Euphoria escrita por Yammy


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

A army e Todomomo shipper que habita em mim traz fluffzinho para a army e Todomomo shipper que habita em vocês.

Boa noite.



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Quantas vezes tinha acordado no meio da noite com dor em seu lado esquerdo? Quantas vezes tinha se sentido perdido, precisando de alguns segundos a mais para entender onde estava? E quantas dessas vezes ele tinha tido crises de ansiedade que o impediam de voltar a dormir?

 

Muitas dessas vezes ele buscava fazer algo que o distraísse. Treinava, comia, acabava com o estoque de macarrão da casa e sossegava até os raios de sol da manhã entrarem dentro de seu quarto. Os nós de seus dedos doíam e sentia-se cansado, mas ninguém nunca tinha ousado perguntar.

 

Depois de tantos anos sozinho, tinha aprendido a lidar com aquilo, mas não escondia a decepção e angústia ao acordar e automaticamente levar a mão em direção à cicatriz. Ela era a prova de que seus pesadelos eram reais e que sua dor nunca de fato passaria.

 

Os tempos tinham mudado e Shouto tinha arranjado companhia. Colegas de classe, parceiros de time – amigos. Shouto tinha amigos. Era uma sensação tão estranha que se tornava difícil de assimilar por uns instantes, quando se encontrava sentado à mesa do refeitório cercado de risadas. Ele se sentia aconchegado, confortável, como se precisasse estar lá desde o começo.

 

Eles não precisavam que ele sorrisse o tempo todo ou se expressasse verbalmente como eles, porque entendiam que sua personalidade não era assim, e o aceitavam da mesma forma. Chegava no dormitório depois das aulas relaxado, sem muitas preocupações, pensando em como pessoas tão diferentes poderiam se juntar e se dar tão bem, e em como todas aquelas pessoas tinham orgulho em chamá-lo de amigo.

 

Depois de um tempo, já não precisava acordar sozinho. Todoroki acordava num salto, ofegante e a mão que sentia em seu rosto não era a sua. Dedos finos, macios e femininos acariciavam seu rosto, acalmando-o, acalentando-o. Os olhos dela eram negros como a noite, mas gentis como a luz do sol aquecendo sua pele. A voz vinha num sussurro, foi só um pesadelo, e não mostrava sinal algum de ressentimento por ter sido acordada.

 

Ela sempre esteve lá por ele, o que era mais que muitos poderiam dizer. Via todos os lados dele, até o pior – aquele que o fazia acordar desesperado – e não se importava. E não dormia até ter certeza de que ele estava bem.

 

Tinha se tornado um hábito dela passar os dedos em seus cabelos até ele cair no sono. Mechas brancas se misturavam com as vermelhas, beijos eram depositados em sua testa suada e palavras não eram necessárias, porque ela sabia. Nunca precisou perguntar.

 

Ela só queria que ele ficasse bem e dormia segurando sua mão firmemente para que ele soubesse disso e nunca esquecesse.

 

Acordava sozinho – ela precisava sair de fininho antes do amanhecer – mas nunca solitário. Ainda podia sentir o toque dela em seus cabelos, em seu rosto, em seus lábios, e isso já era o suficiente até encontrá-la de novo.

 

Yaoyorozu Momo era cheia de referências literárias. Depois de lutar contra todos seus inimigos e demônios interiores, a cicatriz de Harry Potter não doeu por anos, ela costumava dizer. Ela sabia como o medo de usar seu lado esquerdo o deixava mais fraco, e sempre falava o quanto amava suas duas metades, e como ele inteiro a completava também. Ele só conseguia pensar que não era nem no gelo nem no fogo que residia sua força, e sim nos seus sorrisos.

 

E de vez em quando, se pegava sorrindo também. Quase ninguém via, só ela – mais um dos vários segredos que compartilhavam do fundo da sala.

 

Sentia vontade de gritar para todos, mas todos já sabiam. Todos perceberam a aproximação dos dois e entenderam a mudança nos dois. Diziam que os olhos dela cintilavam à menção de seu nome e, honestamente, nunca tinha conseguido perceber a diferença. Em sua visão, aqueles olhos negros cegavam até mesmo as estrelas desde o primeiro dia.

 

Ele encontrava felicidade nos dedos pequenos que se entrelaçavam aos seus com força antes de qualquer missão e na felicidade em encontrá-la no portão quando ele voltava. Nas noites em que ela lia alguma coisa para ele dormir, só porque a leitura a tinha deixado feliz – ele sabia mais sobre alguns elementos químicos e suas funções do que qualquer um naquela turma por causa dela. Nas explicações que ela dava quando ele não conseguia entender o tom de sarcasmo na voz de alguém.

 

Ela o fazia tão feliz que às vezes acordava em silêncio no meio da noite só para vê-la dormindo. Para ter certeza de que ela estava ali, mesmo sabendo que não iria embora. Para apreciar seus lábios entreabertos no meio dos seus sonhos e seus longos cílios fechados, e como ela ainda era a mulher mais linda do mundo com seu cabelo solto e espalhado pelo travesseiro.

 

Shouto tinha tanto medo de acordar no meio da noite e de voltar a dormir depois, no entanto, por causa dela, fazia questão de abrir os olhos. Se estivesse calor, ele cuidadosamente mudava de lado para poder refrescá-la, e no frio puxava seu corpo para mais perto e a deixava se aconchegar em seu peito. Procurava por qualquer coisinha que pudesse mostrar sua gratidão por ser tanta coisa numa vida que antes, não era nada.

 

Tinha perdido as contas de quantas vezes acordara desesperado no meio da noite, com medo de seus próprios pesadelos e apavorado com a realidade. Por causa dela, tinha medo de sair de seus sonhos, mas sorria aliviado ao acordar e ver seu corpo deitado logo ali.

 

Ela tinha se tornado seus sonhos, sua realidade, e Shouto não tinha mais medo. Quase não queria que a manhã chegasse, pois a luz lunar a deixava maravilhosa e o amanhecer significava sua partida.

 

Certa manhã, Todoroki acordou com Yaoyorozu ainda a seu lado. O aroma de seus cabelos invadiu suas narinas e depositou um beijo em seu ombro em apreciação à presença dela. Momo murmurou, se espreguiçou, seus lábios se curvaram em um sorriso ao olhar para ele e, nesse mesmo momento, levantou do futon desesperada.

 

Eles seriam expulsos, e a culpa era dele, por ser tão confortável, ela reclamava, procurando suas roupas freneticamente. Decidiu por usar uma de suas camisas em sua corrida até seu quarto para que ninguém percebesse e aquela visão poderia dar fim a todos os concursos de beleza ao redor do globo, porque ela ganharia.

 

Momo lhe deu um último beijo, breve demais para seu gosto, antes de sair sussurrando que o amava. Só aquilo, ele pensava, já teria feito valer o resto do dia.

 

Mas foi durante o começo das aulas, em que ela, mil vezes mais calma e composta, sorriu e perguntou se ele tinha dormido bem, com aquele sorriso dela – como se não tivesse fugido de seu quarto de manhã – que ele se questionou, por alguns instantes, se não estava sonhando.

 

E não estava.

 

Desde que tinham se conhecido, desde que abriu a porta de sua vida para Yaoyorozu Momo, desde que descobriu cada centímetro de seu corpo e de sua alma, a qualidade de seu sono melhorou em oito mil vezes.

 

Seus pesadelos tinham ido embora.


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