Nunca amei profundamente alguém. Acho que é por que nunca ninguém me amou assim.

Se eu soubesse que alguém me ama a ponto de dar a sua própria vida por mim, acho que não teria chegado a essa decisão. Triste decisão? Não. Necessária.

***

Mamãe já se trancou no quarto com Júnior. Já passa da meia noite. Tentei agir naturalmente durante o jantar mas foi quase impossível. Pego minha chave da salvação e desço até a cozinha pra beber água.

Tudo está tão silencioso....

Olho a pequena lâmina que carrego com um carinho especial, ela parece ser tão inofensiva...

Pego com cuidado e encosto na pele do meu pulso pra ver se está afiada.

Ela perfura rapidamente e o sangue jorra como uma torneira.

Merda. Merda. Merda.

Meu plano não era esse! Queria voltar pro quarto e ir pro banheiro fazer isso...

Tento fechar a abertura mas o sangue já escorre pelo meu braço e pelas minhas pernas. Encharcou a minha blusa... sento no chão porque me sinto tonta e quando dou por mim o sangue mancha as lajotas da cozinha... puta merda.

A gilete escapole da minha mão, ela é lisa e acabou fazendo um corte profundo demais.

Eu deveria lavar e tentar conter o sangramento. Deveria. Poderia.

Mas eu não quero. Não consigo.

Preciso acabar com isso de uma vez.

Vou ficar aqui a noite toda e até o amanhecer não vai haver mais vida em mim.

Pego o gilete novamente, com o controle da minha vida nas minhas mãos, o botão de desligar tudo está disponível, faço o mesmo movimento no outro braço.

Não existe pause ou play.

Eu aperto o botão de desligar.

E tudo fica escuro.