A nossa amizade era resumida apenas em falar mal dos professores, fazer comentários irônicos de nossas colegas pelas suas costas e comer skilho juntos. Assistir filmes? Cada um na sua casa. E depois conversávamos sobre o mesmo. Sair pra lanchar? Não tínhamos dinheiro. E nem disposição. Paqueras ou coisas parecidas não existiam no nosso vocabulário. Nós dois não dávamos muito certo com o amor. O cupido passava por nós e gritava “olé”...

Até que um dia ela chegou chorando no colégio, de cabeça baixa e quase ninguém notou, mas eu percebi, e perguntei se ela estava cheirando maconha. Ela riu e respondeu que preferia estar presa a essa droga do que ter que lembrar da droga de pai que ela tinha.

E na hora do intervalo enquanto comíamos nosso skilho ela me explicou que o pai tinha abandonado ela e a mãe, e um tempo depois decidiu retornar com a amante que agora era sua mulher pra passar férias com a filha. O resultado: uma briga. E o coração de Hillary partido.

Ela havia me dito que queria que seu coração nunca fosse partido por um homem. As ideias feministas já rondavam sua cabeça. Mas quem poderia imaginar que aquele que lhe jurou amor por toda a vida seria capaz de lhe dar as costas por uma puta que apareceu na janela do seu carro?