelo menos.