Entre o Amor e a Razão escrita por padu


Capítulo 13
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! ♥



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Darcy Williamson apesar de jovem já havia passado por diversas experiências durante a vida. Algumas ficaram guardadas em sua memória afetiva, e eram frequentemente revisitadas, outras quase o destruíram por completo. Além de dor, felicidade e aprendizado, tais experiências também lhe deixaram de presente uma enorme e pesada bagagem. Nessa bagagem, ele podia tirar os elementos certos que o ajudariam a lidar com todas as situações que se apresentassem em seu caminho.  

 Na tarde de quarta-feira Darcy olhava compulsivamente seu relógio de bolso. Levantava da poltrona e andava de um lado a outro, olhando de relance para a porta principal. Caminhou até a recepção do hotel pela segunda vez com a intenção de perguntar a que horas o jovem Bittencourt havia saído. “Às 10h”, Respondeu-lhe gentilmente a recepcionista. Pela terceira vez Darcy perguntou se Camilo havia deixado um recado ou alguma pista que lhe indicasse seu paradeiro. A resposta já estava estampada no semblante da mulher, que seguramente àquela altura já se encontrava mais desesperada que o próprio Darcy. Talvez sua vontade fosse levantar-se, dar a volta no balcão e obrigá-lo a sentar e esperar como as demais pessoas faziam. Mas esta não seria uma atitude prudente.

— Céus, Camilo! Logo agora você resolve sumir do mapa? – Darcy sequer notou que havia pensado em voz alta. Mas, que fosse às favas a compostura. Ele estava ansioso por encontrá-lo.

— Darcy! – A voz que ecoava próximo a porta principal tirou Darcy de sua concentração. Ele finalmente havia se rendido e, naquele momento, lia uma notícia insignificante no jornal da cidade após passar horas à espera do amigo. – É muito bom vê-lo fora do ambiente de trabalho. Que bons ventos o trazem aqui? – Camilo esbanjou um sorriso largo e, em seguida deu um tapa de leve nas costas do amigo. Mal podia imaginar o que Darcy tinha a dizer. Pela expressão séria dele não parecia algo convidativo.

Os dois rapazes tiveram uma longa e delicada conversa que durara a tarde inteira, de modo que ambos não perceberam o cair da noite. As palavras emitidas por Darcy deixaram Camilo surpreso e impactado; a última coisa que ele esperava ouvir era que seu grande tutor estava prestes a largar o barco de uma parceria que, gradativamente, estava rendendo resultados bastante satisfatórios para todos os envolvidos, inclusive ele próprio.

Algumas pessoas que se faziam presentes no saguão do hotel observavam com curiosidade as expressões exasperadas de Camilo. Devido o choque que recebera somente a xícara de chá que ele segurava lhe dava um pouco de tranquilidade para continuar a ouvir com um mínimo de calma o que seu amigo dizia. Apesar de estar muito triste com a decisão tomada por Darcy, Camilo aceitou-a sem fazer objeções. Era compreensível reconhecer que o Willamson tinha motivos suficientes para chegar àquele ponto. -Era o seu limite.

— Eu nunca fui com a cara da Susana. E confesso a você, meu amigo, que não estou nem um pouco surpreso com a atitude dela.  – Disse Camilo, após ouvir de Darcy o que a sócia havia aprontado com ele e Elisabeta. – Das vezes em que ela apareceu em São Paulo sempre se mostrou uma mulher sem pudor algum. E sem o mínimo de senso do ridículo, também. Certa vez, numa festa oferecida por minha mãe, ela ficou tão embriagada, mas tão embriagada que chegou a afirmar, na frente de todos os convidados da mais alta sociedade paulistana que ela e eu estávamos noivos. Dá para acreditar? – Darcy ouvia tudo, com atenção e incredulidade; embora aquele relato, por experiência própria, lhe parecesse um tanto familiar. – Foi um vexame vergonhoso. No dia seguinte deve ter sido o prato cheio da coluna de fofoca do “Correio Paulistano”. Ela tem idade para ser minha mãe! – Disse ele, balançando as mãos no ar. Camilo sempre fora brincalhão, mas aquelas últimas palavras saíram num tom mais sério do que o esperado. E Darcy involuntariamente sorriu de lado com a história contada pelo amigo, embora a ocasião não fosse nada feliz.

— Eu também me solidarizo profundamente por esse vexame que você passou Camilo. – Disse Darcy, mantendo um sorriso fraco que aos poucos foi se desfazendo. – Ao que parece Susana só tem piorado desde então. O que ela fez dessa vez foi bastante grave. Teve a intenção de denegrir minha honra. De arruinar minha imagem diante de Elisabeta.

Darcy sentia o coração apertar toda vez que relembrava aquilo. Sentia que, por um momento, Elisabeta poderia ter acreditado nas palavras cruéis de Susana e o deixado. Se imaginar numa situação dessas era um peso que só a realidade podia aliviar. E a realidade é que eles estavam juntos e confiando plenamente um no outro.   

 O herdeiro dos Bittencourt considerava o homem à sua frente alguém sábio e, sobretudo, sensato. Embora o conhecesse há pouco tempo, Camilo se espelhava e nutria forte admiração e respeito por Darcy. Desde o dia  em que chegara ao Vale do Café, manteve-se empolgado e feliz em trabalhar e aprender com ele a cada dia. Aprender como se portar numa reunião importante. Aprender quando se impor e quando recuar humildemente. Sentia-se grato pelas diversas vezes em que a paciência do Williamson era a chave em situações cuja resolução parecia impossível para ele. Darcy sempre tomava a frente delas, evitando que aquilo se tornasse um problema ainda maior. Além disso, Darcy depositava confiança em Camilo; mesmo sabendo que ele poderia cometer erros, o que seria a coisa mais natural do mundo para alguém tão jovem e inexperiente; Darcy sempre garantia um voto de confiança a ele. Sempre reforçava como espécie de mantra que as falhas eram o combustível que iria movê-lo para os acertos.

Em suma, a paciência e crédito que Darcy demonstrava eram coisas que Camilo nunca havia encontrado em sua mãe, que muitas vezes colocava em cheque a capacidade do filho para lidar com os negócios e gerir de forma eficaz os bens da família. Lembrar-se de Julieta era, naquele momento, mais um motivo de desconforto para ambos. Principalmente para Darcy. Como ela reagiria àquela notícia? Iria julgar a decisão dele? Iria subestimar seu amor genuíno por Elisabeta em detrimento de sua razão? Afinal de contas Julieta parecia cética em relação ao amor, e intolerante ao que ela comumente denominava de sentimentalismo barato. Mas, para cada dia seu próprio mal...

— Sem dúvidas dona Julieta precisará de um pouco mais de tempo do que eu para digerir esta notícia. – Camilo fez a gentileza de quebrar o silêncio embaraçoso que se instalara entre os dois. – Mas não coloque seu amor à prova, meu amigo, amor como o que você me confessou sentir pela senhorita Elisabeta, provavelmente só se vive uma vez. – Camilo estendeu o braço e segurou o ombro do amigo. Darcy se deu conta que o jovem rapaz esbanjava sabedoria.

 Aquelas últimas palavras de Camilo fizeram com que Darcy admirasse cada vez mais o homem sensível e honesto que ele estava se tornando. Um firme aperto de mão, seguido de um abraço encerrou a desconcertante reunião. Darcy voltou para casa e decidiu hibernar por algumas horas... Charlotte estava bastante preocupada com o irmão. Há muito tempo não o via tão preocupado e aflito. Queria entrar no quarto, conversar com ele. Mas decidira por fim deixá-lo respirar e organizar as ideias. Numa ocasião menos conturbada, Darcy enviaria uma carta explicando brevemente o motivo de seu afastamento do escritório. Mas naquelas circunstâncias tão urgentes, o rapaz julgou necessária uma ida pessoalmente à capital paulista. Estaria Julieta ciente do péssimo caráter que Susana Adonato possuía? Se não, estava no momento certo de descobrir. Ninguém merece ser enganada (o) por tanto tempo e de forma tão perigosa.

 Enquanto Darcy decidia os difíceis rumos de sua vida profissional, Susana persistia, durante os dias que se sucederam no pé dele, tentando convencê-lo a desistir de desfazer a sociedade. Em vão. Darcy já tinha tirado suas coisas do escritório e não havia retornado ao local desde então. Decidiu trabalhar em sua própria casa, pois tinha alguns assuntos pendentes por resolver. Charlotte e Elisabeta não queriam intervir na decisão do rapaz. Mas no fundo sentiam-se aliviadas. Toda situação possui prós e contras; ganhos e perdas. Darcy merecia estar cercado por pessoas melhores e estar distante daquela mulher seria o pró e o ganho da vez. Se Susana era capaz de levantar uma calúnia contra ele, poderia certamente fazer coisas ainda piores e que talvez o levasse ao fundo do poço. E na verdade Darcy não estava nem um pouco interessado em retornar àquele lugar tão sombrio que assolou parte de sua vida.

 Após semanas tão difíceis e que testaram a paciência de Darcy Williamson, um jantar entre amigos fora o bálsamo que ele necessitava para aliviar tantas tensões. Seu peito encheu-se de emoção quando, finalmente, se anunciou à família Benedito como namorado de Elisabeta. A notícia foi recebida com festa e aclamação por todos. Ofélia  só não caiu desmaiada no chão porque estava sentada, mas teve de pegar um guardanapo e fazer dele um leque no mesmo instante. A novidade lhe caíra como música aos ouvidos. Darcy era praticamente como um filho que ela nunca teve. Ele era amoroso, gentil, preocupado, brincalhão, responsável e, o mais importante de tudo, amava sua filha de todo coração. Sempre ficava com cara de bobo toda vez que a via. Tê-lo como genro passou a ser o acontecimento mais agradável dos últimos tempos para Ofélia. Felisberto reagiu de forma positiva, porém menos eufórica. A princípio sentiu uma pitada de ciúmes. Sim, ciúmes! O patriarca sentia amor incondicional por suas cinco filhas, mas Elisabeta era seu pupilo. A cara de felicidade e o sorriso aberto que ela ofereceu naquela ocasião deixou claro que aquele relacionamento findaria em matrimônio, e ele sentiu a necessidade de processar a ideia.

 As irmãs Benedito demonstraram contentamento, mas não surpresa. No fundo todas sabiam que naquela amizade existia amor, e dos grandes. Elas estavam para lá de certas. Num dado momento, Lidia e Mariana fizeram um teatrinho para provar que todos já desconfiavam que Darcy e Elisabeta estavam apaixonados e namorando. Lidia encenou as expressões de Elisabeta e Mariana fez o papel de Darcy, com todo seu cavalheirismo que deixava Elisa com o rosto avermelhado toda vez que o via. Todos se divertiram a beça com a brincadeira das irmãs. Charlotte levantou sua taça e brindou a alegria do irmão e da cunhada. Estava tão  emocionada e feliz que mal pôde conter as lágrimas quando viu ambos declararem o amor que sentiam um pelo outro, em confidência. O jantar se sucedeu de forma tranquila e alegre. Passadas as emoções da novidade; muita conversa solta e comemoração, Darcy e Charlotte precisaram se despedir. Antes de partir, Darcy informou a Elisabeta sobre sua viagem à SP. Seria algo rápido, coisa de menos de uma semana. Se pudesse, ela teria se oferecido para acompanhá-lo, mas seus afazeres e obrigações no Vale lhe impediram de cogitar a ideia. Com um olhar pesaroso, ela o acompanhou até a porta de sua casa.

O dia seguinte chegou rápido. Darcy deixou Charlotte na escola cedo da manhã. Antes que a aula começasse, ele entrou em uma das salas para conversar a sós com Elisabeta. Despedir-se dela era doloroso. Uma semana sem ver aquele rosto seria um tormento. Mas não havia muito que se fazer. O carro estava estacionado, esperando por ele para uma viagem longa e entediante. O automóvel era a mais nova aquisição de Darcy. A princípio pensou que estivesse enferrujado por passar tanto tempo sem pegar no volante. Ele teve que se desfazer de muitos dos bens que haviam restado e seu antigo carro estava incluído na lista.

— Belo automóvel! Espero que o senhor volte logo para darmos uma volta juntos!

— Será a primeira coisa que irei fazer quando retornar.

Ambos sorriram e se abraçaram. Logo depois Darcy seguiu caminho até sua casa. A viagem seria à noite e ele precisava descansar antes de pegar a estrada.

•••

Ao descer as escadas, Darcy foi surpreendido com batidas na porta. A princípio pensou ser Charlotte, que havia saído à tarde para passear pelo campo, como costumava fazer habitualmente.  Mesmo com quase 18 anos completos, a menina amava passar a maior parte do tempo livre desbravando o Vale. Mesmo que Darcy impusesse algumas restrições e limites. A preocupação do irmão mais velho era evidente, mas no fundo ele sentia-se feliz por constatar que ela havia se acostumado à vida menos agitada do que a que São Paulo costumava lhe oferecer.

— Charlotte, Charlotte! Finalmente se lembrou de que tem um irmão, e que havia prometido a este que ajudaria a fazer as malas. – Reclamou ele, enquanto se aproximava da porta. Ao abri-la viu que não era Charlotte, mas também viu que não era alguém menos agradável que ela.

— Que cara mais emburradinha. – Disse Elisabeta, apertando levemente a bochecha de Darcy.

— Srta. Benedito! Que péssima ideia aparecer logo agora! – Respondeu ele, mantendo os olhos semicerrados.

Elisabeta recebeu a resposta de Darcy com um leve espanto.

— Eu acho que a senhorita corre um sério risco de ser raptada e levada comigo nessa viagem. Passando por cima de todo e qualquer compromisso que te prenda aqui no Vale do Café.

— Quem me dera. – Disse ela ternamente, enquanto envolvia os braços ao redor do pescoço dele. – Eu não consigo ficar tranquila sabendo que você fará essa viagem sozinho. Camilo Bittencourt não pode acompanhá-lo?

— Ele se ofereceu para ir comigo. Mas conhecendo-o bem como conheço, percebi que ele estava esforçando-se para ser gentil. A verdade é que Camilo está apavorado com a ideia de encarar Julieta nessas circunstâncias. E eu entendo perfeitamente.  Não precisa se preocupar Elisa. – Disse ele, tocando o rosto dela. – Estou acostumado a fazer esse tipo de viagem. Correrá tudo bem e em breve estarei de volta para cumprirmos aquele combinado.

—  Ah, Darcy. Eu não falo só pela viagem em si. Falo pelo motivo dela. A relação entre você e Julieta ficará estremecida. Você não acha?

— Provavelmente sim. Mas não há o que se fazer meu amor. Continuar trabalhando com Susana está fora de questão. Eu já tinha motivos para isso, esse último acontecimento foi a gota d’água.

— Outros motivos? – Perguntou Elisa, com curiosidade.

— Hm. – Ele resmungou. – Não vale a pena falarmos sobre isso, Elisa. Já não tem a menor importância.

— Está bem. De fato não quero ter indigestão. – Os dois riram. Elisabeta olhou para Darcy misteriosamente, em seguida lhe disse:

— Dona Ofélia demonstrou forte interesse quando eu disse que você estava de viagem marcada. Quis saber todos os detalhes e, como você pode imaginar, desconversei a maior parte deles.

 - Eu deveria ter contado a eles, mas foi tudo tão corrido; tão urgente. – Ele fez uma pausa e respirou fundo. – Nem mesmo pensei como falaria.

— Tudo bem! Eu já resolvi isso, não se atormente. – Elisabeta tocou delicadamente os fartos cabelos de Darcy. – Ela deve ter ficado receosa. Depois que o John viajou para não mais voltar ela ficou com um pé atrás a respeito dos meus relacionamentos... Penso que ela acha que eu posso espantar você também por causa do meu gênio.

Elisabeta arqueou uma sobrancelha e fez uma careta. Darcy olhou para ela e não pôde deixar de fazer um comentário:

— O John, com todo respeito, foi um bobalhão em deixar uma moça imperdível como você, Elisabeta Benedito. Ele deve se arrepender pelo resto da vida por ter feito uma besteira desta.

Elisabeta deixou escapar uma risada. Darcy era um completo apaixonado e não tinha o menor pudor em demonstrar isso. Após passarem alguns minutos na sala conversando tranquilamente, Darcy e Elisabeta foram surpreendidos com a chegada de Charlotte. A menina estava com a barra do vestido e os pés completamente cobertos de terra.

— Vejo que a caminhada de hoje foi empolgante. – Comentou Darcy, olhando fixamente para os pés da irmã. Charlotte deu um sorriso amarelo e assentiu com a cabeça.

— Me desculpe meu irmão. Comecei a ler aquele livro que você me recomendou. As horas se passaram e eu simplesmente não me dei conta. Tínhamos combinado de fazer as malas juntos... Que cabeça oca essa a minha!

— Por que você não me disse isso, Darcy Williamson? – Elisabeta questionou. – Estou aqui faz um bom tempo. Poderia tê-lo ajudado.

Darcy ficou sem respostas.

— Charlotte, não se preocupe com seu irmão. Eu mesma posso ajudá-lo a fazer as malas.

Charlotte aproximou-se de Elisabeta e lhe deu um breve abraço. Em seguida correu para seu quarto, precisava de um banho mais que tudo.

— Vocês duas são cúmplices. Não quero nem imaginar o que vão aprontar juntas nesses dias que estarei fora. – Darcy comentou, divertido.

— Charlotte será muito bem-vinda na casa dos Benedito durante sua ausência. E sim, ela irá se divertir bastante comigo e minhas irmãs. – Darcy não pareceu preocupado com o comentário da namorada. Ele estava feliz pelo fato de Charlotte ter sido tão acolhida por todos. Antes ela se sentia solitária, suas companhias eram as heroínas dos livros que costumava ler. Agora, ela tinha amigas reais.  

Elisabeta e Darcy seguiram até o quarto. Lá, a moça sentia-se bastante a vontade e, sem nenhuma cerimônia, foi até o closet de Darcy e começou a analisá-lo atentamente.

— Hum, vejamos... Acho que isto será bastante útil. – Disse ela, tirando uma peça pesada, porém elegante. Darcy detestava aquela roupa. Pretendia doá-la à caridade qualquer dia.

— Elisabeta?! – Gritou ele, exasperadamente. – Você está parecendo a minha mãe. Uma perfeita Sra. Francisca Williamson versão 1910. Não há necessidade para tudo isso!

Elisabeta deu de ombros e continuou a organizar as coisas de Darcy. Depois que tudo estava pronto, Darcy a levou, junto com Charlotte, de volta para casa e teve de se despedir de ambas. Aos poucos a imagem do carro foi ficando distante. Elisabeta continuava observando-o. Até o momento em que o automóvel cruzou o horizonte e sumiu completamente de seu campo de vista.

•••


Quando chegou a São Paulo, cedo da manhã, Darcy que estava exausto da viagem desceu do carro, encarou o céu  parcialmente nublado e agradeceu mentalmente à Elisabeta por ela ter enchido sua mala de agasalhos e casacos. A cidade obviamente não nevava, mas, ironicamente, parecia congelante naquela ocasião. Darcy apreciava o frio; amava, na verdade. A sensação térmica transportava seu pensamento para as frias temporadas londrinas; quando, na infância, ele relutava até conseguir tirar seu pai do escritório, levando-o até a sala principal da mansão. Naquele lugar amplo e aconchegante,  o pequeno Darcy passava horas no colo de seu pai, aquecendo-se frente à lareira enquanto o Sr. Williamson lia histórias sobre guerreiros e suas aventuras destemidas.

 Muitas vezes Darcy o encarava e, no ápice de sua inocência, afirmava que seu pai era o maior herói de todos, da literatura mundial inteira. Os dois se divertiam muito  com a situação, especialmente o Lorde. Aquelas vagas lembranças faziam brotar nos lábios de Darcy um sorriso nostálgico. Ele tentava não pensar no pai. Tentava fazer a lembrança de sua figura um local inacessível. Mas naquele dia, em especial, a memória dele parecia mais presente do que nunca. O que diria Lorde Williamson para ele ao saber que os negócios não estavam acima de seus sentimentos? Provavelmente iria retrucar e dizer que no fundo o filho era idêntico a ele. Que se deixava levar pelas emoções, e que elas seriam sua fraqueza. Após divagar sobre o assunto, Darcy decidiu esquecê-lo e focar na conversa que teria com Julieta, em instantes. Quando chegou à mansão Bittencourt, Julieta estava na sala, organizando com afinco alguns vasos de rosas vermelhas. Ao perceber a presença do rapaz, a dama o encarou e, antes de proferir a primeira palavra, balançou a cabeça negativamente. 


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